Ontem me encontrei com duas eleitoras de Dilma. A minha jovem amiga, recém demitida de um emprego onde estava há mais de dez anos, não está desempregada. Aproveita para completar o seu mestrado, está dando aulas, ainda não buscou o seguro desemprego e pode fazer um almoço de duas horas e não corrido para voltar ao emprego. Está feliz.
Tem uma visão humanista e apoia o Governo que dá atenção aos mais necessitados. Tem horror de Aécio, que a ver dela encarna um segmento social elitista que quer manter as suas condições de vida, desprezando os mais pobres. Faz parte da torcida ativa.
A podóloga, é uma vitoriosa, de origem humilde, que saiu de uma pequena comunidade na Bahia. Passou por Salvador, chegou a São Paulo, fez cursos profissionalizantes e consegue manter uma clínica própria, num bairro de classe média em São Paulo. Mas não esquece a fome que passou quando criança. Por conta dos que ainda ficaram, votou em Dilma, sem medo. E acha que alguns clientes dizem que votaram em Aécio, mas na cabine, em Dilma. O PT teria obtido "votos envergonhados". E pesou também a rejeição a Aécio, percebida ao assistir o último debate.
Nos dois casos emerge uma figura interessante, a essa altura um mito que povoa o imaginário popular, tanto da classe média tradicional como da emergente: Dna Ruth Cardoso. Ela é percebida como uma pessoa que se preocupava e dava atenção aos mais pobres. Tanto que teria criado os programas sociais.
Do ponto de vista do marketing eleitoral foi uma falha enorme. Não a única, mas que deixa lições para o futuro.
Aécio, ao contrário de Serra e Alckmin recuperou a participação e a imagem de Fernando Henrique Cardoso, focado na economia e no Plano Real. Aparentemente foi bem sucedido junto à classe média, mas a visão de que a estabilidade monetária foi a principal responsável pela ascensão sócio-econômica dos miseráveis e dos pobres, "não pegou". Para quem não tinha renda se essa valia mais ou menos foi irrelevante. O relevante é o presente.
Já a criação das bolsas sociais e outros programas sociais não seria associada apenas a Lula, mas tem a presença forte, no imaginário popular de Dna. Ruth. O PSDB tentou associar a criação dos programas a FHC, o que não pegou, a menos para sua torcida, porque ele é visto como o "príncipe", um aristocrata, um elitista que não se importa com os pobres e os trata como ignorantes. Quem cuidava dos pobres era Dona Ruth Cardoso. Verdade ou não, faz parte do imaginário popular.
Essa é uma lacuna fundamental do PSDB e para ser competitivo precisa ter uma figura que encarne a "mãe do povo", aceite pelo próprio povo. Dilma é uma "mãe falsa", criada pelo marketing político. Marina é mais autêntica e dai o medo do PT dela. Ela passou fome quando criança. Viveu essa realidade, como Lula também. Dilma não viveu. Tampouco Dona Ruth.
O PSDB não tem nenhuma figura de destaque que esteja, efetivamente, preocupada com os mais pobres. Os discursos montados não alcançam corações e mentes dos que estiveram ou ainda estão na condição de miséria e de pobreza.
Precisa criar ou desenvolver lideranças autênticas, com essa visão.
Votando à questão da divisão do pais, em campo há uma disputa entre "pobres" e "não pobres" (ou "ricos"). Nas arquibancadas as duas torcidas, meio a meio. E entre elas as "organizadas" fanáticas, intolerantes e violentas.
Em campo não existe uma divisão profunda, mas adversários em disputa. Já nas arquibancadas há uma divisão maior que se aprofunda nas organizadas. Essas são inconciliáveis. Não há diálogo possível. Mas é uma disputa marginal. Em todos os sentidos.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2014
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