sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Capitalismo moral

Marina Mattar,  teve seu interessante e instigante artigo sob o título "Capitalismo Moral" publicado na Folha de São Paulo.

As idéias básicas foram lançadas em 2019 por Klaus Schwab, sob o que ele denominou de "stakeholder capitalism"  em contraposição ao "shareholder capitalism" para que a empresa não focasse apenas os acionistas, mas todos os que são impactados por ela. Mas ao contrário do que ocorreu no ano anterior quando ele lançou a ideia da 4ª Revolução Mundial, a sua ideia principal do Fórum Econômico de Davos, não teve a mesma repercussão no meio capitalista. Aparentemente os capitalistas, sejam controladores de empresas, como apenas investidores, não se dispuseram a abrir mão dos seu velhos conceitos e princípios.
Mas vários acontecimentos mundiais precipitaram as mudanças. O maior foi a pandemia do coronavirus SARS-CV2, cujo combate em todos os países obrigou as empresas a repensar o seu modelo de negócio. O seu principal impacto econômico tem sido na redução do uso do trabalho humano, comumente tratado como desemprego. Diante da retração dos seus negócios, a maioria das empresas partiu - de pronto - para a redução dos seus quadros, demitindo ou suspendendo os contratos. Poucas, lideradas pela Magazines Luiza, assumiram uma posição de reguardar ao máximo os empregos. Foram premiadas pela valorização das suas ações nas Bolsas de Valores. 
Mas antes mesmo da pandemia tomar conta do mundo, a ruptura de uma barragem da Vale, em Brumadinho, Minas Gerais, em janeiro de 2019 com centenas de mortes e desaparecidos abalou o mercado de capitais. A Vale, além de ser uma das mais queridinhas do mercado acionário brasileiro, é uma das duas maiores empresas de minério de ferro do mundo, com ações em diversas bolsas de valores. Com uma estratégia e gestão tipicamente do "shareholder capitalism" desprezou riscos ambientais, humanos e até técnicos. Sofreu um desastre evitável, foi obrigada a enormes medidas compensatórias aos stakeholders e mudanças na gestão e nas estratégias.

O Brasil, pelo descaso do seu Governo com as questões ambientais, contribuiu para reação inusitada dos empresários, em âmbito mundial, para se comprometer mais com a preservação da floresta amazônica, promovendo ou apoiando os movimentos contra o desmatamento e pela redução das queimadas. O desenvolvimento sustentável saiu do âmbito dos ambientalistas, para entrar na pauta prioritária de capitalistas, como havia propugnado Klaus Schwab. A motivação foi clara: sem o comprometimento com as causas ambientais estavam perdendo vendas e clientes. Marina Mattar lista os principais eventos, como a manifestação dos gestores internacionais de fundos de investimentos, as manifestações de grandes empresários brasileiros, tanto industriais, como do comércio e dos serviços, banqueiros privados e ex-Presidentes do Banco Central e muitos outros. 
A reação de grandes empresas decidindo boicotar o Facebook que insistia em manter post, incitando violência e preconceitos, difusão de fake-news mostrou que nem todas estão dispostas a pactuar com as falsidades. 
Marina foi muito feliz em cunhar um nome mais popular e polêmico para esse novo movimento do mercado: "capitalismo moral". Tem condições de viralizar. 
Por outro lado, a existência de um capitalismo moral deixaria as empresas que não aderissem ao novo modelo, como capitalistas imorais ou amorais, o que não aceitam.
O artigo de Marina Mattar abre o debate sobre os novos compromissos das empresas com a sociedade. 

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