As interpretações, com base em estatística de comércio exterior, divulgadas pela OCDE de que o Brasil está fora das cadeias produtivas globalizadas, ou cadeias globais de valor estão equivocadas.
Esse novo (não tão novo) fenômeno de estruturação da economia mundial muda a configuração tradicional de comércio entre países, pela organização produtiva dos grandes grupos multinacionais que fragmentam a produção de peças e componentes entre diversos países, com instalações próprias ou terceirizadas. Para, no final, o produto ser montado para comercialização. O caso mais conhecido e emblemático é do automóvel, mas ocorre também com os aparelhos eletrônicos, principalmente os de telefonia celular, equipamentos domésticos, indústria da saúde outros tantos.
As cadeias produtivas globalizadas não são de países, mas de produtos e de empresas.
A inserção do Brasil nas cadeias produtiva globalizada pode ser medida pelas instalações no país das grandes multinacionais. Todas as grandes montadoras automobilísticas mundiais estão instaladas no Brasil, montando carros com peças oriundas de todo o mundo.
O país não tem uma indústria automobilística brasileira, mas uma indústria automobilística global no Brasil. Como parte da cadeia globalizada de valor do automóvel.
Por que então a interpretação de que o Brasil não está inserido nas cadeias globalizadas de valor?
Porque a partir do Brasil a cadeia produtiva está interrompida, ou com alcance limitado. As exportações estão limitadas a alguns países da América do Sul.
Uma cadeia globalizada de valor completa não é interrompida com a comercialização do produto globalizado para o mercado nacional ou regional. As fábricas são instaladas com grande escala para suprimento ao mercado mundial. Cada instalação pode ser especializada num produto para suprimento para todas as demais unidades do mesmo grupo, espalhadas em todo o mundo.
Do ponto de vista estatístico, isso é refletido em aumentos nos volumes de exportação e importação. O baixo volume desses tem sido interpretado equivocadamente como não participação do Brasil nas cadeias globalizadas de valor.
O problema é outro. O Brasil ainda está inserido nas cadeias produtivas globais, mas o objetivo é reduzir essa inserção, repetindo a fase inicial da implantação da indústria automobilística, protegendo a produção dos que chegaram primeiro.
Está inserido de forma interrompida e as politicas governamentais estão voltadas para reduzir essa inserção. De um lado essa política é contra a instalação pelas multinacionais ou mesmo nacionais de plataformas de exportação. O objetivo da produção deveria ser, exclusivamente, o mercado interno. Quando muito o suprimento para os países vizinhos, dentro dos acordos regionais.
Por outro lado, a política brasileira é de nacionalização em substituição à globalização. Ou seja, passar a produzir no Brasil o que ainda é importado: segundo índices crescentes de nacionalização.
O resultado dessa política já é conhecido, pois o Brasil já passou por esse processo. Resultou nas chamadas "carroças".
As multinacionais se concentrarão em carros para mercado nacional, deixando de produzir carros mundiais, uma vez que esses poderão não alcançar os índices de nacionalização, requeridas para ter os benefícios fiscais.
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