domingo, 19 de abril de 2015

As diferenças geracionais das grandes massas nas ruas

No Brasil Moderno, três grandes movimentos levaram milhões de participantes às ruas, em diversos eventos, com grandes intervalos entre aqueles, caracterizando uma diferença de gerações, da maioria dos participantes:


  • Diretas Já, no início dos anos 80 do século passado;
  • Fora Collor, em 1992; e
  • "Basta de Corrupção", com as as suas variantes "Brasil sem corrupção", "Fora os corruptos" o principal lema que liga as manifestações de 2013 e 2015, ainda que o "Fora Dilma" apareça, agora, como o mais visível (porque ela sabia).
A participação em manifestações explícitas de massa decorre de ações ou reações individuais que se somam no coletivo. Decorrem da necessidade ou desejo de se expressar publicamente em conjunto com outras pessoas que tem as mesmas preocupações, posições ou reações. 

Simplificadamente (embora nada disso seja simples) três fatores básicos levam as pessoas às ruas: a sensibilização pessoal, as circunstâncias e a comunicação.

A sensibilização pessoal significa a importância das circunstâncias ou de fatos específicos - das quais toma conhecimento diretamente ou pelos meios de comunicação (a mídia) - para o indivíduo. Isto é: o que repercute no seu coração e mente?

Não são iguais para cada pessoa o que leva a uma distinção inicial entre os "conscientes" e os "alienados". 


O Vaccari foi preso? E dai? Quem é Vaccari? O que significa a prisão dele? 

Quando as circunstâncias estão boas, a vida individual tranquila, dentro do esperado, as pessoas não sentem, não percebem necessidade de se manifestar coletivamente, acompanhando outros. 

A manifestação em coletividade, tem origem em incomodidade, inconformidade individual. Ou se baseia na aspiração que a pessoa tem de se expressar publicamente. 

As grandes manifestações de rua tem fundamento em inconformidades acumuladas ou quebra de expectativas pessoais, com a percepção comum de que o ambiente desfavorável é de responsabilidade do Governo, das autoridades públicas. "Fora o Governante" é a expressão mais direta.

Nas "Diretas Já" a principal inconformidade era a restrição de escolha do Governante por eleição direta. Tudo o mais era acessório que reforçava a incomodidade pessoal, manipulada ou aproveitada pelas lideranças políticas com a intenção ou ambição de ocupar o Poder, no lugar dos militares.

Os principais meios de comunicação de conscientização política eram os jornais impressos, com a televisão como meio de difusão e irradiação, embora o rádio ainda fosse o meio de maior alcance. A voz era o que mais atingia corações e mentes. Osmar Santos foi o grande locutor das Diretas Já.

O principal meio de convocação era o rádio. 

No "Fora Collor" uma grande parte, provavelmente a maioria já não era leitora de jornais impressos. A televisão já havia se tornado o principal meio de comunicação para alcançar corações e mentes das pessoas. Foi dominada por uma geração de jovens de classe média, que cresceram em frente a um aparelho de televisão.

As lideranças políticas não foram para às ruas tampouco buscaram visibilidade para obter o apoio popular para ocupar o poder. 

Percebendo a força das manifestações dos "caras pintadas", da adesão popular, disseminada por todo o país, sensibilizando individualmente cada parlamentar - em função do posicionamento do seu eleitorado, as lideranças políticas preferiram ficar nos bastidores, organizando o "day after", o Governo que deveria ocupar o poder, com a saída de Collor. 

A partir de um dado momento do processo deram como certo a queda de Collor e que o importante não era engrossar as manifestações de rua, ou de assumir a liderança do processo, como nas Diretas Já. 

Ao ouvir a "voz das ruas" cuidaram de "organizar o novo Governo" para "evitar o Caos". 

Deu certo: Collor foi retirado do Governo, Itamar assumiu com um governo formado e cuidou com Fernando Henrique Cardoso o controle da economia, resultando na implantação do Plano Real. E passou a faixa para FHC.

O PMDB, junto com o PSDB e o PFL (então comandado por Antonio Carlos Magalhães e hoje transformado em DEM) agiram dessa forma, deixando de fora o PT, que seguiu na oposição.

Tanto como agora os partidos não assumiram o comando "das ruas".

No "Fora Collor" a internet já estava presente, mas as redes sociais não. O pioneiro orkut já é dos anos 2000, facebook, you tube, whatsapp e outros são mais recentes. Smartphones viabilizando a comunicação móvel são mais recentes ainda, tendo se tornado o principal meio de comunicação e difusão da convocação e difusão das manifestações.

Os jovens de classe média já não são leitores de jornais impressos. Cresceram em frente aos videogames, substituindo a televisão. Para se informar vão aos meios "on line". Esses são tem as chamadas, as manchetes. Quem se interessar vai no "saiba mais", no "veja mais". Poucos vão. Dão se por informados e satisfeitos com o "lead".

O principal meio de comunicação é o moderno "boca a boca": a curtição e compartilhamento da notícia pela rede social. Alcançando as pessoas, onde quer que estejam, pelo smartphone. 

Esse processo expandiu enormemente o alcance, mas prejudicou a profundidade. 

As novas gerações não tem mais "saco" para ficarem lendo longos noticiários ou colunas. Tudo tem que ser rápido, em pílulas, concentrado e legível num celular. 

Não querem saber do porque das coisas. Só querem saber da coisa. E reagir diante delas. Pouca reflexão e muita reação pronta. 

E, com os modernos recursos da tecnologia, constroem as utopias virtuais. As utopias são sempre sonhos que se sustentam pela desinformação. 


O pior dos efeitos perversos é o domínio da mediocridade soterrando a inteligência.

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