terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O que vemos e o que não vemos

Na sociedade do espetáculo, ou melhor na sociedade midiática, a população reage ao que vê na televisão ou lê nos jornais ou revistas. Para a maioria da população se não foi noticiado, não aconteceu.

Santiago Andrade não foi a primeira vítima fatal das manifestações dos black blocs? Pode não ter sido, mas foi o primeiro a ser atingido e mortalmente ferido diante das câmeras dos colegas, que documentaram o ocorrido e o difundiram amplamente. Tornou-se um fato notório e verdadeiro.

Se alguém foi morto, acidentalmente ou não, sem ser documentado, para a sociedade não existiu, ou é fofoca.

Linchamentos ocorrem todos os dias, mas quando ocorre no Rio de Janeiro e a vítima é fotografada, acorrentada e nú, gera um trauma social. Estaríamos diante da barbárie? Ou já estamos há muito tempo, mas não documentado e difundido. Agora apareceu um caso documentado e a opinião pública passa a acreditar que é uma realidade.

Vandalismo também é comum, mas quando documentado nas recentes manifestações populares, dá margem a reações da sociedade, com a proposição de leis mais severas. Os mais radicais querem tratar os black blocs como terroristas.

Os favoráveis e os contrários às ações mais repressivas usam a democracia com o objetivo: o vandalismo estaria colocando em risco a democracia. Para o outro lado, seria a repressão que está contra a democracia, proibindo a livre manifestação.

Há um vandalismo documentado. Os defensores da liberdade das manifestações não tem como esconder. Quando muito, alegam se tratar de casos isolados, pontuais que a mídia procura amplificar, generalizar para justificar as medidas repressivas.

Os manifestantes estão sendo espancados pelos policiais? Sim, estão documentados e, portanto, é verdade. As autoridades usam a mesma argumentação: tratam-se de casos isolados.

Ambos não tem com evitar a documentação e divulgação, pois isso contrariaria a liberdade da imprensa.

Já os que partem para o quebra-quebra são tomados por uma fúria juvenil, incubado e alimentado pela repressão familiar e social. Estão indignados com a situação em que estão vivendo, sem perceber grandes possibilidades de melhora. 

Ao contrário, o que percebem é uma tendência à piora, com afunilamento das esperanças.

A resposta do Governo, em vez de atacar os problemas crônicos ou estruturais é fazer o "oba-oba" da uma grande e magnífica festa que pretende que seja a Copa do Mundo, nos próximos meses de junho e julho. O povo não quer festa, quer educação, quer saude. 

A revolta pode voltar a eclodir, com manifestações reunindo grandes públicos, sem a presença dos black blocs.

A presença do público nas manifestações refluiu em função das ações violentas e de vandalismo dos black blocs, cada vez mais contidas pelas estratégias policiais.

Com a retirada deles, os que querem se manifestar pacificamente voltarão às ruas. 

A insatisfação permanece latente. Os inquietos querem sair às ruas. Só deixaram de fazê-lo por conta da violência dos black blocs que usurparam as lideranças dos movimentos. 

Se constatada, efetivamente, a segregação e contenção dos mesmos, os pacíficos voltarão às ruas, em milhares ou até milhões. 






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