sábado, 30 de novembro de 2013

Estratégias asiáticas

"O Galeão será o principal hub aeroportuário da América do Sul, desbancando os aeroportos paulistas."

Se vai ser ou não, ou quando  vai ser, é uma incógnita, porém esse é o objetivo da Changi, a operadora do aeroporto de Cingapura, considerada a melhor do mundo por revistas especializadas (o que é sempre discutível, mas é um indicador importante).
Em concessões de 25 a 35 anos (prazo médio e não longo para os asiáticos) não se pode apenas projetar o passado, mas supor inflexões ou novos rumos no mercado. 
Boas estratégias requerem um grande fator de "futurismo" e "apostar" - com fundamentos - em determinados cenários.

A primeira colocação, reiterando o que foi colocado anteriormente, é que as estratégias não são da Odebrecht - apesar de líder econômica do consórcio - mas da Changi. Para entender porque o consórcio jogou tão alto, não se pode raciocinar como brasileiro, focado num aeroporto brasileiro, com péssimos serviços para os cariocas,  mas como asiático, que está acostumado a pensar globalmente e agir globalmente. 
A Changi levou em conta as perspectivas futuras da aviação mundial dentro da tendência de estagnação, ou baixo crescimento dos EUA e da Europa como centros do turismo emissor internacional e o elevado crescimento dos paises emergentes, principalmente os asiáticos como polos emissores e receptores do turismo internacional.
O "share" (distribuição ou pizza) nacional em 2020 já será diferente do atual e seguirá mudando nos anos subsequentes.
O maior crescimento de movimento aéreo será das cias asiáticas, algumas já operando no Brasil, como a Singapore, a Thai e outras, concorrendo com as petroárabes para as rotas ao oriente (Emirates e outras).
A estratégia da Changi é conquistar os pousos e decolagens dessas empresas no Brasil, para o seu aeroporto.
Saberá desenvolver, melhor que os seus concorrentes menores, operadores de Guarulhos e Viracopos, os diferenciais de competitividade para ganhar a preferência dos seus conterrâneos.

Se São Paulo não perceber a ameça ou subestimá-la, irá perder as batalhas e até a guerra.

Viracopos é o maior aeroporto de cargas brasileiro e deve ter aumentado substancialmente o volume de cargas com a importação de peças e componentes asiáticas para a montagem de equipamentos telefônicos e eletrônicos no Brasil. Ou seja, o seu maior crescimento está vinculado ao movimento asiático. Vai sofrer um forte ataque da Changi para a transferência de supercargueiros para o Galeão. A vantagem de Viracopos é o tempo. Já está preparada para receber o aumento de volume e tem grande parte dos usuários da carga no seu entorno. O Galeão precisará de investimentos para receber e movimentar as cargas e uma logística terrestre ineficiente.
Viracopos terá que consolidar as suas posições, com atendimento adequado, para que quando a Changi "atacar" ele esteja bem protegido.
A maior ameaça a Viracopos era a própria Changi assumir Confins e liderar a implantação da Aerotrópolis, prevista para o entorno daquele aeroporto. Mas a asiática preferiu o Galeão. 
Viracopos, tampouco Confins serão concorrentes diretos no mercado de passageiros, com a grande disputa entre Guarulhos e Galeão.
Guarulhos tem uma desvantagem de curto prazo e vantagem no médio prazo.
No curto prazo, por estar com a capacidade tomada, dará espaço para o crescimento do Galeão que está ocioso. Mas a médio prazo estará com os investimentos para ampliação da capacidade anteriormente ao Galeão.

Se o Galeão retomar a posição de principal hub aeroportuário internacional, qual será o impacto urbano? 
A maior parte dos usuários nem sairá do aeroporto, esperando, no mesmo, o seu voo de transporte até o destino final.
Alguns aproveitarão o longo intervalo entre um voo e outro, para conhecer a cidade.
E outros, em escala menor, irão pernoitar na cidade ou ficar alguns dias, antes de seguir para outros destinos.
De toda forma haverá um incremento de turistas dentro da cidade, sendo fundamental uma boa logística terrestre.
Os turistas de lazer preferirão a Zona Sul, os de negócios a Barra da Tijuca ou o centro, principalmente se o Porto Maravilha deslanchar.





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