quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Os desafios de Dilma e os cenários de 2015 - 3

A confiança principal que o Brasil precisa estabelecer, para reverter o processo de crescimento, é com as multinacionais, para que elas venham a investir no Brasil. Elas tem necessidade de investir no país, diante do seu mercado interno e das exigências governamentais para participar desse mercado. A política industrial do conteúdo nacional, os leva à investir, mas o fazem de forma restrita, pois o seu interesse atual, diante da nova organização mundial da produção, caracterizada pelas cadeias globalizadas de valor (ou cadeias produtivas globais) é de investimentos em unidades com escala mundial, atendendo não só o mercado interno como outros mercados. Em outros termos, exportando grande parte da sua produção.

Isso requer o apoio governamental com acordos bilaterais que facilitem as transações entre as fábricas do mesmo grupo empresarial, localizadas em diversos locais no mundo. 
A concepção de política comercial internacional do PT é contra esse modelo, embora perceba claramente a sua ocorrência. 

Lula e depois Dilma vem se recusando a promover a maior inserção da economia brasileira nessas cadeias mundiais, através da multinacionais. Por uma visão nacionalista e "sulista". Entendem que o Brasil deve buscar alianças e fortalecer as relações sul-sul, contrapondo-se às relações norte-sul, que consideram de exploração e subserviência. 

O fato é que os paises do sul, seja dentro do continente americano, como africano não se desenvolveram satisfatoriamente. O Brasil os ajuda, eles não ajudam o Brasil. Ademais Dilma abandonou os esforços iniciados por Lula, para a conquista do mercado africano, cada vez mais dominados pelos chineses.

Um novo rumo foi estabelecido com os BRICs, incluindo a criação de um banco, para se contrapor ao Banco Mundial. Mas esse corre o risco de fracasso, por divergências de interesses e prioridades entre os países integrantes. As multinacionais não dão maior importância e esse movimento, visto com muita descrença.

A sinalização mais importante que o Governo precisar dar às multinacionais, ainda em 2014 é se irá seguir na sua política industrial de promover o nacional desenvolvimentismo, baseado na política de conteúdo nacional, ou irá promover uma inflexão abrindo oportunidades e apoio para o estabelecimento, no Brasil, de plataformas de exportação, inseridas nas cadeias produtivas globais.

Ainda na gestão Lula foi promovida a atração da Fiat, para um grande empreendimento, com escala mundial, com grande parte da sua produção voltada para o mercado externo.

Aparentemente o empreendimento da Fiat em Goiana na divisa entre Pernambuco e Paraiba, promovida pelo falecido Governador Eduardo Campos e Lula, com participação de Dilma, já estaria dentro dessa nova concepção. 
Não alardeada como tal, diante das resistências ideológicas. A Fiat ainda tem espaço suficiente em Betim para as suas expansões. A sua área total alcançaria 2,25 ha. Com uma área construida de 829,7 m2.  A Fiat, diversamente das suas principais concorrentes concentrava todas as operações num único parque industrial. Mudou o conceito, preferindo concentrar determinadas atividades em Betim, para a grande escala. Está investindo numa linha de pintura, para 800 mil veículos-ano podendo chegar a 950 mil. A localização e a concepção do parque de Betim está voltada para o mercado interno. Está longe dos portos.
A nova unidade em Pernambuco está mais próxima a um porto. Mas para ter mega escala a Fiat preferiu se instalar em Goiana, a cerca de 100 km. de Suape, onde tinha menores restrições de espaço. Mas a sua área inicial é menor que a de Betim. A sua área própria, que deverá ainda receber o primeiro condomínio de fornecedores, tem 1,4 mil ha. Mas ela já estaria adquirindo áreas adjacentes. A previsão total é de uma área de 4,4 mil ha. Inicialmente só ocuparia cerca de 300 mil m2. A sua logística depende de uma fundamental obra rodoviária, o arco de contorno do Recife, na BR 101, para facilitar as transações com a sua unidade de Betim. 

Os  indícios mais recentes são de que a fabrica de Goiana será uma unidade mundial da Jeep, a principal marca da Chrysler adquirida pela Fiat. Os carros Jeep só seriam produzidos nos EUA e no Brasil, para suprimento mundial.

Os outros novos empreendimentos da indústria automobilística ainda seguem o modelo tradicional de escala de produção para o mercado nacional e do Mercosul. Com o baixo crescimento econômico desses, muitos desses empreendimentos ficarão inviáveis. O Governo poderá promover a inflexão, mas muitos não terão condições de expansão para alcançar a escala competitiva. 

Dadas as restrições estruturais do Custo Brasil, a liberação e a desregulação não serão suficientes. O Governo precisará manter uma política industrial. Mas deverá substituir as exigências de conteúdo nacional, pelas exigências de superavit cambial. Ou seja, para poder ter impostos menores para a venda no mercado interno, a indústria deverá exportar mais do que importar. Irá importar peças e componentes tanto para a produção para o mercado interno, como para as exportações. E irá exportar tanto com o conteúdo nacional, como com a parte importada. No caso da indústria automobilística isso viabilizará a maior inserção do Brasil na cadeia globalizada de valor e a produção de carros mundiais. 

Significaria uma substancial guinada na concepção econômica do desenvolvimento brasileiro. Dilma relutará m fazê-lo. Mas poderá ser levada a mudar em função da continuidade do fraco crescimento da economia brasileira, permanecendo nas condições de recessão técnica.

As negociações para a nova unidade da Fiat antecedem o Governo Dilma, com o anúncio, como um dos últimos eventos de Lula, já de saída em dezembro de 2010. Não se tem conhecimento de nenhum outro mega empreendimento durante o Governo Dilma. Até mesmo os fracassados empreendimentos de Eike Batista foram iniciados antes.

Mas além da Fiat em Pernambuco não houve a implantação de nenhum outro grande empreendimento industrial, realizado por uma multinacional estrangeira, voltado para o mercado mundial. A Fiat seria "um ponto fora da curva".

Chegou a ser anunciado um acordo com a Foxxcom a empresa de origem taiwanesa, maior fabricante mundial e terceirizada dos produtos da Apple. A escala pretendida seria o mercado mundial e não apenas o sulamericano. Mas ao tomar conhecimento das condições reais da economia brasileira o empreendedor "congelou" o projeto. Apenas para não dizer que havia desistido.

Há, no entanto, um megaempreendimento também voltado para o mercado internacional, investido por um grupo nacional. A fábrica de celulose da Eldorado, uma empresa do grupo JBF, no Mato Grosso do Sul. Está inserida numa cadeia produtiva global, mas  na forma tradicional de suprimento de matérias primas. Não pode, no entanto, ser desconsiderada com um rumo diverso da política industrial predominante.

Diante desse quadro, podem ser desenhados dois cenários básicos:


  1. o tendencial, que é a continuidade da política industrial do primeiro mandado de Dilma Rousseff, que resultará num baixo crescimento ou mesmo a estagnação da produção industrial;
  2. o inovador que envolve a mudança de visão em relação às cadeia globais de valor e o papel das multinacionais, promovendo a sua atração, para que o Brasil seja hospedeiro de grandes plataformas de exportação instaladas - predominantemente - pelas multinacionais.
No segundo caso, os efeitos não seriam rápidos, com a sua efetivação mais próxima do final de mandato de Dilma, do que durante. Mas ela tem a inauguração da Fiat em Pernambuco como símbolo e que pode ser usado como marco para anunciar a mudança. Com Celso Furtado se remexendo no seu túmulo, tristeza de Maria da Conceição Tavares, oposição do PT e dos acadêmicos estruturalistas.

Se para isso mudar a política de conteúdo nacional para geração de superavits cambiais como contrapartida a impostos menores, poderá estimular empresas com instalações já existentes, a reverter parte da sua produção para exportação. Não sem a contestação ou reclamação de que o Custo Brasil os impede de uma atuação maior nesse novo modelo.










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