terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A modernidade para as classes baixas

Um dos preconceitos mais arraigados pelo segmento de maior renda, contra o outro - o de menor renda - é que esse é atrasado, educacionalmente ignorante, e mantém o atraso. Enquanto os mais ricos comandam o processo de modernização e de inovação. Ainda que seja a condição básica da sua autossustentação.

Há no entanto, algumas mudanças significativas nesse modelo, dos quais a motocicleta e o telefone celular são dois grande símbolos.

Na maioria das pequenas cidades do interior do Brasil, que funcionam como o polo urbano de atividades rurais, o principal meio de locomoção era o animal, seja o cavalo - para os de melhor renda - ou o burro (jegue), puxando as carroças ou, em alguns casos, como montaria.

O transporte coletivo ainda são onibus velhos, desativados dos grandes centros, ou a jardineiras, adaptada sobre o chassis de automóveis. Mas o transporte na boleia do caminhão é ainda frequente, principalmente para levar os trabalhadores aos locais de trabalho em colheitas ou outras atividades.

A modernidade chegou na forma da motocicleta, transformada em meio de locomoção pessoal e uso profissional.

Em muitas cidades a motocicleta tomou o lugar do jegue. Esses foram aposentados. 

O fato mais relevante é que o beneficiário do bolsa-família mantém o benefício, mas vai trabalhar numa atividade informal. Soma as rendas, prestando serviços aos demais beneficiários dos programas sociais. Ou seja, há pessoas que ganham duplamente com o bolsa-família: uma diretamente recendo o benefício e outra indiretamente apropriando-se dos gastos dos demais beneficiários.

Desconsiderando o elemento ético ou de eventual ilegalidade, o fato é que os mecanismos da economia de mercado, levaram a um processo de crescimento autossustentado desses microcosmos representados pelas pequenas cidades do interior brasileiro. Não temos a avaliação do impacto desse crescimento no conjunto da economia, porém indica uma alternativa de solução de modelagem estrutural da economia, não desprezível.

A esquerda pode se contentar com essa "concessão" do capitalismo burguês, ou pode reivindicar ou lutar pela sua consolidação e melhoria.

Um segundo marco da modernidade seria o telefone celular. Todos querem ter um telefone celular que funcione. 

A telefonia celular pode ser tomado como o grande símbolo da inovação para todos. O seu desenvolvimento tecnológico envole enormes investimentos e os produtores / investidores precisam de volumes, em escala mundial, para diluir os seus custos. Escala mundial não se refere apenas aos territórios, mas a todas as camadas sociais da humanidade. 

Essa necessidade de escala fez com que as produtoras buscassem também as classes mais pobres, levando a elas a modernidade. Os mais pobres tem o mesmo acesso que os mais ricos aos serviços básicos. O aparelho pode conter elementos e recursos adicionais, mas o básico é assegurado a todos: o pobre também se modernizou.

Qual seria a pauta de reivindicações dessas comunidades?

Há sempre duas visões dessa pauta: a de baixo para cima, ou seja, das pessoas que vivem na condição de pobreza, excluídas dos benefícios do crescimento econômico do segmento superior e que aspiram melhorar a sua condição de vida. A outra que é dos ideólogos que concebem, nas suas teorias, a condição de vida que aquelas pessoas devem aspirar e reivindicar.

Essas visões nem sempre são coincidentes, seja em relação aos modelos, como aos caminhos.

Os moradores querem melhorar a sua condição de vida, a partir do estágio e do local de onde estão. São basicamente conservadores e esperam que o Estado melhore as condições para poderem produzir, ter uma renda a partir do seu trabalho, permanecendo onde estão. A mudança de local na busca de uma melhor condição de vida, não é a solução preferencial. Acaba sendo uma contingência por falta de opção. 

Não são revolucionários, não querem tirar dos mais ricos para uma melhor distribuição da renda. O propósito de tirar de quem tem é uma atitude marginal, que assume a forma de bandidagem, não sendo generalizada.

Já os ideólogos tendem a ser mais revolucionários e açulam ações de maior contestação. Conseguem uma adesão parcial.

Podemos identificar alguns pontos de uma eventual pauta:


  1. continuidade da distribuição de renda, mediante programas assistenciais, não tuteladas, por parte do Estado;
  2. liberdade na organização e realização das atividades econômicas, reduzindo ou até eliminando as exigências burocráticas, que dão margem à concussão e demais formas de extorsão por parte das autoridades, quadrilhas ou milicias organizadas para tal;
  3. uma atuação mais eficaz do Estado na segurança pública, evitando os crimes pessoais, as disputas por pontos e, principalmente, a ação das organizações de extorsão;
  4. a ampliação e melhoria dos serviços públicos básicos, principalmente a educação, saúde,saneamento e transporte público.
Em relação aos caminhos, a principal diferença está na conquista do poder pelo sistema democrático ou pela força.

A segunda é, atualmente, uma alternativa mais rara. A conquista pelo voto, requer uma adesão majoritária da população para o modelo da economia de mercado popular, em contraposição ao modelo de mercado dos ricos. 

(mais adiante tentaremos, caracterizar melhor e do ponto de vista prático, onde estão as diferenças).

Nas eleições presidenciais de 2014 estão em disputa os dois modelos básicos, prejudicado, no entanto, por uma campanha de baixo nível, focado em acusações pessoais.

O fato real é que o modelo néo-socialista foi apropriado pelo PT, com a adesão do PSB e PC do B e oposição do PPS (ex PCB).

O PT, com os abusos no projeto de poder, pode ter comprometido o projeto néo-socialista, que não será assumido na sua inteireza e grandeza por uma gestão tucana. Os programas sociais serão mantidos, mas como problemas a serem resolvidos e não como solução para a economia como um todo. A economia da pobreza terá que ir à reboque da economia da riqueza.

Como poderá ser organizada a economia da pobreza como solução? 

A ideia inicial é que ela seja baseada na economia informal, livre das amarras burocráticas e da tutela estatal.

Isso significa que o trabalhador não precisa se formalizar, nem como empregado, tampouco como microempreendedor. exercendo as suas atividades mais livremente.

Há duas contestações básicas a esse modelo. A informlidade propiciaria maior facilidade para o trabalho "indecente", seja na forma de trabalho similar à escravidão, trabalho infantil e outras modalidades infames.

A segunda é que o trabalhador não estaria protegido pela previdência social e pela segurança à saúde.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...