domingo, 30 de novembro de 2014

Inflexão na concepção de gestão

Dilma é uma "gerentona das antigas". Um espécime em extinção, porque não é mais eficaz. O principal lema é "manda quem pode obedece quem tem juizo". Mudou à muito tempo, para obedece quem é subserviente ou "puxa saco". A moderna gestão defende o gerente líder capaz de conduzir uma equipe competente com subordinados dispostos a contestar, a dizer não e persistir nas suas idéias e convicções. Tem as suas convicções e não fica atrelada às do chefe.

Dilma como gerentona, formou uma equipe com 35 ministros de Estado mais um conjunto de assessores, todos zumbis, dispostos a obedecer, ou fazer de conta que, sem jamais contestar, aceitar em ser humilhado. Por que saiam das reuniões e iam tocar o seu feudo ou lote, para atender aos interesses dos amigos, correligionários e seus próprios. E cuidar de arrumar as desculpas para explicar porque não fez o que ela mandou. Qualquer desculpa servia, porque nenhuma seria aceita. E a vida continuava, gastando o dinheiro público sem resultados.

No Ministério do seu primeiro mandato não havia nenhum ministro independente. Só subservientes. E não funcionou.


A biografia de alguns dos Ministros indicados, alguns já designados, mostra uma profunda mudança de modelo gerencial. Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Kátia de Abreu são mostradas como pessoas determinadas, "work-alcoholic", com convicções e dispostas a seguí-las. Não vão aceitar calados e humilhados as determinação e broncas da chefe. Porque eles também são assim: autoritários.

Para dar certo no seu segundo mandato, ela terá que mudar 180º graus o seu estilo de comandar. Sempre com o risco de caminhar mais 180º e voltar ao mesmo. Se fizer isso o seu Ministério forte a abandonará em pouco tempo.

Os três citados são experientes, competentes, determinados e com espírito público. Pode se discutir a visão pública de cada um deles. Mas acreditam na sua visão e estão dispostos a trabalhar duro para alcançar os objetivos.

Não vamos nos alongar muito em relação aos dois principais ministro da área econômica, já incensados pela mídia.


A escolha de Kátia Abreu, em contraposição à permanência de Geller (um ilustre desconhecido para quem não é do ramo) significa ter um Ministro do Agronegócio ou um Ministro da Agricultura, em geral.

O primeiro é rico, concentrado com poucos participantes e grande responsável pela geração de superatives comerciais externo, para poder sustentar as importações dos urbanos. O segundo não é tão rico, disseminado em milhares ou milhões de pequenos e médios fazendeiros, espalhados pelo Brasil, que precisam do crédito agrícola e não tem reservas para suportar adversidades climáticas.

Ainda há um terceiro segmento, o da agricultura familiar e dos trabalhadores rurais, para os quais o Governo criou um Ministério próprio, só para dar a impressão de que os apoia e atende.Atende a poucos para mostrar para a mídia, mas a maioria continua desamparada.

A escolha de Kátia Abreu tem um propósito claro: manter o crescimento do agronegócio como um dos principais pilares do crescimento econômico brasileiro. Irá enfrentar conflitos internos, mas o objetivo principal é a "briga no front externo". Ainda há muitas barreiras externas a vencer e o principal adversário é o tradicional "inimigo" de Dilma: o imperialismo norte-americano.

O agronegócio brasileiro precisa ter uma figura forte, no cenário internacional. É uma nova estratégia, uma estratégia moderna, que passa ao largo da compreensão petista.

No último trimestre apurado pelo IBGE o baixo PIB foi "puxado" para baixo por uma evolução negativa da agricultura. O agronegócio atuou - na prática - contra Dilma e o seu desconhecido ministro da agricultura não conseguiu evitar. Não serve.

Já para a indústria Dilma fez uma escolha tradicional e incoerente com a sua "nova política". Armando Monteiro é um político experiente, disposto a compor e representante da velha indústria, já moribunda e com pouca possibilidade de salvação. O novo Ministro se esforçará para a sobrevivência desse moribundo e de ampliar uma industrialização para o mercado interno, reforçando um modelo obsoleto e incompatível com a nova organização mundial.

A indústria no Brasil só tem uma alternativa de salvação: voltar-se para o mercado externo expandindo a atuação das multinacionais já inseridas nas cadeias produtiva globais. O Brasil já está inserido nas cadeias globalizadas, o que não é percebido pela maioria dos analistas e pela sociedade brasileira. A questão é que é uma inserção interrompida, que para no mercado nacional e no Mercosul.

As multinacionais já estão presentes em grande escala no Brasil. Tem parte da suas cadeias globalizadas no Brasil. É preciso reverter a direção voltando a produção para todo o mercado mundial, incluindo o Brasil e o Mercosul. Não apenas esse.

Para isso Dilma precisa de um Ministro da Indústria e Comércio Exterior que entenda e lidere essa inflexão. É difícil encontrar nos quadros do PT e da base aliada. Os bons e competentes acadêmicos que apoiam o PT, são ideologicamente contra esse modelo. Poderia encontrar algum entre os tucanos, mas também são acadêmicos ou consultores oriundos dos quadros públicos. Falta uma liderança empresarial. Teve o apoio inicial de |Jorge Gerdau, no início do seu primeiro mandato, mas Dilma não deu a ele um espaço adequado.




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