terça-feira, 3 de junho de 2014

O sentimento desfavorável à Copa não foi superado

A persistência de um sentimento desfavorável à Copa dá margem a continuidade das manifestações, protestos. A mídia não abandona as más notícias com relação ao problemas com os estádios, aeroportos e outros.

Por que pequenos grupos ainda vão às ruas para protestar e dizer que "não vai de ter Copa" ter aceitação? Apenas uma minoria protesta contra os protestos, pelas perturbações que causam.

A primeira constatação é que se a mídia continua dando cobertura aos problemas é porque acha que é notícia. E que interessa aos seus leitores e não apenas que o problema existe. Se percebe que não há mais interesse, deixa de noticiar. "O homem continua mordendo o cachorro". 

Em treinamentos para executivos, autoridades e outros para atender a mídia (os chamados midia training) usa se um exemplo prosaico: se um cachorro morder o homem é informação. Pode até ser publicado, mas perde importância logo. Agora se o homem morder o cachorro é notícia. E pode dar desdobramentos durante muito tempo, até a saturação e perda de interesse.

Os protestos de rua eclodiram em junho de 2013 dentro de um ambiente sócio-cultural de insatisfação da classe média com a situação e os rumos do país. Havia a sensação generalizada dentro da opinião publicada de que o país não ia bem. Caminhando para uma situação pior.

O aumento das tarifas de transporte coletivo em São Paulo, levou ao protesto de um pequeno grupo de jovens ativistas da esquerda radical. Manifestações de estudantes contra o aumento da tarifa do ônibus, sempre ocorreram e em várias cidades. Sempre que se promove um aumento as autoridades já esperam a ocorrência de protestos. Não deu outra.

Diversamente do que ocorreu em outras cidades, como Porto Alegre e em outras ocasiões o protesto do pequeno bando de idealistas pedido o impossível (passe livre) ganhou o apoio dos insatisfeitos que aproveitaram a oportunidade para aderir e engrossar a massa dos manifestantes na rua. Ocorreu uma catarse: uma liberação de sentimentos reprimidos internamente. 

Muitos aproveitaram a oportunidade para colocar outras questões gerais para protestar, principalmente contra os políticos e a corrupção. Alguns aproveitaram para protestar ou apoiar medidas específicas como a PEC que limitava a ação do Ministério Público.



A reivindicação com maior adesão foi a melhoria dos serviços públicos em educação e saúde. É um dos pontos renitentes de reivindicação popular. Também já foi objeto de muitas manifestações que logo se dissiparam e perderam força, voltando tempos depois.

Desta vez foi diferente. Os manifestantes encontram um contraponto que funcionou: os gastos com a preparação para a Copa do Mundo da FIFA de 2014.

Em termos simples, contra os gastos com a Copa, com as exigências da FIFA para a sua realização no Brasil, sintetizada pela expressão "padrão FIFA".

O sentimento popular era de que o país estava gastando demais, com suspeitas de roubalheira, com a Copa e não dando a mesma atenção à educação e à saúde.

O povo foi às ruas e isso só já era notícia. O que se pedia já era secundário. O que interessava eram os conflitos e a eventual truculência da ação policial. A mídia estava prioritariamente na busca de vítimas da violência policial. Os blackblocs aproveitaram para ir às ruas vandalizar e alimentar as notícias.

Os movimentos foram arrefecendo. Reivindicações pontuais foram atendidos, com o congelamento das tarifas trazendo problemas que emergiram depois. A PEC não foi aprovada e outras medidas foram tomadas.

Novas questões e novos grupos foram para as ruas, como as tradicionais reivindicações salariais de categorias profissionais. Grupos de "sem teto" foram reivindicar moradia para eles. 

Nesse processo um tema foi mantido na ordem do dia: os protestos contra a copa do mundo, sintetizado na frase "não vai ter Copa". Uma minoria ainda acredita que com as manifestações poderá evitar a realização do evento internacional no Brasil. Mas a maioria quer manifestar a sua inconformidade com os gastos com a sua preparação. Alguns por serem contra o Governo que assumiu plenamente a sua defesa.

A par da continuidade dos protestos a pergunta que não quer se calar é: por que o povo brasileiro (ou pelo menos grande parte dele, incluindo os torcedores brasileiros) se voltaram contra a Copa. Isso no país do futebol.

A expectativa era de que com a aproximação do evento a mídia e a sociedade se concentrassem na seleção brasileira e esquecessem o resto. Felipão está cumprindo o seu papel criando sucessivos factóides em relação à seleção do Brasil, chamando atenção da mídia.

Não tem adiantado. A mídia não esquece os problemas nos estádios, nos aeroportos e outras obras, mostrando todo os dias a persistência dos problemas. Dentro do imaginário popular ou seja do "imagina na Copa".

Ainda não há explicações convincentes de porque a opinião publicada se virou contra a Copa.

E não foi só a opinião publicada. Foi toda a opinião pública.

Por que a classe pobre, que não lê jornais, mal vê o noticiário na televisão que aparece entre as novelas ainda não entrou no clima da copa e apoia os movimentos contrários?

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