terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O mercado brasileiro de consumo

Apesar de uma enorme população, a massa consumidora do mercado brasileiro sempre foi relativamente pequena, abrangendo uma parcela menor da população total.
Até o início dos anos 90 era formada por uma pequena elite de fazendeiros e comerciantes, movimentando um mercado de produtos importados, em contrapartida às exportações de commodities florestais, minerais ou agrícolas. 
Esse modelo, com reflexo no poder, foi questionado por uma geração de jovens militares e civis, de classe média, que assumiram o poder, em 1930 e iniciaram a promoção da industrialização e da incorporação da classe média no mercado de consumo. 
Formou-se um circuito virtuoso, com uma indústria produtora de bens anteriormente importados, contratando trabalhadores no Brasil que transformaram os seus salários, preponderantemente em consumo e investimento em bens duráveis e imóveis.
A par da ascensão social de um segmento da população remanesceu uma grande parte fora do mercado, seja sobrevivendo com uma produção de subsistência no meio rural ou em favelas ou comunidades urbanas, com o trabalho precário. 
O circuito de produção --- consumo interno se enfraqueceu por um crescimento menor da população de renda média e alta, paralelamente à maior substituição do trabalho humano pelas máquinas e maior importação dos bens de consumo. 
A produção interna, com uso do trabalho nacional, com proteção governamental tendeu a perder produtividade e ficar mais cara, reduzindo o consumo dos produtos, em termos quantitativos. Além disso obsoletos tecnologicamente.
O que motivou a pressão desses consumidores de média e alta renda pela abertura do mercado, flexibilizando as restrições para a importação. 
O consumidor passou a dar preferência aos produtos importados elevando, a curto prazo, a sua capacidade de consumo, mas gerando menos empregos, o que se refletiu mais adiante na redução geral do volume de consumo. 

Essa perda de postos de trabalho e, consequentemente, de potencial de consumo, poderia ou deveria ter sido compensado com aumentos de produção industrial e de postos de trabalho, voltados para sua exportação. 
Porém as exportações se concentraram no minério de ferro e mais recentemente numa agropecuária moderna de alta produtividade. Ambos geram grandes volumes de divisas, mais que suficientes para a importação dos bens de consumo requeridos pela média e alta renda, porém com baixa geração de empregos. 
A indústria brasileira se conformou em ser um produtor secundário e de penúltima geração enfraquecendo o seu papel de correia transportadora da força gerada pelo consumo doméstico.
O resultado foi uma redução gradual, mas continuada da participação da indústria de transformação, no conjunto do PIB e da geração de empregos pelo setor. 
A tendência de reversão estrutural do mercado de trabalho começa por volta de 2011, mas a sua dinâmica é sustentada por ampla intervenção do Estado, no crédito e alocação direta de gastos públicos.
A justificativa foi a necessidade de investimentos para o Brasil sediar a Copa do Mundo da FIFA em 2014.
Nenhum estádio existente foi aproveitado, 12 novas arenas, foram construídas, para atender ao "padrão FIFA", algumas para receber apenas 4 jogos e ficarem posteriormente ociosas. Mas durante a construção geraram postos de trabalhos temporários e farta distribuição de "propinas".
Além dos estádios, o Governo Federal proporcionou generosos financiamentos aos Estados e Municípios, para melhorarem a sua infraestrutura, além da facilitar as licitações através de um Regime Diferenciado de Contratações. 
A movimentação das obras, assim como dos serviços preparatórios para a Copa, contribuíram decisivamente para a manutenção dos níveis de emprego.
Com o encerramentos ou suspensão das obras, houve uma redução dos níveis de emprego, mas tendo em vista as eleições de 2014, o Governo manteve ou desenvolveu mecanismos para sustentar os níveis de consumo e de emprego, até o final do mês de outubro. Vários subsídios foram concedidos, sendo os principais dos combustíveis e da energia elétrica. 

A irrigação do mercado com gastos públicos, comprometeu o superávit primário, transformado em 2014 em déficit primário e ainda comprometendo os orçamentos futuros, com o parcelamento dos reajustes dos servidores públicos.
O enfraquecimento da economia verificada em 2012, quando o PIB cresceu apenas 1,92% foi atribuida à uma suposta crise internacional, com a estabilização dos preços das commodities, quando era um sintoma do enfraquecimento estrutural do consumo interno. Em 2013 as medidas de sustentação elevaram a evolução do PIB para 3%, mas não se sustentaram em 2014. 
As eleições de  outubro de 2014 já ocorreram num ambiente recessivo, mas ainda não demonstrado estatisticamente, o que contribuiu para a reeleição de Dilma Rousseff. Mas as demonstrações subsequentes monstraram que a recessão tinha se instalado no segundo trimestre de 2014, quando o PIB da construção caiu 2,9% em relação ao trimestre anterior e o PIB, como um todo 0,4%.  O consumo das famílias é mantido positivo em 1,5%.
O ano de 2014 terminou fortemente negativo, com o PIB da construção caindo 8,7% em relação ao trimestre anterior. Mas em função do crescimento no inicio do ano, fechou com apenas 1,2% negativo. Da mesma forma o PIB, apesar de mais uma queda no último trimestre em relação ao anterior, fechou com uma evolução positiva de 0,5%. O consumo das famílias, já sem o suporte governamental, caiu no quarto trimestre em 0,9% em relação ao trimestre anterior, mas terminou o ano com 2,3% positivo.
Com a contenção fiscal, a retração do consumo se agravou e afetou o PIB, como um todo, em 2015 e 2016. O consumo caiu sucessivamente, segundo um circuito negativo, onde a queda do consumo afetou os empregos que, por sua vez, reduziu o consumo das famílias.

Como na economia brasileira a sua evolução é puxada pelo consumo, a recessão é desencadeada pelo enfraquecimento do consumo das familias, cabendo avaliar as causas desse processo de enfraquecimento. 

Podemos considerar algumas hipóteses:

  • perda de confiança em relação ao futuro, com a contenção de consumo, pelas pessoas com renda (seja do trabalho, como de investimentos);
  • esgotamento da capacidade de endividamento, agravada pela taxa de juros;
  • elevação da inflação corroendo a capacidade real de compra;


Na questão da confiança, o que leva à perda de confiança e como o processo evolui, crescendo ou se esvaindo?





















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