A cidade é essencialmente um ente econômico.
O crescimento demográfico e físico da cidade
tem suporte no seu crescimento econômico.
Em geral, os planejadores urbanos não colocam a dinâmica econômica como elemento vital do desenvolvimento urbano, assumindo que a economia local continuará crescendo, em termos macro, como no passado, o que nem sempre é verdade. Tendem a estabelecer regulações que acabam tolhendo o crescimento econômico da cidade, como um todo ou de parte dela, provocando a sua degradação.
Não há desenvolvimento urbano sem desenvolvimento econômico.
Por outro lado, um crescimento econômico diante da escassez de suporte físico gera problemas de funcionamento da cidade, sendo os congestionamentos de trânsito a principal manifestação.
As pessoas moram ou buscam a moradia na cidade para conseguirem uma fonte de
renda, principalmente pelo trabalho. Uma cidade que não oferece trabalho não se
desenvolve ou se anteriormente tinha, entra em decadência. Detroit nos EUA é um
dos casos mais significativos desse processo.
Os empreendedores precisam de um sítio (um local) para
desenvolver as suas atividades econômicas – sejam de produção ou de gestão – e
nessa unidade econômica gera empregos, tornando a um local de destino dos
trabalhadores. O trabalho é sempre o principal motivo de deslocamento das
pessoas dentro da cidade. Os locais de trabalho são os principais motores da
estruturação das cidades, embora não sejam os maiores usuários ou demandantes
de terras (ou terrenos) dentro das cidades. A maior demanda é dos trabalhadores
para a sua moradia e de sua família.
Os trabalhadores tem
pouca influência sobre a localização das unidades geradoras de trabalho. Essas
são definidas pelos empreendedores, que são também os empregadores. Aos
trabalhadores só restam as decisões marginais de buscar os locais que lhe
oferecem emprego, nem sempre sendo aceitos. Nem sempre conseguem emprego ou
trabalho onde desejam, sendo obrigados a aceitar o emprego que lhes é
oferecido. E se movimentarem de onde moram até o local do emprego que
conseguem. Às vezes longe, com acessos precários e serviços de transporte
igualmente deficientes.
Por outro lado, os trabalhadores nem sempre conseguem morar
onde gostariam. Embora os planejadores desejem a aproximação das funções
urbanas, que as pessoas morem próximas
ao trabalho ou, ao contrário, o trabalho vá para perto da moradia isso é difícil de ocorrer em função dos mecanismos
do mercado imobiliário.
O interesse ou escolha dos empreendedores por determinados
locais da cidade para se instalarem tem resposta (ou iniciativa) do setor
imobiliário em ofertas de imóveis que encarecem o valor dos terrenos. Essa
valorização afeta os moradores já instalados na própria área ou entorno. Os
proprietários se beneficiam, mas aquelas que pagam aluguel tem aumentos que
podem superar a sua capacidade de pagamento. Acabam se mudando para outras áreas com valores imobiliários mais baixos.
Esse processo perverso afeta mais pesadamente os trabalhadores
de menor renda que só encontram inicialmente local para sua moradia em
periferias relativamente distantes dos polos de trabalho, carente de
infraestrutura ou em áreas mais próximas com restrições de natureza física ou
legal (como as de preservação ambiental). Essas condições desfavoráveis
deprimem os preços dos terrenos e viabilizam a sua ocupação pelas pessoas ou
famílias de menor renda. Quando as melhorias chegam ou as restrições são
levantadas ou atenuadas, os terrenos se valorizam e expulsam os moradores que
não tem condições de arcar com os novos valores dos alugueis ou dos custos
locais de consumo. Isso os afasta cada
vez mais dos locais de trabalho, obrigando-os
a deslocamentos maiores, consumindo grande parte do seu tempo diário.
Diante dessa situação as autoridades promovem a melhoria dos
transportes coletivos, o que igualmente gera a valorização imobiliária e novo
afastamento dos moradores da oferta dos transportes coletivos.
A instalação de polos de trabalho nessas áreas mais densas
de moradia popular gera o mesmo efeito de valorização e expulsão daqueles com
menor renda.
A aproximação moradia-trabalho nem sempre tem se sustentado
em função da dinâmica imobiliária. Essa é demonizada pelos planejadores urbanos que a caracterizam
como “especulação imobiliária”, mas o Poder Público não tem instrumentos
eficazes para combate-la.