sábado, 22 de março de 2014

Reação autêntica e desastrada

A reação pessoal de Dilma à revelação de que ela presidiu a reunião do Conselho de Administração da Petrobras que aprovou a compra de uma Refinaria no Taxas foi de indignação. Uma indignação autêntica: de alguém que percebeu ter sido usada, sido enganada, 
Reagiu por impulso de caráter pessoal, não como uma política que precisa medir a reação midiática e da classe política da sua decisão ou ação. Foi um desastre completo, maculando a sua imagem de competência gerencial e gerando uma crise política.
A mídia não se aprofunda na informação, gera uma versão plausível e uma vez aceita passa a prevalecer como a verdade, repetida "ad nauseam".

Dilma sempre foi meticulosa e não conduziria a aprovação de uma operação de milhões de dólares norte-americanos para uma compra atípica, com base apenas numa apresentação feita por um diretor da Petrobras,na própria reunião.  Ela tinha à sua disposição todo o dossiê da compra, com todos os detalhes. Mesmo que não tivesse tempo para analisar minuciosamente a proposta, tinha - como Ministra da Casa Civil - uma assessoria pessoal que poderia resumí-la para ela, sem depender de uma apresentação em power point (como ela gostava) na hora da decisão. Detalhista como é não deixaria de fazer esse exame.
A menos que tivesse sido orientada para uma aprovação expedita, induzindo os demais membros do Conselho à aprovação.

Então por quem teria sido orientada e por que?

Quem teria ascendência pessoal para que Dilma conduzisse a aprovação da compra, sem maior exame?


E quais seriam os objetivos para uma compra superfaturada? Teria sido apenas um mau negócio, ou haveria uma destinação não contabilizada das diferenças?

A operação foi montada de tal forma que a Petrobrás se visse na obrigação de comprar a totalidade das ações, dentro das regras usuais das fusões & aquisições de empresas.

Como num contrato pré-nupcial prevendo a eventualidade da separação e do divórcio, as condições de divisão do patrimõnio e as pensões são previamente acordadas. 

Por essa razão, os bancos que analisaram a operação não acharam nenhuma estranheza das cláusulas, que até apelidos tem no mercado: "put option" e "marlin".

Da mesma forma o empresário Jorge Gerdau e o economista Claudio Haddad, tomando conhecimento da operação durante a sessão do Conselho de Administração,  não questionaram a existência dessas cláusulas, por considerarem parte indissolúvel do negócio,

A Petrobras, posteriormente, relutou em cumprir o acordo ao qual foi obrigado por decisão arbitral, com aumento de custos de juros e honorários. Tudo superfaturado sobre valores originais já superfaturados. 

Já para Dilma não tão afeita aos meandros dos processos de M&A, a apresentação do negócio, feito pelo Diretor da Área Internacional,  omitiu as cláusulas, justificando-se posteriormente que não seria necessário por serem usuais em operações internacionais do merge & acquisition.

Quando Dilma percebeu ter sido enganada, deve ter ficado furiosa, quando a Petrobras foi "condenada" a comprar os restantes 50%, por um preço acordado, novamente superfaturado, porém por disciplina partidária, dentro da sua formação de militante de esquerda, calou-se.

Mas quando a participação dela na aprovação da operação emergiu na mídia, reagiu de forma impulsiva, dizendo meia-verdade, a sua parte explicável.

A meia-verdade é que o relatório era falho e incompleto. E que se ela soubesse das cláusulas adicionais não teria aprovada.

A outra parte, que ela não contou foi a razão real dela ter conduzida a aprovação. Isso ela não vai contar, nem sob tortura. Por que resistir a isso ela sabe.

Já o estrago na imagem é irreversível. Prevalece a imagem de incompetência. Menos ruim do que a de corrupta.

A mídia não se preocupa em aprofundar e investigar melhor o assunto. Prefere bater à exaustão em alguns aspectos, em alguns números não comparáveis ocorridas em circunstâncias diferentes. 

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