sábado, 13 de dezembro de 2014

Diferenças de percepção e concepção

Há percepções diferentes em relação ao papel do Bolsa Família, recheada de preconceitos.

A visão da economia do mercado da riqueza é que o bolsa família é uma esmola, que perpetua a pobreza e estimula a indolência, gerando uma carência de mão-de-obra. Ademais a falta de controle permitiria gastos do benefício com cigarro, bebida e outros consumos inadequados e não garantiria a educação das crianças. 

A visão "petista" é que o bolsa família corresponde a uma renda mínima, garantindo aos beneficiários melhor condição de sobrevivência, pelo menos sem passar fome. O bolsa família não os tornariam indolentes, mas em mais exigentes, em relação aos salários e às condições de trabalho. Na prática os empregadores não estariam dispostos a pagar mais e alegam que esses beneficiários não querem trabalhar. E estariam colocando as culpa das dificuldades no Bolsa Família.

A campanha eleitoral para a Presidência levou às promessas de consolidação do Bolsa Família, com ambos os candidatos assegurando que o mesmo terá continuidade.

Garantido o básico o Governo, qualquer que seja, terá que complementar o Bolsa Família, para que as famílias possam efetivamente sair da pobreza.

Há três caminhos principais:

  1. o da educação, que se desdobra com:
    1. seguros impactos de longo prazo, quando focados na educação básica, atendendo às crianças;
    2. prováveis impactos a curto prazo, quando as ações estão voltadas à capacitação dos jovens e adultos;
  2. o encaminhamento das pessoas beneficiadas para o mercado formal de empregos;
  3. a geração de oportunidades de trabalho como microempreendedores, inclusive no mercado informal.
O caminho da educação é o mais importante e, em qualquer dos demais precisa ser mantido. 
A educação das crianças garante um futuro melhor para as elas, mas não garante que o mercado formal ofereça todas as oportunidades de emprego para absorvê-las, quando chegarem à idade adulta.

O que é futuro para as crianças já é presente para os jovens e adultos e mesmo com maior capacitação continuam enfrentando restrições de demanda por empregos, nos mercados formais mais desenvolvidos. A indústria deixou de ser a grande oportunidade e empregadora. O mesmo ocorre com a construção civil, cada vez mais mecanizada e informatizada, requerendo menores volumes de mão-de-obra.

As principais alternativas de trabalho está no comércio e nos serviços.

Isso faz com que uma grande possibilidade de trabalho esteja nas próprias comunidades beneficiárias do bolsa família, para microempreendedores populares, incluindo os em condições informais.

O desenvolvimento do microempreendimento popular, aceitando, inclusive o informal é o passo seguinte para propiciar aos pobres a oportunidade de sair mais rapidamente da pobreza a partir do seu esforço pessoal. Num primeiro momento, a renda dos serviços deve ficar acumulada com o benefício do bolsa-família. Não é uma tese fácil de ser aceita, mas uma condição essencial para a dinamização da economia local e geração das oportunidades de trabalho.

Complementarmente os programas de capacitação deverão estar focadas na preparação para o setor de serviços de massa, com tecnologias intermediárias e mão-de-obra intensiva. O setor com maior demanda tem sido os serviços por motocicleta, seja o motofrete como o mototaxi.

Os serviços de transporte foram as principais oportunidades descobertas pelos jovens pobres para se apropriar da renda injetada pelo bolsa família. Mas não são as únicas.

O principal gasto das famílias é com a alimentação e há duas alternativas básicas: uma alimentação com forte participação de produtos industrializados. A outra é baseada na alimentação natural, o que pode ser feita a partir da produção local.

O modelo desejável é a criação de um círculo virtuoso, com produção orgânica (sem uso de fertilizantes e defensivos químicos) consumidos pela própria comunidade, com possibilidade de comercialização de excedentes.

Para isso o programa governamental deve, de um lado, apoiar a produção orgânica, dentro da agricultura familiar e, de outro, desenvolver campanhas de marketing para estimular o seu consumo.

Aqui também há uma dificuldade, pois os defensores da alimentação mais saudável, acham que o meio é a educação ambiental, contrapondo-se ao marketing comercial. O problema é que o concorrente usa e abusa do marketing para seduzir os clientes, inclusive os mais pobres.

O marketing dos alimentos locais deve ser parte do orçamento dos programas sociais.

O círculo virtuoso, começa com a produção agrícola, para o qual deve ser prestados serviços de assistência rural e financiamentos adequados. 

A logística deve ficar a cargo, no geral, pelas motofretes, com a aquisição de caminhonetes ou similares para produção maior.

Além da venda in natura, deverão ser desenvolvidos os serviços de produção de alimentação pronta, em quentinhas ou congeladas. Para isso a capacitação de cozinheiras, com uso de ingredientes naturais deve ser uma das prioridades da capacitação das pessoas.

Com renda adicional as famílias melhor sucedidas passam a contratar babás para as crianças e cuidadoras (os) para os idosos. Geram uma nova rodada de circulação e ampliação da renda.

Mais ainda, a renda faz as pessoas buscarem maiores cuidados pessoais, inclusive estéticas:  geram oportunidades para serviços de cabeleireiros, manicures e  similares, ampliando o circuito de trabalho e renda.

Os trabalhadores resistem à formalização porque esta implica em descontos na sua remuneração. Mesmo que seja de natureza previdenciária, a sensação é negativa.


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