sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Patrimonialismo filial

O usual do patrimonialismo são os privilégios dos "amigos do rei". No Brasil atual o novo patrimonialismo é marcado pelos amigos dos príncipes.
Dois episódios recentes trouxeram à tona dois integrantes da "turma" dos príncipes. Gustavo Montezano, amigo e vizinho deles teve que explicar a "caixa preta" da auditoria, para abrir outra "caixa preta". Gastou milhões a mais do que seus antecessores tentando descobrir o que não existiu. Partiu para o ataque para se defender. Culpou as alterações legais, mas a principal delas não é recente. Trata-se da Lei nº 8.666 de 1993 que foi estabelecida para combater a corrupção, mas acabou dando cobertura aos maiores esquemas de corrupção. Cobrado sobre o número das leis, não soube responder. Saiu-se mal, mas ainda não perdeu o cargo.
Já o companheiro Vicente Santini, aproveitando a condição ministerial temporária utilizou o símbolo mais visível do patrimonialismo: usar o avião da FAB. Para uma viagem internacional: "se tenho direito, uso". Não fez nada de ilegal, mas vergonhoso, imoral.
Jair Bolsonaro ficou indignado e furioso e demitiu o "garoto", muito próximo a ele, por ser amigo dos seus garotos. Mas o seu garoto 03 intercedeu, para o seu amigo de turma da Barra, não ficasse desempregado. Conseguiu um "boquinha", ainda no Palácio do Planalto, mas outras forças bolsonaristas pressionaram e o Presidente foi obrigado a afastar o garoto de vez, contrariando o seu, que não teve força suficiente para manter a presença do amigo.
A narrativa (ou versão) bolsonarista é colocar toda a culpa em Onyx Lorenzoni, que nem em Brasília está. 
Mas foi um grande abalo na cultura patrimonialista e nas relações com os seus garotos. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

TRANSFORMAR CONGRESSO

RENOVAR a composição do Congresso Nacional é necessário, mas não suficiente. Insuficiente para a sua transformação para melhor. 
O objetivo maior é TRANSFORMAR O CONGRESSO e isso não pode prescindir da atuação de veteranos dispostos a melhorar o desempenho do Congresso, nas duas casas.
Com a sua experiência e conhecimento, devem desenvolver o seu espírito público para liderar a transformação.
A origem do Congresso que temos está na visão de mundo do eleitor que enxerga o deputado federal como um representante dos seus interesses mais imediatos. Espera que ele traga melhorias no ambiente que ele vive: escola, posto de saúde, professores e médicos presentes, asfalto, ponte, condução, etc. Isto é, como um despachante dos seus pleitos junto à União.
O deputado responde com as emendas parlamentares, visando a sua reeleição e se estabelece um círculo vicioso curto.
A superação irá requerer uma ampliação da visão dos deputados, com o conhecimento e posicionamento em relação a questões maiores, questões de interesse nacional. 
Esse papel de "abrir as mentes" caberão mais aos partidos e às liderança políticas que deverão orientar os novatos, assim como veteranos.
O preconceito generalizado da sociedade com os veteranos não ajuda a transformação. Nem todos os veteranos são farinha do mesmo saco, assim como nem todo os novatos são de outros sacos. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A ilusão do poder no Estado (III)

Ao longo de muitos anos a intervenção do Estado nas questões culturais foi pelo seu valor simbólico e educacional,  o que justificava - do ponto de vista organizacional - ser acoplado à educação. O Ministério que cuidava da educação era de Educação e Cultura, consagrando a sigla MEC. As unidades estaduais e municipais seguiam o mesmo padrão. A visão prevalecente era de que não bastava ao estudante conhecer o básico: ele precisa ser culto. Não basta saber ler, precisa ler os clássicos da literatura, seja mundial ou nacional. Ainda hoje os vestibulares para ingresso no ensino superior exige do candidato o conhecimento de um conjunto de clássicos da literatura. Assim considerados segundo critérios estéticos definidos pela elite. 
Cultura, assim como a edução são entendidos como pilares básico da cidadania.
Em alguns momentos essa cultura foi considerada como expressão ideológica do governo de plantão.
Mudanças dentro da sociedade, com produções culturais de "guetos" incorporados pela sociedade de consumo urbano, apoiados pelos meios de comunicação, principalmente rádio e televisão, desenvolveram uma nova configuração de cultura. Novos meios de comunicação - como a rede social suportada pela tecnologia da informação - promoveram uma nova onda de transformação do "fenômeno cultural". 
A única coisa que não mudou é que cultura é o resultado de criação humana. 
Essas mudanças foram acompanhadas por mudanças organizacionais dentro do Estado. A principal foi a retirada da "área da cultura" do guarda-chuva da educação. Diminuiu a importância da sociedade, com interferência estatal, em formar cidadões cultos (no sentido educacional). 
Com a produção cultural desvinculada da educação,  as políticas públicas democráticas se voltaram para o apoio às produções culturais consideradas relevante pelos Governos (com homologação legislativa) que precisavam de apoio do Estado para se sustentar. Supostamente eram manifestações culturais populares e não de uma elite cultural. Mas essas também tinham produções "não de mercado" e disputaram recursos e protagonismo estatal. 
A separação da área de cultura da educação, foi ainda promovida por Tancredo Neves, com a redemocratização. Tento falecido antes da posse a sua implantação coube a José Sarney, que se considerava um intelectual e patrono cultural. 
A independência da educação não melhorou muito o status da cultura dentro do Governo, sendo muitas vezes utilizado como um lote menor do loteamento de cargos utilizado pelo presidencialismo de coalizão. O que propiciou a captura do Ministério da Cultura pela burocracia da casa e a sua gestão por grupos corporativos ligados a segmentos da produção cultural.
De um lado o Governo manteve ou criou unidades de preservação ou produção cultural, como a Biblioteca Nacional, Casa Rui Barbosa, a FUNARTE, outras e, de outro, criou mecanismo de apoio financeiro indireto mediante renúncia fiscal para os contribuintes que investissem em projetos culturais.
É um mecanismo híbrido, em que o Governo estabelece regras e seleciona os projetos apoiáveis, mas a captação dos recursos é feito pelo apoiado, direta ou indiretamente. A escolha de que projeto e, em quanto, fica com a empresa apoiadora. O mecanismo ficou conhecido pelo nome do seu aperfeiçoador, Rouanet, substituindo o seu criador, o ex-Presidente José Sarney.

Ao longo de 13 anos de Governo petista, o Ministério da Cultura foi aparelhado pelas corporações artísticas do campo da esquerda. 
O mecanismo de incentivo foi transformado num grande instrumento de marketing, com as grandes empresas lucrativas, principalmente bancos, utilizando grandes espetáculos artísticos, alguns de mega investimentos, para dar maior visibilidade aos seus produtos. Encontraram uma fonte de financiamento para as suas campanhas de marketing.
São produtos de mercado, com demanda capaz de pagar por eles, mas são engradecidos e amplamente difundidos pela transferência de renúncias fiscais. 
A esquerda que, em geral, se coloca em contraposição aos capitalistas, teve uma facção que se locupletou com o esquema. A esquerda não se opõs aos desmandos. Em alguns casos se associou.
Enquanto isso, produções menores e também produções "fora de mercado" não conseguiam o apoio estatal.

Com o impeachment de Dilma, o sucessor Michel Temer tentou o desmonte do aparelho ocupado por algumas corporações artísticas, mas não conseguiu diante da reação desses grupos promovendo greves e invasões de prédios públicos. Chegou a extinguir o Ministério, mas voltou atrás, tampouco promoveu qualquer mudança significativa. Voltou ao seu nicho, em espaço periférico do Governo, com poucos recursos e baixo prestígio.
Jair Bolsonaro, sustentado por uma votação de 47 milhões de votos, extinguiu o Ministério, mantendo a área como uma Secretaria  e corpo estranho dentro do Ministério da Cidadania. Sem maiores reações contrárias. A oposição derrotada eleitoralmente ficou enfraquecida.
Entregue o Ministério ao ex-deputado do MDB Omar Terra, que ocupava o Ministério de Desenvolvimento Social, no Governo Temer. Terra nomeou um desconhecido jornalista que o acompanha nos diversos cargos que ocupou para a Secretaria da Cultura: Henrique Pires. 
Pediu demissão, em agosto de 2019 por não concordar com filtros de censura em editais do Ministério, declarando que tentou por diversas vezes evitar tais procedimentos, mostrando o ambiente de patrulhamento do bolsonarismo na área o que veio a ser consolidado com a nomeação de Roberto Alvim, após breve permanência de Ricardo Braga.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Bolsonaro sem Moro


Jair Bolsonaro se cerca de um pequeno grupo de súditos fiéis, nos quais confia que não o irão trair. Até porque qualquer suspeita de traição o levará a demiti-lo.
Alguns cobram o seu preço. O seu amigo de longa data, Alberto Fraga quer, porque quer, em nome da velha amizade e fidelidade, o Ministério da Segurança Pública. Ainda que isso signifique enfraquecer o Ministro Moro, podendo levá-lo a deixar o Governo.
Foram os demais adeptos de Bolsonaro que questionaram a troca: Moro ou Fraga? A sensação é que o Governo ficaria mais fraco, com perda de popularidade, comprometendo o seu futuro.
Não quis correr o risco e voltou atrás. Moro acabou ficando mais forte, o que contraria os projetos políticos de Bolsonaro. Este não desistirá das tentativas de enfraquecer Sérgio Moro, visto como c 

Achava que em Brasília teria mais condições para o combate à corrupção do que ficando em Curitiba. Ao ingressar na carreira política, mesmo com grande força pelo apoio popular, percebeu que o jogo era muito diferente da carreira judiciária. Nessa não pode articular, negociar. Se o fizer será contestado e até punido. Na política a articulação e negociação é o essencial.
Esse aprendizado político é essencial para avaliar as supostas intenções dele em se candidatar à Presidência da República, em 2022. A maioria dos seus apoiadores tem uma visão romântica do poder do Presidente da República. Sérgio Moro viveu e vive pessoalmente com as restrições e as adversidades.
Em termos populares, ele tem engolido um sapo, por dia. O povo talvez não se dê conta que Jair Bolsonaro foi obrigado a engolir um “sapão” chamado Alberto Fraga. Mas Bolsonaro com longa carreira política no baixo clero da Câmara já tem um estômago mais forrado. O que Sérgio Moro, ainda não tem.
Se vier a ser eleito em 2022, terá ainda que conviver com uma saparia ou saparada no Supremo Tribunal Federal. Parece preferir ser integrante desse coletivo, do que enfrentá-lo como Presidente da República. Provavelmente ainda terá que negociar com Rodrigo Maia, que está com condições favoráveis – de momento – para ser reeleito deputado federal, em 2022 e retornar à Presidência da Câmara em 2023, com mais força do que atualmente. Terá que dividir o poder o Estado com ele.

O que o povo quer dele é uma coisa. O que ele pessoalmente quer não é a mesma coisa.


domingo, 26 de janeiro de 2020

A ilusão do poder no Estado (II)

A cultura artística é cercada por grandes dissensões dentro da sociedade. 
A primeira é se a cultura artística - no seu conjunto - reflete ou expressa a totalidade da cultura nacional. Uma parte acha que sim, outra entende que muitos elementos culturais da sociedade brasileira não são captadas pela cultura artística, principalmente as de natureza popular.
A segunda é se uma dada produção cultural tem que atender a critérios estéticos, sem o que não seria considerada como artística. Ou se todas as manifestações culturais devem ser reconhecidas como parte da cultura nacional. Neste sentido a música funk, sertanejo ou rock nacional seriam reconhecidas tanto quanto as bachianas e demais obras de Vila Lobos.
A terceira é se a cultura artística se confunde com a economia criativa, ou se é apenas uma parte dessa. A aceitação implicaria em reconhecer a produção cultural como um elemento econômico, parte integrante da economia brasileira, como um todo. O que leva a uma discussão sobre a importância relativa da indústria cultural dentro do PIB, ou na geração de empregos. Do que decorre a questão seguinte.
A mais importante, para efeito da interferência estatal, é se a produção cultural é um "bem de mercado", que para ser consumido precisa ser "comprado" pelo usuário, ou patrocinado para que o usuário possa usufruir do produto.
Dentro da perspectiva econômica, há a produção que tem um mercado consumidor, sendo autossuficiente dentro da economia de mercado. 
Por outro lado, nesse sempre essa produção é reconhecida como de cultura artística, por não se enquadrar em certos requisitos estéticos. 
Os grandes festivais de rock, como o Rock in Rio, reunindo artistas nacionais e internacionais são sucesso de público, mas são parcialmente contestados como produção cultual artística. A música sertaneja urbana ou o funk  são modalidades  de sucesso de público, mas detestado por certos segmentos sociais.  
Um caso mais polêmico é o Big Brother Brasil. Pode ser reconhecido como produção cultural?
O que leva à questão três anterior: é uma manifestação da economia criativa?
Por outro lado, concertos de Orquestra Sinfônica, apresentando músicas de reconhecido padrão estético, com permanência secular, tem público restrito e para torná-los acessível - mesmo a esse público - precisa ser financiado por patrocinadores.
Toda produção cultural apresentada pela televisão aberta é consumida sem o pagamento direto do assistente consumidor, sendo remunerada pelos "comerciais".
Produções culturais artísticas podem ser apoiadas financeiramente - direta ou indiretamente - pelo Estado. O apoio pode ser ainda institucional, via regulações, gerando - por exemplo - obrigação de exibição de produções nacionais na tv ou no cinema.
O que prevalece atualmente, como política cultural do Estado é a promoção do patrocínio empresarial, mediante renúncia fiscal, mediante o mecanismo caracterizado como Lei Rouanet.

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sábado, 25 de janeiro de 2020

A ilusão do poder no Estado (IV)

Com a nomeação de Roberto Alvim, o grupo ideológico, orientado por Olavo de Carvalho, ampliou o seu espaço dentro do Governo, completando o tradicional eixo educação e cultura.
O grupo comanda ainda o Ministério das Relações Exteriores,a Secretaria Geral e o Ministério do Turismo. Conta ainda com a adesão do Ministério de Damares Alves. No conjunto, uma parcela menor do Governo Bolsonaro, mas mais estridente e visível.
Na Secretaria da Cultura Roberto Alvim tentou implantar uma política cultural pela predominância - talvez absoluta - de uma antropocultura nacional reacionária por ser antiprogressista, dominada por crenças religiosas, ideológicas e ademais de cunho nacionalista. 
A cultura artística deveria - a ver dele - ser a expressão por meios estéticos, dessa cultura nacional conservadora.
Ao copiar  concepção, texto e forma de apresentação de Joseph Goebbels obteve efeito contrário ao desejado, por atingir o ponto mais sensível da cultura judaica, muito presente no Brasil.
Ao tentar promover uma cultura nacional unificada, conservadora, não percebeu que essa tem como um dos elementos principais o anti-nazismo. 
Esta visão de uma politica cultural focada na dominação de uma cultura nacional imposta não parte do Presidente Bolsonaro que não teria cultura - no sentido de conhecimento - para tal. Esse propósito emana do seu mentor ideológico Olavo de Carvalho. 
O Presidente, ao demitir, a contra gosto, Roberto Alvim, com o qual concorda, pela inspiração de origem comum, por pressão da sociedade e convidar a atriz e produtora cultural Regina Duarte, para assumir o cargo, abandona o projeto de Olavo de Carvalho, para usar  o cargo e a convidada para um contraponto à popularidade de Sérgio Moro, tirando deste a condição de marca do seu Governo e de ser indispensável. 
Regina Duarte, mesmo seduzida por Jair Bolsonaro, aceitou o namoro, mas relutava em casar. 
Ontem aceitou e vai assumir a Secretaria da Cultura. Deve ter considerado mais importante dar o seu apoio ao Presidente, com a sua popularidade do que insistir em pequenas divergências. 
Ela vai relevar essas divergências do Presidente ou vai tentar convencer o Presidente? 
A principal contradição é que ela quer promover a pacificação da classe artística, com tolerância mútua dos oponentes. Já Bosonaro e seus seguidores mais radicais querem manter a guerra cultural.
A partir dai, a nova questão é o quanto ela vai durar, em função das divergências?

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A ilusão do poder no Estado

Os não políticos ou os que não passaram por cargos públicos de direção, tem uma visão ilusória e sonhadora sobre o poder no Estado: "se eu for Ministro, faço, aconteço, mudo tudo e ajudo o Brasil a melhorar". 
Alguns tem realmente bons propósitos, como parece ser o caso da atriz Regina Duarte, uma celebridade muito aceita como "namoradinha do Brasil", ao aceitar o "namoro" com Bolsonaro em relação à Secretaria Nacional da Cultura.
Em tese, o âmbito da Secretaria seria a "antropocultura nacional", ou seja, o conjunto de visões de mundo, de comportamentos e ações de toda a população humana brasileira. A qual não é unitária, monolítica, com muitos segmentos, mas alguns traços comuns. O principal é a unidade de idioma. 
Na prática a ação estatal se restringe à "cultura artística, isto é, a produção e uso cultural caracterizada como artística: produção de livros, de peças teatrais, de filmes, músicas e outras peças audio-visuais, manifestações populares, etc.
A produção cultural tem visibilidade pública em função do interesse de pessoas que "consomem" a produção, seja pela compra e leitura dos livros, como pela assistência de peças teatrais, concertos musicais, filmes (em salas ou pela televisão), programas televisivos e outras produções culturais.
A participação do Estado na cultura artística está no patrocínio de produção que não seria criada ou sustentada sem o apoio estatal, seja financeira ou institucional. O primeiro é feito pela concessão de transferências financeiras, o segundo por regulações.
Também o Governo pode patrocinar artistas que eleja como representantes da cultura artística nacional. Pode fazer isso discricionariamente, o que é usual em regimes autoritários, pelas preferência pessoais da autoridade, como pode escolher por concursos públicos. 
O último ato do ex-Secretário da Cultura foi lançar um concurso para a seleção e premiação de produções culturais dentro de uma visão ideológica. Essa visão ideológica o derrubou.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Valendo-se da sociedade do espetáculo


O mundo contemporâneo é pautado pela sociedade do espetáculo. A sociedade organizada mundial tem mais interesse em saber o que está e vai acontecer com o ex-casal real da Inglaterra do que o que vai acontecer com a mesma Inglaterra, deixando a comunidade europeia, no final do mês. Davos é matéria que só interessa a um reduzido número de pessoas, embora sejam detentores de mais da metade de toda riqueza do mundo. O que não sensibiliza ou emociona as pessoas, em geral.
No Brasil, as grandes reformas estruturais na economia, a desigualdade social, as questões ambientais e outras mais passaram para segundo plano com o namoro de Regina Duarte com Jair Bolsonaro ou vice-versa, em torno da nomeação dela para a Secretaria da Cultura.
O objetivo político de Jair Bolsonaro não é resolver os problemas da cultura brasileira, mas – em primeiro lugar – ofuscar o prestígio popular de Sérgio Moro. Ele está - como prioridade pessoal e momentânea – reduzir o protagonismo do seu ainda Ministro da Justiça e Segurança Pública. Não quer perdê-lo, mas não o quer muito forte e popular. Supostamente para não tê-lo como adversário imbatível em 2022. A curto prazo o objetivo é afastá-lo dos processos que envolvem o seu filho Flávio Bolsonaro.  Não conseguiu que a Polícia Federal desse continuidade às investigações.  Se não consegue mudar a cúpula da Polícia Federal, por proteção do Ministro da Segurança Pública e não pode afastá-lo do Governo, acha que a alternativa é tirar institucionalmente a Polícia Federal da gestão do ex-Juiz da Lava-Jato.
Está articulando com os seus acólitos, mas falta combinar com o Congresso. A maioria dos parlamentares ainda seria pró-Moro.
Jair Bolsonaro evitou ir a Davos para não ouvir as reprimendas ou questionamentos dos investidores em relação ao afrouxamento das medidas de combate à corrupção e a falta de consideração em relação aos desastres ambientais.
Para encobrir os problemas reais, nada melhor que “circo”, trazendo para o centro do palco a “namoradinha do Brasil”.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A grande feira de Davos

O Fórum Econômico Mundial, em Davos, tornou-se a maior feira de exposições de investimentos, onde Governos montam os seus estandes e apresentam os seus discursos e power points, com as oportunidades de investimentos em seus países ou estados para atrair banqueiros, gestores de fundos, empresários capitalizados.
O Brasil nem sempre se dedicou a esse mister, com alguns governos até contra o maior ingresso de capitais estrangeiros, com o lema "O Brasil não está à venda!"
Jair Bolsonaro faz parte dessa turma nacionalista, com grande penetração nas hostes militares. 
No entanto, diante da restrição de recursos públicos para investimentos, foi instado por Paulo Guedes a ir a Davos, logo no início de seu mandato, para vender as oportunidades de investimentos no Brasil. Foi um desastre.
Decidiu nem ir em 2020 para não passar por novo vexame, mas autorizou Guedes a "vender o Brasil".
Dória, um profissional da área de eventos, não quer perder a oportunidade de ser expositor e "vender São Paulo".
O outro lado, no entanto, não quer "comprar Brasil", porque não fica bem. Comentamos no ano passado que a principal oposição que o investidor enfrentaria seria em casa: com os filhos e netos. Muitos debocharam.
Greta Thunberg representa os filhos e netos adolescentes dos investidores, para pedir aos pais e avós a responsabilidade com o meio ambiente. Ganhou repercussão mundial e a piralha é o principal empecilho para os investimentos "ocidentais". Só os chineses não "dão bola".
Não por outro motivo e momento, Jair Bolsonaro, contrariando um dos seus principais grupos de apoio, resolveu por em prática uma Política Nacional de Segurança Ambiental, anunciando a criação de uma Força Nacional Ambiental e Conselho da Amazônia, entregando o comando ao seu Vice-Presidente General Hamilton Mourão. Para a mídia brasileira é assunto de menor importância. A indicação de Regina Duarte para a Cultura tem maior repercussão. Nem deve atravessar o oceano para chegar a Davos. Mas junto aos grileiros, desmatadores e outros responsáveis diretos pela depredação da floresta amazônica, será considerado um traidor, podendo perder o apoio deles.



terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Os evangélicos na politica

Os evangélicos na política são ainda um grande mistério, pouco entendido pelos cientistas políticos, como se viu no programa Painel deste final de semana, na Globonews, sob a segura condução de Renato Lo Prete.

O avanço da comunidade evangélica no Brasil não ocorre de cima para baixo, mas avança pela base, aproveitando uma condição real da sociedade brasileira: a extrema desigualdade econômica e social. Os evangélicos vem ocupando o espaço dos católicos na classes mais baixas. Não por razões religiosas, mas pelo acolhimento emocional dos mais pobres. 
A catequização é um elemento importante para a "conquista das almas", mas é o "acolhimento 24 horas" o fator mais importante.
A catequização é feita a partir de fascículos escritos na Bíblia Sagrada, mas considerando a amplitude do analfabetismo (total ou funcional) como eles podem acompanhar? Ai entra o papel do pastor e dos seus auxiliares que transmitem aos crentes a leitura, agregando ao texto a sua interpretação ou até a sua redação, como sendo a palavra de Deus. É um processo mais próximo aos muçulmanos que seguem o Corão. 
A Igreja Católica usa mais os símbolos e as imagens, com as palavras de Deus, emitidas pelo Papa e reiterada pelos padres.
Tem tido menor força de catequese do que a bíblia e Jesus, seu filho, como o seu representante mor.


Do ponto de vista eleitoral, em 2020 muitos irmãos vão ser eleitos, por indicação dos pastores. Serão representantes políticos de denominações. Outros candidatos de filiação evangélica serão eleitos, mas com base de eleitorado mais ampla e não por vinculação religiosa. 
Já dificilmente candidatos a Prefeitos serão eleitos como representante de denominações evangélicas. Essas não tem eleitorado relativo suficiente para eleger um Prefeito.
Porém dificilmente alguém será eleito Prefeito se não contar com o apoio de denominações evangélicas. 
O candidato experiente, sabe que o eleitorado evangélico não é monolítico, ou dividido em poucos segmentos com lideranças bem definidas. Diferentemente da Igreja Católica, com uma hierarquia de comando bem definida, mas que não se envolverá nas escolhas políticas.
Mas um excomungado pela Igreja Católica dificilmente será eleito para cargo majoritário, embora isso possa ocorrer para cargos proporcionais. Da mesma forma um veto de importante liderança evangélica poderá inviabilizar uma candidatura. Essa poderá ser regional ou local, nas campanhas municipais.
Cada candidato buscará o apoio das lideranças evangélicas locais, com o cuidado de não desagradar as demais que poderão fazer campanha contra aquele, desconstruindo a sua imagem, sejam nos púlpitos, como na rede social.
A mobilização política maior das comunidades evangélicas resultará numa ampliação do número de vereadores evangélicos, em todo o Brasil, mas poucos Prefeitos representantes daquelas. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Um morto vivo ambulante

Lula foi um grande líder político que levou e manteve o campo político da esquerda ao poder em todos os níveis, gerando uma grande base eleitoral que ainda remanesce, sem muita clareza de qual é o seu tamanho atual.
Preliminarmente deve-se diferenciar entre eleitorado adepto e simpatizante. Os simpatizantes nem sempre consagram o seu voto diante da urna eletrônica - se é que vão votar - nos candidatos nitidamente de esquerda.
O campo da esquerda sempre teve e ainda tem líderes ideológicos, os quais nem sempre tiveram sucesso eleitoral.
Lula nunca foi ideologicamente de esquerda, mas que com o seu discurso "consumista", carisma pessoal, sua capacidade de perceber os anseios dos seus interlocutores domina o eleitorado dos adeptos e simpatizantes de esquerda e tem uma base que o torna competitivo para uma disputa eleitoral. 
A autopercepção dessa condição o leva a assumir uma posição autoritária de mando absoluto do seu partido e de comando do campo politico da esquerda, subordinando os demais partidos e facções aos seus desígnios: "nós só voltaremos ao poder, comigo à frente". Se não disse é o que acha, ou se acha.
Com essa postura autoritária reprimiu a emergência de novas lideranças, tanto dentro do PT, como nos demais partidos de esquerda. 
Lula, no entanto, perdeu grande força, primeiramente, com as denúncias de envolvimento com o mega-esquema de corrupção, revelada pela Operação Lava-Jato e depois com a sua prisão. A perda decorre do contingenciamento do seu público interlocutor.
A sua capacidade de ouvir os seus interlocutores por  cinco minutos ou menos e responder com aquilo que eles querem ouvir sempre foi um dos seus principais trunfos para conseguir adesões e apoios.
Com a suspeita de comprometimento com a grande corrupção, ele passou a ser evitado por diversos segmentos da sociedade, ficando restrito aos seus áulicos, ou em linguagem coloquial aos "puxa-sacos".
A sua prisão e longa temporada nas masmorras da Polícia Federal, em Curitiba, só restringiu mais os seus interlocutores. Levou à perda da capacidade de interação. 
Politicamente tornou-se um "morto vivo", ouvido e atendido apenas pelos seus áulicos, mas popularmente tornou-se um poderoso mito que concorre com outro, esse ainda muito vivo.
O seu autoritarismo poderá levar o PT a um "derretimento" eleitoral maior que de 2016 e à perda da base que ainda garantiu a formação da maior base partidária na Câmara Federal. 
Os seus principais candidatos, são os mesmos de sempre, velhos conhecidos do eleitorado que já se cansou deles.
Lula continua com a sua visão voltada para a década anterior, acreditando que as Martas, Patrus, Olivios e outros ainda tem base eleitoral e com a sua benção seus eleitores irão votar neles.
O PT está eleitoralmente destruído, por obra dele, Lula, mas o lulismo ainda segue como um grande fenômeno social. 





domingo, 19 de janeiro de 2020

O futuro do bolsonarismo

O bolsonarismo tem várias fases históricas, mas sempre com uma linha mestra: a polêmica. A partir de provocações pessoais. 
A primeira foi eminentemente pessoal, enquanto ainda oficial subalterno do exército, operando como líder sindical em defesa da sua classe, mobilizando esposas, irmãs, mães dos militares. Para chamar atenção promoveu atos explícitos de insubordinação, gerando polêmicas.
Instado a sair do Exército migrou para a carreira política, inicialmente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e depois por  7 mandatos sucessivos na Câmara Federal.
A sua base eleitoral sempre foi da base da carreira militar, até os oficiais subalternos, defendendo a melhoria dos soldos e das condições de atuação. A eles agregou os policiais civis e militares, sempre na perspectiva sindical de melhoria das suas condições de remuneração e de trabalho. Assumiu uma posição de defesa do regime militar de 64 e dos seus principais protagonistas, provocando polêmicas.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Pensamento e discurso

O então Secretário da Cultura, expressou rigorosamente o pensamento de Jair Bolsonaro a respeito da cultura nacional: uma cultura nacional definida por uma suposta maioria que levou à eleição daquele, subordinando a minoria derrotada: "será isso ou então não será nada".
Ao se inspirar e reconhecer ter se inspirado no pensamento do regime nazista, consubstanciado no Ministro da Propaganda do regime, Joseph Goebbels, atingiu uma ferida até hoje não fechada de um eleitorado poderoso, que não faz alarde mas tem grande poder político: a comunidade judia.
David Tobelén, de família judia, que poucos o conhecem com esse nome, foi obrigado a logo se manifestar, como o primeiro Presidente Judeu do Senado, onde prefere ser conhecido com Davi Alcolumbre. Outras lideranças políticas e da comunidade judia se manifestaram e pressionaram o Presidente Bolsonaro a demitir Alvim. O fez, não por discordar das idéias, mas pelo erro de parafrasear o mais odiado dos nazistas. Se fosse pelo pensamento deveria pedir renúncia junto com o Secretário demitido, pois concorda com ele em gênero e grau. 
A visão do Governo Bolsonaro sobre cultura é a expressada por Roberto Alvim e quem quer que seja o seu substituto terá que seguir a mesma. Sem citações nazistas. 



sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Governando para uma minoria, supostamente maioria


Jair Bolsonaro, por ter sido eleito com a maioria dos votos válidos em 2018 acha que representa a maioria do povo brasileiro e governa para atender aqueles que o apoiaram ou votaram nele.
Esta suposta maioria é altamente fragmentada e, supostamente, uma grande parte não votou a seu favor, mas para evitar o retorno do PT ao poder.
Neste começo do ano atuou a favor de dois desses fragmentos e contra um dos que não o apoiam.
O primeiro foram os evangélicos, com a tentativa de reduzir os custos com energia dos grandes templos, favorecendo algumas denominações que adotam, como estratégia de marketing, ter grandes igrejas fartamente iluminadas ao longo de toda noite. É o caso da Igreja Universal do Reino de Deus e de outras menores.
Pouco favorece aos templos católicos que, a menos de período de festas, fecha e apaga as suas luzes, durante a noite.
Atender aos grandes templos e controlar a concessão de benefícios é relativamente fácil, dado o diferencial de consumo. Já em relação aos pequenos e médios, a confusão com outros estabelecimentos, como boates, bares e outros, além da ampla difusão territorial daqueles a aplicação dos benefícios é mais complexa e difícil.
Na prática a proposta favorece Edir Macedo, com os seus suntuosos templos, sendo o maior o Templo de Salomão e contraria Silas Malafaia da Assembléia de Deus, a maior denominação evangélica pentecostal, com uma ampla rede de franquia.
Recuou. Não só pela resistência da equipe econômica, mas principalmente pela contestações dentro da própria área evangélica.
Outro grupo de apoio de Bolsonaro é de caminhoneiros (ainda que não todos). Com o ataque dos EUA no Oriente Médio, a sua preocupação principal foi com o impacto sobre aqueles. Não podendo controlar o preço do diesel, reajustou a tabela de fretes muito acima da inflação e mandou reiterar a obrigação do pagamento do frete de retorno. O maior encargo para os donos das cargas.
Amplia um problema para o funcionamento da macroeconomia, mas ele acha que isso não é problema dele. O que ele quer é atender o seu fragmento. O qual, na visão dele, garante a governabilidade e a sua reeleição em 2022.
A suposta minoria, derrotada em 2018 será maioria em 2022?

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Lições apreendidas

Como um ex-tecnocrata velho, algumas vezes responsável pela elaboração e controle do orçamento do Governo de São Paulo, tenho muitas histórias para contar. As esqueci, mas fatos atuais me relembram algumas.
No início dos anos sessenta, ainda menino recém formado em Administração Pública, com algum conhecimento de orçamentos públicos, fui incumbido de cuidar do orçamento de investimentos, então organizados no Plano de Ação, do Governo Carvalho Pinto. 
Para garantir a integridade das propostas formuladas pelo Grupo de Planejamento e afastar as mudanças do legislativo, o mecanismo foi usar as emendas  individuais ao orçamento  de parlamentares . Foram definidas  pequenas quotas individuais, para o parlamentar definir a sua aplicação, de forma a atender aos pleitos da sua base eleitoral. 
Concedia-se o "agrado" e o orçamento de investimentos era aprovado, na sua integridade, sem acatar qualquer emenda substancial. 
Esse modelo, adotado ou desenvolvido por São Paulo se espalhou pelo Brasil, sendo assumido pelo Governo Federal, até mesmo durante o regime militar uma vez reaberto o Congresso Nacional. 
Com a redemocratização tornou-se um dos principais instrumentos do presidencialismo de coalização, na prática um presidencialismo de cooptação.
O Executivo, através da sua área econômica, montava a proposta orçamentária e para assegurar a sua integridade, definia e negociava, com as lideranças partidária, uma pequena fatia da proposta, para os parlamentares incluírem - através de emendas individuais e, posteriormente, coletivas, verbas para atender aos seus redutos eleitorais. Os valores eram rateados igualmente a cada parlamentar, tornando-se - ao longo do tempo - um direito adquirido.
Passou a ser o foco de grande parte dos candidatos a deputados federais, prometendo às suas bases levar verbas federais, mediante suas emendas. Quem não fosse eficaz nessa atividade, corria o risco de não ser reeleito. 
A proposição das emendas, assim como a sua posterior liberação e pagamento, dependia muito das lideranças partidárias que negociavam as diversas fases da emenda para dar apoio às proposições do Governo, ou para sustentar a sua permanência. As negociações das emendas foram vitais para evitar o impeachment de Temer. Dilma recusou-se a usar e acabou destituída.
A área econômica acordava com a fatia do orçamento e deixava a cargo da área política as negociações, caso a caso. 
As verbas das emendas faziam parte do orçamento discricionário. Com o aumento sucessivo das verbas obrigatórias, principalmente pelo aumento das despesas com os servidores ativos e inativos e das vinculações de receita, a margem das discricionárias foram minguando, afetando muitos programas setoriais.
A tecnocracia brasiliense reagiu, gerando restrições e regulações para a destinação das emendas, fazendo com que essas se enquadrassem nos programas setoriais. Os Ministérios e órgãos federais que tinham as suas propostas orçamentárias cortadas pela área econômica, recorriam às emendas para compensar os cortes e complementar o seu orçamento.
Não bastava ao deputado "emplacar" a sua emenda na proposta orçamentária. Precisava, ao longo do exercício orçamentário, liberar e para isso precisava-se enquadrar nas regras dos tecnocratas. Esses exigiam a formalização de contratos ou convênios com as Prefeituras, Governos Estaduais e entidades beneficiárias.
Liberar, em termos técnicos, significava empenhar, mas ainda era preciso liquidar para enfim pagar (no caso transferir para o beneficiado).
Cada passo intervia um órgão ou entidade estatal, com as suas exigências burocráticas. A Caixa Econômica assumiu o monopólio da intermediação dos pagamentos das emendas, cobrando uma taxa, não desprezível.

O papel dos líderes partidários era destravar, mediante negociações politicas. 
A reação dos deputados e senadores foi de tornar as emendas orçamentárias impositivas passando a fazer parte das despesas obrigatórias. Primeiramente, parte das individuais e depois as de bancada.
O Executivo manteve o poder de programar os pagamentos, retendo-os ao longo do ano, para negociações. Quando não paga no exercício é obrigado a inscrever em Restos a Pagar, mas mantém o poder de negociação: os pagamentos não são automáticos.
O Legislativo avançou nas suas prerrogativas, ganhando o direito de destinar as verbas de emendas, sem integrá-los em programas governamentais específicos. Tirou ou reduziu o poder da tecnocracia brasiliense.
Quer ainda o pagamento direto aos beneficiários, eliminando a intermediação da Caixa Econômica. 
Reduz a burocracia, reduz o tempo, mas dá margem maior à corrupção.





quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Dependendo do rompante do decisor


As coisas não acontecem por iniciativa de movimentos coletivos. Esses são reações a decisões monocráticas de decisores com poder. Tais decisões tem os seus seguidores que o acompanham, segundo o “efeito manada” e os contestadores, que podem alcançar a condição de maioria.
Cada vez mais assistimos a decisores que tem rompantes emocionais, criam um fato consumado e depois, buscam ajustes a partir do novo contexto.
O início do ano foi tomado pela decisão de Trump de mandar matar um general iraniano e criar um cenário no Oriente Médio.
É preciso voltar um pouco ao passado, para entender o presente e as perspectivas futuras: por que os EUA ocupam militarmente várias bases em países do Oriente Médio?
Supostamente para evitar eventuais ataques terroristas. Mas a sua presença é anterior a essas manifestações.
A razão mais clara era garantir o suprimento de petróleo e gás para os EUA, com diversidade de fontes, para conter eventuais movimentos altistas.
Com a expansão da produção de P&G a partir do xisto, Donald Trump acha que os EUA é mais que autossuficiente e pode dispensar o produto do Oriente Médio. Ele acha, pessoalmente, que não faz mais sentido os americanos gastarem bilhões de dólares para um benefício dispensável.
“América, first”, o resto que se vire. Os seus aliados europeus continuam dependendo do petróleo do Oriente Médio e do gás da Rússia.  Os seus aliados do Oriente Médio, tem enormes reservas, mas precisam vender petróleo & gás para o mundo, sob risco de entrar em colapso econômico.
Jair Bolsonaro segue o mesmo estilo de Trump, no qual se inspira. Lança a bomba e depois chama o seu Posto Ipiranga, para dar um jeito nas consequências.
Os cenários mundiais e brasileiros não podem se pautar pelos paradigmas racionais, mas tem que se basear na adivinhação dos próximos rompantes dos grandes decisores.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Cenários Bolsonaro 2020. em 2020



Jair Bolsonaro começou o ano “a todo vapor”, no exercício do que entende ser o seu papel de Presidente da República: “Aqui que manda sou eu, talquei”.
Não interferiu no aumento da carne, mas quer controlar o eventual aumento do diesel.
Determinou à ANEEL que parasse com a tal “taxa do sol”, afirmando que a Agência Reguladora é independente, mas não soberana. Soberano é ele. Todos dentro do Governo devem obediência a ele, “talquei”.
Se não determinou expressamente, o fez indiretamente, assumindo a nota do Itamaraty de apoio as ações de Trump, contra o Irã.
Talvez esteja aproveitando que os demais poderes estejam de férias, para ser o único poder da República que já retomou plenamente as suas atividades.
Dando vezo à sua natureza de despachante de interesses corporativos decidiu dar um aumento a policiais do DF, abrindo “a porteira” para a pressão dos demais servidores públicos, contra o congelamento dos salários.
Terá a equipe econômica contra, mas essa também não retornou inteiramente à ativa, com Paulo Guedes, mais preocupado com o que irá dizer em Davos, enquanto Bolsonaro, espertamente “saiu do campo”. Reunião com financistas e empresários não é o negócio dele.
O problema de 2020 estará na relação de Bolsonaro, com a equipe econômica, agora que ele resolveu interferir mais, ou até assumir o comando de algumas questões, como o aumento dos combustíveis.
Se a equipe econômica for contra as propostas ou decisões de Bolsonaro, atuando até junto ao Legislativo para não aprovar os aumentos e subsídios que irão comprometer o equilíbrio das contas públicas será considerada traidora?
O discurso de Bolsonaro, para os seus adeptos é “estou fazendo a minha parte, mas eles não estão deixando”. Quem são “eles”? Paulo Guedes e sua turma serão eles?

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Acidentes de percurso

A economia brasileira evoluiu positivamente, ainda que lentamente, até novembro de 2019, tornando-se cada vez mais dependente do consumo das famílias. 
Todos os demais itens da demanda, que "puxam" a evolução da economia fraquejaram. O consumo do Governo está contido pelas medidas de equilíbrio fiscal, embora sigam crescendo, por conta dos parcelamentos de reajustes dos servidores públicos, concedidos ainda pelos Governos do PT e dos encargos da Previdência. Os investimentos, tanto públicos, como privados estavam contidos por falta de confiança no futuro e por inseguranças jurídicas. As exportações de commodities não evoluíram fortemente, por conta da guerra comercial entre os EUA e a China, abalando todo o comércio mundial. As exportações industriais brasileiras ancoradas nas operações com a Argentina sofreram um grande baque com a crise financeira do país vizinho.
O consumo das famílias depende, fundamentalmente, da massa salarial e com o elevado nível de desemprego, as perspectivas não pareciam favoráveis, dentro dos paradigmas tradicionais.
Mas ocorreram mudanças de comportamentos dos consumidores, o comércio se adaptou e promoveram uma evolução positiva na indústria de transformação, até setembro, com resquícios para outubro e, grande movimentação no comércio varejista em novembro e dezembro. 
A animação do consumo familiar sofreu um grande baque com o vertiginoso aumento da carne bovina. Para se precaver em relação à demanda de proteina animal, no Natal a China colocou no Brasil, um grande volume de pedidos, de curto prazo, liberando a exportação de frigoríficos que estavam com restrições.
A China sabia da disponibilidade de carnes no Brasil, porque ela mesma estava contendo as compras, retardando a liberação de frigoríficos e existência de estoques, nos pastos.
Com o surto, o setor que estava com os preços contidos desde a Operação Carne Fraca, aproveitou para "repor" as perdas, usando a exportações para a China, como argumento.
2020 deverá assistir à "normalização" do mercado de carne bovina, com um patamar de volumes superior ao de anos anteriores, mas sem os surtos do final de 2019. Os preços terão uma pequena queda, mas também num patamar superior. 
A economia brasileira vinha bem até outubro, mas com a disparada da carne, acabou com um índice de inflação acima do centro da meta e será lembrada como o ano da "carne cara". Ou da "inflação do boi".
O ano começou com incidentes maiores: o conflito EUA x Irã impactando o preço do petróleo.
Jair Bolsonaro resolveu em 2020 assumir a economia, com duas medidas temerárias: coordenar as medidas em relação ao aumento dos combustíveis, o que sempre acaba com uma desastrada intervenção pública e não "taxar o sol", preferindo taxar todos os usuários de energia elétrica, desautorizando e desprestigiando a Agência Reguladora. 
Com essa atuação irá piorar as condições de atração de investimentos externos. Não pode dar segurança jurídica aos investidores na base do "la garantia soy jo". 



domingo, 12 de janeiro de 2020

Um novo Davi , jã velho

Uma das características principais da "velha politica" é a eleição do político como despachante de interesses comunitários, com votos em redutos eleitorais por levar a estes benefícios pontuais. Sejam unidades de saúde ou de educação, pontes, asfalto e outros, através das suas emendas parlamentares. Atuam ainda junto aos órgãos públicos federais para a destinação de recursos e execução de programas para os mesmos redutos. 
Em geral, permanecem à sombra, dentro do "baixo clero", raramente emergindo para o "alto clero". David Alcolumbre Tobelén é uma das exceções.
Quando foi eleito para a Presidência do Senado, em fevereiro de 2019, festejado como uma grande renovação, por ter derrotado Renan Calheiros, colocamos um post "Um novo Davi, não tão novo", texto incluído na segunda edição do meu livro "Até onde a vista alcança", pgs 79 a 81, mostrando que a sua trajetória política era típica da "velha política".
Ao final do ano de 2019, aproveitando o recesso parlamentar voltou ao seu Estado, para a plena atividade de despachante, participando da entrega de uma unidade básica de saúde e de um centro de especialidades odontológicas, construídas com recursos de suas emendas parlamentares, conforme mostra reportagem do Valor de 10 de janeiro de 2019.
Valendo-se da condição de Presidente do Senado, levou o Ministro do Desenvolvimento Regional e o Presidente da Caixa Econômica, para anunciar uma destinação de R$ 260 milhões, do Programa Minha Casa, Minha Vida, para a construção de 1.500 unidades em um condomínio popular. Mais à frente, concretizadas as construção, irá para a entrega aos moradores, apresentando-se como o mentor ou padrinho do benefício.
Com isso busca assegurar os votos dos seus eleitores, seja para uma candidatura ao Governo do Amapá, ou para a reeleição para o Senado, em 2022, com a perspectiva de reassumir a Presidência, em 2023. 
Não foi à busca dos eleitores pela sua atuação como Presidente do Senado, na condução da reforma da previdência, do "pacote de Sérgio Moro", segurar o projeto da prisão após segunda instãncia, ou outras ações com grande repercussão em Brasília, mas que mal chega em Macapá. 
O Amapá, com menos de 500 mil eleitores, o segundo menor do Brasil, perdendo apenas para Roraima, tem o direito de eleger 3 Senadores, tanto quanto São Paulo, com 26 milhões de eleitores. Tem ainda uma bancada na Câmara Federal de 8 deputados, pouco mais que 10% de São Paulo, que está limitado a 70 deputados, com 52 vezes mais de eleitores.
Para atender aos seus eleitores com obras e serviços alinhou-se ao Presidente da República, dentro das usuais práticas do Presidencialismo de coalizão. 
A "velha política" emerge com nova roupagem ou novo nome, mas logo volta ao que era antes, confirmando a máxima de  Lampeduza que "é preciso mudar para tudo ficar no mesmo". 

Número de candidatos em 2020

Espera-se um número recorde de candidatos às eleições de 2020, o que geraria, segundo analistas, uma forte dispersão de escolhas pelos eleitores, assim como dos recursos financeiros.
As contas agregadas em nível nacional não são significativas, a menos para a Justiça Eleitoral, para a qual o número de candidatos eleva os seus custos. As eleições de 2020 são municipais e cada eleitor com domicílio eleitoral num município só pode votar no candidato igualmente domiciliado no mesmo município. Será uma eleição altamente fragmentada dentro de mais de 6.000 municípios, de diferentes tamanhos. Não será uma eleição nacional, como a presidencial, nem mesmo estadual como a de deputados federais, embora essa seja a de maior impacto sobre as eleições municipais.
A enorme desigualdade do número de eleitores por município, faz com que qualquer análise nacional com base em municípios maiores não faça sentido. Por exemplo, não se pode avaliar as perspectivas das eleições de 2020, a partir do que pode ocorrer no Município de São Paulo. Em 2020 São Paulo será um mundo a parte.
Portanto, toda análise subsequente desconsidera o Município de São Paulo, embora seja difícil alienar-se completamente de São Paulo, estando nela.

As razões para um grande número de candidatos a Prefeitos são diferentes das razões para o número de candidatos à vereadores. 
As razões, por outro lado, devem ser separadas segundo a iniciativa dos partidos daquelas pessoais dos candidatos.
Os partidos tem interesse em lançar candidatos a Prefeitos, com um ou mais objetivos:

  • disputar a eleição, com um candidato competitivo, para ocupar o espaço do poder municipal, seja para o exercício do poder ou estabelecer base para as eleições de 2022;
  • preparar ou testar candidato para as eleições legislativas de 2022;
  • ter presença na mídia e, se possível, nos debates, para ajudar na eleição de vereadores do partido e formar bancadas locais com potencial de protagonismo;
  • alcançar números significativos de prefeitos e vereadores, para efeito de imagem e psicológico ainda que tenham pouca influência política real. 






sábado, 11 de janeiro de 2020

Populismo econômico


2020 começa com lançamento de mísseis contra a economia brasileira: as intervenções do Presidente da República.
No primeiro ano de governo Jair Bolsonaro pouco interferiu nas decisões governamentais sobre a economia, mantendo a posição de “ignorante na matéria” e deixando o seu “Posto Ipiranga” conduzir todas as proposições e articulações.
Não assumiu o comando da aprovação da Reforma da Previdência, interferindo apenas a favor das corporações policiais e militares. Mas com a sua aprovação, apropriou-se dessa, transformando-a no maior feito econômico, do seu primeiro ano.
Aparentemente interferiu para criar estímulos ao consumo, mesmo com as resistências da equipe econômica. Promoveu a liberação do FGTS, o que teria dado certo, levando a uma reação da economia, nos dois últimos meses. Achou que pode comandar a economia.
Com a crise gerada pelo conflito EUA x Irã quer administrar o eventual impacto do aumento do petróleo, no preço da gasolina e do diesel. Mais deste do que do outro, para atender aos caminhoneiros que fazem parte do seu grupo fiel de adeptos. A sua preocupação maior não é com o impacto inflacionário, mas com o reflexo sobre os custos dos caminhoneiros.
Dentro da mesma perspectiva de atender a um grupo minoritário de adeptos, proibiu o que apelidou de “taxa do sol”, mediante decisão autoritária: “quem manda aqui sou eu”.  Só desconsiderou que enfraquecendo o sistema institucional gera maior insegurança jurídica, espantando os investidores estrangeiros. Espera que eles acreditem que  "la garantia soy yo”.
Apoiou aumentos para os policiais do DF e é favorável a outros aumentos para as categorias de servidores públicos que o apoiam.
Está estudando reduções na conta de luz dos templos religiosos, para atender o seu principal grupo de apoio.
Parece ser o retorno do “populismo econômico” que tanto combateu, quando praticado pelo PT.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O apoio dos evangélicos

Entre os grupos de apoio de Bolsonaro  o mais importante - eleitoralmente - seria dos evangélicos pelo volume de eleitores.
Não há, no entanto, unanimidade entre eles nas preferências políticas. 
Algumas denominações (ou igrejas) estariam fechadas com Bolsonaro, em função da adesão dos seus líderes, mas outras - entre as maiores - mantém certa independência. Não há, por enquanto, evidências de alguma oposição.
As lideranças evangélicas se unem num ponto comum: não pagar impostos. Agora não querem nem pagar as conta de luz.
Ou seja, em 2022 os eleitores evangélicos poderão ou não votar a favor da reeleição de Jair Bolsonaro.
Uma parte seguirá as orientações dos pastores e líderes maiores, outra seguirá os sentimentos pessoais. Esses serão de gratidão ou de decepção.
De um lado estarão os que entendem que Jair Bolsonaro fez um governo a favor dos princípios defendidos pelos evangélicos, colocando Deus e a família em primeiro lugar. Colocou-se contra os desvios gerados pelo progressismo, como a união homoafetiva, o direito ao aborto e outros.
De outro lado estarão os que se sentirão traídos por Jair Bolsonaro que teria acedido aos acenos do diabo, aceitando regularizar os jogos de azar,  de não lutar pela preservação da vida, desde o primeiro momento, de ser condescendente com os LGTB e outros, considerados aberrações da natureza.

Como Jair Bolsonaro conduzirá a pauta evangélica em 2020 e anos subsequentes? 

Os resultados macroeconômicos serão importantes, em geral, mas não estão na pauta específica dos evangélicos. Já alguns impactos meso e microeconômicos terão maior importância.

Os desalentados e desocupados tendem a buscar nas igrejas evangélicas a acolhida, algum apoio material, mas principalmente o conforto espiritual e a esperança.
A partir da "teoria da prosperidade", segundo a qual Jesus premiará aqueles que se esforçarem para prosperar, sempre mantendo a crença no Senhor, a tendência é que os evangélicos apoiem mais o trabalho por conta própria e o empreendedorismo do que o emprego, com carteira.
Há e continuará havendo uma disputa da massa de trabalhadores, de menor qualificação, com os partidos de esquerda defendendo o aumento dos empregos formais, não se satisfazendo com as demais formas, consideradas precárias. 
Seguindo a trajetória atual do mercado de trabalho, em 2022, os candidatos de esquerda dirão que o Governo Bolsonaro não melhorou as condições dos trabalhadores, inchando com o trabalho informal e sem proteção social.
Já os evangélicos tenderão a creditar ao Governo a melhoria do mercado de trabalho, com o aumento maior do trabalho por conta própria.
Receberão desses o dízimo, tanto quanto dos celetistas. 

Ou seja, a principal oposição às bandeiras petistas poderão ser os evangélicos, não nas questões dos costumes, mas das modalidades de ocupação.
Os partidos de esquerda poderão conquistar os "corações, mentes e bolsos" dos celetistas, mas não os dos demais. A sua posição é de inaceitar essas modalidades, caracterizando-as como precárias, mas a pessoa que consegue uma renda, seja como microempresário ou com "bicos" ou "frila", a aceita, porque é melhor que ficar sem nada. 
A mensagem da esquerda "não aceite esmolas, mantenha-se no combate e lute pelo emprego" não teria tanta aceitação. 

Jair Bolsonaro, provavelmente, estará com os evangélicos, buscando capitalizar a melhoria geral do mercado de trabalho, sem a distinção do "formal" com o "informal". 



quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Aos inimigos nada


O titubeio de Jair Bolsonaro em relação ao Fundo Eleitoral para 2020 tem uma razão simples: mudança de perspectiva do uso dos recursos pelos seus aliados e seus inimigos.
O bolsonarismo, encarnado na figura do mito Jair Bolsonaro, promoveu a eleição de uma importante bancada para a Câmara Federal, em 2018, o que lhe propicia uma elevada participação na distribuição dos fundos públicos para os partidos.
As verbas são proporcionais ao número de deputados eleitos, o que significa que cada deputado eleito gera um ativo, mas não pertence a ele. Pertence ao partido. Se ele se transfere para outro partido, dependendo das condições da transferência, pode levar o ativo para o novo partido.
A bancada bolsonarista foi eleita predominantemente dentro do PSL que, dessa forma, tem a maior parcela do Fundo Eleitoral para gastar nas eleições municipais de 2020, embora nem todos os deputados que geraram o ativo estejam diretamente envolvidos nas campanhas.
Com os recursos o PSL pode promover a eleição de um significativo número de Prefeitos e vereadores, atraindo candidatos competitivos com promessa de apoio financeiro. Com a dissidência dentro do partido, esses não serão os ainda bolsonaristas.
Jair Bolsonaro, ao perder a influência sobre o PSL em função de divergências com o “dono” do partido, Luciano Bivar, fundou um novo partido, o Aliança pelo Brasil, com a expectativa de tê-lo registrado até março de 2020, a tempo de receber os seus deputados federais alinhados, trazendo para o novo partido os direitos às quotas do Fundo Eleitoral.
Em função dessa perspectiva concordou com o estabelecimento do Fundo, propondo o valor de R$ 2 bilhões. Resistiu às tentativas do Congresso em aumentar o valor, o que levou á aprovação por este do valor original proposto pelo Governo.
Mas os seus apoiadores mais diretos ao perceberem que são remotas as possibilidades da sua bancada federal levar para o novo partido as suas quotas, pressionam para que Bolsonaro vete a destinação da verba. O objetivo é um só: evitar “engordar” o caixa do PSL, dominado pelos desafetos internos do bolsonarismo.
Com o volume de recursos a direção do PSL irá minar as possibilidades de avanço das hostes bolsonaristas sobre Prefeituras e Câmaras Municipais.
Não tem nada a ver com interesses ou disputas nacionais. A disputa é doméstica, do tipo separação de marido e mulher e quem vai ficar com o cachorro.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Retomar o rumo

Por diversas vezes o Brasil tentou mudar o rumo da sua economia, mas acabou desistindo, voltando a insistir no modelo tradicional baseado no seu mercado interno, na dinâmica do consumo da sua população. O resultado tem sido uma economia estagnada, com algumas variações e uma recessão prolongada a partir de 2014.
A dinamização pelo mercado consumidor atual terá efeitos limitados. 
A dita "massa salarial" que é o conjunto dos rendimento dos trabalhadores que é mantido como poupança, investido em aplicações financeiras ou usado para consumo vinha caindo pela redução do volume de empregos e das contenções dos reajustes. 
Diante da insegurança, em relação ao futuro, parte dessa massa ficou "entesourada", tampouco foi acrescida por financiamentos pessoais. Ao contrário, com os financiamentos tomados anteriormente  a juros elevados, parte dessa massa ficou comprometida com o pagamento de juros, reduzindo a capacidade de consumo.
Com a redução dos juros para o consumidor, o que ainda não ocorreu amplamente, poderá haver margem maior para o consumo, dinamizando a economia.
No entanto, o "pavor" dos economistas-monetaristas de que o aumento da demanda por consumo gere inflação, poderá conter esse processo, mediante o aumento dos juros. 
Como grande parte da demanda pode ser suprida por importações, o risco atual de inflação é menor, dependendo mais das variações cambiais.
A expectativa de ingresso da capital estrangeiro para investimentos produtivos também depende das perspectivas de evolução do consumo interno e as demonstrações até agora é que ainda não há confiança por parte daquele de que o consumo interno irá se dinamizar o suficiente para justificar os investimentos.
Para uma dinamização sustentada da economia a produção industrial brasileira precisará buscar novos mercados, ampliando substancialmente o leque de produtos e de mercados. 





terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O mercado brasileiro de consumo

Apesar de uma enorme população, a massa consumidora do mercado brasileiro sempre foi relativamente pequena, abrangendo uma parcela menor da população total.
Até o início dos anos 90 era formada por uma pequena elite de fazendeiros e comerciantes, movimentando um mercado de produtos importados, em contrapartida às exportações de commodities florestais, minerais ou agrícolas. 
Esse modelo, com reflexo no poder, foi questionado por uma geração de jovens militares e civis, de classe média, que assumiram o poder, em 1930 e iniciaram a promoção da industrialização e da incorporação da classe média no mercado de consumo. 
Formou-se um circuito virtuoso, com uma indústria produtora de bens anteriormente importados, contratando trabalhadores no Brasil que transformaram os seus salários, preponderantemente em consumo e investimento em bens duráveis e imóveis.
A par da ascensão social de um segmento da população remanesceu uma grande parte fora do mercado, seja sobrevivendo com uma produção de subsistência no meio rural ou em favelas ou comunidades urbanas, com o trabalho precário. 
O circuito de produção --- consumo interno se enfraqueceu por um crescimento menor da população de renda média e alta, paralelamente à maior substituição do trabalho humano pelas máquinas e maior importação dos bens de consumo. 
A produção interna, com uso do trabalho nacional, com proteção governamental tendeu a perder produtividade e ficar mais cara, reduzindo o consumo dos produtos, em termos quantitativos. Além disso obsoletos tecnologicamente.
O que motivou a pressão desses consumidores de média e alta renda pela abertura do mercado, flexibilizando as restrições para a importação. 
O consumidor passou a dar preferência aos produtos importados elevando, a curto prazo, a sua capacidade de consumo, mas gerando menos empregos, o que se refletiu mais adiante na redução geral do volume de consumo. 

Essa perda de postos de trabalho e, consequentemente, de potencial de consumo, poderia ou deveria ter sido compensado com aumentos de produção industrial e de postos de trabalho, voltados para sua exportação. 
Porém as exportações se concentraram no minério de ferro e mais recentemente numa agropecuária moderna de alta produtividade. Ambos geram grandes volumes de divisas, mais que suficientes para a importação dos bens de consumo requeridos pela média e alta renda, porém com baixa geração de empregos. 
A indústria brasileira se conformou em ser um produtor secundário e de penúltima geração enfraquecendo o seu papel de correia transportadora da força gerada pelo consumo doméstico.
O resultado foi uma redução gradual, mas continuada da participação da indústria de transformação, no conjunto do PIB e da geração de empregos pelo setor. 
A tendência de reversão estrutural do mercado de trabalho começa por volta de 2011, mas a sua dinâmica é sustentada por ampla intervenção do Estado, no crédito e alocação direta de gastos públicos.
A justificativa foi a necessidade de investimentos para o Brasil sediar a Copa do Mundo da FIFA em 2014.
Nenhum estádio existente foi aproveitado, 12 novas arenas, foram construídas, para atender ao "padrão FIFA", algumas para receber apenas 4 jogos e ficarem posteriormente ociosas. Mas durante a construção geraram postos de trabalhos temporários e farta distribuição de "propinas".
Além dos estádios, o Governo Federal proporcionou generosos financiamentos aos Estados e Municípios, para melhorarem a sua infraestrutura, além da facilitar as licitações através de um Regime Diferenciado de Contratações. 
A movimentação das obras, assim como dos serviços preparatórios para a Copa, contribuíram decisivamente para a manutenção dos níveis de emprego.
Com o encerramentos ou suspensão das obras, houve uma redução dos níveis de emprego, mas tendo em vista as eleições de 2014, o Governo manteve ou desenvolveu mecanismos para sustentar os níveis de consumo e de emprego, até o final do mês de outubro. Vários subsídios foram concedidos, sendo os principais dos combustíveis e da energia elétrica. 

A irrigação do mercado com gastos públicos, comprometeu o superávit primário, transformado em 2014 em déficit primário e ainda comprometendo os orçamentos futuros, com o parcelamento dos reajustes dos servidores públicos.
O enfraquecimento da economia verificada em 2012, quando o PIB cresceu apenas 1,92% foi atribuida à uma suposta crise internacional, com a estabilização dos preços das commodities, quando era um sintoma do enfraquecimento estrutural do consumo interno. Em 2013 as medidas de sustentação elevaram a evolução do PIB para 3%, mas não se sustentaram em 2014. 
As eleições de  outubro de 2014 já ocorreram num ambiente recessivo, mas ainda não demonstrado estatisticamente, o que contribuiu para a reeleição de Dilma Rousseff. Mas as demonstrações subsequentes monstraram que a recessão tinha se instalado no segundo trimestre de 2014, quando o PIB da construção caiu 2,9% em relação ao trimestre anterior e o PIB, como um todo 0,4%.  O consumo das famílias é mantido positivo em 1,5%.
O ano de 2014 terminou fortemente negativo, com o PIB da construção caindo 8,7% em relação ao trimestre anterior. Mas em função do crescimento no inicio do ano, fechou com apenas 1,2% negativo. Da mesma forma o PIB, apesar de mais uma queda no último trimestre em relação ao anterior, fechou com uma evolução positiva de 0,5%. O consumo das famílias, já sem o suporte governamental, caiu no quarto trimestre em 0,9% em relação ao trimestre anterior, mas terminou o ano com 2,3% positivo.
Com a contenção fiscal, a retração do consumo se agravou e afetou o PIB, como um todo, em 2015 e 2016. O consumo caiu sucessivamente, segundo um circuito negativo, onde a queda do consumo afetou os empregos que, por sua vez, reduziu o consumo das famílias.

Como na economia brasileira a sua evolução é puxada pelo consumo, a recessão é desencadeada pelo enfraquecimento do consumo das familias, cabendo avaliar as causas desse processo de enfraquecimento. 

Podemos considerar algumas hipóteses:

  • perda de confiança em relação ao futuro, com a contenção de consumo, pelas pessoas com renda (seja do trabalho, como de investimentos);
  • esgotamento da capacidade de endividamento, agravada pela taxa de juros;
  • elevação da inflação corroendo a capacidade real de compra;


Na questão da confiança, o que leva à perda de confiança e como o processo evolui, crescendo ou se esvaindo?





















Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...