sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Mais um episódio da guerra interna do PT

Dilma não precisava ir a Davos. A menos para assinar um termo de capitulação. Aceitar o fracasso da sua nova matriz macroeconômica. Fez melhor. Mandou Joaquim Levy para dizer às lideranças dos investidores financeiros mundiais que irá fazer o que eles querem. 

A economia, para eles, é um jogo que trabalha com um elemento operado virtualmente, mas que tem base e reflexos reais. E o jogo se baseia em crenças, aparentemente comprovadas por modelos matemáticos. Com lógicas que estão fora ou até contrárias ao senso comum dos leigos. Se aumentar a taxa de juros a inflação cai. É um contra senso, mas acontece. 

O ajuste vai provocar um decréscimo da produção global, ou seja, do PIB. Significa recessão. A diferença de Levy para o seu antecessor é que ele reconhece. Não escamoteia, não procura infundir um falso otimismo. Tem transparência e credibilidade. O que ele espera é que com a recuperação da credibilidade os investidores financeiros voltem a financiar o Brasil, a taxas menores, e garantam um crescimento sustentável. Pequeno, mas sustentável. 

O caminho alternativo é não fazer o ajuste, resistir no modelo anterior até chegar ao colapso. Além de faltar água, de faltar luz iria faltar dinheiro. E a situação econômica para os brasileiros iria ficar pior. 

A estratégia é de fazer uma dieta rigorosa agora, para evitar uma cirurgia futura em situação mais desfavorável. A dúvida e angústia é saber por quanto tempo durará a agonia.

A oposição está numa situação paradoxal. O Governo está se propondo a fazer o que ela, caso tivesse vencida a eleição, faria. Ela precisa dar a Levy o apoio que Dilma não explicita, porque apenas se conforma em fazer o que não gosta. Mas tem que manter a autoridade e se defender da oposição real.

Essa está dentro do PT e dos antigos companheiros. A liderança técnica dessa oposição foi assumida por Belluzo, um economista estruturalista, defensor da "nova matriz macroeconômica". Opõe-se ao retorno do "tripê macroeconômico" dos monetaristas, por causar a recessão e vir a prejudicar os programas sociais e os trabalhadores. Ele tem razão, mas com a sustentação do modelo anterior seria pior. Além de não promover o crescimento, levaria a economia brasileira ao colapso.

A oposição política foi assumida por José Dirceu, dentro do PT. Ele é desafeto de Dilma e vice-versa, na disputa dentro do "projeto de poder" do PT. JD foi o mentor desse projeto. Foi o gestor e operador que levou |Lula a ser eleito e reeleito. Depois seria a vez dele, por oito anos. Mas teve um acidente de percurso e preparou a cama para Dilma se deitar. Ela tomou o lugar que ele teve que deixar por causa do "mensalão". 

Não obstante o julgamento e condenação no caso do "mensalão" ele não teria abandonado a sustentação financeira do projeto de poder do PT e o transferiu para dentro da Petrobras, com a ajuda de José Janene e outros, montando o "supermensalão" ou o "petrolão".

Montou o mecanismo de captação de recursos, buscou parceiros confiáveis, e operou, com a maior parte "não contabilizada" e uma parte formalizada, para demonstrar uma fonte de renda formal, com o pagamento de todos os impostos.

Como em a política é um campo fértil para "coincidências" algumas das empresas que cresceram vertiginosamente com contratos com a Petrobras contrataram serviços de "lobby" com a empresa de José Dirceu. Como essa categoria de serviços não é reconhecida e até criminalizada, embora praticada intensamente, é mascarada como consultoria, contaminando a real atividade.

Foram contratos formais, legais, com faturamento transparente para justificar as despesas do ex-Ministro da Casa Civil, fora do Governo. Já conhecidas e não escondidas, mas não evidenciadas pela mídia.

José Dirceu, embora ainda cumprindo prisão domiciliar está tentando retomar o protagonismo político, criticando a política econômica - que não é nova, mas a velha - no seu blog e reunindo "companheiros" para formar uma facção, contrária à Dilma. 

Como derrubá-la do poder só ajuda a oposição, a alternativa é "sequestrá-la" e tornar refém dessa nova facção, comandada por JD.

A reação da turma da Dilma, foi imediata. Por mais um dessas coincidências, logo depois das iniciativas de José Dirceu, foram vazadas as supostas informações confidenciais, que estariam nas delações premiadas, dos contratos das empresas denunciadas na Operação Lava-Jato com a firma JD. O objetivo é claro e usual: desconstruir a credibilidade do adversário: evitar a reemergência da liderança de José Dirceu. 

Reclama-se muito da pouca ação da oposição diante da conjuntura atual. Mas parafraseando um dito tradicional, para uma situação que briga tanto internamente entre os amigos, não precisa de uma oposição, como inimiga.


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