quinta-feira, 23 de julho de 2020

Novo perfil das lideranças empresariais

A organização empresarial vinha atravessando grandes mudanças, mesmo antes da pandemia do novo coronavirus e tendem a seguir a mesma trajetória: a substituição das empresas familiares ou "com dono", por corporações, com a composição acionária difusa e direção por dirigentes profissionais contratados. Essa direção profissionalizada ocorre também nas empresas com dono, mas mais sujeitas às interferências desses na gestão da empresa.

Na agricultura, uma das principais partes do agronegócio, a produção ainda é amplamente disseminada pelas fazendas de donos, sendo ainda pequena a participação de pessoas jurídicas, e praticamente nenhuma corporação.
A principal integração ocorre pelas cooperativas de produtores, que também participam da comercialização, principalmente das exportações dominadas pelas tradings.
Lideranças empresarias do setor seguiram o caminho político, como Blairo Maggi, integrante de uma das famílias líderes na produção de grãos. Roberto Rodrigues, uma das principais lideranças do setor, não se destaca como produtor.  

Na pecuária,  produção ainda é predominantemente de fazendas "familiares", ainda que algumas sejam de grande porte, com faturamentos bilionários. Já a industrialização é dominada por grandes frigoríficos empresariais, tanto de empresas de dono (JBS, Marfig, Minerva e outros), como corporações, como a BRF. 

Na área de produtos florestais, há o domínio de grandes empresas, ainda de dono, mas com tendência a serem transformadas em corporações, com grande volume de ações em bolsa de valores. São dirigidas por profissionais, como o caso da Suzano.

Em 1977, promovido pela Gazeta Mercantil, foi formado um grupo de lideranças empresariais, todos donos (pessoais ou familiares) das empresas que dirigiam. Iniciou com os 8 pela  redemocratização. 

Após a redemocratização, em 1985 o movimento perdeu força. Os empresários voltaram-se para a gestão de suas empresas, recolhendo as suas vozes em manifestações políticas. Os porta-vozes do empresariado voltaram a ser os dirigentes das organizações sindicais patronais ou associações setoriais, dominadas pelos interesses corporativos. 
Dada a elevada interferência regulatória, creditícia e fiscal, acompanhada por uma imensa máquina burocrática, do Estado, o foco dos interesses corporativos está sempre relacionado às ações governamentais, o que limita uma atuação mais independente dos empresários.

A atuação cidadã dos empresários ficou fora das prioridades das suas agendas, com raras exceções.

Com a conjugação de três grandes crises, a sanitária, com a pandemia do novo coronavirus, a ambiental, com o impacto internacional do desmatamento e queimadas na Amazônia e a institucional, com a emergência dos movimentos antidemocráticos, lideranças empresarias tem se mobilizado, mas com características distintas do movimento de 1977. 

Dirigentes de entidades representativas do agronegócio, publicaram manifesto de apoio ao Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o que escancarou para o público em geral a divisão do setor. 

Reações externas de gestores de investimentos, colocando restrições às operações enquanto o Governo Brasileiro não definisse medidas objetivas para o combate ao desmatamento e aos incêndios na Amazônia, foi repicado  do Brasil, por manifestações de líderes empresariais, cobrando do Governo, medidas mais concretas. 

A quase totalidade dos manifestantes é de dirigentes profissionais, contratados pelos Conselhos de Administração das empresas, esses dominados pelos donos das empresas. 

Esses continuam "enrustidos", também com algumas exceções como as de Horácio Lafer Piva, integrante da família controladora da Klabin, Guilherme Leal um dos principais acionistas da Natura e outros poucos. 

Todos os demais tem preferido não entrar em confronto com o Governo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...