Para a retomada da demanda das pessoas é preciso avaliar, preliminarmente, o impacto das mudanças de hábitos trazidos ou acelerados pela pandemia do novo coronavirus e pelo seu combate.
O vírus (SARS COV2) pela facilidade de contágio e efeitos dolorosos para parte dos infectados, levando alguns casos à morte, levou muitas pessoas a se recolherem em sua casa, reduzindo ou mudando os seus hábitos de consumo. Outros preferiram ou preferem se arriscar para voltar a hábitos anteriores e, finalmente, há os negativistas que não acreditam no vírus ou na sua gravidade. O negativista mais notório é o Presidente da República.
Os que aderiram ao "fique em casa" são, na maior parte, aqueles de maior renda, mantendo o seu emprego, trabalhando em casa. Foram eles que causaram maior impacto negativo em demandas setoriais e na demanda agregadana.
Em poucos casos eles deixaram de consumir algum bem ou serviço. Adiaram o consumo, diante das restrições na oferta, mas mantiveram o desejo de consumo, acumulando uma demanda reprimida.
Seriam os casos de bens de consumo duráveis, como automóveis, eletrodomésticos e outros, embora alguns demandantes, com maior urgência tenham recorrido às compras virtuais.
No caso de vestuário, ainda há grande preferência pelas compras presenciais e os compradores estariam esperando pela plena liberação para voltar às lojas.
Na maior parte dos casos o consumo ou a necessidade de consumo foi mantida, porém atendida por modalidades diversas das tradicionais.
Dois são os mais notórios: a alimentação e as reuniões ou encontros presenciais.
A alimentação dos trabalhadores vinha caminhando para um aumento progressivo do "fora do lar (food service)" gerando uma grande demanda para atividades de preparação e serviço de alimentação fora do lar, como restaurantes, lanchonetes, cozinhas industriais e outras, em grande parte, mediante empresas de micro e pequeno porte.
As reuniões e encontros presenciais passaram a ser substituídas por eventos virtuais, o que gerou forte impacto sobre a atividade de transporte de pessoas, tanto terrestre, como marítima e aérea.
São duas demandas que teriam até ampliado, mas realizadas na casa das pessoas, dos participantes, com as empresas prestadoras de serviços a perderem clientes, receitas, levando várias a fechar temporariamente os seus estabelecimentos, pedir recuperação judicial e até até a suspensão definitiva das suas atividades. Com redução ou eliminação do seu quadro de empregados.
Chama atenção o volume de encerramento de empresas e tem se debitado ao atraso nas medidas de auxílio emergencial do Estado. Mas esse é um efeito derivado. A razão primária é a redução na demanda dos seus serviços. Empresas que contavam com alguma reserva financeira, tiveram alguma condição para suportar a perda de clientes e receitas. As que estavam endividadas, conseguiram, em grande parte, postergar os pagamentos, mas não créditos adicionais.
Os auxílios emergenciais, ainda que cheguem, vão ajudar a sobrevivência, mas a retomada só vai ocorrer com a retomada da demanda.
A oferta irá diminuir pela saída de algumas empresas e as que sobreviverem terão que se ajudar ao novo perfil da demanda.
Do ponto de vista macroeconômico, apesar das alternativas de atendimento, deverá afetar a demanda agregada que será menor.
A retração do consumo dos ainda com trabalho e renda, decorre mais de fatores culturais, sejam de ordem sanitária, pelo receio do contágio, como de ordem econômica, pelo receio de perda do emprego e da renda futura. Neste caso preferem "guardar o dinheiro" para eventualidades futuras.
Já os que perderam emprego ou já estavam desempregados, antes da pandemia, a retração da demanda decorre da redução de renda.
Em primeiro lugar será necessário revitalizar a demanda daqueles com trabalho e renda, uma vez que a dinamização dessa será a condição fundamental para que as empresas se animem a contratar mais, determinando a ampliação da massa salarial.
Priorizar os empregos, mediante desoneração da folha e outras medidas serão ineficazes, sem antes redinamizar a demanda. Sem essa as empresas não irão se dispor a retomar ou aumentar a produção e contratar mais empregados. O problema primário dos empregadores não é o custo presente ou futuro do empregado, mas a falta do pedido, ou dos clientes.
Como redinamizar a demanda, a curto prazo, sem comprometer as contas públicas como fez o PT?
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