domingo, 8 de junho de 2014

Legados da Copa - Manifestações de rua

Completada a Copa do Mundo da FIFA, no dia 13 de julho de 2014, o povo voltará às ruas? Caso o Brasil ganhe, sim: para comemorar. Serão mais 15 dias de comemorações nacionais e  locais como caravana da seleção ou dos seus jogadores voltando às suas cidades natais. Se não ganhar, não haverá festas. 

A realização da Copa poderá ser apenas uma suspensão no ambiente de insatisfação da população com "tudo o que está ai". 

A Copa serviu de catalizador das manifestações, não pelo evento em si, mas pelos gastos governamentais com a sua preparação e com as promessas não cumpridas. Foi um alvo generalizado e focado, embora não preciso. A oposição foi ao evento esportivo, mas as razões foram e vão muito além disso.

Alguns ativistas mais radicais chegaram a acreditar que com as suas mobilizações poderiam evitar a realização da Copa. Os movimentos causarão perturbações, mas não impedirão a plena realização do evento. 

Realizada a Copa, cessará o motivo de chantagem que muitas categorias de trabalhadores e movimentos sociais utilizaram para tentar (alguns com sucesso) o atendimento às suas reivindicações específicas.

A insatisfação generalizada e difusa voltará pelo conjunto das reações individuais. 

O povo voltará às ruas? Ou com a proximidade das eleições guardará a sua revolta para descarregar na urna?

Muitos dos descontentes acham que a manifestação do descontentamento está em votar nulo ou branco. Não votar a favor de nenhum dos candidatos.

O resultado prático, no entanto, será favorecer o candidato que está na liderança das pesquisas, em geral, o candidato à reeleição. Nas eleições os resultados só consideram os votos válidos. Branco ou nulo são inválidos.

Em São Paulo, o Governador Alckmin, com 44% das preferências do total, venceria no primeiro turno. No nível federal, Dilma tinha uma posição tranquila, agora ameaçada. Não tem mais garantida a eleição no primeiro turno.

Invalidar o voto é uma reação predominante da opinião publicada. Que se supõe mais educada, mais instruída e mais informada. Mas para muitos prevalecerá a reação subjetiva e pessoal. Ele precisa manifestar o seu protesto individualmente. Não lhe interessa se o resultado prático seja o oposto do que ele deseja: manter o "status quo", com a reeleição dos governantes atuais.

Essa válvula de escape fará com que não saia às ruas para manifestar a sua contrariedade.

Os ativistas com reivindicações específicas irão às ruas, mas não terão grande adesão. Reunir 20 mil pessoas será um grande feito. Mais de 100 mil só as marchas evangélicas, a parada gay ou festas de trabalhadores com sorteio e casas e carros. 

Poderá ocorrer, no entanto, algum incidente ou fato reprimido que dê origem a grandes mobilizações. Um eventual atentado contra Joaquim Barbosa gerará uma comoção social. O aumento das tarifas dos transportes coletivos dará origem a manifestações de jovens. Poderá ter grande adesão ou não. Provavelmente não. Uma grande parte dos usuários prefere pagar um pouco mais e ter os serviços, do que ficara com a tarifa congelada e não ter os serviços. 

O que causa comoção e reação popular generalizada é um assassinato bárbaro ou morte de vítimas de mau atendimento dos serviços de saúde.

Tanto num caso, como em outro, há uma repetição e acumulação de casos mal resolvidos, divulgados pela mídia: principalmente por aquela parcela que vive do sangue dos outros. Os fatos são reais e estão enchendo o copo. Em algum momento pode ocorrer um fato, ainda que isolado, que seja a gota d'água.

É crescente a sensação de toda opinião pública (não apenas da publicada) de que o povo não está sendo atendido adequadamente nas suas suas necessidades de recuperação da saúde. A saúde está sempre no topo das razões de preocupação da população, nas pesquisas de opinião.

As soluções governamentais tem sido paliativas, quando não demagógicas, como o programa "Mais médicos". É um programa correto, mas de atendimento limitado e a forma de execução, com a utilização de profissionais cubanos em regimes de trabalho similares à escravidão, o comprometem. Os favorecidos não irão às ruas para defendê-lo ou pedir a sua extensão.

A sensação é de que estamos sentados em cima de um barril de pólvora e a qual descuido esse poderá explodir. Quando isso e como poderá ocorrer é a grande incógnita.

A corrupção é outro grande fator de insatisfação popular, porém o seu combate é difuso. O elemento objetivo é o de apear do poder o suposto corrupto. Nas esferas federal e estadual, com a proximidade das eleições, o instrumento é o voto. Não há necessidade de ir às ruas para pedir o "impeachment" do governante ou da autoridade.

O que ainda poderá levar o povo às ruas, depois que aprendeu o caminho?

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