quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nova classe trabalhadora

Em função do marketing (ou comunicação) sociológico, cristalizou-se na sociedade a concepção da existência de apenas duas classes e em confronto: a capitalista e a operária (ou proletária). Essa era considerada como a totalidade da classe trabalhadora, ainda que representasse apenas uma parte dos trabalhadores. Isso porque tinha organização e enfrentava os patrões, entendidos esses como a classe capitalista, dentro de uma florescente economia industrial, enquanto os demais trabalhadores e capitalistas ficavam a margem do embate. Entre os trabalhadores marginalizados do confronto e das análises  estavam os trabalhadores rurais, assumidos como aliados dos proletários na luta de classes, os trabalhadores no comércio e nos serviços caracterizados como pequena burguesia, colocados a parte da luta de classes, com posições ambíguas e os trabalhadores informais desconsiderados, como "lumpem proletariat" por não terem o espirito de classe, tampouco organização.

Do outro lado, os capitalistas financeiros só eram considerados enquanto banqueiros patrões dos "explorados" bancários. Já os rentistas, a maior parte dos capitalistas eram alijados do combate, centrado na disputa entre empregados e empregadores. Aplicadores financeiros, os que vivem de renda, tem dinheiro e não tem empregados.

Ao longo dos últimos anos a organização do mundo do trabalho sofreu grandes alterações, mas a predominância do pensamento marxista de luta de classes permaneceu desprezando os demais segmentos. 

A classe trabalhadora é percebida pela sociedade, pela mídia, assim como pelos Governos como formada pelos trabalhadores industriais, os operários, ainda que esses representem hoje, no Brasil, e em vários países do mundo, uma parcela menor do conjunto dos trabalhadores. Os sindicatos dos operários são ainda os mais atuantes e reconhecidos. 

As pautas trabalhistas se concentram nas questões que ocorrem no "chão de fábrica". E passam a equiparar outras categorias pelo seu chão: da loja, do hospital, da escola, etc, cujas condições são muito diferentes dos trabalho industrial. O que ainda se busca é equiparar as demais categorias de trabalhadores ao operário. Isso tem resultado numa perda de representatividade dos sindicatos e sua influência na sociedade.

A nova classe trabalhadora não é apenas a evolução ou transformação dos operários, cada vez mais se transformando em operadores e gerenciados de máquinas e menos em artesões. A nova classe trabalhadora é formada predominantemente por comerciários e prestadores de serviços. Entre esses uma grande parte de trabalhadores terceirizados. 

Uma grande parte da classe trabalhadora é formada por trabalhadores por conta própria, parte formal e parte informal. A nova classe trabalhadora é a principal base da nova classe média. 

Os formais se tornam empreendedores de pequeno porte ou autônomos formais. Os demais permanecem na informalidade, sem qualquer vinculo contratual formal com o tomador do seu trabalho. Muitos deles são vendedores ambulantes, por conta própria, sem relações formais com os seus compradores.

Os trabalhadores por conta própria não tem uma relação de confronto com a classe capitalista, entendida como empregadora ou contratante do seu trabalho. 

Os sindicatos dos trabalhadores ainda não entenderam claramente essas mudanças, presos aos paradigmas tradicionais.

Por outro lado o "capital" também teve grandes alterações, com o controle das grandes empresas sendo assumidas por fundos de investimentos, formado por rentistas e a gestão das empresas por profissionais, assumindo o papel de empregador. Cada vez mais os patrões que se relacionam com os empregados e com os sindicatos não são os donos da empresa, os donos do capital, mas prepostos e empregados, isto é trabalhadores.

Contribui para esse processo, a emergência de novas gerações, com os empreendedores transferindo as suas ações para holdings e fundos de investimentos, herdados pelos seus sucessores. Estes se tornaram rentistas e não mais gestores empresariais. Não trabalham mais, aproveitam o ócio, não são mais patrões, vivem de renda, compram tudo pronto. São os grandes propulsores da terceirização na economia.

A nova configuração da luta de classes é entre trabalhadores e rentistas. Com uma nova classe trabalhadora e uma nova classe capitalista.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...