A economia brasileira está amplamente dependente do consumo das famílias, que, por sua vez, depende da massa salarial, que foi reduzida, durante a crise de 2014 a 2016, e não consegue se recuperar pela persistência dos níveis de desemprego.
A sua dinamização depende do grau de confiança em relação ao futuro, dessa massa, ou de injeção de recursos de outras fontes, nacionais ou estrangeiras.
A crise sanitária do coronavirus, corroeu o pouco da confiança do consumidor, em relação à sua capacidade de melhorar a sua renda, podendo usar parte da sua poupança, ou de pagar novas dívidas.
O cenário tendencial aponta para um enfraquecimento do consumo das familias, puxando o PIB, para baixo.
As medidas restritivas à movimentação das pessoas, nas grandes cidades, irão ampliar a contenção de consumo. A estratégia das autoridades governamentais de "achatar a curva" de contaminação, para evitar um colapso no atendimento pelo sistema de saúde, fará com que a crise sanitária seja prolongada. Bom para a saúde da população, ruim para a economia, que levará mais tempo para se recuperar.
A alternativa de estimular a economia ainda pelo lado da demanda estaria no aumento dos investimentos, com a injeção de capitais nacionais e estrangeiros em novos empreendimentos ou ampliação física de existentes.
A maior parte dos investimentos estrangeiros realizados nos últimos anos não tem se destinada a novos empreendimentos, gerando maior demanda por equipamento e trabalho. Tem sido usado na compra de empresas, de ativos já existentes. Não se tem clareza sobre o destino que os vendedores deram aos recursos recebidos, mas são poucas as notícias sobre novo investimentos físicos feitos pelos vendedores. Houve uma circulação de capital, sem incrementar a produção e o emprego.
Os investimentos públicos seriam uma alternativa para a dinamização da economia, mas não atendem à condição de emergência ou de choque imediato, seja por restrições de engenharia, como burocráticas.
Não se pode começar uma construção, sem um projeto de engenharia detalhado e os Governos não dispõem de bancos de projetos prontos para execução. Não podem contratar sem licitação, a menos de instituição de regimes excepcionais, como de calamidade pública. Mesmo nesse caso já não contam com um quadro de empresas para atender prontamente as necessidades imediatas.
É uma solução, mas não de efeito imediato, concreto. Mas pode ajudar a criar um clima mais favorável e melhorar os níveis de confiança dos agentes econômicos.
Trazer empresas estrangeiras também pode ser alternativa, mas não de curto prazo.
A resposta mais rápida pode ser dada pela construção de edificações, principal do Minha Casa, Minha Vida.
Os novos investimentos privados em concessões, que ainda dependem de licitação, tem um tempo maior. Mas há contratos já firmados que podem ser acelerados, mediante financiamentos do BNDES. O mesmo ocorre com a renovação de contratos de concessão, tendo investimentos como contrapartida. São possibilidades mais rápidas, desde que o Governo se empenhe em superar entraves burocráticos e políticos.
Esse conjunto de circunstâncias faz com que o cenário tendencial da economia brasileira seja de continuidade do baixo crescimento, refletindo numa variação do PIB, em relação ao ano anterior, de menos de 1%.
O cenário pessimista desenha uma continuidade maior da retração do consumo, como consequência das medidas restritivas de movimentação de pessoas e realização de eventos. Associada à eventual recessão mundial, a economia brasileira também entraria em recessão, em 2020, com uma variação negativa do PIB, a partir do terceiro trimestre, mas com possibilidade de já ocorrer no primeiro.
Diante dessas perspectivas o Governo está propondo algumas medidas para estimular o consumo das famílias, como a antecipação da metade do 13º para aposentados, de agosto para abril/maio. Afirma o Ministro da Economia que outras medidas estão em curso. Mas a sua prioridade absoluta continua sendo as reformas, sendo a primeira a PEC emergencial que permite a redução da remuneração dos servidores públicos.
As medidas emergenciais poderão dar suporte ao cenário otimista, isto é, um crescimento do PIB em 2020 da ordem de 1%, o mesmo nível dos anos anteriores.
A eventual aprovação de algumas das reformas estruturais poderá melhorar o clima, mas será insuficiente para alterar a economia real, que depende de uma dinamização da demanda.
A alternativa brasileira era ampliar a demanda, por maior busca do mercado externo, mas está agora também está travada.
O caminho proposto insistentemente por Paulo Guedes é ineficaz. Necessário mas insuficiente para reanimar a economia.
Restabelecer o equilibrio fiscal, gerar superavit primário, são necessários. são necessários mas acreditar que com isso os investidores estrangeiros irão investir em novos empreendimentos é ilusão. Confiança é uma condição necessária, mas subjetiva para acreditar que as projeções futuras irão se efetivar. O indicador objetivo é que haverá demanda para os seus produtos, gerando receita suficiente para cobrir os custos operacionais e amortizar o capital investido. No jargão técnico, receita suficiente para cobrir opex e capex, gerando um ebtida positivo sustentado.
As reformas não garantem que a demanda interna irá crescer de forma sustentável.
A condição mínima é que o setor público gere superavit corrente, ou seja, um saldo após as despesas de custeio da máquina administrativa, mais as transferências entre os entes estatais, que precisam ser compensadas e consolidadas.
As reformas propostas por Paulo Guedes, poderão gerar um superavit corrente, restabelecendo a capacidade do Estado em investir, em empreendimentos germinativos do desenvolvimento. Mas dentro de dez anos. O que fazer até lá?
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