Mais recentemente alertamos que os Governos estaduais e municipais, com receio das manifestações populares evitariam colocar recursos públicos para o "camelôdromo" que a FIFA exige no entorno dos estádios para receber os convidados seus e dos seus patrocinadores, as feiras de exposição desses e ainda o centro de mídia. As fotos do estádio de Berlim são bem ilustrativas. A de cima é no jogo final da Copa de 2006 e a de baixo, pós Copa: tudo desmontado.
A revista Veja apresenta agora uma estimativa dos custos adicionais com as tais estruturas complementares, totalizando cerca de 400 milhões de reais. Gastos exclusivamente para as festas que a FIFA quer promover, às custas do erário público, e que perderão utilidade assim que a festa terminar.
Bilionários costumam gastar também milhões para abrilhantar a festa de casamento de sua(s) filha(s), mas essa excentricidade não é permitida aos Governos, com recursos públicos.
Na euforia em sediar a Copa os governos prometeram e se comprometeram. Agora não querem cumprir, pressionados pelas manifestações populares e pelos órgãos de controle.
Aquele Governador que gastar com as estruturas complementares, assim como com as Fanfest corre o alto risco de não se reeleger ou de eleger o seu sucessor preferido. O que era bom virou ruim. O que era positivo virou negativo.
Alguns governantes já começaram a rebelião. Recife já disse que não vai financiar a FanFest e o Governador do Rio Grande do Sul afirmou que o Governo Estadual não vai fazer as estruturas complementares requeridas pela FIFA: só as obras de infraestrutura. Outros deverão seguir.
Governadores de saída do seu cargo, como Eduardo Campos, vai deixar a formalização da decisão para o seu sucessor, mas provavelmente já tomou a decisão.
A FIFA exige que o Brasil cumpra os contratos. Já ameaçou os rebeldes com a cobrança das indenizações, mas por enquanto está buscando a solução "diplomática". Tanto quanto na Síria como na Ucrânia o impasse não será resolvido diplomaticamente. E no caso, há uma limitação de tempo.
A pressão maior da FIFA é sobre o Governo Federal, que se comprometeu publicamente a fazer a "Copa das Copas". Sem as festas, sem as tendas, sem os camelôdromos não será. Já suspenderam os discursos, daqui a pouco vão suspender as festas milionárias.
Segundo a mesma Veja, a Presidente encarregou o seu novo Ministro da Casa Civil Aluizio Mercadante a negociar com os Governadores. É uma negociação simples, do ponto de vista deles: o Governo Federal supre os recursos que eles fazem. Com recursos do Tesouro Estadual, nem pensar. É uma condição de difícil aceitação por parte da Presidência de República. Por isso, essa já mudou de novo o discurso - todo foco será sobre o desempenho da seleção brasileira. A salvação da Pátria, do Governo Federal e dos Governos Estaduais e Municipais está nas cabeças e pés dos jogadores: a tal "Pátria em chuteiras" a que se referia o sempre lembrado, na ocasião, Nelson Rodrigues.
A FIFA segue na pressão sobre o Governo Federal, mas tem uma data limite. Admitindo que a instalação dessas tendas, com todos os seus complementos leve 45 dias, considerando o tempo para o edital de licitação até a contratação de um prazo mínimo de 30 dias, com uso do Regime Diferenciado de Contratações, os editais terão que ser publicados até 75 dias antes. Ou seja na primeira semana de abril. Só restam duas semanas, para a decisão dos Governantes. E esses nem podem pensar em encurtar a contratação alegando emergência. Só irão atrasar mais, pois de imediato sofrerão contestação judicial. É possível que algum governador use isso, como artimanha. Anuncie a contratação emergencial, chamando um interessado - que já é conhecido - e sofrendo contestação se justificará que fez a sua parte e que não irá fazer por culpa do Ministério Público, do Tribunal de Contas do Estado ou da União ou do Judiciário.
Vencido o prazo para a execução pela Administração Pública a FIFA só tem duas alternativas: ou coloca o seu dinheiro, com a expectativa de ressarcimento posterior pelo Brasil e contrata as instalações, de forma mais expedita, pois não tem as mesmas obrigações da lei 8.666 ou reduz as festas. As fará internamente, dentro dos estádios.
A execução do plano de negócio da FIFA com a Copa no Brasil não vai ser nada daquilo que ela imaginou ou desejou. No Brasil, nunca mais.
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