terça-feira, 25 de março de 2014

Legados da Copa - Produção econômica

A solução para o Brasil, segundo os economistas, é aumentar os investimentos. É aceito como um dogma pela opinião publicada. O investimento, no seu sentido macro (tecnicamente formação bruta de capital fixo) é necessário, mas não é "a salvação da lavoura". Os benefícios dos investimentos não são automáticos. Na prática é preciso considerar a qualidade do investimento e a sua efetiva capacidade de gerar ou propiciar os aumentos de produção.

Para a realização no Brasil da Copa do Mundo da FIFA o país investiu nesses últimos anos, bilhões de reais o que, do ponto de vista econômico, resultará em aumento da capacidade produtiva, propiciando um aumento de produção nos diversos setores beneficiados, refletindo-se num crescimento adicional ou maior do PIB.

Uma parte desses investimentos são visíveis, porque foram considerados em uma matriz de responsabilidades pelos investimentos, entre os Poderes Públicos, e é a principal referência do volume de investimentos relacionados à realização da Copa no Brasil.

Já os investimentos realizados no setor hoteleiro, para ampliar a capacidade não tem informações consolidadas, mas são estimadas pelas associações do setor. 

Há visibilidade nos investimentos em expansão ou melhoria dos aeroportos, porém não em relação às companhias aéreas. Nos aeroportos, além dos investimentos dos operadores haverá um volume de investimentos dos lojistas e consequente aumento da produção do comércio e de serviços  dos setores de atividades que irão atender ao tráfego de pessoas nos aeroportos.

Os investimentos para aumento da capacidade produtiva voltada à produção e venda de bens para a Copa deverão estar concentrados em aparelhos de TV para acompanhar os jogos, assim como nos souvenires de todos os tipos e categorias, com a marca da Copa, sendo os principais os uniformes, envolvendo as indústrias têxteis, de plástico e de brinquedos.

Um outro grupo de investimentos, embora não seja incorporada à Formação Bruta de Capital Fixo, é do gastos com o marketing das patrocinadoras do evento, com a perspectiva de aumentar o seu faturamento, com e pós Copa.

Além dos tradicionais, um setor emergiu como um dos mais visíveis: o de seguros. Com a ação dos novos (Liberty, Zurich e outros) o mercado irá aumentar ou será uma disputa do mesmo mercado com os tradicionais?

Vamos, primeiramente, nos ater a algum dos setores menos considerados.

Com a realização da Copa, ao longo de apenas 30 dias, haverá um pico de movimentação aérea e em alguns aeroportos, principalmente no de São Paulo.

O impacto econômico, pelo valor adicionado será no setor de transporte aéreo o que poderá ser medido pelo volume de recursos dispendidos pelos viajantes e seus acompanhantes em função das viagens.

O principal dispêndio dos viajantes será com as passagens, cujo efeito macroeconômico, além do valor agregado pela mão-de-obra direta das cias aéreas, alimentará os setores de agenciamento de viagens, de combustíveis e da operação aeroportuária, além - como sempre - da forte contribuição aos tesouros públicos.

Durante a Copa, grande parte das passagens será comprada no exterior, impactando a economia de origem do turista. O seu efeito direto na economia brasileira será pelo consumo nos aeroportos, seja do próprio turista como dos familiares, amigos e outros que irão esperá-lo, podendo consumir dentro do aeroporto, ou no seu entorno, como pelo estacionamento do carro. O traslado ainda poderá ser agregado ao transporte aéreo, mas seria a divisa entre esse e o setor hoteleiro. Como alguns vão para a cada de amigos ou parentes, pode ser mais agregado aos serviços de transporte. Ainda que alguns hotéis ofereçam o serviço no retorno ao aeroporto.

Durante a Copa haverá um movimento excepcional de passageiros, parte de turistas estrangeiros e a maior parte de brasileiros se movimentando para acompanhar os jogos, seja do Brasil, como das outras principais seleções. A da Espanha deverá gerar o maior movimento. Messi, Cristiano Ronaldo e outras celebridades poderão também gerar maior movimento de viagens. 

Em contrapartida, viagens aérea para lazer - uma vez que coincidirá com o período de férias escolares - poderão refluir. O que é provável é que as preferências de destino sejam as cidades ou locais sem a Copa, ou interferência da Copa, como Maceió e Aracaju, no Nordeste, Belém na Amazônia e Campo Grande, no Pantanal. No sul, a alternativa é Florianópolis. O problema é que os principais centros emissores são os mesmos dos turistas da Copa. Os aeroportos de São Paulo irão concentrar as maiores saidas.

Também haverá um refluxo do turismo de negócios, durante a Copa. Feiras e seminários foram antecipadas ou postecipadas para não coincidir com o período dos jogos. Viagens para reuniões de negócios continuarão, porém em menor volume. 

A compensação pode ser negativa e o setor de transporte aéreo venha enfrentar grandes problemas com os picos de demanda, em alguns dias, mas termine o ano com um volume geral inferior a 2013. 

Deverá ser positivo, porém não se pode considerar apenas os volume adicionais gerados pela Copa. Será necessário descontar as perdas das viagens habituais.

Para atender aos picos excepcionais, as cias aéreas terão que investir em instalações, comunicações, pessoal e equipamentos aéreos, assim como de apoio. Como será a utilização desses investimentos, pós Copa? Qual será o retorno econômico desses investimentos?

Nesse setor, do ponto de vista macroeconômico, ou seja da formação do PIB é possível que o efeito seja negativo, ou seja, haja em 2014 uma produção setorial menor que o ano de 2013.

Como será o movimento do transporte aéreo brasileiro em 2015 e anos subsequentes?

Um dos principais legados esperados com a Copa no Brasil era o significativo aumento do turismo internacional, tornado o país e as suas cidades-sede em importantes polos de atração turística em função da sua visibilidade mundial. 

Mas essa visibilidade poderia ser positiva ou negativa. O que a Copa poderia mostrar do Brasil seriam as vitrines ou as vidraças. O interesse era mostrar as vitrines, mas muitas vidraças serão também mostradas e poderão inibir o aumento do fluxo turístico, embora possa se esperar a manutenção do 

De toda forma, pode se esperar um aumento de volume de viagens internacionais, porém em nível inferior às expectativas otimistas com a Copa.  O retorno dos investimentos será mais lento.

Isso me leva a uma indagação: por que as duas principais companhias aéreas brasileiras não investiram como patrocinadoras da Copa para firmar as suas marcas no Exterior? 

O sentido de inteligência deste blog é de tentar interpretar o que está ocorrendo, indo além da informação, assim como avaliar eventuais impactos e consequências atuais e futuras. O que se segue é um exercício nesse sentido, buscando avaliar os impactos futuros, na economia brasileira, dos investimentos realizados para a Copa.

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