quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Aos inimigos nada


O titubeio de Jair Bolsonaro em relação ao Fundo Eleitoral para 2020 tem uma razão simples: mudança de perspectiva do uso dos recursos pelos seus aliados e seus inimigos.
O bolsonarismo, encarnado na figura do mito Jair Bolsonaro, promoveu a eleição de uma importante bancada para a Câmara Federal, em 2018, o que lhe propicia uma elevada participação na distribuição dos fundos públicos para os partidos.
As verbas são proporcionais ao número de deputados eleitos, o que significa que cada deputado eleito gera um ativo, mas não pertence a ele. Pertence ao partido. Se ele se transfere para outro partido, dependendo das condições da transferência, pode levar o ativo para o novo partido.
A bancada bolsonarista foi eleita predominantemente dentro do PSL que, dessa forma, tem a maior parcela do Fundo Eleitoral para gastar nas eleições municipais de 2020, embora nem todos os deputados que geraram o ativo estejam diretamente envolvidos nas campanhas.
Com os recursos o PSL pode promover a eleição de um significativo número de Prefeitos e vereadores, atraindo candidatos competitivos com promessa de apoio financeiro. Com a dissidência dentro do partido, esses não serão os ainda bolsonaristas.
Jair Bolsonaro, ao perder a influência sobre o PSL em função de divergências com o “dono” do partido, Luciano Bivar, fundou um novo partido, o Aliança pelo Brasil, com a expectativa de tê-lo registrado até março de 2020, a tempo de receber os seus deputados federais alinhados, trazendo para o novo partido os direitos às quotas do Fundo Eleitoral.
Em função dessa perspectiva concordou com o estabelecimento do Fundo, propondo o valor de R$ 2 bilhões. Resistiu às tentativas do Congresso em aumentar o valor, o que levou á aprovação por este do valor original proposto pelo Governo.
Mas os seus apoiadores mais diretos ao perceberem que são remotas as possibilidades da sua bancada federal levar para o novo partido as suas quotas, pressionam para que Bolsonaro vete a destinação da verba. O objetivo é um só: evitar “engordar” o caixa do PSL, dominado pelos desafetos internos do bolsonarismo.
Com o volume de recursos a direção do PSL irá minar as possibilidades de avanço das hostes bolsonaristas sobre Prefeituras e Câmaras Municipais.
Não tem nada a ver com interesses ou disputas nacionais. A disputa é doméstica, do tipo separação de marido e mulher e quem vai ficar com o cachorro.

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