O Dr Nelson Teich é um empresário inovador e muito bem
sucedido do setor de saúde. Em 1994, iniciou uma “start-up” no setor oferecendo
atendimento ambulatorial integrado a pessoas de média e alta renda, portadoras
de câncer.
Com o nível de resolutividade oferecido, expandiu
sucessivamente o seu Centro de Oncologia Integrado – COI. Seguiu o caminho
usual das start-ups, buscando investidores para financiar a expansão, até que
em 2017, vendeu o centro para o grupo Healtcare/Amil e passou a se dedicar, com
igual sucesso à consultoria especializada e a um centro de pesquisas.
Bolsonarista de carteirinha, do segmento antipetista, já em
2018 queria levar a sua visão e experiência para a gestão pública da saúde, mas
foi preterido por forças políticas e corporativas.
Em função das obsessões e idiossincrasias do Presidente
Bolsonaro, assume o comando do exército sanitário, na guerra contra o novo coronavírus,
sem estar preparado para essa missão e com visões simplistas. Mas a mudança
momentânea é do General-comandante, mantendo todo o corpo dos demais escalões,
que avançou rapidamente no sentido desejado pelo novo Ministro. A sua
prioridade é a informação. Houve um grande avanço, mas ainda com muitas falhas.
Algumas de processo, outras por falta dos instrumentos. Não há nenhuma
contradição em relação à estratégia de testes em massa. A questão é o grande
dilema que Teich tem colocado nas suas palestras: escolhas diante de recursos
escassos. A incapacidade do Brasil em adotar os teses em massa é a
indisponibilidade física dos testes e dependência de importações que não estão
disponíveis no mundo todo. Com a prevalência das compras pelo menor preço, não
tem condições de concorrer com as compras de outros países, que oferecem preços
maiores aos fornecedores.
Ele deseja e poderá avançar no rastreamento dos
contaminados, como se faz com o gado bovino, para o controle da disseminação da
febre aftosa. Ou se fez e faz com outras
epidemias animais, com a colocação de chips nos animais e sacrifício dos
animais contaminados. No enfrentamento da peste africana, a China sacrificou e
queimou milhões de suínos contaminados.
Os seres humanos têm proteção à sua privacidade. O controle
da movimentação das pessoas pode ser feito facilmente – com farta
disponibilidade de tecnologia – mas já foi obstado pelo Judiciário, em nome do
direito de privacidade. Testar todo o mundo e rastrear o contaminado, para
evitar que ele contamine vários outros seria uma estratégia necessária, mas
inviável legalmente. Só seria possível, em regime de exceção, como alguns
defendem. Uma barreira para tal propósito é a posição do Presidente que quer
preservar o direito de todos, de ir e vir.
Diante da realidade de restrição de recursos físicos, Nelson
Teich poderá se desesperar, vociferar contra os chineses até contra Trump que teria
confiscado uma partida de material hospitalar comprado pelo Brasil na China e
todos os demais que estão pagando mais deixando o Brasil, para trás. A sua
escolha por falta de opção é manter o distanciamento social e, em alguns casos,
avançar para o isolamento radical.
Uma das suas escolhas de Sofia, mais imediatas é atender aos
amazonenses ou aos roraimenses. A quota
de respiradores alocados para a região Norte não será suficiente para atender
aos dois. Poderá tentar deslocar de outras
regiões. Mas se essas também chegarem à beira do colapso?
Pela sua visão sanitária não seguirá a estratégia de
Bolsonaro e tentará convencê-lo, no que poderá ter mais sucesso que Mandetta. Porque
Teich não é um político, não busca liderar a mobilização popular para as suas visões
e estratégias. Não será um concorrente do Presidente na aceitação social. Trabalhará para que o Presidente seja o líder
das estratégias. Não agirá como um Governo paralelo, contrapondo-se ao do
Presidente, ainda que venha a seguir as mesmas estratégias dos governadores que
o Presidente tem como desafetos.
Não vai tentar ocupar o espaço de Mandetta no comando da
guerra contra o coronavírus, mas dar condições para que o Presidente ocupe esse
espaço. Teich não teria pretensões de protagonismo político. Não será visto
como concorrente do Presidente, para qualquer momento.
Por outro lado, o discurso do Presidente irá mudar
gradualmente. Não pode ser abrupto, para não confundir os seus apoiadores. No
discurso de apresentação do novo Ministro já passou a defender mais a vida.
Esse tema vai passar a dominar o seu discurso, minimizando os impactos sobre os
empregos. Dará mais ênfase às ações para combater o desemprego, usando os dados
sempre recheado de bilhões, de Paulo Guedes. Assim como aos auxílios aos
Governadores, embora seja mais uma ação do Legislativo.
Refluirá temporariamente na defesa da cloroquina como a
solução milagrosa, mas voltará a ela quando tiver mais dados, fornecidos pelo
novo Ministro. Esse dará maior incentivo às aplicações experimentais e controladas.
E levará ao Presidente os dados, quando favoráveis.
A perspectiva de médio prazo é favorável, porque o novo Ministro
é preparado, não tem conflito político com o Presidente, pode contar com o
apoio da ala militar para “domar” o indomável Bolsonaro e pode contar com uma
estrutura preparada para seguir na guerra.
É preparado, mas não está preparado para a emergência para a
qual foi chamado. Não pode cometer nenhum erro, no curto prazo.
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