quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

OS MITOS SOBRE A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

OS MITOS SOBRE A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

A indústria no Brasil está, indubitavelmente, em crise, com uma redução da sua participação no conjunto do PIB, um processo de encolhimento de diversos dos seus subsetores, com redução da produção, fechamento de unidades e redução de empregos.

Os diagnósticos dessa crise estão, na maioria, equivocados. Baseiam se em mitos que levam a proposições e políticas equivocadas que não contribuem para a reversão desse processo de degradação industrial.

Interpretam erroneamente as macroestatísticas, sem a devida percepção das peculiaridades internas.

Três são os equívocos principais de diagnóstico, apesar de aceitos consensualmente como corretos:


  1. confusão entre industria brasileira e indústria no Brasil;
  2. baixa participação do Brasil nas cadeias produtivas globais;
  3. baixo investimento em pesquisa & desenvolvimento e baixo grau de inovações.

Indústria brasileira e indústria no Brasil

Em vários setores industriais brasileiros não existe uma indústria brasileira - no sentido lato - mas uma indústria instalada no Brasil, por multinacionais. Isso é mais evidente na indústria automobilística e na indústria química.

As principais multinacionais mundiais, promotoras e gestoras das cadeias produtivas globais estão presentes no Brasil, com unidades industriais, como etapas dessas cadeias produtivas, desmentindo a idéia generalizada de que o Brasil não está inserida nas cadeias produtivas globais. Está inserido e de forma ampla. Mas está fracamente inserida nas cadeias mundiais de fornecimento, que é a outra face da cadeia produtiva. Isso faz com que a indústria no Brasil seja altamente importadora e pouco exportadora, gerando crescentes déficits comerciais.

Praticamente não há nenhum setor industrial no Brasil que não tenha uma presença relevante das principais empresas multinacionais, líderes mundiais no setor. Isso ainda ocorre em alguns setores de serviços, mas não na indústria.

Isso significa que as decisões estratégicas sobre investimentos, tecnologia, níveis de operação, empregos e outras não são necessariamente decididas no pais, mas fora dele, nas sedes das respectivas multinacionais.

A indústria genuinamente brasileira, conduzida por empresas familiares ou capitais nacionais, está desdobrada em dois principais conjuntos:

  • o dos grupos que se tornaram ou estão se tornando multinacionais, montando a sua cadeia produtiva global; e
  • a maioria das empresas industriais, formada por médias e pequenas empresas, atuando em mercados locais ou como subfornecedores das grandes cadeias produtivas.
Essas últimas tem um importante papel na sustentação dos níveis de atividade e de emprego, mas não tem capacidade de comando, ficando na dependência das estratégias das grandes indústrias, cada vez mais dominada pelas multinacionais.


Indústria brasileira deve ser percebida e entendida como indústria multinacional no Brasil. Ou mais especificamente, uma indústria desenvolvida por grupos multinacionais em território nacional. 

Inovação

Os investimentos em pesquisa & desenvolvimento são realizadas pelas multinacionais em diversos centros tecnológicos, inclusive no Brasil. Os seus resultados,em inovação, são protegidas por patentes das empresas, e utilizadas por todas as unidades da mesma empresa, qualquer que seja o seu local. Não gera vantagem competitiva de unidade brasileira em relação às demais unidades do mesmo grupo.

As inovações desenvolvidas por uma multinacional não são nacionalizadas, tampouco democratizadas. O Brasil é um grande gerador de inovações, dentro dessas empresas, mas não só ele se beneficia, tampouco gera vantagem competitiva. 


Escala: o principal fator de competitividade

A organização da produção industrial segundo cadeias produtivas empresariais tem como um dos principais objetivos, a ampliação de escala de cada uma das unidades produtivas. A concepção básica é que cada unidade produtiva deve ser especializada e suprir o mercado mundial e não o mercado local, ou mesmo regional.

Essa especialização pode adotar duas características:

  • uma é a especialização de parte ou componente do produto final, sejam os equipamentos elétricos de um automóvel, o sistema de freios ou outros subsisemas, como ocorre na cadeia produtiva automobilística, contemplando subsidiárias e parceiras;
  • outra é a especialização de um produto pronto, com a divisão dos produtos específicos entre as diversas fábricas. É a especialização adotada pela Nike, Adidas e outras empresas do setor de produtos esportivos.
A China e a Índia, mercê de uma grande população que pode assegurar, no futuro, uma grande demanda interna, tem optado por se inserir nas cadeias produtivas globais, atraindo as multinacionais para se instalarem no país, sempre associada a uma empresa chinesa (em geral estatal), com unidade de megaescala.

Essas megaunidades produtivas tem sido o principal elemento de competitividade dos produtos industriais chineses e indianos. São unidades com grande escala de produção, altamente tecnificadas, com redução relativa do uso de mão-de-obra, ou seja, de alta produtividade, em que o peso desta, ainda que mais barata, é diluida dentro dos custos de operação (OPEX). Com a produção voltada para todos os mercados, seja o interno, como o externo.

O Brasil, não seguiu a mesma tendência, mas atraiu investimentos das multinacionais, para escalas médias de produção, dimensionadas apenas para o mercado interno e dos paises vizinhos.

A média escala não tem condições de obter os mesmos níveis de produtividade, alcançadas pelas grandes e mega escalas de produção.





O caso da indústria química

Estudo recém concluido sobre a indústria quimica promovido pelo BNDES e elaborado pela Bain & Co e GasEnergy, faz um extenso retrato sobre o setor, porém incompleto. Ao contrário de outro estudo também promovido pelo BNDES e elaborado pela mesma empresa sobre petróleo & gás que identifica melhor as empresas atuantes em cada setor. Esse outro estudo analisa as estratégias das principais empresas, no mundo e no Brasil. Tais aspectos embora considerados no estudo da indústria química é apresentada de forma superficial.

O mais grave desse novo estudo está nas proposições que se baseiam no velho paradigma de produção para o mercado interno, com extensão para o Mercosul, e medidas protecionistas. A principal proposta que seria o subsídio do gás para a petroquímica, de pronto sofreriria contestações na OMC.


As oportunidades de mercado são analisadas a partir dos cenários de evolução da economia brasileira. 


No entanto, na maior parte dos setores (exceto os básicos) o mercado é dominado pelas multinacionais que tem atuação em todo o mundo. Um ponto importante dessa atuação mundial é que as inovações não são nacionais, tanto do ponto de vista do local da sua geração, como da sua aplicação. Elas são de aplicação mundial, a menos de algumas exceções refentes a especificidades de um determinado mercado.


As inovações são empresariais e não de um país, portanto, não é relevante o maior ou menor investimento em pesquisa & desenvolvimento da empresa no país. Os resultados não são auferidos pelo país, tampouco pela unidade produtiva instalada nesse pais. As inovações aplicadas ou replicadas em todas as unidades mundiais da multinacional. 


Os investimentos em inovação, feitas por uma multinacional num país não alteram a sua condição de competitividade. Os efeitos são outros, principalmente na extensão da base científica e nos empregos qualificados. Paradoxalmente (ou não) o principal efeito positivo está na desmobilização de equipes de pesquisa pela multinacional. Mas ela pode também estabelecer convênios com instituição acadêmicas do país, onde se instalam, com efeitos positivos, também de natureza científica. O impacto tecnológico é apropriado pela empresa e não pelo país.


As estratégias das multinacionais para se instalarem no Brasil segue uma das duas estratégias básicas:



  1. instalar, no Brasil, as fases finais do processo produtivo para atender às demandas nacionais;
  2. instalar, no Brasil, uma plataforma de produção mundial, atendendo o mercado nacional, o regional, continental ou mundial:
    • o mercado nacional é o do país;
    • o regional, no caso, é predominantemente o Mercosul, com extensão a outros paises sulamericanos;
    • o continental é a América, incluindo a América Central e do Norte;
    • o mundial envolve todos os paises do mundo.
Essas mesmas estratégias se aplicam aos investimentos delas em outros paises. 

Dentro dessas o Brasil é visto como um grande comprador final e um pequeno vendedor. Por conta de uma política econômica persistente à mais de sessenta anos, de uma industrialização voltada para o mercado interno, inicialmente muito fechada e posteriormente com aberturas, as multinacionais investem no Brasil para assegurar o mercado nacional, mas poucas investem para fazer no Brasil uma plataforma de exportação.

Para produzir no país para suprimento nacional e regional, o grupo multinacional pode contar com benefícios, estímulos e mecanismos de proteção contra concorrentes estrangeiros, sendo o principal as taxas de importação.

Se quiserem produzir no país para exportar não terão as mesmas vantagens e terão até algumas restrições.

Dentro dessa conjuntura, que já se consolidou como estrutura, a multinacional opta por produzir no Brasil, as fases finais do produto e importar insumos, equipamentos e tecnologia.

Com isso o Brasil se insere nas cadeias produtivas global, mas com fraca participação nas cadeias de fornecimento mundial. 

Defensivos Agrícolas

Esse quadro é típico na indústria de defensivos agrícolas, que compreende dois segmentos: o dos produtos de aplicação nas plantações contra insetos, ervas daninhas e outras ameaças e as sementes biologicamente melhoradas com maior resistência às ameaças, caracterizadas como trangênicos.

O setor é historicamente cartelizado mundialmente, dominado por um pequeno grupo de empresas multinacionais, que dominam o mercado mundial e estão com forte presença no Brasil:
  • Syngenta (Suiça);
  • Bayer (Alemanha);
  • Basf (Alemanha).
  • Monsanto (EUA);
  • Dow Chemical (EUA);
  • Du Pont (EUA);
  • FMC (EUA).
Além delas, atuam no mercado mundial  e brasileiro, ainda que volumes menores, algumas delas focadas na produção de formulados genéricos, ou seja, os com patentes vencidas:


  • Makheshim-Agan (Israel);
  • Nufarm (Austrália); 
  • UPL (India);
  • Arysta (Japão);
  • Cheminova (Dinamarca);
  • Ihara (Japão).
As empresas brasileira são em pequeno número, estando entre as 20 maiores a Nortox e a Fersol, até 2010, com a presença mais recente da Ourofino.

A presença das principais multinacionais do setor no Brasil, com unidades produtivas e centros de pesquisa confirmam a forte integração do Brasil na cadeia produtiva mundial dos defensivos agrícolas.

O Brasil é um dos principais consumidores dos defensivos agrícolas, representando cerca de 15% da demanda mundial, suprida predominantemente por essas multinacionais que importam de outras unidades suas, no mundo, os diversos produtos.

Todas as principais multinacionais tem um espectro de produção amplo, envolvendo diversos produtos químicos. Estão organizadas segundo cadeias produtivas globais, envolvendo as diversas etapas da produção, realizadas pelas suas unidades espalhadas por diversos paises no mundo.

Indústria brasileira e indústria no Brasil

A indústria brasileira, entendida como a indústria de propriedade integral ou sob controle da brasileiros está fracamente inserida na cadeia produtiva de defensivos agrícolas.

Já a indústria instalada no Brasil, com predominância de atuação das multinacionais está fortemente inserida na cadeia produtiva, com a produção em território nacional, das etapas finais dos produtos comercializados no país, com a importação de insumos e produtos específicos.

Etapas da cadeia produtiva

A cadeia produtiva de defensivos agrícolas envolve poucas etapas:

  • produtos intermediários de síntese (aromáticos e olefinas);
  • síntese de produtos técnicos (princípios ativos);
  • produção de formulados;
  • logística e distribuição;
  • comercialização e assistência técnica.
Os produtos intermediários de síntese tem pouca diversidade, não sendo destinadas apenas à produção de defensivos. 
"Está concentrada em plantas, normalmente antigas, na Europa e nos Estados Unidos. Mais recentemente, novas plantas foram construidas por empresas localizadas na Índia e na China, dentro de uma estratégia de integração vertical para trás, o que contribuiu para que estes paises se tornassem importantes exportadores de defensivos, principalmente genéricos, assim como de intermediários de síntese." 

Já os produtos técnicos e formulados são diversificados, seja pela composição, como pela destinação segundo o tipo de plantação agrícola. 

Não está clara se as estratégias das multinacionais de defensivos agrícolas é de integração vertical num mesmo país, ou de concentração de uma especialidade em cada uma das unidades geográficas.

O Brasil já esteve mais presente nas cadeias produtivas das multinacionais do setor, conforme indicação do estudo da Bain:
Iniciativas para a estruturação da química fina no Brasil já existiram no passado, inclusive para a síntese dos principais ativos de defensivos agrícolas. Entretanto tais experiências revelaram que a produção de intermediários de síntese depende o acesso ao mercado para os produtos finais. Dessa forma,o desenvolvimento da formulação ou da fabricaçao do produtos técnico no Brasil é condição precedente de intermediários para a química fina."

Por ser um importante demandante de produtos finais dos defensivos agrícolas o Brasil está presente na cadeia produtiva mundial dos defensivos agrícolas com a produção em seu território de produtos técnicos e formulados, com importação dos princípios ativos, assim como de produtos finais.


O modelo de inserção

As cadeias produtivas das multinacionais seguem as duas modalidades principais das cadeias:


  1. importam os intermediários de síntese, para a produção no Brasil dos produtos técnicos ou formulados finais;
  2. importam produtos finais, produzidos em outras unidades suas em outros países e os comercializam no Brasil, com a sua marca.
Fazendo importações internas, dentro do mesmo grupo, não precisam da interveniência de agentes comerciais externos - os traders - seguindo estratégias definidas pelos dirigentes centrais sobre a distribuição da produção e comercialização entre as suas diversas unidades.

Ou seja, a concorrência entre as unidades das multinacionais instaladas no pais, com as outras unidades do mesmo grupo não decorre de vantagens competitivas específicas, mas das vantagens comparativas avaliadas pelos dirigentes centrais. Não decorrem de estratégias descentralizadas, mas de estratégias centralizadas, com os dirigentes das subsidiárias incumbidas de missões atribuidas centralizadamente. Esses devem enfrentar os concorrentes externos, mas não os concorrentes internos.

Já as indústrias nacionais são importadoras de insumos, utilizados na produção dos produtos com a sua marca. Precisam de valer de traders para as compras no exterior.

A ampliação da presença chinesa

Mudança significativa do mercado dos defensivos agrícolas, em termos mundiais, com reflexos no Brasil é a ampliação da presença chinesa no mercado, seja de insumos como de produtos finais. 

Com preços muito inferiores dos demais fornecedores a importação de origem chinesa já é uma das maior em volume, mas não em valores.

Segundo as estatísticas oficiais os chineses perdem para os argentinos que oferecem um preço médio ainda inferior. Eventualmente essa importação seja, na realidade de produtos chineses, que chegam via Argentina, valendo-se dos benefícios do Mercosul.





Importância relativa nas vendas das multinacionais

O Brasil representou, em 2010, 15,48% das vendas mundiais de agrotóxicos, segundo levantamento da Campanha Nacional contra o uso de agrotóxicos e pela vida, em maio de 2012, com dados da AENDA (Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos)

Chegou a representar em torno de 17% da líder mundial, a suiça Syngenta e 41% das vendas mundiais da americana FMC.

As estatísticas oficias de comércio exterior não permitem identificar quem foram os importadores (no Brasil) e quem foram os exportadores (nos paises de origem), mas a suposição é de que a maior parte das importações das multinacionais foi de movimento interno, ou seja, de um estabelecimento externo para o estabelecimento sediado no Brasil.

Baixa participação na cadeia mundial de fornecimento

De um lado o Brasil está fortemente inserido na cadeia produtiva global do setor de defensivos agrícolas, com instalações comerciais e produtivas, em seu território, de todas as principais empresas do setor e se suprindo de insumos ou componentes dessas mesmas empresas produzidos em outros países, para a fabricação dos produtos finais de sua respectiva marca para comercialização junto aos agricultores brasileiros. A etapa brasileira na cadeia produtiva mundial de cada uma das principais empresas do setor é significativa, representando cerca de 17% das respectivas venda mundiais, sendo que no caso da FMC, uma multinacional norte-americana, a participação alcança 40%.

Isso significa que as empresas tem uma capacidade produtiva e uma produção para atender às etapas brasileiras, dentro da sua cadeia produtiva global. Ou seja, essas unidades do exterior estão inseridas na cadeia mundial de fornecimento, tendo o Brasil como um dos principais compradores desses suprimentos.

Por outro lado, o  Brasil está fracamente inserido na cadeia mundial de fornecimento que é o outro lado da cadeia produtiva global. As fábricas das empresas multinacionais instaladas no Brasil só atendem ao mercado nacional, com uma pequena destinação de eventuais excedentes para os paises vizinhos ou da África.

As unidades produtiva das multinacionais no Brasil não são fornecedoras de insumos, componentes ou mesmo produtos finais para as unidades produtivas ou comerciais dessas mesmas empresas em outros países.

Isso se reflete no baixo volume de exportações do setor e dessas empresas multinacionais e consequente déficit comercial.

Os investimentos dessas empresas multinacionais no Brasil tem uma escala restrita ao atendimento do mercado nacional e não havendo a decisão (ou estratégia) de instalar no Brasil "plataformas de exportação".


As razões do modelo "nacionalista"

Uma das principais alegações com relação à falta de competitividade da produção nacional em relação aos importados é o custo Brasil e a falta de inovação.

Com relação ao custo Brasil é preciso considerar que não estamos nos referindo ás condições de concorrência inter empresarial, ou seja, entre empresas brasileiras com empresas estrangeiras, mas de concorrência intra-empresarial. Ou seja, a concorrência é entre uma unidade produtiva instalada no Brasil com outra unidade produtiva instalada no Exterior, mas do mesmo grupo empresarial. A importação em vez da produção nacional não decorreria de condições de competitividade entre empresas, mas de decisão da própria empresas em importar em vez de produzir nacionalmente. Não decorre de opções comerciais, mas de opções estratégicas. 

A suposição é que as análises internas do grupo multinacional demonstrariam que o produto do grupo, com a sua marca, chegaria ao consumidor nacional mais barato ou em condições técnicas e econômicas  mais favoráveis se produzindo em outra unidade - maior, mais especializada ou mais moderna - e importado do que produzido no país. Com isso teriam condições de concorrer com as marcas dos seus concorrentes, também internacionais.

O mito da falta de inovação

O outro grande mito é que a indústria brasileira não é competitiva porque investe pouco em pesquisa & desenvolvimento e tem baixa produção de inovações.

Isso pode ser verdadeiro em se tratando de empresas industriais isoladas controladas por pessoas brasileiras que atuam no mercado nacional, de forma independente, concorrendo com empresas estrangeiras ou mesmo com multinacionais instaladas no Brasil.

As multinacionais que estabelecem e gerem as cadeias produtivas globais destinam parcelas significativas de seu faturamento em pesquisa & desenvolvimento. As principais parcelas são destinadas à instalação de Centro de Pesquisa & Desenvolvimento, com laboratórios, insumos e quadros qualificados de pesquisadores.

As estratégias usuais são CP&D especializadas, seja em produtos, em processos ou em aplicações. No caso do setor de defensivos agrícolas, um dos principais critérios é o produto agrícola, em função dos volumes de produção em determinados paises. Assim, o Brasil sedia diversos Centros de Pesquisa & Desenvolvimento de multinacionais, voltados para a soja. 

Já os resultados das pesquisas e sua transformação em tecnologias, ou seja, incorporadas aos processos ou aos produtos são reservadas à produção da própria empresa, sendo adotas nas suas diversas unidades, qualquer que seja o seu local.

A empresa ao alcançar uma inovação busca a sua proteção mediante patentes e o faz com registros em todo o mundo. Dessa forma ela se protege contra outros concorrentes. Mas a unidade nacional não ganha competitividade em relação à unidade da mesma empresa, situada em outro país, pois ambas tem o direito de utilizar a patente que á da empresa, e não da nação.

Uma inovação gerada dentro de uma empresas multinacional não é nacionalizada tampouco democratizada. 

O fato de uma inovação ser gerada por um Centro de Pesquisa & Desenvolvimento instalado no Brasil, e aplicada pioneiramente á unidade produtiva também instalada no Brasil, quando de uma multinacional, não lhe dá uma vantagem competitiva significativa. A inovação é replicada em todas as demais unidades da própria multinacional. De forma inversa, a inovação desenvolvida em outros locais é trazida para sua adoção na produção da unidade brasileira. Em pouco tempo a inovação desenvolvida num país, está disseminada mundialmente, mas restrita à própria empresa, não determinando diferenciações e vantagens nacionais: a não ser no curto prazo.

Ou seja, a eventual falta de competitividade da produção industrial nacional não decorre da falta de investimentos em pesquisa & desenvolvimento, tampouco na suposta baixa produção nacional de inovações.


Ainda há tempo e oportunidade?

O Brasil perdeu a oportunidade histórica de se tornar uma potência industrial mundial. Começou o seu processo de industrialização, com a abertura, ainda que restrita e controlada, para a instalação das multinacionais no pais, trazendo capitais e tecnologia, bem antes da Coreia do Sul, da China e de outros paises hoje potências industriais.

No entendo, orientou a instalação da indústria voltada apenas para o mercado interno (agregando os paises vizinhos) segundo uma concepção ideológica, ao contrário do que fez a Coreia do Sul e mais recentemente a China.



Uma nova política industrial

Este processo que tem levado à perda de competitividade da indústria brasileira e à desindustrialização decorre das circunstâncias de mercado ou da interferência governamental?

Nesse caso, quais são os fatores desfavoráveis e haveria possibilidade de politicas institucionais capaz de reverter a situação?


Os equívocos da política industrial brasileira

O equívoco principal decorre da concepção de desenvolvimento de uma indústria brasileira, contrapondo-se a uma invasão de empresas estrangeiras no mercado nacional.

Essa concepção foi superada pela realidade. Dada o tamanho e importância do mercado brasileiro, da sua demanda interna, praticamente em quase todos os setores industriais as grande multinacionais se instaram no Brasil, com unidades produtivas e como etapas finais da sua cadeia produtiva global.

Não será demais repetir que cadeia produtiva global não é um processo aberto, mas um processo estabelecido e gerido por um grupo multinacional: as cadeias produtivas globais são sempre empresariais.

As cadeias produtivas das multinacionais estabelecidas no Brasil, terminam aqui. O Brasil sedia apenas as etapas finais da cadeia com a produção dos bens finais vendidos em seu mercado. Quando muito se estendem para os mercados vizinhos, principalmente os integrantes do Mercosur.

As multinacionais investem e estabelecem no Brasil unidades produtivas com escala e especificidades para o mercado nacional. Não investem em unidade produtivas com escalas mais amplas para abastece o mercado mundial e não só o nacional. Enfim, não investem em "plataformas de exportação".

Por que não o fazem?


  • de uma parte porque precisam investir no Brasil para assegurar uma posição nesse importante mercado, mas não percebem condições favoráveis para a produção brasileira concorrer com as de outras unidades, por razões de mercado;
  • de outra porque o quadro institucional não é favorável para implantar plataformas de exportação.
As primeira dificuldades são de natureza ideológica: 

  • a visão ideológica é de proteção e estímulo à indústria brasileira, com tolerãncia às multinacionais, porém voltada para o suprimento do mercado interno, substituindo importações;
  • dessa forma, se a multinacional se dispuser a investir no Brasil para substituir importações poderá receber incentivos. Se for para vender para o exterior não;
  • a promoção de exportações se restringe ao apoio a empesas brasileiras, dentro da estratégia dos "campeões nacionais", mas não alcança as multinacionais;
  • uma segunda visão ideologica é de natureza ambiental, o que não favorece o setor de defensivos agrícolas.




As estratégias de revitalização industrial



A revitalização deverá mudar em 180 º a política industrial, inserindo a indústria brasileira na cadeia mundial de fornecimento.

O que significa?



A ampliação da escala de produção

Somente através do substancial aumento de produção será possível aumentar a produtividade e com isso a competitividade, sem reduzir os empregos e a remuneração dos trabalhadores.

Não há possibilidade de investir em escalas maiores, com a produção voltada apenas para o mercado inerno e dos paises vizinhos. 

As novas unidades industriais terão que ter escala mundial e para isso precisam estar inseridas nas cadeias mundiais de fornecimento. 

Para as multinacionais instaladas no Brasil a política industrial deverá estimulá-las a ampliar a escala e transformar as suas unidades no Brasil em plataformas de exportação.

As indústrias genuinamente nacionais de grande porte, também não tem alternativas: ou se multinacionalizam ou ficam estagnadas ou sujeitas mesmo à morte. Sem estarem integradas em cadeia mundiais de produção ou de fornecimento, não terão condições de sobrevivência, como grande empresa. Para sobreviver terão que se contentar em serem médias e pequenas indústrias locais: tendo como única vantagem competitiva a proximidade e o relacionamento pessoal com a sua demanda.

A alternativa de sobreviverem como subfornecedores das cadeias das multinacionais dentro do Brasil tenderá a ser temporária. Os que não conseguirem competir com fornecedores externos que ofereçam melhores condições de qualidade e custos, perderão os contratos. Os que conseguirem, mais adiante serão comprados por alguma multinacional.


Criação de um ambiente macroeconômico favorável à investimentos em empreendimentos de fornecimento mundial

Os novos empreendimentos industriais no Brasil deverão contemplar grande escala para atender não só o mercado nacional e dos paises vizinhos, como o mercado mundial, inserindo-se mais ampla e profundamente nas cadeias mundiais de fornecimento.

Para isso duas condições básicas da política industrial são vitais:

  • uma não politica cambial, deixando que as flutuações comabiais decorram das circunstâncias do mercado, minimizando a interferência governamental: o risco cambial deve ser inteiramente assumido pelo empreendedor;
  • redução das restrições às exportações, sendo essencial os acordos comerciais e tributários com os diversos paises e blocos econômicos.

















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