A cidade dormitório tem uma imagem ligada à moradia de pobres que se instalam em áreas periféricas das cidades e trabalham no centro, gastando muito tempo locomovendo-se a grandes distâncias, pelo transporte coletivo. Está associada ainda a locais com precariedade de infraestrutura.
No entanto, durante muitos anos, prevaleceu no urbanismo mundial, importado também pelo Brasil, o conceito de "cidade-jardim" que segregava a residência do trabalho. Ainda hoje, em muitos municípios prevalece a "Zona estritamente residencial" que é a área dormitório dos ricos.
Salvador é a cidade dormitório dos trabalhadores dos polos industriais que se instalaram em municípios vizinhos: Camaçari, Simões Filho, Candeias e outros. Principalmente dos trabalhadores, melhor remunerados que buscaram residências atendidas pelas facilidades urbanas, como diversidade de compras, gastronomia, educação, saúde e outros serviços públicos.
Dessa forma, embora Salvador não sediasse indústrias era, indiretamente, beneficiada pela renda gerada pelas mesmas, na forma do consumo decorrente da massa salarial, paga aos industriários.
Técnicos mais qualificados, supervisores, gerentes, dirigentes, muitas vezes tinham dupla residência. Moravam durante a semana mais próximos das fábricas e se deslocavam para Salvador no final de semana, onde tinham a residência principal.
Gozavam ainda de uma folga durante o meio da semana para "ir ao banco", consultas médicas e outras atividades abertas só durante a semana.
A explosiva expansão do mercado imobiliário de Salvador seria uma decorrência desse processo.
Suposta ou aparentemente esse processo vem se enfraquecendo, com reflexos já sobre o mercado imobiliário de Salvador, com a redução de lançamentos.
Por outro lado estão sendo lançados diversos empreendimentos, mais próximos das áreas industriais, dentro do conceito de "bairros planejados", prevendo além das residências, shopping centers, escritórios e unidades comerciais para a instalação de consultórios e escolas.
Essa descentralização terá efeitos positivos e negativos sobre a capital baiana: de uma parte reduz a pressão de expansão demográfica e das viagens urbanas, geradoras dos congestionamentos e da imobilidade urbana.
De outra parte, pode enfraquecer o seu crescimento econômico e modernização.
No caso de Salvador essa questão é crítica, pois a cidade é antiga com muitos imóveis e áreas em processo de degradação, requerendo um grande esforço do setor público e privado para a sua revitalização.
Uma outra situação de cidade dormitório da riqueza é João Pessoa que poderá receber impacto maior do que Recife, com a implantação da nova fábrica da Fiat e outros empreendimentos industriais no Município de Goiana, em Pernambuco, na divisa com a Paraíba.
Dada a maior proximidade da capital paraibana do polo industrial em relação ao da capital pernambucana, além das melhores condições de mobilidade, poderá fazer com que os executivos e empregados de maior remuneração se instalem em João Pessoa, fazendo dela uma cidade dormitório.
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