sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A estratégia dos novatos (2)

A popularidade pela sua atividade


Mais recentemente, duas profissões deram origem a novos políticos, em função do combate à corrupção: delegados de policia e juizes. Flávio Dino, Governador do Maranhão já não é um novato, mas entrou na política apos uma carreira na magistratura. O caso mais recente é do Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que foi eleito, sem nenhum antecedente politico-eleitoral.

A popularidade politico-eleitoral do Juiz é decorrente de um dos novos mitos que povoam o imaginário popular: o ex-Juiz Sérgio Moro, em função da sua atuação no combate à corrupção, condenando grandes empresários e politicos influentes o que poucos acreditavam que poderiam vir a cumprir temporadas na cadeia. 

Também é um quadro que mudou substancialmente, seja pelo equívoco de Sérgio Moro, como de muitos outros brasileiros, que acreditou que Jair Bolsonaro era não só um político não corrupto, como um paladino anti-corrupção. Era um mito falso e levou Sergio Moro ao desgaste da sua imagem popular. 

Além disso, o envolvimento do ex-Juiz, atual Governador do Rio de Janeiro, com esquemas de corrupção, em compras para a saúde, comprometeram a imagem de que bastava ser Juiz para o eleitorado acreditar que seria honesto e combateria a corrupção. 

Um terceiro fator de desgaste é a cerrada campanha dos bolsonaristas contra os magistrados que compõe o Supremo Tribunal Federal.

Ser ou ter sido juiz não garante mais os votos dos que dão prioridade absoluta à honestidade na gestão pública e no combate à corrupção. 



As redes sociais criaram uma nova figura: o influenciador digital, que pelos seus blogs, twitters e outros instrumentos de comunicação digital, ganham milhares e até  milhões de seguidores.

A escolha partidária

O candidato popular é chamado pelo partido que lhe oferece uma infraestrutura para a campanha, com o objetivo de valorizar a imagem do partido.

O "gestor"

É uma pessoa bem sucedida na sua atividade econômica, seja como empreendedor ou como investidor e decide ingressar na política, movido pela idéia de que tem competência para resolver os problemas da cidade, o que os políticos não conseguem. Tem como lema serem gestores e não políticos. 
Alguns são idealistas, outros apenas ambiciosos. Usam parte da sua fortuna para a campanha eleitoral. João Dória, embora tenha sido lançado pelo então Governador Geraldo Alckmin, como padrinho político, seria o caso mais conhecido. Mas Vittório Medioli foi eleito Prefeito de Betim, em 2016, com grande financiamento próprio, a partir de decisão pessoal de resolver os problemas da cidade. 
Sua estratégia é de montagem de uma grande estrutura própria para conquista dos votos, com impressão de grandes quantidades de volantes e outras peças, contratação de cabos eleitorais e grande investimento nos programas de rádio e tv. Com seus recursos ajudam a campanha de alguns vereadores para compor, posteriormente, a sua base de apoio parlamentar.
Com força econômica tem quebrado o rodízio entre dois ou três forças políticas tradicionais na cidade. É uma renovação, mas com substituição da democracia por uma efetiva plutocracia.



O primeiro obstáculo: o registo de candidato

Como no Brasil não é admitido o candidato avulso, tendo o concorrente que obrigatoriamente ser registrado na Justiça Eleitoral por um partido, o novato independente terá que buscar um partido.
O normal seria o partido escolher o candidato entre os seus filiados que aderiram aos seus princípios e projeto partidário, mas - na prática - vem ocorrendo o contrário: é o candidato que  escolhe o partido. 
A partir dai ele percebe que tem que ser político, negociando com os dirigentes, assim como com as lideranças e demais candidatos, a sua escolha na convenção do partido. 

A crença na força das redes sociais

Com pouco conhecimento e experiência em campanhas eleitorais, a principal alternativa é a ampla utilização das redes sociais.
Deu muito certo para a eleição surpresa de Donald Trump, para a Presidência dos EUA em 2016 e de Jair Bolsonaro em 2018, mas algumas coisas mudaram de lá para cá.
O sucesso das redes sociais foi mais em função de informações falsas (fake news), disseminadas por tecnologias de robotização, do que da transmissão de informações positivas do candidato.
A reação contra as informações falsas, limita a sua utilização, embora não a elimine totalmente. 
Igualmente a disseminação de mensagens ficou mais dificil pelas restrições estabelecidas pelos gestores das redes. 
Será importante para os novatos utilizarem os instrumentos para anunciar a sua candidatura e se fazer conhecido, mas a menos que tenham algum diferencial, alguma mensagem inusitada que viralize, o conhecimento ficará restrito aos amigos e quando muito, aos amigos dos amigos. 
Ser um novato na política já foi um fato inusitado. Não é mais. Há muitos candidatos novatos, de diversas profissões e formatos. 
Afirmar que é um não político, mas um gestor também já virou trivial, a menos que seja um empreendedor de sucesso, que em pouco tempo se tronou bilionário. Mas esse, se candidato, não precisa da rede social para se tornar conhecido.
A mensagem inusitada, com capacidade efetiva de viralizar, poderá decorrer de pesquisas de opinião, de tentativa e erro, ou de uma grande inspiração intuitiva. Os novatos estarão atrás do seu "eureka"

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