segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Opinião publicada, em dissonância com a opinião pública

  A opinião publicada é dominada pela visão humanista, emocional, sanitarista e aterrorisada com a sucessão de mortes diárias causadas pela COVID-19 e supõe-se que seja altamente crítica ao Presidente de República e ao Governo Federal e os desaprove. 

As pesquisas feitas durante as campanhas eleitorais de 2020, nas principais capitais, dentro das indagações sobre as intenções de votos, mostravam uma desaprovação pouco acima da aprovação, dentro da faixa de 30%. O apoio de Bolsonaro a candidatos teve efeitos negativos e nenhum dos apoiados foi eleito.

As interpretações predominantes foram de uma compensação positiva da concessão do auxílio emergencial, às percepções negativas das ações ou inações do Presidente diante da pandemia.

Nova pesquisa feita pelo DataFolha, com indagações específicas sobre o enfrentamento da COVID 19, leva a interpretações diferentes: a população brasileira não desaprova fortemente a ação/inação de Bolsonaro, sendo que metade o isenta pelas mortes.

A diferença poderia ser explicada pela visão da opinião não publicada e também da opinião publicada alternativa (a da rede social) que teria uma posição majoritária de apoio ao posicionamento de Bolsonaro.

Válida ou não, segurmente será adotada por Bolsonaro que seguirá com o seu negacionismo ou minimização da doença, agora acrescida da descrença ou desconfiança em relação às vacinas, principalmente a de origem chinesa, "made by Doria".

Ele próprio não tomará a vacina, lutará contra a obrigatoriedade de vacinação e não terá nenhuma preocupação com a demora da vacinação em massa. Só mudará de posição se perceber que a vacinação em massa será um desejo incontido de mais de 2/3 da poopulação, incluindo os seus adeptos. Estes resistirão, mas poderão ser levados pelo "efeito manada": difícil, mas possível.

O cenário mais provavel, para 2021 é da vacinação retardada e parcial, somente se completando em 2022, com a continuidade do ritmo de contaminações e de mortes, alançando mais de 200.000 óbitos, antes do final do primeiro trimestre de 2022, mas já em ritmo decrecente. 

Não será um ritmo uniforme, seja nos períodos, como nas localidades, fazendo com que alguns Governadores e Prefeitos venham a adotar novas medidas restritivas, afetando a evolução da economia. 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

As disputas no Congresso

 Tendo prevalecido o que está escrito na Constituição Federal, está vedada a recondução dos atuais Presidentes da Câmara Federal e do Senado Federal, rebrindo a disputa sucessória entre dois grupos: o da base aliada do Governo e o do Legislativo independente. O primeiro é minoritário, mas mais coeso. O segundo envolve uma visão comum, mas com interesses diferenciados em relação ao comando da Câmara. Um terceiro grupo, intermediário poderá pender para um lado ou para outro decidindo a contenda.

O primeiro grupo é liderado por um grupo coeso de partidos médios, com um candidato definido. É caracterizado como "centrão" com o deputado alagoano Arthur Lira como candidato. Atrai os partidos de centro direita e de direita, com ressalvas.

O centrão aceita uma posição de subserviência do Legislativo em relação ao Executivo, embora negue formalmente. 

Além dos apoios partidários pode ter o apoio do baixo clero de todos os partidos do centro, incluindo os de centro-esquerda. 

O grupo defensor da independência do Congresso, é liderado pelo atual Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, reunindo as bancadas do DEM e do MDB, agregando - ainda de forma não consolidada a do PSDB. Tem como candidato mais provável, o atual Presidente do MDB, o deputado paulista Baleia Rossi.

Terá o apoio das bancadas dos partidos de esquerda. 

O grupo intermediário segue um discurso de independência, mas tem sido fundamental para a aprovação das medidas promovidas ou desenvolvidas pelo Governo. O mais importante é o PSD, que não tem candidato na Câmara, mas tem no Senado. O Partido NOVO, tem uma pequena bancada e também não tem candidato próprio. Já os republicanos, embora se definam como independentes do Governo, tem afinidades maiores com o atual Governo e tem candidato próprio. Marcos Pereira se apresenta como o "tertius".

As campanhas estarão mais voltadas para vencer as rejeições. As divisões dentro dos grupos poderão ser fatais. A lembrança da eleição de Severino Cabral, ainda está presente na memória de muitos veteranos.

Para ser eleito Presidente da Câmara Federal, Arthur Lira terá que adotar a estratégia Eduardo Cunha, atropelando as lideranças partidária, o que é inviável nas circunstânciais atuais. 

O enfraquecimento de Jair Bolsonaro, em contrapartida ao fortalecimento dos partidos, principalmente do MDB, tornou pouco provável a sua eleição, assim como de qualquer outro que tenha a chancela do Palácio do Planalto.


No Senado Federal a decisão do STF abalou inteiramente as articulações de Davi Alcolumbre que, como a alternativa do Governo, tinha poder que já perdeu. 

As articulações para a eleição do novo Presidente do Senado, serão comandadas pelos velhos líderes. O natural seria o comando pelo MDB, detentor da maior bancada mas esta está dividida entre os velhos sobreviventes do MDB "fisiológico", sempre dispostos a compor com o Governo e assumir o comando da base aliada e os emedebistas autênticos. Os primeiros, ainda capitaneados por Renan Calheiros, não tem força para articular uma candidatura do grupo, aceitável pelos demais. O emedebista mais autêntico está recolhido, mas pode reemergir no cenário politico: Jarbas Vasconcelos. 

Em 2021 poderá se repetir o mesmo cenário de 2019.  O MDB fisiológico vencerá a disputa interna indicando um dos seus membros, o mais provável sendo Fernando Bezerra Coelho, que será derrotado pelo outro candidato.

A articulação do "outro candidato" deverá ser articulado pelo Senador Tasso Jereissati, podendo ser o mesmo, ou Antonio Anastasia, ora no PSD, que detém a segunda maior bancada partidária no Senado Federal. 

Anastasia tem um perfil semelhante ao de Rodrigo Maia. É a favor do liberalismo econômico, defende as reformas e a boa gestão das contas públicas, mas não se subordina ao Governo. 

Não seria o Presidente do Senado dos sonhos de Jair Bolsonaro. 




segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Bolsonaro sem partido


Frustrada a tentativa de criar e organizar – em curto prazo – um novo partido, Jair Bolsonaro está saindo em busca de um partido para se filiar.

Os Bolsonaros não querem - simplesmente - se filiar a um partido, por identidade ideológica ou programática, mas tentar assumir plenamente o controle de um partido já registado pelo TSE, para dar base às campanhas de 2022.

Bolsonaro e o seu clã familiar não terão a mesma condição de 2017/18 para assumir o controle de um partido político já registrado e representativo,  mas provavelmente conseguirão com um partido, com baixa ou nenhuma representação atual no Congresso e sob risco de extinção diante das cláusulas de barreira. Além disso poderá oferecer vantagens econômicas aos atuais "donos do partido".  

 

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segunda-feira, 16 de novembro de 2020

2022 em função de 2020

 As eleições municipais, em grande parte nacionalizadas, em função da intervenção do Presidente da República, apoiando vários candidatos, sejam a Prefeitos Municipais como vereadores, não deram continuidade ao movimento de renovação emergida, com grande força, em 2018. A renovação prometia acabar com a Velha Política e instaurar uma Nova Política, livre do troca-troca (“toma cá, dá lá) no Congresso Nacional e extirpar inteiramente a corrupção da Administração Pública.

Foram duas propostas de renovação concomitantes: a renovação bolsonarista que, além dos objetivos acima, trazia no seu bojo propostas conservadoras em relação aos costumes e a proposta de armamento da população. Outra era de uma renovação, com o ingresso de novatos na política, com mudanças substanciais na forma de fazer política, combatendo, além da corrupção e do troca-troca, combater o corporativismo e ou mau uso dos recursos públicos.

A renovação trouxe novas personagens ao mundo político, algumas bem sucedidas e outras desastrosas.  Dois dos Governadores novatos, eleitos na onda bolsonarista, estão afastados, sob risco de cassação definitiva, sendo que sobre Wilson Witzel há acusações de corrupção.

2020 não deu continuidade aos movimentos de renovação. Na maioria das capitais estaduais, prevaleceu a experiência, o conhecido e não a renovação, a expectativa de grandes mudanças.

Vários Prefeitos foram reeleitos, Prefeitos atuais e ex-Prefeitos poderão vencer o segundo turno.

Com a reversão da tendência, os principais perdedores são os potenciais candidatos “out-siders”, como Luciano Hulk e Sérgio Moro, cuja imagem de renovação não terá o mesmo apoio eleitoral.

Jair Bolsonaro foi o maior perdedor, com poucos dos seus apoiados eleitos, ou chegando ao Segundo Turno.  A sua maior derrota foi em São Paulo, relacionada com o aumento da desaprovação do seu Governo, alcançando 50%.

Perdeu substância no Rio de Janeiro, com votação de Carlos Bolsonaro bem menor que a desejada, perdendo ainda a posição de vereador mais votado, para o candidato do PSOL.

Bolsonaro terá que se reinventar para ser competitivo em 2022.

Já deu diversos passos nesse sentido. Associou-se ao centrão, restabelecendo o troca-troca, abandonou o combate à corrupção, fixou-se no auxílio emergencial como base eleitoral.

Reassumiu a sua verdadeira pele de Velho Político, desvestindo a roupa de Nova Política. Já percebeu que a Nova Política não será o tema principal das eleições presidenciais de 2022. 

Irá concorrer como um verdadeiro populista, o que o torna competitivo, apesar do "tampamento de nariz" da elite. 

sábado, 14 de novembro de 2020

Capitão (reformado) x General (reformado)

O General de Exército Hamilton Mourão emergiu dentro da corporação militar, como um líder, da facção remanescente do frotismo, defensor ferrenho da – para eles - revolução de 64 e a favor da intervenção militar, em nome da lei e ordem, além de visões conservadoras em relação aos costumes.

Com a inviabilização política e jurídica do poder de intervenção militar - sem golpe de Estado - supostamente prevista na Constituição Federal, os seus defensores ficaram enfraquecidos.

Com o enfraquecimento desses, Bolsonaro buscou apoio no Centrão, gerando insatisfação maior no meio militar.

Terá que se preocupar ainda com os "intervencionistas militares" que foram uma importante base de apoio antes e depois das eleições que estariam achando que ele não está cumprindo a sua missão e deve entregar o cargo ao General Mourão, mais preparado para tal.

 

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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Mudança na politica ambiental

A floresta amazônica é percebida como o "pulmão do mundo”.

Se não cuidar dela o Brasil sofre o risco de sanções econômicas e financeiras.

O temor de empresas e investidores brasileiro, com as ameaça de ter os seus bens no exterior bloqueados, levarão Bolsonaro a uma ação mais pragmática, passando a cuidar da floresta amazônica e aceitar a colaboração internacional.  

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segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Sacode a poeira, dá a volta por cima

Com a eleição de Joe Biden, apesar da contestada por Trump, o que importa para Jair Bolsonaro não é como ele vai se relacionar com o novo Presidente Norte-Americano, ou como vão ficar as relações comerciais entre os EUA e o Brasil. 

O que lhe importa é como se sustentar no cargo, nos próximos dois anos e ser reeleito em 2022.

Apesar de ter indicado um novo Ministro para o STF, não formou maioria para se blindar e blindar os seus filhos. Teria 3 votos, com tendência a seu favor e mais um 4º, sempre imprevisível, mas ainda ficaria com 7 desfavoráveis. Não  pode titubear e cometer qualquer deslize, que leve a uma decisão do plenário do Supremo.

No Congresso Nacional, a sua base firme é muito pequena e depende do Centrão para evitar o risco de impeachment ou mesmo de ações que poderão desgastar a sua imagem.

O Centrão é voraz na fome por cargos e fica na espreita de cargos cujo Ministro fica enfraquecido. Provavelmente já tem nomes para os Ministérios do Meio Ambiente e de Relações Exteriores.

Na política externa, Bolsonaro orientado ou influenciado por Olavo de Carvalho, tendo Eduardo Bolsonaro, como o mensageiro, optou por um total alinhamento a Donald Trump, posicionando-se contra a globalização, o multi-lateralismo internacional e confrontando a China. 

Seguindo leamente seu "chefe" adotou um discurso negativista, mas não chegou a adotar nenhuma medida concreta, exceto na área ambiental.

Sem a reeleição de Donald Trump, Bolsonaro perdeu o norte e o apoio irrestrito dos sectários bolsonaristas, mantidos "trumpistas" pelo fogo cerrado, mantido pelas redes sociais.

Fora o nucleo duro dos olavistas, a microcultura "anti-China" vem perdendo adeptos, além da ala do agronegócio - que vem se beneficiando das compras dos seus produtos pela China -  e dos agentes do setor de infraestrutura que contam com dinheiro dos chineses para retomar os investimentos. A mais recente perda foi com a posição do Presidente, contra a compra da vacina coronavac, por ser de origem chinesa, para demonstrar a sua lealdade a Donald Trump, no final da campanha eleitoral. Pela mesmo motivo Bolsonaro se recusa a reconhecer a vitória da Biden-Harris, enquanto o seu lider negacionista não a aceitá-la.

Grande parte da população quer ser vacinada tão logo uma vacina segura esteja disponível, não importa a origem nacional.

O negacionismo de Bolsonaro se reflete na perda de popularidade nas grandes cidades, como indicam as pesquisas eleitorais recentes, com efeito negativo do seu apoio aos candidatos bolsonaristas.

O ganho de popularidade, com o auxílio emergencial, teria sido anulado pela sua postura em relação à pandemia, voltando a um patamar de aceitação do seu governo da ordem de 30%.

A persistência do patamar seria suficiente para levá-lo a um segundo turno, em 2022, mas não lhe garantiria a vitória.

Sem a obrigação ou propensão de manter o alinhamento incondicional a Trump a alternativa de Bolsonaro para conter a sangria da perda de popularidade, será "sacudir a poeira" é aceitar a vacinação contra o coronavirus, com as vacinas que estiverem disponíveis, contrariando os radicais antivacina, raivosos, barulhentos, com amplo uso da rede social, mas minoria, dentro do eleitorado nacional. Ademais a tendência dos gestores das redes é de cercear noticias falsas em relação às vacinas. 

Com uma personalidade bi-polar e radical, Bolsonaro poderá migrar de uma postura radicalmente contra a vacina para uma liderança nacional pela vacinação, para evitar que essa seja tomada pelos Governadores e Prefeitos, com ampla repercussão eleitoral.

Bolsonaro quer evitar que o Governador João Dória emerja como o campeão da superação da pandemia, mas a derrota de Trump, no apoio popular, lhe indica que o negacionismo não é uma boa estratégia eleitoral. Ele tem que tomar o lugar, seguindo o velho conselho de Dom João VI ao seu filho Pedro: "Põe a coroa sobre a tua cabeça, antes, que algum aventureiro, lance mão dela."


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Ele só pensa naquilo

 Jair Bolsonaro, eleito pela primeira vez, deputado federal, pelo Rio de Janeiro, em 1990, desde a sua posse em 1991, sempre teve como sua primeira prioridade, a sua reeleição, no que foi bem sucedido, sendo reeleito, por 6 vezes. Só não concorreu à reeleição em 2018, por ter se candidatado à Presidência, no que foi igualmente bem sucedido. 

Associando posições ideológicas bem definidas - defendidas com plena convicção - com uma eficaz atuação como despachante de interesses corporativos, pavimentou o seu caminho político sempre voltado para a reeleição no pleito seguinte, sem correr riscos na manutenção do seu mandato de deputado, encoberto na falta de visibilidade do baixo clero da Câmara dos Deputados.

Buscar a reeleição sempre foi da natureza intrinseca da sua pessoa, ao longo da carreira política.

Não seria diferente na Presidência da República. Desde o dia em que tomou posse, no início de 2019, está voltado para a sua reeeleição em 2022. Nunca desceu do palanque, seja virtual, como presencial. 

Incorporou outros temas e posições para ganhar adeptos. Nunca foi "terrivelmente evangélico", mas se associou a lideranças das denominações, o que lhe proporcionou mais de 400 mil votos na sua última reeleição para deputado federal, em 2014, no Rio de Janeiro.

Nas eleições de 2018, ao perceber duas grande ondas ou tendências as incoroporou na sua campanha, associando-se à principal liderança, de cada uma delas: Sérgio Moro, do combate à corrupção e Paulo Guedes, da economia liberal.

Na Presidência da República, percebeu que - diferentente do baixo clero - está permanentemente sob os holofotes, com dificuldade de esconder as suas vulnerabilidades que colocam em risco a  governabilidade e o seu próprio mandato.

Tendo que alcançar as medidas que favoreçam a sua reeleição e ainda assegurar o seu mandato, já abandonou o cerrado combate à corrupção e está em vias de deixar o liberalismo econômico "guedista". Sempre movido pelo objetivo da sua reeleição em 2022.

Não será diferente, com relação à mudança do cenário norte-americano, com a provável derrota de Donald Trump. Este, derrotado nas urnas, tentará ganhar no "tapetão" e até a batalha final, contará com o pleno apoio e lealdade de Jair Bolsonaro.

Mas se confirmados, os resultados, Bolsonaro fará prevalecer o seu pragmatismo, inteiramente voltado para a reeleição, em 2022, em relação a quatro pontos principais:

  • gasto público acima do teto;
  • politica (anti) ambiental;
  • política de relações externas;
  • vacinação em massa, preventina à COVID-19.
Em 2021 deverá preservar o teto, apesar das pressões dos aliados politicos, para poder gastar mais em 2022.

Na questão ambiental o cenário mais provável é do reforçar a delegação da gestão da área, para a ala militar, sob comando do Vice-Presidente Hamiliton Mourão, ainda que preservando a manuntenção de Ricardo Salles, no Ministério do Meio Ambiente, para encobrir a militarização da área.

Sem a liderança de Trump, mudará as relações com a China e com a Comunidade Européia.

O Brasil corre maior risco de ser um pária internacional com a improvável reeleição de Trump - no tapetão - do que com Biden.

Sem Trump, Bolsonaro tenderá a restabelecer as relações com os paises europeus, buscando apoio institucionais e financeiros para a maior preserva ção da Amazônia e do Pantanal, minimizando o discurso de risco à soberania. 

Em 2018, provavelmente os "pró-ambiente" votaram majoritariamente em Bolsonaro, sem perceber claramente, os seus propósitos e compromisso com os predadores ambientais. Votaram em Bolsonaro, em função de outros temas da sua agenda, principalmente o combate à corrupção.

Em 2022, os "pró-ambiente", mais conscientes, tenderiam a votar contra Bolsonaro, caso mantida as políticas atuais. 
Para Bolsonaro o que importa é saber o tamanho desse eleitorado e o quanto esse pode influir no resultado das eleições. 
Eles são uma pequena tribo, em termos quantitativos, mas barulhentos que conseguem mobilizar os seus integrantes tribais internacionais, para uma pressão sobre o Governo, ou uma imensa comunidade nacional?
A visão de Bolsonaro é que ambinetalistas dinamarqueses, noruegueses, frances, alemães, ingleses, japoneses e outros, podem fazer discursos contra o Brasil, mas não são eleitores no Brasil. Não tem voto. A preocupação de Bolsonaro é o quanto a "piralha" pode influenciar o voto dos piralhos e piralhas brasileiras. Por que estes já terão alcançado a idade para serem eleitores. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Uma boa intenção, mas duvidosa

 Na aprovação do projeto de lei que estabelece a autonomia operacional do Banco Central, foram estabelecidas duas missões adicionais ao BC para o qual ele não conta com instrumentos adequados, tampouco fundamentos teóricos.

Diz o projeto que:

“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental [de estabilidade de preços], o Banco Central do Brasil também tem por objetivos zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”,

São meras intenções políticas, ou "jabutis oficiais" para mitigar a oposição ao projeto.

O papel fundamental do Banco Central é de governança monetária, sustentado por teórica, ou cientifica segundo os economistas e instrumentos para tal, como a definição da taxa de juros básica, intervenção no mercado de câmbio, volume de dinheiro em circulação no país, gestão das reservas monetárias do país, regulação e controle do sistema bancário e afins, mais outras atividades pertinentes.

Em relação à suavizar as flutuações do nivel da atividade econômica, trata-se de orientar a política monetária para conter flutuações excessivas, que - em  geral - ocorrem por fatores externos. 

Requer uma boa gestão da politica monetária, sem a contaminação de interesses políticos imediatistas, vale dizer "populistas",  dai a importância da autonomia do Banco Central. 

Já em relação à fomentar o pleno emprego, há pouca ou nenhuma base teórica/científica para utilização da política monetária como instrumento de interferência no mercado de trabalho.

Sua atuação em relação ao mercado de trabalho seria indireta, a menos que extrapolasse as suas atribuições para adentrar em outros campos da política econômica.

Dois seriam os principais formas de atuação indireta: evitar flutuações cambiais de valorização do real, o que poderia conter as exportações, com impactos sobre a atividade produtiva voltada para o mercado internacional e, consequentemente, os empregos vinculados a essas atividades. 

No mercado interno já tem atuado na redução da taxa de juros para incentivar as compras a prazo. Só tem tido resultado positivo no mercado imobiliário de classes de renda mais alta. 

Vem ocorrendo um aumento dos empregos no setor, mas insuficiente para melhorar os índices agregados de emprego.

A construção não é o maior emprgador, como se imagina.

O comércio de automóveis estaria com maior aquecimento no segmento dos seminovos, comprometendo o dos carros novos que impulsionam a produção. E o Banco Central tem pouco a fazer, em relação a isso, embora seja uma situação conjuntural. 

Nos demais setores menos impactados pela taxa de juros, com prevalência das compras à vista a recuperação é lenta, o que indicaria a ineficácia da politica de juros para fomentar o pleno emprego.

O fator mais importante do tripé monetário, fundamento da ação de um Banco Central autônomo está em não intervir para sustentar a valorização do real, ou - o que é o outro lado da moeda - para evitar a desvalorização do dolar, que tem dominada a visão populista política. 

Jair Bolsonaro, embora um populista, tem dado independência ao Ministro da Economia e ao Banco Central, para manter uma política de não intervenção, o que pode dar maior segurança às empresas para aumentarem as suas exportações. 

O agronegócio tem respondido favorável e rapidamente, enquanto a indústria ainda está reticente, com receio de se aventurar mais amplamente no mercado internacional.

Nesse sentido o cenário decorrente da autonomia do Banco Central seria mais promissor. 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Um animal instintivo e esperto

  Jair Bolsonaro é um veterano da velha política, um animal político primário, instintivo e esperto, que sempre alcançou os seus objetivos politico-eleitorais, ao longo de 30 anos de carreira política.

Colocou três fantasias em 2018, com as quais foi - supreendentemente - eleito Presidente da República, com o voto de 47 milhões de eleitores: a de combate à corrupção, a da nova política e a da economia liberal.

Já arrancou duas delas, permanecendo ainda - provavelmente por pouco tempo - a de liberal, na economia, com responsabilidade fiscal.

Como representante da velha política, sempre teve como prioridade número um, da sua atividade política, iniciada ainda nos anos oitenta, do século passado, ser reeleito ou eleito para cargos mais importantes. Assim, iniciando a carreira, como vereador no Rio de Janeiro, foi eleito deputado federal e reeleito por 6 vezes. Não por acidente, mas porque desde o primeiro dia de posse, a sua prioridade absoluta foi ser reeleito, agindo para tal. Sempre foi bem sucedido, embora tenha uma atuação e produção legislativa, considerada pobre pelos analistas.

Mas Jair Bolsonaro nunca deu atenção aos analistas, mas total ao seu eleitorado. Sempre foi um eficaz despachante dos interesses corporativos da sua base eleitoral e, ao longo do tempo, foi agregando novas adesões.

Portanto não é estranho que ele "só pense na reeleição": é da sua natureza. 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Campanha pessoal pró-Trump

 Na reta final da campanha para a eleição presidencial dos EUA, Jair Bolsonaro está em plena campanha a favor do seu "amigo" Donald Trump, por razões pessoais, ideológicas e pragmáticas.

Caso Trump perca, Bolsonaro ficará sem qualquer apoio internacional significativo para manter a antipolítica ambiental. Ao contrário terá que enfrentar cerrada contestação dos países europeus, tendo que se defender sozinho. Enfrentando, adicionalmente, oposição interna e apoio apenas de facção do agronegócio, da ala ideológica e da sua seita.

Se Trump não for reeleito, Bolsonaro fica órfão politica e ideologicamente e obrigado a assumir a chefia da família, isto é, a família dos dirigentes de direita, raros no mundo e todos de países de menor expressão demográfica, econômica e política que o Brasil. Apenas um deles, Israel, tem poder militar maior.

Terá competência para tal ou deixará a família direitista mundial inteiramente desmembrada, cada qual para o seu lado, sem uma liderança forte?

Se Trump não for eleito, a alternativa de sobrevivência política de Bolsonaro é migrar da extrema direita para o centro "centrão", abandonando a ala ideológica e ajustando a (anti) política ambiental e a de relações exteriores. 

Sem o apoio imaginário de Trump, a ala ideológica terá dificuldade, perante o Congresso em sustentar a presença de Ricardo Salles e de Ernesto Araújo, no Governo. Se o centrão os abandonar, ainda que por objetivos de ocupar os cargos, Bolsonaro não conseguirá mantê-los. Por onde anda Hugo Napoleão?

Abrandará ou abandonará o conflito contra a China, assumindo uma posição mais pragmática para consolidar as relações comerciais com aquele país.

Embora o Brasil não seja relevante na pauta eleitoral, Bolsonaro não pode deixar um flanco adicional de Trump perante Biden que já se posicionou em relação ao Brasil. Bolsonaro não pode deixar evoluir uma imagem pessoal de não estar empenhado na reeleição de Trump. 

Dai o discurso contra a vacina de origem chinesa, que será mantida ou esquecida em função dos resultados da eleição norte-americana. 

Aproveita para provocar e contestar João Dória, mas a motivação principal não é interna, mas externa. Esta vence essa semana.

Enquanto o Presidente mantém um fervoroso discurso pró-Trump, o Governo Brasileiro já está se preparando para um cenário Biden, presidente dos EUA.


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Uma inflação clássica

  Com uma prolongada estagnação da economia, após uma recessão, mantendo um elevado nível de desemprego, o desequilíbrio entre uma oferta ampliada para atender a uma recuperação da macroeconomia e uma demanda reprimida provocou a desinflação dos preços.

O Brasil chegou a uma estabilidade monetária, não obstante um acentuada elevação cambial, decorrente da movimentação de capitais, com o exterior, acentuada pelas ações especulativas do mercado.

Com a pandemia do coronavirus SARS-COV 2, retendo as pessoas em casa, a demanda geral foi contida, com exceção dos gastos básicos com a alimentação, suprida - em grande parte - pelas entregas a domicilio, ou compras locais, sem problemas maiores de abastecimento e impacto nos preços. A produção agropecuária brasileira era suficiente para atender ao mercado interno e ainda exportar.

Um primeiro grande impacto ocorreu ainda no final de 2019, quando a China, começou a recompor ou seus estoques, importando mais carnes bovinas e suínas, principalmente do Brasil, provocando um substancial aumento dos preços internos. Na sequência os preços refluiram, mas não inteiramente. 

A concessão de um auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 a  cerca de 80 milhões de pessoas, com uma injeção de mais de 100 bilhões de reais para o mercado da pobreza gerou uma inflação  nos preços dos alimentos básicos, movidos pelas ações dos produtores e comerciantes para recuperação dos seus preços, contidos durante a recessão e estagnação. Como sempre, acentuada pelos movimentos especulativos.

Colocaram a culpa nas exportações e essa narrativa tem sido aceita para enfatizar os efeitos benéficos do auxílio-emergencial e mascarar os danos colaterais. 

O fato real é que parta do auxílio-emergencial foi "comido" pelos aumentos de preços, notadamente no arroz, feijão - que não tem grandes volumes de exportação - e nas carnes e agora no óleo de soja - que sofrem o impacto das exportações.

O arroz e o feijão podem ser importados, mas com o "dólar nas alturas", os preços continuarão elevados. As reduções só ocorrerão com as novas safras.

Com a nova onda do coronavirus na Europa e a eventual vitória de Biden, nos EUA, gerando  a expectativa de retomada comercial com a China, as exportações brasileiras não seguirão o mesmo ritmo de 2020, gerando estoques, em alguns produtos que serão "desovados" no mercado interno a preços promocionais.

Internamente, não há condições fiscais de sustentar o mesmo volume de auxílios à população mais pobre, a menos que o Governo mude a sua posição de proteger os rendimentos e ativos dos mais ricos, considerados essenciais para os investimentos.

Tais acontecimentos atuais irão se refletir na contenção da inflação de alimentos, já no início de 2021.

Mas o processo inflacionário disparado pela inflação dos alimentos, diante da retomada geral das atividades econômicas poderá recrudescer em 2021.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Uma trégua relevante

 A trégua estabelecida esta semana, entre Lula e Ciro Gomes, altera os cenários de curto e médio prazos. 

A curto prazo, pode assegurar a permanência da esquerda na Prefeitura de Fortaleza, com o Capitão Wagner ora com preferências de votos suficiente para chegar ao segundo turno, concorrendo com um dos dois candidatos da situação: Sarto do PDT e Luzziane pelo PT. O que for, deverá ter o apoio pleno do eleitorado do outro, para em conjunto derrotar Wagner que representa o bolsonarismo, embora não tenha o apoio declarado de Jair Bolsonaro.

A unificação também poderá ocorrer no Rio de Janeiro, onde Crivella, o candidato apoiado por Bolsonaro, vem perdendo preferências de votos, podendo ser substituído, no segundo turno pela Delegada Marta Rocha (PDT) ou por Benedita da Silva (PT). Para assegurar essa presença, a trégua poderia levar à desistência - ainda no primeiro turno - da pior colocada nas pesquisas entre as duas. O que é pouco provável.

Dentro dessa perspectiva Bolsonaro não conseguiria a eleição de nenhum dos seus apoiados expressamente ou que usaram o seu apoio consentido nas grandes capitais.

Significaria que Jair Bolsonaro ainda teria grande apoio popular pessoal, mas com pouca capacidade de influenciar o voto dos seus seguidores. 

A médio prazo, para as eleições de 2022, Bolsonaro teria que enfrentar um candidato de esquerda, sendo o cenário mais provável Ciro Gomes, em função da persistência dos impedimentos judiciais de Lula. O PT não teria candidato, tampouco os demais partidos de esquerda, com exceção do PSOL. Embalado com os resultados da eleição municipal de São Paulo, sem conseguir vencer a final, Guilherme Boulos tentaria - novamente - a Presidência da República, mesmo que seja apenas para reforçar a formação de uma significativa bancada de parlamentares no Congresso Nacional.

O centro-direita, provavelmente com Dória e mais um candidato do centro-centro levariam, as eleições de 2022 ao segundo turno, dada a dispersão dos votos, contrariando a expectativa de Bolsonaro de vencer no primeiro turno. 

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A grande onda e os "surfistas"

  Em 2018, uma grande onda - um "tsunami" - varreu as praias políticas do Brasil, "matando" dezenas de velhos políticos que não conseguiram ser reeleitos.

Essa onda trouxe um novo Presidente, meia dúzia de Governadores de Estado, mais de 50 deputados federais, eleitos pelo PSL e outros partidos e centena de deputados estaduais. 

Segundo alguns, um grupo de surfistas que manobrando habilmente sobre as ondas chegaram vitoriosos à praia. Para outros, a onda trouxe o lixo que pairava na superfície ou a baixa profundidade do mar. 

A onda teve origem ou epicentro no desejo de mudança da sociedade, indignada com a amplitude da corrupção nas coisas públicas, no cansaço com as nefastas práticas da "velha política" - disfarçadas de "presidencialismo de coalizão -, no sufoco do patrulhamento do "corretamente político", nos receios e medos do aumento da violência urbana a rural e na descrença da política econômica estatizante.

Na realidade, o tsunami foi de mudança e não bolsonarista, como muitos - inclusive aqui, neste blog - vinha sendo colocado e analisado. O bolsonarismo foi o que veio surfando sobre as ondas. 

O "tsunami" da mudança perdeu força. Em grande parte por decepção ou desalento. A sociedade continua ansiando por grandes e profundas mudanças na política brasileira, mas "perdeu o rumo". Os que vieram surfando nas ondas não tem cumprido os designios prometidos ou esperados. O Presidente já abandonou o comando do combate à corrupção, alegando que o inimigo foi exterminado ou derrotado, associou-se à "velha política", mantendo-se fiel na defesa de mudanças de valores nos costumes e na sua visão de combate à violência. Mantém, no discurso, o apoio à política econômica liberal, mas é seduzido pelas políticas de maior intervenção estatal, no campo social, em função do apoio popular, apesar do impacto negativo nas contas públicas.

Alguns dos Governadores "surfistas" da onda da mudança, já estão afastados temporariamente, mas com risco de afastamento definitivo. Outros enfrentam problemas de governabilidade, por inexperiência ou falta de apoio político e de denúncias de corrupção. 

Parte da bancada dos "surfo-bolsonaristas" já não mantém os laços de solidariedade ao Presidente. 

As eleições de 2020 indicam a manutenção do desejo de mudança, por parte da sociedade, mas apenas o desejo pela honestidade dos candidatos ainda é predominante, de forma generalizada. Os demais perderam atratividade. Mas há um crescimento do segmento que prioriza a segurança como a principal expectativa dos novos políticos: de forma desigual, entre as diversas capitais brasileiras.

Em 2022 uma nova onda de mudança poderá ser formada como reação da sociedade à frustração com os "surfistas" de 2018.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Confronto entre as alas palacianas

  Após um longo período de trégua, com o desvio das batalhas para outros territórios, a disputa entre a ala militar e a ala ideológica pelo poder de influência sobre o Presidente Bolsonaro, foi retomada com a bomba lançada por Ricardo Salles contra o General Ramos.

A ala ideológica tem a liderança do filho Eduardo Bolsonaro, com o apoio dos irmãos. Controlam o Ministério das Relações Exteriores e o da Educação. Tem a adesão do Ministério da Mulher e a do Meio Ambiente. Não tem nenhum cargos ministerial dentro do Palácio do Planalto, mas como filhos tem acesso direto ao pai e mantém sectários do bolsonarismo em gabinetes de segundo e terceiro escalão. Tem como "ponta de lança" o Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que está em saída para o TCU.

Aparentemente sem força suficiente, o petardo de Salles contra Ramos teria sido uma reação impulsiva ou a ala ideológica teria percebido um enfraquecimento da ala militar, junto ao Presidente. 

Diante do confronto instalado, Bolsonaro terá que arbitrá-lo, buscando o armistício, ou optar por uma das alas, o que seria caracterizado por demissão ministerial: Salles ou Ramos.

O cenário mais provável é do armistício o que já está em andamento com Ramos não respondendo e um recuo de Salles. Bolsonaro deu manifestações de afago e apoio a ambos. Mais este embate poderá ser superado, mas o confronto potencial continua latente.

Com a eventual reeleição de Trump, o que depende de uma virada, na reta final, a ala ideológica se sentirá fortalecida, podendo avançar no atendimento a Israel para mudar a embaixada brasileira para Jerusalém e apoio de Trump contra a China, afetando o agronegócio. Poderá conseguir a mudança, dentro do Planalto, de alguns Ministros de origem militar, assumindo a hegemonia na influência sobre o Presidente, dentro daquele palácio.

Além da reação do agronegócio, que ainda está predominantemente a favor de Bolsonaro, poderá ter a reação contrária da equipe econômica que vem negociando e tem expectativa de grandes investimentos do mundo árabe e dos chineses no Brasil.

A hegemonia da ala ideológica poderia levar a uma crise nas contas externas, um dos pontos positivos da macroeconomia.

O enfraquecimento da ala militar poderá afetar o apoio das Forças Armadas a Bolsonaro, reduzindo ainda mais a força de pressão da qual se valia para pressionar o Judiciário e o Congresso. No STF dependerá da atuação da sua base de apoio, formado por Toffolli, Gilmar Mendes, agora reforçado por Kássio Marques, em conseguir a adesão segura de mais 3 Ministros, formando a maioria. Não parece viável, a curto prazo. No Congresso dependerá cada vez mais da cooptação, a preços altos, do Centrão.


A vitória da ala militar manteria viva a pressão sobre os outros poderes, embora a perspectiva antidemocrática esteja mais distante de ocorrer. O receio da tentativa, no entanto, remanesce, requerendo que os pro-democracia mantenham se alertas. 

Associada a uma não reeleição de Trump, a ala ideológica se retrairia, mantendo as posições dentro do Governo, mas sem a mesma força. O Brasil não mudaria a Embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, tampouco assumiria uma posição forte contra a China.

Mas a política externa brasileira passaria a dar mais importância às questões geopolíticas e geomilitares do que às ideológicas. 

A principal preocupação seria com as mudanças de poderio militar no mundo e de seu impacto na guerra fria.

A ala militar defende a retomada do desenvolvimento através do aumento de investimentos públicos, em infraestrutura, contrapondo-se à politica fiscalista do Ministério da Economia.

Não tem se oposto à privatização e à abertura do mercado para investimentos externos, mas mantém o receio de que os chineses aproveitem a oportunidade da crise, para "comprar o Brasil" a preços depreciados.

sábado, 24 de outubro de 2020

Uma sucessão de batalhas

  Dentro da guerra da eleição de 2022, Dória fez um avanço com a vacina "chinesa" conquistando posições dentro da Administração Federal, dentro da perspectiva de que seria primeira vacina contra o coronavirus SARS-COV 2, pronta para ser aplicada largamente.

Voltado para outras questões Jair Bolsonaro não percebeu, de imediato, a operação, cercada por argumentos científicos.

Ao perceber lançou um "fogo de barragem" para impedir o avanço da operação e satisfazer os seus seguidores radicais. Enquanto o público estava entretido com a pirotecnia, buscou reorganizar a sua tropa, desmentindo o que os subordinados tinham aceito ou admitido.

Conteve, momentaneamente, o avanço do adversário, mas enfraqueceu vários flancos, deixando-os mais vulneráveis para as batalhas subsequentes.

A primeira é a batalha da imagem e da comunicação, em que estava à frente. Tinha conseguido até agora, caracterizar a vacina CORONAVAC - a marca da vacina desenvolvida pela SINOVAC, uma empresa chinesa - como a "vacina chinesa", com conotação pejorativa, repetindo e disseminando a narrativa de Donald Trump.

Toda a mídia, com poucas exceções, estava se referindo à vacina da SINOVAC, como a "vacina chinesa". Bolsonaro tem demostrando uma grande capacidade de pautar a mídia. 

A explosiva e emotiva reação de Bolsonaro fez a mídia perceber a cooptação e vem passando a se referir à vacina, pela marca (CORONAVAC) ou pelo fabricante dessa (SINOVAC). Cada vez mais será caracterizada como a "a vacina do Butantã", a fabricante brasileira da vacina, a partir da tecnologia e insumos fornecidos pela SINOVAC. 

No campo político reuniu a maioria dos Governadores, assim como o Presidente da Câmara e outros parlamentares contra a decisão de não comprar a vacina do Butantã. Em contrapartida conseguiu formar uma base aliada no Senado.

O problema maior é com o Exército, ao obrigar o General Pazzuelo a desfazer os compromissos assumidos com o Instituto Butantã e com os Governadores. 

Como militar disciplinado o General não teria assumido os compromissos, sem antes consultar o Presidente, ao qual deve ter dito que era a compra de uma vacina brasileira, a primeira que deverá estar chegando ao mercado. E teve "sinal verde".

"Manda quem pode, obedece quem tem juízo". É a máxima do modelo da chefia autoritária, em desuso, na maioria das grandes empresas. Bolsonaro manda e o General, institucionalmente subordinado, obedece. Mas ter que assumir inteira responsabilidade por um ato que não foi só seu, é uma humilhação que afeta a dignidade da corporação, dividida em relação ao ocorrido. A hierarquia e a disciplina não justificam o nível de sumissão.

A isso se soma um novo confronto dentro do Governo entre a ala ideológica e a ala militar. Os filhos resolveram radicalizar e atacar a ala militar. Poderão até vencer a batalha com a saida do General Ramos, mas enfraquecerá o apoio das Forças Armadas ao Governo. 

Com a proximidade das eleições presidenciais norte-americanas, a ala ideológica deve estar contando, com a reeleição de Trump, que repetiria a façanha de 2016.

A ala ideológica não tem força militar, não tem força judiciária, não tem força política, apenas o apoio popular dos sectários do bolsonarismo. Piorará as condições de governabilidade de Bolsonaro, que ficará mais dependente do Centrão. A sua cartada está na reeleição de Davi Alcolumbre para a Presidência do Senado e na eleição de Arthur Lira, do Centrão, para a Presidência da Câmara dos Deputados. 

Alcolumbre articulou bem a aprovação de Kássio Marques  para o STF, com o que espera reverter uma posição desfavorável à aprovação da interpretação da cláusula constitucional que permitiria a reeleição. 


Ainda não está assegurada.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Novas forças políticas em crescimento

 Novas, ainda que não tão novas, forças políticas estão em crescimento em 3 das maiores capitais do Brasil, com uma característica comum: são movimentos alternativos aos Governos atuais. São oponentes dos "donos do poder".

Mas com matizes ideológicas diferentes. 

Em São Paulo e no Rio de Janeiro são de esquerda, no Recife é de centro direita, em contraposição ao centro-esquerda que domina há muito tempo a Prefeitura da Capital e também o Governo de Pernambuco. 

Todas ameaçam a configuração dos segundos turnos.

A principal mudança poderá ocorrer no Rio de Janeiro, com a perda de substância do eleitorado de Marcelo Crivella. O apoio de Bolsonaro ainda que não explicito, mas consentido, pouco contribui positivamente, mas amplia a rejeição. Teria agora uma rejeição de 58% dos eleitores.

Com isso a Delegada Marta Rocha, do PDT, cresce como opção "aos mesmos de sempre", ameaçando a eleição de Eduardo Paes, caso chegue ao segundo turno.  A pesquisa do Datafolha de 20/21 de outubro indica que Paes seria derrotado no segundo turno. Paes tem uma rejeição de 31, enquanto a delegada tem apenas 7. É um cenário indesejável de Paes, que prefere concorrer com Crivella.

O PDT é a força remanescente da esquerda carioca/fluminense, com o "derretimento" do eleitorado do PT e "aborto" do PSOL, que perdeu as suas principais lideranças no Estado. 

O PDT já teve muita força política no Rio de Janeiro, com Leonel Brizola e "derreteu". Agora tende a renascer no principal reduto eleitoral de Jair Bolsonaro.

Em São Paulo, Guilherme Boulos, segue em tendência de crescimento, ameaçando a presença de Celso Russomanno no segundo turno. Mais uma vez Russomanno não consegue manter a preferência inicial de eleitores que o indicavam por ser o mais conhecido. Com o início das campanhas aqueles migram para outros candidatos, com Russomanno mantendo apenas o seu núcleo duro, que é inferior a 20%, nível indicado pela pesquisa do Datafolha de 20/21 de outubro. O apoio de Bolsonaro pouco melhorou a preferência do eleitorado por Celso Russomanno, mas ampliou a rejeição.

Ganhou no segmento dos eleitores com renda até 2 salários-mínimos, mas perdeu em todos os demais, com migração diversificada. 

Tanto Boulos como Russomanno tem perspectiva de chegar ao segundo turno contra Bruno Covas. Não será uma disputa entre o melhor, mas o menos pior: o menos rejeitado, prevalecendo o voto útil. Quaisquer que sejam os candidatos, tenderão a perder para os votos nulos e brancos.

No Recife, a nova força emerge com a Delegada Patrícia Domingues, uma figura política híbrida, passando a conquistar o eleitorado de centro-direita, que vinha mantendo a preferência por Mendonça Filho do DEM. Conta com o apoio da dissidência do PSDB, liderada por Daniel Coelho, atualmente no Cidadania, que abriu mão da sua candidatura a favor de Patrícia. 

Estaria unindo os insatisfeito com os Governos do PSB, conquistados pela liderança de Eduardo Campos e como alternativa à disputa familiar entre os descendentes de Miguel Arraes. Esses manterão as suas candidaturas, mas no segundo turno, o eleitorado de esquerda tenderá a se concentrar em João Campos, caso a adversária seja a Delegada Patrícia.

Mas João Campos é o que tem maior índice de rejeição, reunindo todo "voto útil" a favor da Delegada. 



quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Uma inovação fracassada?

  O  Partido Novo surpreendeu em 2018 com uma votação expressiva do seu candidato à Presidência João Amoedo, a eleição de Romeu Zema para o Governo de Minas Gerais e a formação de uma bancada federal, inusitada para um partido em primeira eleição.

Diante do sucesso, movido pelo desejo de sociedade pela renovação na política, buscou inovações adicionais, como a seleção dos seus candidatos a Prefeito, de forma profissional, através de "head-hunters". Em São Paulo, esse processo descartou a candidatura de Emerson Kapaz, por ser um veterano, envolvido em disputas políticas, para escolher um novato, ainda que ocupante anterior de cargos não eletivos, na Administração Pública: Felipe Sabará.

Ele teria rompido um dos compromissos assumidos ao ser formalizado, como candidato do partido: seguir rigorosamente os princípio e as posições nacionais do Partido.

Sabará assumiu uma posição pessoal de apoio a Bolsonaro, esperando ter um aceno desse a seu favor.

O Partido Novo, embora tenha apoiado, em bloco, a maior parte das propostas governamentais, principalmente na área econômica, definiu-se como independente. 

O processo de recrutamento e seleção profissional tem sido positivo para escolher bons gestores, mas não se mostrou eficaz para a escolha de bons políticos. 

Em primeiro lugar é preciso definir o perfil de um bom político, para definir os parâmetros de seleção.

Duas condições são preliminares: capacidade de conquistar votos a seu favor ou do partido; vocação ou competência de articulação.

Dependendo dos princípios partidários, honestidade é condição eliminatória. Não tem sido para a maioria dos partidos. 

Consistência ideológica: não é apenas pelo discurso atual, mas respostas qualitativas a uma dezena de questões específicas. O mais comum é de concordância ou não com frases, mas a justificativa da escolha indicará consistência ou não.

Há outros elementos, mas a expulsão de Felipe Sabará definida pela Direção Nacional do Partido Novo, indica que a seleção profissional falhou nesse item. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Acordos interessantes

  Os acordos comerciais assinados pelo Brasil com os EUA estão no bojo de uma disputa entre os EUA e a China, focado, no momento, na batalha pelas tecnologias de base das telecomunicações.

A China está na frente, com larga vantagem, sobre as empresas ocidentais, na tecnologia 5-G e os EUA, com Trump na Presidência, quer barrar o avanço da Huawei num dos maiores mercados nacionais, depois dos EUA: o Brasil  com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, com o volume de aparelhos celulares, superior ao da população. 

Para isso oferece um bilhão de dólares, ao Brasil, para evitar que a infraestrutura de comunicações seja dominada pelos chineses. 

A par da questão dominante, os acordos preveem diversos pontos interessantes para o Brasil,  como as cláusulas anti-corrupção, ou mais precisamente, anti-concussão.

Concussão é a prática do agente público exigindo ou extorquindo o empresário privado de uma propina para liberar pagamentos, relevação de penalidades e outras eventuais necessidades do interessado.

Essa prática que grassou, no país, nos últimos anos, afastou os investimentos diretos das empresas norte-americanas, principalmente no setor de óleo&gás, deixando o espaço para as empresas asiáticas.

Algumas operando no Brasil, deixaram o país e outras desistiram de vir, apesar das imensas oportunidades geradas pelo pré-sal. 

Não aceitaram as práticas, pelo risco de serem punidas no país de origem, enquanto o Brasil era leniente.

Os EUA querem que o Governo Brasileiro coiba aquelas práticas danosas.

A partir da consolidação dos acordos, as empresas norte-americanas do setor de óleo & gás tenderão a retornar, seja nas privatizações das refinarias, como na exploração do pré-sal. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Chico Rodrigues, lídimo representante da velha política

Chico Rodrigues emergiu das trevas do Baixo Clero e foi tornado uma celebridade internacional, pelo dinheiro que escondia junto à bunda. 

Veio  à luz para fazer companhia ao seu companheiro de Baixo Clero da Câmara dos Deputados, ao longo de mais de 20 anos. Tem outro  companheiro emergido do Baixo Clero na Presidência do Senado.

Chico Rodrigues é uma típica figura da "Velha Política", com grande presença e eleitorado estadual, mas pouco efetivo na política nacional.

Engenheiro agrônomo formado em Pernambuco migrou para Roraima, na mesma leva dos técnicos pernambucanos para ajudar na administração do novo estado, até então um território federal, entre eles Romero Jucá. Logo ocupou a Secretaria da Agricultura.

Passou por vereança em Boa Vista, foi eleito deputado federal, pela primeira vez, em 1990, sempre associado aos "donos do poder" em Roraima. Voltou à Secretaria da Agricultura no primeiro mandato de Neudo Campos, o qual foi reeleito e depois renunciou para não ser cassado. Foi reeleito sucessivamente, a deputado federal, até 2010, quando disputou a Vice-Governança na chapa de José de Anchieta, então oposição a Neudo Campos, sendo eleitos.

A correlação de forças mudou, José de Anchieta foi cassado, com Chico Rodrigues, assumindo o Governo. Disputou a reeleição, mas foi derrotado por Sueli Campos, esposa de Neudo Campos, que assumiu o lugar do marido, então impedido, sendo eleita Governadora.

No final do mandato Chico Rodrigues também o perdeu por decisão do TRE,  por irregularidades eleitorais da chapa liderada por José de Anchieta. 

Após um intervalo de 4 anos, quando transitou pelo PSDB, candidatou-se ao Senado pelo DEM, dentro da onda bolsonarista, recebendo o apoio expresso de Jair Bolsonaro, quando declarou um "quase casamento consensual".

Eleito em primeiro lugar, acompanhado por Mecias de Jesus, frustrando a reeleição de Romero Jucá, que ficou em terceiro com uma pequena diferença de votos. Com o apoio do Presidente Jair Bolsonaro assumiu diversos "lotes" da Administração Federal no Estado ou na Região, até então dominado por Romero Jucá, indicando os seus apaniguados.

Operava mais como despachante dos interesses estaduais, através das emendas parlamentares, com o que garantia as suas sucessivas reeleições.

Flagrado com dinheiro na cueca, não importam as explicações, tornou-se um "contaminado" que ninguém o quer por perto.

Bolsonaro já o deixou na estrada, como já vez com outros velhos amigos, o DEM quer expulsá-lo. A preocupação é que com a sua resistência mais coisas venham a tona, inclusive corrupção dentro Governo, o que é negado peremptoriamente.

Apenas o seu companheiro Davi Alcolumbre ainda tentava salvá-lo, nos bastidores. Não adiantou.

Pediu licença por 121 dias, mas não terá condições de retornar. Tornou-se uma figura incômoda que ninguém quer acolher.

Será sacrificado no altar da Nova Política, como típico representante da velha política.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O "agro-humanista" é o futuro do Brasil

Os grandes produtores de grãos já semearam a produção da nova safra, a qual deverá alcançar novos recordes, impulsionado pelos bons resultados da safra deste ano. 

Por outro lado, o mundo estará demandando os grãos e outros produtos do agronegócio para atender a consumos maiores por alimentos, além da reposição de estoques.

Diante da pandemia e, principalmente, vencida a pandemia, depois dos cuidados com a saúde, a principal prioridade dos Governos será a segurança alimentar. Um amplo desabastecimento de alimentos, ou forte aceleração nos preços dos mesmos, "derruba Governos".

Para muitos países, com carência de terra e de outras condições para a produção agro-pecuária o Brasil é a "tábua de salvação".

É uma grande oportunidade para o Brasil. 

Mas vê-la apenas pela dimensão econômica leva ao risco da especulação, da exploração indevida da oferta brasileira e organização ou fortalecimento de cartéis e monopólios. 

Será terrível, mas não está fora de risco, o aproveitamento daqueles que só querem ampliar os seus ganhos e deixar milhões de pessoas sem comida, porque não chegarão a elas.

Sem a incorporação da dimensão  humanista, no sentido de destinar as grandes produções do seu agronegócio para vencer a fome no mundo, as contestações mundiais - usando os argumentos ambientais - serão crescentes.

Por outro lado, o agronegócio humanista ajudará a melhorar a imagem internacional do Brasil. 


domingo, 18 de outubro de 2020

A missão humanitária do agronegócio

 O agronegócio brasileiro é indubitavelmente um grande sucesso produtivo e econômico. Enfrenta contestações ambientais, mas tem uma missão mundial, mais ampla, que precisa ser melhor entendida pela sociedade brasileira: contribuir decisivamente para acabar com a fome no mundo.

O mundo já tem 7,5 bilhões de pessoas e, segundo a FAO, em 2019, ainda 690 milhões passaram fome. 

A população mundial continua crescendo e poderá chegar a 9 bilhões em 2035 e 10,5 em 2050 (segundo as estimativas da ONU).

A população  dos países de renda alta tende à redução progressiva e ao envelhecimento da sua população, sendo cada vez mais exigente em relação à saudabilidade dos alimentos.

Os países de renda média manterão pequeno crescimento, no conjunto, mas não de forma uniforme. O Brasil tende a seguir a tendência dos ricos, enquanto China e outros países asiáticos ainda seguirão crescendo, ainda que a taxas menores.

Os maiores crescimentos serão em países de renda baixa, principalmente na África e na Ásia, onde a perspectiva é de parte da população ainda passe fome.

Mesmo em países de renda média como o Brasil, dada a desigualdade de renda, parte da população ainda passará fome. Segundo a FAO, no período 2017 a 2019, antes da pandemia do novo coronavirus, 43 milhões de brasileiros teriam passado fome.

O Brasil é o país que tem as melhores condições para ajudar a eliminar a fome no mundo. Além das condições climáticas favoráveis, através da tecnologia passou a aproveitar terras anteriormente improdutivas. E conta com empreendedores inovadores, dispostos a investir continuamente, no aumento  da produtividade e melhoria da qualidade dos produtos.

Para efetivar o aumento da produção de alimentos e cumprir a missão humanitária contra a fome precisará superar diversos desafios:

  1. viabilizar e reduzir o custo logístico que encarecem o preço dos alimentos na ponta final para o consumidor, tornando-os inacessíveis, para os mais necessitados;
  2. aumentar a produção, sem promover desmatamento, utilizando preferencialmente (ou exclusivamente) áreas degradadas, mediante uso intensivo de tecnologia para a sua recuperação;
  3. superar a imagem negativa em âmbito internacional do agronegócio, em relação ao impacto ambiental;
  4. processar os seus insumos alimentares em comida pronta ou semi-pronta para consumo, uma vez que as pessoas precisam comer a comida pronta e não as matérias-primas;
  5. garantir a saudabilidade dos alimentos;
  6. evitar a monopolização ou  cartelização  (ou garantir a livre concorrência) na comercialização ou processamento dos alimentos;
O principal protagonismo no enfrentamento dos desafios deve ser do próprio agronegócio, com apoio institucional do Estado. Não pode esperar por iniciativas do Governo, mas sair à frente e conquistar o apoio  da sociedade urbana brasileira.

Não bastam campanhas de que Agro é tech, agro é pop. É preciso demonstrar que Agro é sustentável e que Agro tem missão humanitária.

Agro é solução contra a fome, ou Agro é o fim da fome. 

Mas até alcançar essa condição será necessário superar os desafios acima referidos.

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Dinheiro nas nádegas

  Chico Rodrigues, velho companheiro de Jair Bolsonaro, no  baixo clero da Câmara dos Deputados, ao longo de 20 anos, foi objeto de uma ação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal.

Fundada numa suspeita de desvio de recursos públicos destinados à saúde, o Senador, recebeu, em sua casa em Boa Vista, capital de Roraima, uma visita inesperada e indesejada da Policia Federal. Para evitar a apreensão de uma quantia em dinheiro vivo, escondeu na cueca, mas foi descoberta e deu origem a mais um episódio pitoresco da política brasileira, que viralizou na mídia, tanto tradicional como na virtual. 

Embora Bolsonaro tente se afastar do escândalo, afirmando que não foi dentro do seu Governo, da Administração Federal, mas de um membro do Congresso, para efeito do imaginário popular não há diferenças. 

A corrupção continua funcionando na gestão pública e com recursos oriundos do Governo Federal. Dai a participação da Polícia Federal: suspeita de crime federal. 

O principal impacto será na imagem de Bolsonaro junto ao seu público.

Teve grande apoio popular e formou um amplo grupo de seguidores pela promessa de um Brasil sem corrupção, com apoio às operações Lava-Jato e avançar institucionalmente no combate à corrupção. 

Convocou e foi atendido por Sérgio Moro que abandonou a carreira jurídica para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública na expectativa de institucionalizar as medidas anti-crime. A sua proposta foi desfigurada e deu ensejo à soltura de André do Rap. Moro acabou deixando o Governo, retirando o aval da continuidade da Lava-Jato, denominação adotada popularmente como o combate à corrupção.

Diante das críticas dos seus seguidores de que estaria acabando com a Lava-Jato, assumiu que sim, justificando que tinha acabado com a corrupção no seu Governo. Um sofisma para dizer que a corrupção ainda existente era nos nos governos estaduais, municipais ou no Congresso, onde ele não seria responsável.

Bolsonaro alega que a eventual prática corruptiva do seu velho companheiro, Chico Rodrigues, não foi dentro do seu Governo. 

O problema é convencer os seus seguidores ou adoradores de que não tem nada a ver com isso. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O agro como capitalização da indústria

  No passado os excedentes da acumulação de capital do café, um produto agricola, financiou a instalação da indústria brasileira. Não apenas uma indústria processadora de produtos do campo brasileiro, mas de uma gama diversificada de produtos voltada para o mercado interno. Os principais produtos do complexo agro-pecuário-florestal industrializados foram o algodão, para os tecidos, a madeira, para os móveis, entre os não alimentos e o açúcar, as carnes e o leite entre os alimentos. Umas das principais indústrias alimentícias, dessa fase inicial foi do trigo, cuja matéria prima era toda importada.

A indústria cresceu e se diversificou em torno de produtos metalúrgicos e derivados de petróleo, superando em muito a participação da agropecuária dentro do PIB.

A indústria brasileira foi fruto do capital do agronegócio. Com essa capitalização promoveu e impulsionou o crescimento macro da economia brasileira.

O próspero agronegócio brasileiro poderá exercer e novo esse papel e agora financiar a reindustrialização brasileira? 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O agronegócio como propulsor da economia

 A agropecuária brasileira segue em grande expansão, superando os obstáculos e atendendo às demandas nacionais e mundiais.

Na parte nacional o aumento dos preços dos alimentos, com maior visibilidade para o arroz e feijão, foi debitado à insuficiência da produção e, consequentemente, da oferta, diante do forte crescimento da demanda provocada pelo auxílio emergencial. No período, houve um aumento da produção desses alimentos, mas teriam ocorridos problemas logísticos, associados à especulação. Aparentemente o mercado se equilibrou, com a demonstração de que a agropecuaria brasileira tem total capacidade de atender às demandas nacionais e ainda ter grandes excedentes para suprir o mundo.

Enfrenta contestações ambientais, mas já surgiram contestações sobre o seu "poder de fogo" macroeconômico.

Os defensores do agronegócio alegam que este representa entre 24 a 30% do PIB, mas isso somando toda cadeia produtiva, inclusive os "chefs de cusine" que preparam os pratos sofisticados servidos aos "gourmands nacionais". Já teria chegado a esse nível de 30%, mas vem decrescendo não só em função do crescimento de outros setores, mas também pela perdas na agroindústria. Essa envolve os alimentos assim como os não alimentos.

A agropecuária, no sentido estrito, abrangendo as lavouras e a pecuária, atividades tipicas do campo, representariam apenas 6 a 8% do total do PIB.

Isso se explica por serem atividades iniciais da cadeia produtiva, com baixo custo/valor agregado e o PIB soma apenas os valores adicionados aos dos produtos anteriores.

O segmento moderno, que hoje representa a maior parte, tem elevada produtividade da terra, com a introdução de modernas tecnologias e equipamentos modernos. Reflete-se na produtividade da mão-de-obra, o que significa, em contrapartida, menor volume de trabalhadores e menor efeito-renda (a renda adicional gerada pelos gastos com os salários dos trabalhadores.

O volume maior de trabalhadores na agropecuária, mostrada nas estatísticas oficiais decorre da agricultura familiar, ainda com baixa produtividade, tanto da terra como do trabalho. O que se reflete no maior contingente de trabalhadores, supostamente um benefício social maior. A maior parte da produção da agricultura familiar é consumida no mercado interno, com pouca participação das exportações. 

O agronegócio tem na sequencia da cadeia produtiva, parte ainda no campo, de uma industrialização dos produtos. Para efeito do PIB, já é incluída como indústria, portanto fora dos 6 a 8% da agropecuária estrita.

O processamento da cana para produção de açúcar ou etanol, a produção de carnes, seja de aves, suinos ou bovinos e a produção de suco de laranja, apenas para citar alguns dos principais produtos de exportação do agronegócio, já são indústria e não mais agropecuária. Não estão no setor primário da economia, mas no secundário.

A principal agregação de custo/valor aos produtos do campo ou mesmo da industrialização inicial, não está - com se supõe no processamento dos produtos, mas nos serviços, principalmente na logística e na comercialização, tanto no atacado como no varejo.

Do valor final pago pelo consumidor nos supermercados ou quitandas apenas uma pequena parte é da fazenda. A maior parte ocorre pós porteira em serviços.

Isso gera uma contradição ou paradoxo: se o custo logístico for reduzido, com ganhos de produtividade, a soma dos valores adicionados do setor deverá cair, reduzindo o impacto relativo do agronegócio dentro do PIB. 

Esse quadro é relevante para avaliar a força do "motor" do agronegócio para promover um crescimento sustentável da macroeconomia brasileira.

Com uma participação atual, mais próxima de 20%, um crescimento de cerca de 10% no agronegócio representaria apenas 2% do pib.

O motor do agronegócio teria maior capacidade de impulso, na medida em que agregasse mais trabalhadores, os quais com a sua renda impulsionasse outros setores, não diretamente vinculados ao agronegócio. Por exemplo, uma compra maior de carros de passeio, de eletrodomésticos ou de imóveis. 

Como a agropecuária tem baixa geração quantitativa de empregos essa geração de  empregos precisa ocorrer nos outros segmentos da cadeia produtiva, principalmente na indústria e na logística.

Mas tanto em um como em outro é preciso melhorar a produtividade, para gerar mais trabalho, mais emprego é preciso aumentar substancialmente a produção e vendas.

Não bastará aumentar as vendas para o mercado interno, uma vez que a recuperação geral do consumo das famílias, ainda tem sido lenta. O "boom" dos alimentos  decorrente do auxílio emergencial deverá refluir, com a redução dos valores e eventual descontinuidade.

O agronegócio terá que expandir a sua participação no mercado global, com produtos de maior valor adicionado. Sem isso o impulsionamento do agronegócio terá efeito reduzido sobre o crescimento do PIB.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Imaginário popular e esperanças

 Iniciada a campanha eleitoral pelas rádios e tvs algumas mudanças importantes podem ocorrer nas bases eleitorais dos candidatos.

Os candidatos passam a ser mais conhecidos e passa a predominar o imaginário popular.

Volta a prevalecer o principal fator que motivará ou influenciar o voto do eleitor: a esperança. A esperança de uma vida melhor.

Em 2002 a esperança nacional chamou-se Lula, em 2018, o novo nome foi Bolsonaro. Em São Paulo, em 2016 a esperança emergiu como Dória, mas essa foi traida pelo abandono precoce da Prefeitura. Em 2020, por enquanto, nenhum nome encarna a esperança. Apenas Boulos e Artur do Val vem emergindo para ocupar o lugar.

Em 2020 a pandemia provocou uma piora nas vidas da maioria do paulistano. A esperança é marcada pela perspectiva de vencer o coronavirus, recuperar o que se perdeu e retomar uma trajetória de melhoria.

Dentro do imaginário popular quais as figuras que são percebidas como as melhores para retomar a esperança.

A figura na liderança é do protetor, agora associada a do provedor, representada por Celso Russomanno. Com o seu programa de TV ele criou a imagem de protetor do consumidor. A imagem está acima das ideologias e partidos, o que explica o apoio de eleitores do PT em pleitos anteriores a Russomanno. Para compensar a inevitável migração de parte desses eleitores a outros candidatos, ele está agregando a imagem de provedor, associando-se a Bolsonaro e prometendo um tipo de "auxílio emergencial paulistano".

Bolsonaro, com o renda Brasil, está tentando capturar  a imagem de principal provedor, assumido por Lula. Os oponentes estão segurando a aprovação, para não ocorrer antes das eleições. Bolsonaro, os bolsonaristas e seus apoiados tem que enfrentar a frustração de muitos com a descontinuidade ou com a continuidade com valores menores do auxílio emergencial. A frustração tende a ser maior que a esperança.

A figura forte no imaginário popular é a do superador, o que consegue superar as adversidades, principalmente o risco da morte. Bolsonaro ganhou muito em 2018 ao vencer as consequências da facada. Bruno Covas é percebido como um superador, que venceu várias crises graves decorrente do câncer e não abandonou o posto para combater o coronavirus. Para alguns não é só um superador, mas também um vencedor. 

Boulos emerge como a figura de um incansável lutador, na defesa dos miseráveis da cidade. Diferentemente de outros que discursam a favor "dos que mais precisam", Boulos assume o comando deles, com o exército de maltrapilhos dos "sem teto", seja dos moradores de rua como dos invasores de propriedades públicas e privadas, para instalar as suas barracas de lona.

É um lutador com muitos adversários que poderão se unir para evitar a sua eleição. 

Pelo que mostram as pesquisas antes do início da campanha oficial, Boulos é quem irá tirar mais eleitores ainda favoráveis a Russomanno: os petistas  e os jovens. A incógnita é o quanto essas perdas serão compensadas pelo bolsonarismo. Segundo as pesquisas, em pequena monta.

Na reta final da campanha as propostas para a cidade ou a nacionalização darão lugar ao emocional, à capacidade de atração das figuras marcantes dentro do imaginário popular.


domingo, 11 de outubro de 2020

Não é o Congresso que queremos (3)

 A principal insatisfação da sociedade com o Congresso é com a sua relação "comercial" com o Executivo, baseado no "troca-troca", ou "toma lá, dê cá". 

É a negociação de votos de apoio a projetos do Congresso, em troca de emendas parlamentares, cargos dentro do Executivo e outros benefícios. 

Esse é o modelo que prevalece ao longo de muitos anos, estabelecido antes mesmo do regime militar, que no inicio, fechou o Congresso, mas depois reabriu adotando o "troca troca", mas sem "pegar ou largar". Era "pegar ou pegar"(*). Foi ampliado e consolidado com o eufemismo "presidencialismo de coalizão". 

(*) pegar a oferta ou pegar a prisão.

O "troca-troca" tornou-se a marca da "velha política". Jair Bolsonaro prometeu acabar com o modelo, não negociar com a velha política, não lotear os cargos da Administração Federal e outras práticas, mas ao sinal de risco de "impeachment", mudou de idéia e passou a negociar com o "centrão" o principal núcleo da "velha política".

Ampliou a insatisfação da sociedade que não se sente representada. No que tem razão, mas por distorções do modelo representativo.

O Congresso, no seu todo, representa o povo brasileiro mas de forma fragmentada. Alguns deputados ou senadores representam interesses comunitários ou regionais. Outros, interesses corporativos. Os que representam princípios, visões ideológicas ou programáticas de caráter nacional seriam minoria.

A representação comunitária ou corporativa é fator essencial da democracia, na medida em que são partes e segmentos reais da sociedade brasileira, cada qual com as suas visões de mundo e seus interesses. São partes indescartáveis do Brasil e pretender excluir do processo político é antidemocrático. A democracia requer que todo o povo, sem discriminações, seja representado no Congresso Nacional.

Os partidos políticos que deveriam unificar os fragmentos, em políticas nacionais não cumprem esse papel.



Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...