Quem chorou antes a perda da condição de sede da Copa agora está com um sorriso maroto com a desgraça daqueles que riram antes e agora só tem problemas.
Os eventos promovidos pelo SINAENCO ao longo do ano de 2008, portanto, seis anos antes da data marcada para a Copa, tiveram boa repercussão nas mídias locais, mas baixa participação da população, com exceção de Cuiabá, em disputa com Campo Grande. A Prefeitura cuiabana, com apoio do Governo Estadual, promoveu uma grande mobilização regional para demonstrar o apoio popular a favor de Cuiabá.
Levamos, para Campo Grande, na ocasião, a colocação de que seria melhor não ser sede, mas o domínio da idéia do prestígio da cidade, com a sua escolha para sede da Copa, obscureceu - inteiramente - aquela colocação. Felizmente para Campo Grande, ela perdeu e não precisou investir na reforma do seu principal estádio. As obras de mobilidade urbana que precisa podem ser contempladas pelos programas federais, independentemente da Copa.
E os turistas atraidos pelo Pantanal poderão aportar tanto em Cuiabá, como em Campo Grande.
Infelizmente para os cuiabanos, a cidade foi escolhida, por reivindicação de Lula e terá dois grandes legados com a Copa: um magnífico elefante branco e um sistema moderno de transporte urbano, com baixa utilização. Em contrapartida terá um enorme volume de dívidas a pagar que comprometerá o orçamento estadual durante anos.
A população do Mato Grosso do Sul ficou frustrada e a do Mato Grosso feliz. O apoio à Copa em Cuiabá, em 2008, era quase que unânime. Hoje a população está dividida. Na mídia, as críticas são maiores do que a mobilização da população para ir aos estádios. Os jogos que couberam para Cuiabá, são de menor importância e apenas o Japão seria um país capaz de ampliar os turistas para o Pantanal. Mas do ponto de vista futebolístico, a Colômbia teria mais apelo. Os colombianos foram os estrangeiros que mais compraram ingressos na primeira fase de comercialização feita pela FIFA. Só ficaram atrás dos estadounidenses. Provavelmente no jogo do dia 24 de junho, numa terça-feira, sob o calor cuiabano das 16 hs , haverá mais torcedores colombianos do que japoneses, apesar da eventual "invasão" dos nikkeis do Noroeste paulista, onde um grupo de imigrantes japoneses se instalaram. Na conta da FIFA esses fazem parte dos compradores brasileiros.
Quando Cuiabá foi escolhida a população ficou majoritariamente a favor. Quem se manifestasse contra, era considerado impatriota, contrário aos interesses do Mato Grosso e de Cuiabá. O Governo só mostrava os prováveis benefícios e as vitrines. As obras seriam feitas com recursos federais, complementadas por fundos estaduais específicos, sem prejudicar as demais ações. Quem criticasse a destinação dos recursos públicos para os estádios ou para as obras de mobilidade urbana era tachado de opositor ao Governo e com interesses politicos.
O povo cuiabano queria a Copa.
Agora seis anos após e nas vésperas da realização da Copa, diante do que ocorreu na prática e da realidade atual, esse mesmo povo cuiabano tem dúvidas.
O estádio está praticamente pronto e apesar dos atrasos e problemas - incluindo o incêndio - estará em condições de receber os apenas quatro jogos programados.
Para frustração dos cuiabanos a seleção brasileira não jogará lá, o que já era esperado. Mas era esperado receber uma das grandes seleções favoritas ao título, como a Espanha, a Alemanha, a Holanda ou mesmo a Itália. Ver o Messi jogando pela Argentina seria uma oportunidade ímpar. Nenhuma delas estará em Cuiabá, durante a Copa. Das oito seleções que jogarão em Cuiabá, apenas 4 tem chance de passar para a fase seguinte. Japão e Colômbia por estarem num grupo fraco (C), embora a Costa do Marfim (que não joga em Cuiabá) possa surpreender. Como é o último jogo da fase, ambos poderão estar classificados, jogando apenas para definir primeiro e segundo do grupo. Rússia ou Coreia do Sul poderá passar para a fase seguinte num grupo de menor interesse. Nigéria e Bósnia cairam no grupo onde está a Argentina. Uma delas poderá seguir porque a quarta seleção é o Irã.
Chile e Austrália cairam no Grupo que tem Espanha e Holanda, que também não jogam em Cuiabá.
As demais deveria aproveitar a oportunidade para conhecer o Pantanal.
Nenhuma das 32 seleções escolheu Mato Grosso para o seu centro de treinamento, frustrando os investimentos e a preparação.
O sorteio dos jogos foi pouco favorável a Cuiabá e própria população se questiona se vale a pena tanto esforço para receber quatro jogos de importância secundária, e sem a presença de notáveis craques na Cidade. Mas não há perspectiva de manifestações populares de rua, contra a realização dos jogos, tampouco a hostilização ás seleções.
A presença do público no estádio nos jogos dará um resposta mais efetiva se valeu a pena?
Com a escolha da cidade como sede de jogos da Copa ela entrou no plano das obras apoiadas pelo Governo Federal, consubstanciada numa matriz de responsabilidades.
A principal obra considerada foi o corredor de transporte coletivo do aeroporto ao centro, com uma bifurcação. Previsto originalmente como um corredor de BRT foi posteriormente, com a mudança na Administração Estadual, para o sistema do VLT. Para acelerar a contratação, depois da demora na decisão do que fazer, foi adotado - pioneiramente - a modalidade de contratação integrada dentro do Regime Diferenciado de Contratações.
A contratação foi rápida, mas cercada de suspeitas. A modalidade adotada, no entanto, não facilitou ou acelerou a execução das obras. O sistema só ficará pronto parcialmente para a Copa.
Obras complementares, realizadas açodadamente, ficaram prontas, mas com problemas. O acesso a um viaduto recém inaugurado ficou inundado, impedindo o seu uso.
Diante dessas suspeitas de obras contratadas com superfaturamento, mal realizadas, perturbando os deslocamentos durante a sua construção, a população se questiona também se vale a pena?
Os Governos insistem que sim, seja discursos, como na propaganda oficial, demonstrando que a Copa deixará um grande legado para a cidade, com as obras de mobilidade urbana. Os críticos questionam os demais serviços, principalmente saneamento básico.
Como se divide a população cuiabana (que envolve a de Várzea Grande) em relação aos preparativos para a Copa e em relação à sua própria realização?
A outra grande promessa para a cidade foi a modernização do Aeroporto. O que foi feito é apenas uma melhoria sem a mudança para um aeroporto de padrão internacional.
Considerando, no entanto, as seleções que jogarão em Cuiabá, cabe indagar, quantos turistas estrangeiros irão a Cuiabá para acompanhar a seleção do seu país? Poderá se esperar uma "invasão" colombiana, dependendo do volume de voos fretados. Há uma expectativa em relação aos japoneses. Os demais serão em pequeno número.
Outro grupo de turistas que acorrerão aos jogos são os moradores no Brasil, considerados turistas nacionais. A maior parte, no entanto, são estrangeiros ou descendentes em primeiro grau que já moram no Brasil, como os africanos e os japoneses. Quantos brasileiros estarão dispostos a se locomover até Cuiabá, para acompanhar jogos de menor importância?
Em função da Copa houve uma pressão para aumento da oferta de quartos em hotéis. A perspectiva agora é que o elefante branco da arena tenha a companhia de elefantes brancos hoteleiros.
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