domingo, 26 de janeiro de 2020

A ilusão do poder no Estado (II)

A cultura artística é cercada por grandes dissensões dentro da sociedade. 
A primeira é se a cultura artística - no seu conjunto - reflete ou expressa a totalidade da cultura nacional. Uma parte acha que sim, outra entende que muitos elementos culturais da sociedade brasileira não são captadas pela cultura artística, principalmente as de natureza popular.
A segunda é se uma dada produção cultural tem que atender a critérios estéticos, sem o que não seria considerada como artística. Ou se todas as manifestações culturais devem ser reconhecidas como parte da cultura nacional. Neste sentido a música funk, sertanejo ou rock nacional seriam reconhecidas tanto quanto as bachianas e demais obras de Vila Lobos.
A terceira é se a cultura artística se confunde com a economia criativa, ou se é apenas uma parte dessa. A aceitação implicaria em reconhecer a produção cultural como um elemento econômico, parte integrante da economia brasileira, como um todo. O que leva a uma discussão sobre a importância relativa da indústria cultural dentro do PIB, ou na geração de empregos. Do que decorre a questão seguinte.
A mais importante, para efeito da interferência estatal, é se a produção cultural é um "bem de mercado", que para ser consumido precisa ser "comprado" pelo usuário, ou patrocinado para que o usuário possa usufruir do produto.
Dentro da perspectiva econômica, há a produção que tem um mercado consumidor, sendo autossuficiente dentro da economia de mercado. 
Por outro lado, nesse sempre essa produção é reconhecida como de cultura artística, por não se enquadrar em certos requisitos estéticos. 
Os grandes festivais de rock, como o Rock in Rio, reunindo artistas nacionais e internacionais são sucesso de público, mas são parcialmente contestados como produção cultual artística. A música sertaneja urbana ou o funk  são modalidades  de sucesso de público, mas detestado por certos segmentos sociais.  
Um caso mais polêmico é o Big Brother Brasil. Pode ser reconhecido como produção cultural?
O que leva à questão três anterior: é uma manifestação da economia criativa?
Por outro lado, concertos de Orquestra Sinfônica, apresentando músicas de reconhecido padrão estético, com permanência secular, tem público restrito e para torná-los acessível - mesmo a esse público - precisa ser financiado por patrocinadores.
Toda produção cultural apresentada pela televisão aberta é consumida sem o pagamento direto do assistente consumidor, sendo remunerada pelos "comerciais".
Produções culturais artísticas podem ser apoiadas financeiramente - direta ou indiretamente - pelo Estado. O apoio pode ser ainda institucional, via regulações, gerando - por exemplo - obrigação de exibição de produções nacionais na tv ou no cinema.
O que prevalece atualmente, como política cultural do Estado é a promoção do patrocínio empresarial, mediante renúncia fiscal, mediante o mecanismo caracterizado como Lei Rouanet.

(cont)
















Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...