A maioria dos brasileiros é adepta do futebol e tem um ou mais time de preferência, de estados ou até de paises diferentes. Atualmente o seu segundo ou terceiro time é europeu.
Dessa maioria uma parte é fanática pelo futebol e pelo seu time.
Um pequeno segmento não gosta de futebol e uma parte pequena é radicalmente contra. Acha uma perda de tempo e de esforço, um desvio de atenção do povo às questões mais relevantes e há os que se sentem incomodados com a preferência nacional. Agora com a Copa no Brasil, muitos deles estão buscando alternativas para fugir do Brasil.
A terceira parte é dos indiferentes. Não tem nenhum interesse pelo futebol, mas também não se opõe.
Quando há uma temporada da Copa do Mundo muitos desses acabam tomados pela euforia nacional a favor da seleção brasileira e acabam envolvidos, torcendo por ela.
Para alguns é a oportunidade para a manifestação do seu patriotismo torcendo pelo seu país, em disputa com outros países.
A Copa do Mundo de Futebol é uma oportunidade para a afirmação nacional perante países mais desenvolvidos e mais fortes. E o povo sofre e se frustra com derrotas contra paises menos desenvolvidos. A mais sofrida foi contra o Uruguai, dentro de casa em 1950: um pequeno país que até tinha sido uma província brasileira.
Perder para a Itália, para a Alemanha, França e Espanha é admitido como natural. O que não é aceitável é perder para um país africano e sul-americano, principalmente para os argentinos. Para os aficcionados não é uma derrota: é uma tragédia nacional.
Ao trazer a Copa de 2014 para o Brasil, ainda em 2007, a idéia do então presidente Lula era de promover a unanimidade nacional, com todos os brasileiros "numa só voz" torcendo pela sua seleção. Cantando, em uníssono, o hino nacional, antes das partidas, provocando como nunca a brasilidade e se tornando o homem que uniu todo o Brasil, independentemente de renda, moradia, raça, credo ou clube. Não haveria ricos ou pobres, direita ou esquerda, homo ou heterossexuais, brancos, amarelos ou negos, católicos ou evangélicos, corintianos ou palmeirenses, flameguistas ou vascainos. Apenas brasileiros, todos torcendo pela sua seleção. Essa cumpriria o vaticínio de Nelson Rodrigues: "a pátria em chuteiras".
Ademais elevaria ao grau máximo a autoestima do povo demostrando ao mundo a sua capacidade de organizar um grande evento mundial e de receber os turistas de todo o mundo.
Promoveu-se um manto de ilusões, para uma oportunidade histórica única para o Brasil. E Lula acreditou que, mesmo sem colocar recursos públicos da União, a menos de empréstimos do BNDES, o Brasil se mobilizaria para preparar todas as condições para receber adequadamente a Copa.
O apoio adicional do Governo Federal seria o de viabilizar obras para mobilidade urbana, estocadas ou previstas para futuros distantes. A realização da Copa seria uma grande oportunidade para efetivá-las, deixando-as como um grande legado para a população.
Outro grande legado seria a ampliação e modernização dos aeroportos. Complementarmente outros investimentos públicos seriam realizados, como em terminais portuários.
A pouco menos de 100 dias para o início da Copa o cenário não parece ser tão otimista.
Os estádios, todos vão ficar prontos para os jogos, mas incompletos. As estruturas complementares exigidas pela FIFA nem serão instaladas em alguns estádios. Não por razões técnicas, mas financeiras. Ninguém quer arcar com esses investimentos adicionais, para uma festa de poucos dias, para depois serem desmontadas, sem gerar qualquer compensação financeira direta.
É um problema da FIFA com as autoridades brasileiras, com a mídia e seus patrocinadores. Mas a mídia internacional que poderá não ser bem atendida irá difundir uma visão de desorganização.
Para a população o problema maior será a suspensão das fanfest, uma festa para o povo que não consegue ir aos estádios, seja em função da lotação, como dos altos preços. Ela foi transformada num "caça níquel" da FIFA e poderá dar margem a manifestações populares contrárias. Alguns Governos por precaução não querem fazer.
Apesar dos atrasos e dos problemas vai ter Copa. No campo e nas arquibancadas vai ser um sucesso. Na mídia nem tanto.
O que não vai se alcançar é a unanimidade nacional pretendia. A nação brasileira vai ficar dividida com a Copa, mesmo que o Brasil sagre-se hexacampeão.
Fora essa esperança, pela qual continuamos torcendo, em julho, todas as ilusões serão dissipadas. Os resultados econômicos não alcançarão o que foi e ainda tem sido alardeado.
Durante dois anos milhares de trabalhadores tiveram emprego, mas com o término das obras, o que sobrará serão milhares de ex-empregados, na sua grande parte desempregados, porque não há volume de obra que substitua o que foi realizado com os estádios.
O legado será uma manada de elefantes brancos. Com poucas exceções os estádios terão pouco uso ou mesmo aqueles com muitos jogos não conseguirão encher, a menos de poucos eventos excepcionais, a sua capacidade. O Maracanã estará sempre repleto de cadeiras vazias e acumulação de prejuizos econômicos.
Da expansão da rede hoteleira uma parte se transformará também em "elefantes brancos".
Centenas de pequenas e médias empresas que foram iludidas pelo "boom" de mercado com a Copa ficarão repletos e estoques e de dívidas. Poucos se darão bem. Esse serão mostrados como o sucesso da Copa, mas todos os demais fracassos ficarão escondidos.
Em vez de unir a Copa no Brasil irá aprofundar divisões e a perda de prestígio do futebol, transformada de uma grande paixão nacional, num espetacular negócio em que todos pagam e a FIFA ganha.
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