Na discussão sobre o futuro das cidades uma colocação comum é "a cidade que queremos".
O episódio da resistência de grupos sociais, mobilizados pela internet, contra o projeto Nova Recife, que propõe a construção de elevadas torres residenciais e de escritórios numa área deteriorada e semi abandonada do cais do Porto de Recife, o chamado cais José Estelita, contrapõe duas cidades que queremos, duas concepções bem distintas de cidade do futuro.
De um lado, grupos empresariais, com apoio governamental se propõe a modernizar e revitalizar uma área degradada do centro velho, levando para lá prédios para escritórios corporativos, ou seja, para grandes empresas com grande faturamento e residências para pessoas e famílias de alta renda.
A proposta é de revitalização mediante enriquecimento da população da área, supondo ou apostando que o projeto provocará uma intensa valorização da área, atraindo outros projetos imobiliários modernizantes e de média e alta renda.
De outro estão os que vêm no projeto um produto de especulação imobiliária, que irá agravar a desigualdade social formando um gueto de riqueza, com expulsão dos mais pobres que não terão condições de pagar os novos valores imobiliários na região. Ademais o projeto privatizaria uma área supostamente pública, com o cercamento por muros da área, para garantir a segurança de um condomínio privado e provocaria uma desfiguração de um ambiente tradicional, com inúmeros testemunhos de diversas era anteriores.
Os que são contra o projeto não querem a modernidade e o enriquecimento. Querem uma vida mais simples, despojada, uma cidade mais tranquila e uma cidade mais igual, ainda que seja na pobreza.
Um terceiro grupo, também contra, quer a preservação da área, ainda que deteriorada. A disputa não é pela área, mas pela cidade: pelo seu ambiente, pela sua paisagem.
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