domingo, 16 de março de 2014

Divina para salvar obras da Copa

A Copa no Brasil justifica tudo. Foi usado como pretexto para um conjunto de investimentos em terminais de passageiros marítimos. Necessários porém não essenciais para a Copa. Mas sem essa as obras se arrastariam indefinidamente, prejudicando o movimento normal dos cruzeiros marítimos no Brasil, que ocorre durante o verão.  Então os integrantes da cadeia produtiva dos cruzeiros marítimos acordaram com as ilusões ou sofismas das autoridades para justificar as obras, mesmo sabendo que eram pouco prováveis ou até enganosas.
O primeiro argumento foi de que os novos navios, com capacidade para cerca de 4.000 passageiros, poderiam suprir a carência de quartos na rede hoteleira. Os navios não  ficam parados, por muito tempo, num único porto. O ganho maior está na rotatividade. A sua função é de viagem e não de hotelaria fixa. E, diferentemente, do carnaval, a Copa ocorre ao longo de um mês, com grandes intervalos. Depois de lançar a idéia, submergiram deixando apenas algumas incautas autoridades repetindo a besteira.
Os operadores e agentes de viagem, bem sabem que junho/julho é período de inverno no hemisfério sul e os operadores não deslocam para esse os seus navios que ficam no Caribe, nas costas europeias e outras rotas no verão do hemisfério norte.
E que na temporada de verão, mais de 80% dos passageiros são de turistas brasileiros, fazendo cruzeiros pelo litoral brasileiro, com alguma extensão para o sul, até Buenos Aires.

Ressalvamos duas hipóteses: a extensão de cruzeiros do Caribe até o nordeste brasileiro, ou o deslocamento de navios para esse mesmo litoral para ligar as 4 cidades-sede da região, todas litorâneas.

As novidades reais não coincidem exatamente com as hipóteses acima a menos da negativa. Não há previsão de deslocamento de nenhum navio das grandes operadoras, para um cruzeiros da Copa, pelo litoral nordestino. A menos de 100 dias do início, esses cruzeiros já deveriam estar programados e com as  passagens já em processo de venda. Nada disso está ocorrendo. Os deslocamentos internos serão quase que totalmente por via aérea.

Já a MSC está inovando, arriscando uma extensão do seu cruzeiro pelo Caribe até o Brasil, nesse período, só que mais extenso do que imaginamos. O cruzeiro passa por Salvador, mas se estende por mais 4 dias para, passando pelo Rio de Janeiro e terminar em Santos, num cruzeiro de 20 dias (19 pernoites). Saindo de Miami, em maio e chegando em Santos na primeira semana de junho, poderá atender a turistas que queiram vir para a abertura da Copa, em 12 de junho. As passagens já estão sendo comercializadas, mas não é exatamente no período da Copa.

E não será em qualquer navio. O escolhido é o MSC Divina, um nome em homenagem a Sofia Loren, cliente da operadora, que é um dos mais modernos e da classe fantasy, com capacidade para quase 4.000 pessoas.

A MSC programou e já colocou à venda um cruzeiro, com a mesma rota de retorno pelo Nordeste Brasileiro e pelo Caribe, saindo do Rio de Janeiro, no dia 14 de julho, um dia após o jogo final. Parece estranho, mas não é, pelo que se expõe a seguir.

A novidade é um cruzeiro durante o inverno brasileiro, mas não seria por conta da Copa. Exatamente durante o período da Copa, não há programação de cruzeiro da MSC.

Havia uma hipótese pouco provável, de alto risco, mas possível: o fretamento de um navio de grande porte durante toda a temporada da Copa. Não seria vantajoso para os europeus ou para os orientais. Restava uma pequena possibilidade com os norte-americanos. 
Pois ocorreu e o fretador está inicialmente está com sorte. A Mundomex a principal agência de turismo mexicana, credenciada da FIFA, montou diversos pacotes para os mexicanos acompanharem a Copa e afretou o MSC Divina, antes mesmo do sorteio. Receberia o navio em Santos.
Dependendo de onde seriam os jogos do México, poderia ter maior ou menor custo de deslocamentos. 

O México foi extremamente favorecido no sorteio, em termos regionais e logisticos. Joga a primeira partida, no dia 13 em Natal, contra Camarões, no dia 17 contra o Brasil em Fortaleza e em 23 contra a Croácia, em Pernambuco. Na primeira fase fica só no nordeste. O navio não terá que se delocar até o sul. A seleção terá que viajar, porque por ter se antecipado na escolha do seu Centro de Treinamento ficará em Santos. Por questões de tempo não há condições para os torcedores começarem por Santos. Em tese, haveria, mas a um custo muito elevado para a operadora que está  vendendo pacotes a preços fixos.

São 11 pacotes todos esses com o deslocamento dos passageiros, a partir da Cidade do México,  por via aérea. O navio ficará aportado num porto nordestino de onde se iniciarão os cruzeiros. A ideia inicial é Recife, mas poderá ser deslocado para Natal, em função do novo aeroporto e do novo terminal marítimo,  já pronto. O primeiro jogo do México é em Natal.

Os 3 primeiros pacotes oferecidos pelo Mundomex só envolvem 2 partidas, uma do México e outra qualquer, com 5 pernoites a um valor da ordem de US 10 mil. O interesse maior seria com o pacote 2 que envolve o jogo contra o Brasil em Fortaleza. Caso a agência consiga vender toda lotação seriam cerca de 12.000 mexicanos. O quarto pacote já presume que o México passará da primeira fase. O segundo grupo de pacotes (5, 6 e 7) envolvendo dois jogos do México, mais 2 outros jogos, já partem de US$ 16.000, com aumento da quantidade de pernoites: 10 a 11. Esses não aumentariam o volume total dos turistas, pois seriam opção alternativa daqueles mesmo 12.000.

O mesmo vale para os pacotes 8 e 9 que envolvem 3 jogos do México, mais 3 outros, com o aumento do pernoite para 15 ou 16 e o preço acima de US$ 20 mil.

Esses torcedores mexicanos que querem acompanhar a sua seleção irão aportar em Recife ou  Natal, seguir depois para Fortaleza e, na sequência, Pernambuco. Todas cidades do nordeste, litorâneas. E pernoitarão sempre no  no próprio navio.

Supondo, como nós desejamos, que o México fique em segundo no grupo, voltará a jogar em Fortaleza. Se ficar em primeiro jogará em Belo Horizonte, o que atrapalha a operadora. Essa também estará torcendo para o México ficar em segundo deixando o primeiro para o Brasil.

Para a operadora o jogo em Belo Horizonte é mais complicado e de maior custo. O navio tem que se deslocar para o Rio de Janeiro ou Santos e os passageiros serem levados em aviões - provavelmente fretados - até Belo Horizonte, com retorno no mesmo dia, para pernoitarem no navio.
O dilema é grande, pois um enfrentará a Espanha e o outro a Holanda. A perspectiva é que o México seja derrotado pela Espanha em Fortaleza, no dia 29 de junho e vá embora. Será acompanhado por diversos torcedores. 


Para acompanhar os 4 jogos da seleção mexicana, até as oitavas, com mais 4 jogos de outras seleções, serão 21 pernoites no navio e um custo de quase U$ 30.000: pacote 9.
O MSC Divina, em função do fretamento e para atender aos adquirentes dos pacotes 4, 8 e 9, que incluem o jogo das oitavas em Belo Horizonte,  deverá seguir para o sul e os que querem acompanhar os demais jogos até a final seguirão com ela. Eventualmente a Mundomex poderá vender percursos avulsos de Fortaleza ao Rio ou Santos, a turistas brasileiros ou mesmo estrangeiros que vieram para acompanhar a Copa. O retorno dos compradores dos primeiros pacotes liberará lugares no navio.
Deverá fazê-los através de agências brasileiras, para evitar confrontos, com o setor.

Quem quiser acompanhar os jogos subsequentes (quarta de final, semifinal e final) terá que comprar novo pacote, a um custo acima  de US$ 30.000. Assim para acompanhar todas as sete rodadas será preciso desembolsar, pelo menos US 60.000. A expectativa da agência é a venda corporativa, ou seja, para empresas e não avulsas. Para os torcedores um pacote exclusivamente aéreo poderá ficar mais em conta.

Quem quiser vir apenas para as semifinais e final terá um pacote com 8 pernoites e um custo a partir de US$ 25.000.
Haverá sempre tempo para passeios e o navio deverá passar por diversos portos. 

No dia 13, dia da final terminará a excursão da Mundomex e a devolução do navio à MSC que já tem programado e está comercializando um cruzeiros a partir do dia 14, passando por Santos e por Salvador, seguindo para o Caribe e terminando em Miami.  Alguns dos passageiros poderão ser os mesmos mexicanos, que chegaram pela Mundomex. E também outros turistas estrangeiros que vierem para a final.  
A perspectiva principal é de conquistar turistas brasileiros. O problema é que com a Copa, as férias escolares serão antecipadas e os estudantes irão voltar às aulas a partir do dia 14 de julho, felizes ou muito tristes. A demanda por cruzeiros, nesse período, será excepcionalmente menor. Pouco servirá de base experimental para avaliar a viabilidade ou não  de cruzeiros marítimos usuais, durante as férias escolares de inverno.

A sorte inicial da Mundomex poderá virar num grande azar a partir das quartas, a menos de uma grande surpresa da seleção mexicana. Se prevalecer a buena suerte mexicana, eles ficariam em primeiro, no grupo A, venceriam a Holanda nas oitavas, a Alemanha nas quartas e ainda chegariam à final contra a Argentina ou Espanha. E a mundomex se daria bem.

Mas nesse caso, os terminais estaria prontos para receber a invasão mexicana?

A ousadia da Mundomex pode, no entanto, resultar num grande desastre econômico, sem conseguir lotar o navio. Não há ainda informações públicas sobre a velocidade das vendas.
Não há também informações sobre qualquer outro afretamento de navios de cruzeiro para o período da Copa.

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