sábado, 2 de novembro de 2013

Orlas Turísticas

Fortaleza e Recife já teriam superado Salvador, como principal destino turístico. Foi o que colocou Avena, no evento "Olho no Futuro", realizado no dia 31/10/2013.
Permaneci um dia a mais em Salvador, para avaliar o turismo em Salvador e a minha visão, de quem passou recentemente, pelas três capitais, é de que o turismo da Bahia ainda é o mais dinâmico, apesar de ser uma visão parcial e pontual.
O mercado modelo, ontem fervilhava. Visitei hotéis, todos cheios. Conversa com funcionários confirmaram essa percepção.
Onde Salvador, que conheço como turista paulistano, há mais de quarenta anos, perdeu dinamismo?
Na orla.
A orla, ontem à noite, estava "deserta", ao contrário do que vi e percebi no Recife e em Fortaleza. Não tinha movimento de pessoas caminhando pela orla. Não tem "barracas".
Uma amiga que opera passeios, dentro de um dos principais hotéis de Salvador, me disse que os turistas preferem os "tours" pelas praias do litoral norte, ou Morro de São Paulo, porque não percebem atrativos na orla de Salvador.

Além da falta das "barracas" a orla de Salvador tem uma diferença em relação ao Recife e à Fortaleza: está pouco verticalizada, mantendo - predominantemente - a ocupação por prédios de até 4 andares e baixo adensamento. A exceção são alguns hotéis, com elevada verticalização.
A demanda de maior renda buscou residências, em apartamentos, em frente ao mar, em Boa Viagem, em edifícios altamente verticalizados e muito próximos, um do outro, criando um paredão que rouba o sol da praia, em determinados horários.
O mesmo ocorre em Fortaleza, na Avenida Beira Mar, nas praias de Iracema e Meireles.
Essa população com renda, gera uma demanda para restaurantes, sorveterias e lojas que atendem também os turistas.
As avenidas de beira mar mesclam residências e hotéis e uma grande movimentação de pessoas.
Outras cidades litorâneas desenvolveram o mesmo modelo, condenado pela maioria dos urbanistas e por importantes segmentos da sociedade: Rio de Janeiro, o principal paradigma, Florianópolis, Vila Velha, vizinha de Vitória  e outras.
Salvador é uma exceção, com baixa verticalização e adensamento. E também com diferença em relação a Fortaleza e ao Recife: é uma orla muito mais extensa e diversificada.
Em Salvador os "endinheirados" e seus seguidores preferiam os apartamentos no entorno da Avenida Paralela, mais interna, com um grande volume de obras, apesar das informações de que houve uma redução de lançamentos. Não foram para a orla, dadas as restrições de ocupação, que teriam sido abrandadas pelo Plano Diretor e Lei de Uso do Solo, contestadas judicialmente e agora sendo revistas.
Um dos resultados das restrições é que em parte da orla, como em Amaralina, por onde caminhei, estando hospedado no Rio Vermelho, os prédios baixos estão abandonados e degradados. Ocupados por atividades "populares" como borracharias, cabarés e outras que amedrontam e afastam os turistas do polo hoteleiro do Rio Vermelho. Este apresenta atrações, mas não de caráter praiano.

Na discussão sobre o futuro de Salvador: o que será Salvador daqui a 25 anos, entendemos que a questão principal está no seu suporte econômico. Uma dimensão que os urbanistas-arquitetos desprezam, mas que irá definir o futuro da cidade. Uma impressão é de que eles são contra a cidade turística. Talvez porque não saibam como planejar e ordenar uma cidade turística.

A minha próxima rodada é Florianópolis. Lá também existe o conflito.

Salvador não tem mais condições de ser uma cidade industrial. A Bahia soube aproveitar uma oportunidade sediando o polo petroquímico, porém não soube gerenciar as mudanças. Polo petroquímico requer megaescalas de produção. Quando se instalou já existia o de São Paulo, com a agregação e evolução de indústrias químicas, e se projetava o polo do sul em Triunfo. O de Camaçari, tinha uma escala maior, na vanguarda do momento, mas não se expandiu na velocidade e escala necessária e hoje luta para sobreviver, com a sua competitividade mundial comprometida e com a perspectiva de dois grandes concorrentes nacionais: Suape e Comperj, no Rio de Janeiro.
Suape busca uma concepção moderna: é um porto indústria, com suporte numa grande refinaria e um modelo logístico para receber navios de grande porte.

A Bahia teve oportunidade para implantar o modelo porto-indústria, quando Suape ainda não estava consolidada e Pecém ainda era projeto, porém desperdiçou a oportunidade, preferindo ser conservadora e sem ousadia.

Essa oportunidade foi o de transformar a baia de Aratu, dentro da Baia de Todos os Santos, no principal "hub" portuário do Nordeste Brasileiro e, eventualmente, do Brasil e até do continente sul-americano.

A Bahia preferiu se fixar no Porto de Salvador, mantendo lá o seu Terminal de Contêineres, recusando transferi-lo para Aratu, por "mesquinharia" empresarial.

Agora, para reforçar o seu erro, construiu uma Via Expressa, ontem inaugurada, para facilitar um tráfego de caminhões, do polo industrial, ao norte e estruturado pela BR 324 ao porto, o que seria desnecessário se o Terminal de Contêineres fosse levado para Aratu.

E o pequeno porto de Salvador deveria ser dedicado à recepção dos navios de cruzeiros marítimos, com a reurbanização do Comércio.

Agora com o projeto da ponte entre Itaparica e Salvador, a Bahia estará abandonando - definitivamente - a pretensão de sediar um "hub" portuário, dadas as limitações que aquela poderá gerar para o ingresso na baia dos navios de maior porte. A elevação da altura, para permitir a passagem desses navios, inclusive de cruzeiro marítimo, redundará, inevitavelmente, em maiores custos.

Embora não sediando as grandes indústrias, Salvador se beneficiava do fato de ser a cidade "dormitório" dos trabalhadores, tanto daqueles de menor renda, como de maior renda.
A massa salarial era gerada nos polos industrias, mas gastas  em Salvador, propiciando uma grande evolução do varejo moderno, configurado nos grandes "shopping centers" e no mercado imobiliário.
Salvador perdeu parte dessa condição econômica de ser "dormitório", mas daqueles trabalhadores de menor remuneração. Esses passaram a morar mais próximos das fábricas. Mas uma grande parte, senão a maior dos trabalhadores de alta renda, continua morando em Salvador. Eles buscam condições de moradia melhor e serviços de melhor padrão de qualidade ou de sofisticação.

A questão prévia ao planejamento urbano físico de Salvador é se a cidade terá condições de evoluir baseada na condição de ser a cidade "dormitório" dos industriários da Região Metropolitana, ou de ser a cidade administrativa do Estado?

Se isso não for suficiente, qual será o papel do turismo como suporte econômico da cidade?

Como planejar uma cidade que tem no turismo a sua "vocação"?

Como ordenar a ocupação da orla?

























Um comentário:

  1. Interessante notar que embora se defenda para São Paulo e outras cidades a conservação estática de seu patrimônio, tentando a todo custo manter seus usos originais (como no caso dos "cinemões" do Centro) provoca efeito totalmente contrário ao desejado: o cidadão de todas as classes não deseja viver em "imóveis velhos", não conhece direito o retrofit e abandona os lugares antigos, que sofrem processo acelerado e constante de degradação.

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