Com uma prolongada estagnação da economia, após uma recessão, mantendo um elevado nível de desemprego, o desequilíbrio entre uma oferta ampliada para atender a uma recuperação da macroeconomia e uma demanda reprimida provocou a desinflação dos preços.
O Brasil chegou a uma estabilidade monetária, não obstante um acentuada elevação cambial, decorrente da movimentação de capitais, com o exterior, acentuada pelas ações especulativas do mercado.
Com a pandemia do coronavirus SARS-COV 2, retendo as pessoas em casa, a demanda geral foi contida, com exceção dos gastos básicos com a alimentação, suprida - em grande parte - pelas entregas a domicilio, ou compras locais, sem problemas maiores de abastecimento e impacto nos preços. A produção agropecuária brasileira era suficiente para atender ao mercado interno e ainda exportar.
Um primeiro grande impacto ocorreu ainda no final de 2019, quando a China, começou a recompor ou seus estoques, importando mais carnes bovinas e suínas, principalmente do Brasil, provocando um substancial aumento dos preços internos. Na sequência os preços refluiram, mas não inteiramente.
A concessão de um auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 a cerca de 80 milhões de pessoas, com uma injeção de mais de 100 bilhões de reais para o mercado da pobreza gerou uma inflação nos preços dos alimentos básicos, movidos pelas ações dos produtores e comerciantes para recuperação dos seus preços, contidos durante a recessão e estagnação. Como sempre, acentuada pelos movimentos especulativos.
Colocaram a culpa nas exportações e essa narrativa tem sido aceita para enfatizar os efeitos benéficos do auxílio-emergencial e mascarar os danos colaterais.
O fato real é que parta do auxílio-emergencial foi "comido" pelos aumentos de preços, notadamente no arroz, feijão - que não tem grandes volumes de exportação - e nas carnes e agora no óleo de soja - que sofrem o impacto das exportações.
O arroz e o feijão podem ser importados, mas com o "dólar nas alturas", os preços continuarão elevados. As reduções só ocorrerão com as novas safras.
Com a nova onda do coronavirus na Europa e a eventual vitória de Biden, nos EUA, gerando a expectativa de retomada comercial com a China, as exportações brasileiras não seguirão o mesmo ritmo de 2020, gerando estoques, em alguns produtos que serão "desovados" no mercado interno a preços promocionais.
Internamente, não há condições fiscais de sustentar o mesmo volume de auxílios à população mais pobre, a menos que o Governo mude a sua posição de proteger os rendimentos e ativos dos mais ricos, considerados essenciais para os investimentos.
Tais acontecimentos atuais irão se refletir na contenção da inflação de alimentos, já no início de 2021.
Mas o processo inflacionário disparado pela inflação dos alimentos, diante da retomada geral das atividades econômicas poderá recrudescer em 2021.