O "fique em casa" e outras medidas preventivas adotadas para combater o novo coronavirus, afetaram primeiramente a demanda dos com trabalho e renda. Deixando de sair para as compras, determinaram uma forte restrição nas atividades comerciais e de prestação de serviços pessoais.
Essa contenção foi corroborada pelo fechamento compulsório de estabelecimentos com atividades não essenciais. Mas já foi um efeito secundário.
Ainda durante as restrições, permanecendo fechados em casa, muitos consumidores perceberam que podiam manter a sua demanda, através dos serviços de entrega domiciliar ("delivery") restabelecendo parcialmente a oferta, a partir dos estabelecimentos que se adaptaram às novas circunstâncias.
Com a reabertura parcial do comércio varejista, assim como de estabelecimentos de prestação de serviços, como academias de ginástica, salões de beleza, restaurantes, bares e outros, ficou mais evidente que o problema maior está na demanda. As lojas, assim como restaurantes e outros estão com poucos clientes. A razão principal não é a falta de renda, ou o horário restrito de funcionamento, mas o receio das pessoas em sair às ruas, enfrentar aglomerações e através disso serem contagiadas. Muitos preferem ficar em casa e se abastecer com os serviços de delivery.
A redução da demanda levou muitos estabelecimentos a suspender ou encerrar as suas atividades, dispensando os seus empregados, reduzindo o contingente dos "com trabalho e renda", consequentemente a massa salarial, afetando ainda mais a redução da demanda. Mas já é um efeito derivado ou secundário e não um fator primário, como muitos acreditam.
A crise não é primariamente de desemprego. Este já é uma decorrência, do fator primário que é a contenção dos que ainda tinham trabalho e renda.
A estratégia de recuperação da economia deve ter como uma primeira etapa, o restabelecimento da demanda dos com trabalho e renda. São ainda 86 milhões de trabalhadores ocupados, segundo a PNAD, referente ao período mar-abr-maio de 2020, com rendimento mensal médio de R$ 2.460,00 e massa salarial total de R$ 207 bilhões. Apesar de uma queda conjunta de 10% em relação ao trimestre anterior, representa o total de demanda potencial, que - supostamente - não está sendo utilizada plenamente para o consumo.
Há o receio de que uma forte retomada do consumo, vá provocar o recrudescimento da inflação. O risco existe, mas não será por insuficiência de oferta, mas por reposição de preços ou por especulação. A menos de alguns casos específicos, com forte demanda reprimida, no geral a tendência é oposta: a retomada não ocupará toda capacidade ociosa da oferta, mesmo com a sua redução pelo fechamento de muitas empresas.
A menos de setores cartelizados, as empresas tenderão a disputar a demanda remanescente, através de preços mais baixos, podendo gerar o risco contrário: o da deflação.
De toda forma, para a retomada da economia será necessário ou essencial a dinamização da demanda das famílias, começando - como colocado acima - por aqueles que conseguiram manter o trabalho e renda.
A geração de mais empregos e mais renda disponível será por efeitos derivados, isto é, secundários. As prioridades governamentais dadas ao emprego tem função social, mas não econômica.
Como então promover essa dinamização do consumo das pessoas com trabalho e renda?
Esse é o grande desafio do qual a maioria dos economistas tem fugido.
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