domingo, 31 de agosto de 2014

Poluição e crise da água

A crise da água, prevista para o futuro, já chegou em grande parte do Brasil, castigando agora a região sudeste onde se concentra a maioria da população e da produção econômica brasileira.
Ela decorre da escassez de chuvas na região, enquanto outras, como a sul, padece com excesso de chuvas.
Um dos caminhos para combater a seca é da engenharia cuja solução principal é a transposição de água de bacias hidrográficas com disponibilidade hídrica para outras, com escassez.
No caso do sudeste este caminho se tornou inadequado pela escassez em todas as bacias da região. As eventuais transposições teriam que ser feitas a distâncias muito maiores, com consequências ambientais inimagináveis.
O caminho mais usual é a economia no uso da água, reduzindo o consumo, seja de forma voluntária como compulsória. A compulsória tem como forma principal o rodízio no fornecimento, uma solução discutível em relação à economia do consumo.
Um terceiro caminho, mas complexo é o da maior disponibilização dos corpos d'água, parte desses inutilizáveis pelo nível de poluição e do alto custo do tratamento para torná-la potável.

Entre os elementos poluidores, promovidos pelo ser humano, um dos principais é o óleo de cozinha usado, que é descartado diretamente nas pias das cozinhas ou nos ralos. Além dos problemas que gera nas redes de esgotos ou de água pluviais, causando enchentes quando há grandes precipitações de chuva, segue diretamente para os cursos d'água, contaminando-os e poluindo-os.
Estimativas técnicas apontam que um litro de óleo de cozinha usado contamina cerca de 20 mil litros de água. Porém para a descontaminação natural são necessários um milhão de litros. 
Esse processo pode ser visualizado em São Paulo, onde o rio Tietê que corta todo o Estado, nasce limpo, vai ficando contaminado à medida que cruza a região metropolitana e volta a ficar limpo mais ao interior, pela descontaminação natural que ocorre com a contribuição do volume de água dos seus afluentes com água limpa. 
Com a redução do volume de água natural, dada a escassez de chuvas na região, a mancha de poluição avança á jusante e muitas cidades que captavam a água limpa do Rio Tietê agora perderam essa fonte. Ainda que o rio continue passando nas suas bordas, o seu sistema de tratamento não é suficiente para torná-los adequadamente potáveis. Ou quando tecnicamente suficientes, implicam em aumento de custos que levam ao aumento de tarifas. 

A redução da contaminação da água por resíduos líquidos poluentes é um dos principais meios para aumentar a disponibilidade de água para uso humano.

Os resíduos industriais são mais fiscalizáveis, em função da concentração da geração. O óleo residual de combustíveis, embora mais difuso, também pode ser mais controlável uma vez que a geração está concentrada em empresas gestoras dos postos de "gasolina".
O óleo usado de cozinha é o maior problema, não só pelo seu volume, como pela sua geração altamente difusa e descarte individualizado. 
O problema é agravado porque a maior geração ocorre entre as famílias de menor renda, moradoras das periferias das grandes cidades, onde o mercado não tem interesse em ir buscar. 
Para reduzir a poluição das águas é preciso desenvolver mecanismos eficazes de coleta do óleo de cozinha residual gerado nas comunidades mais pobres. Esta é a proposta do Programa Bióleo.

sábado, 30 de agosto de 2014

A Conta da Copa chegou!

O Governo Federal tocou o bumbo antes e durante a Copa. Antes contratou diversas consultorias para prever o impacto positivo da Copa na economia brasileia, apontando crescimentos adicionais de até 1,5% que somado ao crescimento "normal" levaria o PIB de 2014 a elevadas taxas, em torno de 5%.
Contestamos sempre esse excesso de otimismo, com registros neste blog.
Durante a Copa o Governo alardeou o sucesso da Copa das Copas. Foram, inegavelmente belos momentos, empanados pela vergonha da seleção brasileira em campo na fase final. Mas o fato real é que o Brasil sediou uma grande Copa e Ângela Merkel agradece muito à sua colega que propiciou a ela e aos alemães uma magnífica festa.
O Governo não titubeou em mostrar os números de turistas durante a Copa. Os estrangeiros no Brasil foram muitos, mas gastaram pouco. Para escamotear esse número desfavorável, misturaram com os gastos dos turistas brasileiros. 
Porém, enquanto milhares de "hermanos" invadiam o Brasil com os seus motorhome, gastando pouco, centenas de endinheirados brasileiros foram "torrar" o seu dinheiro no exterior, fugindo da Copa, e gerando um enorme déficit na balança cambial do turismo. São dados do Banco Central.

Agora com a divulgação do pífio resultado da evolução do PIB brasileiro no 2º trimestre de 2014, com variações negativas, o Governo responsabiliza a Copa, com os seus feriados, pelos maus resultados.

A conta da Copa das Copas chegou. Com a "vingança" dos pessimistas.

Em vez das elevadas taxas de crescimento, previstas pela EY, FGV, FIPE e outras tantas - a maioria mediante contratos milionários - o impacto real da Copa sobre a macroeconomia brasileira é negativa.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Declínio da indústria tradicional e novas oportunidades

A indústria brasileira tradicional criada e desenvolvida dentro do modelo da "substituição de importações" está em declínio e seguirá inexoravelmente nessa trajetória, remanescendo poucos sobreviventes.
As exportações de excedentes, não absorvidos pelo mercado interno, também estão condenados à inanição. 
A nova indústria ainda voltada para o mercado interno, aproveitando algumas barreiras de entrada, inovou ou se renovou, mantendo condições de competitividade com relação aos produtos do exterior.
Diante dessa decadência inevitável, a indústria brasileira precisa encontrar novos rumos, novos modelos. 
Tentar recuperar aquela indústria decadente não é uma tarefa complexa: é inútil. Aumentar as proteções é apenas postergar o falecimento, com elevadíssimos custos. 

A indústria brasileira tem que buscar novos rumos, novas oportunidades. 

As novas oportunidades, decorrentes das transformações globais, estão no ciclo da indústria verde.

O Brasil preferiu ficar fora do ciclo das plataformas de exportação, que transformaram inteiramente a China em pouco mais de 40 anos. 

Agora as transformações estão trazendo um novo ciclo: o da economia verde e, dentro dela, da chamada indústria verde. O mais adequado seria chamar de economia e indústria ambientalmente sustentável, ou mais simplesmente indústria sustentável.

Esse processo precisa ser melhor entendido para a avaliação de como aproveitar essas oportunidades.

A primeira condição para a indústria de transformação verde está na utilização preferencial de insumos renováveis.

Esses são, basicamente, a energia e as matérias primas. A indústria de transformação não é, por natureza, produtora de energia ou de matérias primas. Ela é compradora, precisando encontrar esses insumos no mercado, a preços competitivos.

Por outro lado, os produtores de energia investirão mais em fontes renováveis que tiverem compradores. O Brasil neste sentido tem grandes vantagens naturais. Mas essas vantagens podem fazer com que a sua produção perca competitividade econômica, por falta de investimentos em desenvolvimento tecnológico. 

A matriz elétrica brasileira é altamente sustentável, baseada em fontes renováveis, como a hidroeletricidade e a eólica. A solar ainda é dependente de materiais pouco disponíveis no país. A solar tenderá a ser uma importante fonte para o consumo residencial e urbano, mas pouco relevante para o consumo industrial. Já a geração eólica será integrada à rede geral.

Já a matriz de combustíveis é pouco sustentável, com a predominância de fontes não renováveis, como o petróleo e o gás. O Brasil desenvolveu uma alternativa renovável que é o etanol, hoje estrangulado pela política de subsidios aos derivados de petróleo. 

No uso das matérias primas será necessário buscar alternativas para substituição dos não renováveis por renováveis. 

Três segmentos podem ser considerados prioritários: a siderurgia, a química e a de insumos agrícolas (fertilizantes e defensivos).

A tecnologia do aço é dominada, mundialmente, pelo aço carbono, que permitiu o uso do minério de ferro na forma de laminados. A economia sustentável requer a produção de aço sem carbono, ou seja, sem uma forte presença do carvão mineral. O Brasil, que dispõe ainda de grandes reservas de minério de ferro, deveria liderar esse processo de inovação tecnológica.

A química envolve a petroquímica que precisaria ser substituida pela etanolquímica ou similar e a farmoquímica que precisaria se basear em ingredientes naturais e renováveis.

Um terceiro importante segmento químico é o do cloro e outras substâncias utilizadas no tratamento da água e do esgoto. Este é um campo que importantes oportunidades. De um lado é preciso promove a dessalinização da água dos mares e oceanos para o seu uso comum e, de outro, aproveitar industrialmente o sal separado nesses processos.

Na área dos fertilizantes o Brasil deu um grande salto tecnológico, que propiciou a relevância que tem o agronegócio atualmente: a fixação natural do nitrogênio. Mas a fertilização ainda depende do potássio e do fósforo, ambos recursos minerais não renováveis. A inovação deve buscar alternativas renováveis para esses insumos.

Vamos tentar avaliar, na sequência, o que seria uma transformação industrial sustentável.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A persoficação do novo Brasil

Marina Silva é a personificação do novo Brasil, reclamado pela turma de junho de 2013.

A turma de junho de 2013 é formada por aqueles que foram às ruas das principais cidades brasileiras em junho de 2013, para pedir mudanças: uma nova política, um novo Brasil. Sem clareza do que seria a menos de que deveria ser diferente do atual.

Essa turma não se formou em junho de 2013. Ou, ao contrário, dentro de uma perspectiva escolar, ingressou há anos atrás, manifestou-se em outubro de 2010, sufragando 20 milhões de votos em Marina Silva e colou grau em junho de 2013, ou seja, formou-se nessa ocasião.

Foi uma mobilização espontânea, desencadeada por um pequeno grupo de jovens a favor de uma tese de Luiza Erundina, agora a coordenadora geral da campanha de Marina Silva: a tarifa zero para os transportes coletivos. A ocasião era propícia. Os governos haviam acabado de aumentar as tarifas dos ônibus e do metrô.

Não foi conduzida por um líder, tampouco a turma elegeu um líder. Marina Silva sempre pairou com uma potencial personificação das reivindicações da turma, agora tornada concreta, como candidata competitiva à Presidência da República. 

A turma é constituida, predominantemente por jovens de classe média, estudantes, sem renda própria, vivendo em grande cidades, com uma visão de mundo baseada nos problemas reais vividos, mas a maior parte em função do noticiário da mídia e do imaginário gerado pelos grande temas da humanidade.

Os problemas reais que os afetam diretamente são a educação, segundo a perspectiva de estudantes, em geral, insatisfeitos com a educação que receberam ou estão recebendo, o transporte coletivo urbano, o seu principal meio de deslocamento urbano, a (i)mobilidade urbana, e a violência urbana. Esses impactos são mais generalizados e afetam a todos, indiscriminadamente.

Grande parte é usuária dos planos de saude privado, conhecem as deficiências e os problemas, mas os maiores problemas da saúde - que é a saúde pública - são percebidos por testemunhos e pela mídia. Tem uma imagem negativa, pelo mau atendimento aos outros.

Da mesma forma, uma grande parte, não tem contacto direto com a pobreza urbana que se concentra em regiões centrais, onde ficam os sem-teto e nas favelas, vistas de longe, na passagem.

Percebem os problemas, sentem a necessidade de soluções, mas não os vivem diretamente. Mas esse núcleo central dos mudancista, tem os jovens pobres (e outros não tão jovens) que vivem essa realidade e aderem aos movimentos.

A visão de mundo dessa turma de junho de 2013 é fortemente influenciada pelo imaginário ambiental, tanto as mudanças climáticas como a preservação da flora e fauna natural.

Eles acreditam que o homem é causador das mudanças climáticas e também - mudando de comportamento - terão condições de contê-las. Entre as demonstrações científicas dos catastrofistas ambientais e dos céticos, preferem acreditar nos primeiros e se engajam nos movimentos ambientalistas.

A preservação da flora e da fauna tem dois grandes símbolos: as florestas naturais, particularmente a Amazônica, que deveriam ser preservadas a qualquer custo, e a baleia. Essa destronou o mico leão dourado, que foi o grande símbolo anterior.

Há ainda a defesa dos povos indígenas. Mas estes são um outro capítulo.

Adotam uma visão unilateral e próxima ao fundamentalismo, ou seja, avessa ao diálogo, baseado em certeza absolutas. Não lhes importa se as posições que defendem comprometam o crescimento econômico ou coloquem em risco o suprimento de água ou de eletricidade. 

Ou que a implantação de certas medidas defendidas, como a tarifa zero, possa implicar em aumento da carga tributária ou sacrificio de outros programas. O fundamentalismo não aceita a visão holística. 

Uma das idéias correntes da turma de junho de 2013 é que combatendo a corrupção, sobrarão recursos públicos para viabilizar todos os programas e ações defendidas.

As idéias são sedutoras e conseguem a adesão de muitos outros que poderão levar à vitória de Marina Silva, em outubro de 2014.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Confirmação do cenário

A pesquisa feita pelo IBOPE confirma as previsões e o do Datafolha as consolidarão.
Haverá segundo turno e Marina vence. Aécio tem que mirar 2018. 
Há alguns pequenos detalhes que precisam ser considerados. Do primeiro para o segundo turno, Dilma cresce 2 pontos. Com a redução dos votos nulos e sem resposta, significa uma migração de votos de Aécio para Dilma, supostamente dos que não querem Marina de jeito algum. Num eventual segundo turno com Aécio, Dilma ganha 7 pontos. Parte significativa dos eleitores de Marina voltam para Dilma.



As maiores mudanças estão ocorrendo no âmbito estadual, com exceção de São Paulo, onde a predominância do PSDB resiste a tudo. Minas poderá ser o último bastião de resistência do PT, que além desse estado só terá o Acre e o Piaui. O PSB corre o risco de ficar sem nenhum governador. A única possibilidade que restou é Pernambuco e Marina precisa ajudar mais Paulo Câmara, no mínimo, por gratidão a Eduardo Campos. O PMDB voltará ao domínio dos Governos Estaduais. 
Aécio terá que mudar as suas estratégias e focar mais Minas Gerais. É fundamental para ele assegurar a base mineira, ameaçada por Dilma e pelo PT: não por Marina.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Govvernar e gerenciar

No âmbito empresarial há uma diferença entre gerir e gerenciar, mesmo ocorrendo uma grande área cinzenta entre os dois.
A gestão está relacionada com a missão atribuída à empresa pelos seus acionistas ou donos, contemplando a eficácia e os resultados ao longo de vários anos e não apenas o curto prazo.
O gestor é responsável pelas estratégias, pelos investimentos e pelos relacionamentos com os agentes externos. É também responsável pela escalação do time gerencial. Pode ter o apoio de um Conselho de Administração. Esse pode assumir o papel de gestor, quando a empresa tem diversos sócios em condições de força e participação iguais.

A operação no dia a dia da empresa cabe a um gerente geral - qualquer que seja a sua denominação - trabalhando com subgerentes e com as equipes executoras das tarefas.
Existem vários modelos atuais de organização e gerência de empresas, mas a espinha dorsal é a função gerencial de orientar, determinar e cobrar a equipe. O gerente tem como principal atribuição ajudar a sua equipe "funcionar". Nesse sentido o estilo "mandão" está ultrapassado.

No âmbito público o gestor é eleito diretamente pelo povo e cabe a ele a função indelegável de governar. Tem correspondência com as atribuições de gestão empresarial.

Como governante ele pode assumir também as funções de gerência, mas não obrigatoriamente. Essas funções são delegáveis.

No presidencialismo há uma tendência de confundir as duas funções. Supõe-se que seria diferente do parlamentarismo, o que não é: o primeiro ministro deve ser também um gestor, um governante.

O Brasil viveu com Lula uma situação de separação das atribuições, ainda que de forma híbrida ou incompleta. Lula foi um político, voltado exclusivamente para a gestão, para o governo, pouco ou nada cuidando da gerência da máquina administrativa federal. Num primeiro momento, essa função coube ao chefe da Casa Civil, que não se contentava em gerenciar, mas tinha pretensões de gestão. 

Com a sua saída, a divisão de atribuições ficou melhor definida. Lula cuidava do governo (ou gestão) e Dilma da gerência. 

Com a eleição de Dilma, as coisas voltaram a ficar embaralhadas: ela não tem vocação, tampouco gosto por um modelo de governo de coalização, que requer um enorme gasto de tempo com o relacionamento direto com as lideranças no Congresso e ficou voltada para a gerência das ações federais. Porém com um modelo centralizador, de baixa eficácia. 


O mais grave é que Dilma, com o seu ultrapassado estilo gerencial  "militar" (manda quem pode, obedece quem tem juízo) resultou na formação de uma equipe de auxiliares medíocres e subservientes, mais interessados em usufruir dos cargos do que cumprir as suas missões. Não fossem as questões políticas Dilma Rousseff - como dirigente empresarial - estaria sofrendo inúmeros processos trabalhistas por assédio moral.

Agora com o crescimento de Marina Silva nas pesquisas, questiona-se a capacidade de gestão e gerencial dela, argumentando até a falta de experiência administrativa. O que não corresponde à realidade. Ela tem uma vasta experiência, embora setorializada como Ministra do Meio Ambiente de Lula. Comandou o Ministério com a divisão de atribuições com o seu Secretário Executivo, esse com as funções gerenciais. 

Tem também experiência política, pois diferentemente de Dilma que chegou à Presidência na sua primeira eleição, Marina Silva foi eleita várias vezes pelo Acre.

Marina Silva, ao dizer que o Brasil não precisa de um gerente na Presidência da República está certa. E a contestação de Dilma, baseada na sua experiência pessoal está equivocada. Aliás um equívoco que comprometeu o seu mandato, colocando em risco a sua reeleição.

O problema é que Marina Silva tem um estilo semelhante ao de Dilma, sendo uma mandona e com laivos de fundamentalismo. Acha que está certa e, embora não seja infensa ao diálogo, é difícil de ser convencida. Mas, aparentemente, a convivência com Eduardo Campos e ensinou ser mais tolerante e menos "xiita".

Em função do seu estilo, o risco é dela ser tentada também a gerenciar e não se dedicar a governar. O governar não está apenas nas políticas públicas e nas estratégias, mas no diálogo com as demais forças políticas. Ela, provavelmente, não conseguirá eleger uma bancada forte que lhe assegure uma base parlamentar. Terá que negociar permanentemente, sem concessões à velha política. Ou seja, sem lotear os cargos da Administração Federal. Mas, por outro lado, não poderá ter uma equipe exclusivamente tecnocrática. 

Outra diferença de Marina Silva em relação à Dilma é que embora ambas tenham o estilo do mandonismo e da centralização (que em geral estão sempre juntos) aquela não é autossuficiente na economia e na infraestrutura. Dilma é a Presidente, a Ministra da Economia, a Ministra da Infraestrutura e da Habitação e de outros Ministérios setoriais que ela acha que entende em função da gerência do PAC.
Só não se dispõe a ser Ministra do Meio Ambiente, porque não gosta da área. 

Do ponto vista da função gerencial Dilma já demostrou e tende a ser uma má gerente, com a incompreensão da evolução conceitual e tecnológica da função. Marina é uma incógnita, mas os seus primeiros passos ao assumir a candidatura foram desastrosos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Velha,nova e semi-nova política

A campanha política presidencial coloca em  confronto três visões em relação  à política brasileira.
A primeira é de que "os fins justificam os meios", adotada pelo PT e que leva a sua composição com corruptos e com políticos fisiológicos, para formar a base aliada no Congresso.  O fim principal seria a construção de um país menos desigual. Para a consecução desse objetivo o entendimento é que é preciso estar e se manter no poder. Nem que para isso seja necessário estabelecer parcerias espúrias, abandonado os princípios éticos inicialmente estabelecidos. Como consequência real um projeto nacional de maior igualdade social se tornou apenas um projeto de poder.
Aparentemente há um segundo objetivo que seria o de suprir o país de uma adequada infraestrutura. Mas na prática a razão principal para a contratação de um grande conjunto de obras estaria vinculada ao objetivo de financiar o projeto de poder. Dai a preocupação em acelerar as contratações, mas não a sua conclusão.

A proposta de Marina Silva é a "nova política" associando-se apenas aos homens (e mulheres)  de bem. Repudia a parceria com os corruptos e os notórios da "velha política". A nova política busca se aproximar mais da democracia direta, suplantando a intermediação dos políticos eleitos. As grandes decisões políticas devem ser objeto de plebiscito ou referendo popular e as de interesse mais restrito com a participação de Conselhos Populares.
O que se questiona em relação a esse modelo é a sua viabilidade e governabilidade. 
Se Marina for eleita, conseguirá mobilizar um conjunto suficiente de homens de bens e também competentes para gerenciar eficiente e eficazmente a máquina estatal, incluindo as suas grandes empresas? 
Conseguirá formar uma base parlamentar só com políticos do bem, para garantir a governabilidade? 
Mesmo que consiga formar uma boa base agora no Senado, com Suplicy ou mesmo Serra em São Paulo, com Heloisa Helena em Alagoas (mesmo não podendo apoiá-la formalmente), com Romário no Rio de Janeiro e outros, 2/3 permanecerá, incluindo os notórios Renan Calheiros e Romero Jucá. Só terá descartado o decano José Sarney, a maior personificação da "velha política".

A seminova política (para usar o eufemismo do marketing da indústria automobilística) foi praticada por Eduardo Campos, em Pernambuco, sem uma ruptura completa com a "velha política", mas buscando atrair para o seu projeto "políticos do bem". Pretendia realizar o mesmo modelo em âmbito nacional, trazendo para junto de si, políticos do bem, o principal Marina Silva. Com a sua morte, o projeto fica interrompido, embora Mariana o tenha herdado e tenha que mantê-lo. 
Mas se com Eduardo ele tentaria uma renovação do tipo 30/70 para ir mudando ao longo do tempo para chegar a 70/30, Marina quer começar com esse índice mais radical de renovação, para chegar ao 100/zero.

A "seminova política" é também o projeto de Aécio Neves, mas de forma mais medrosa. A sua tendência é começar com algo do tipo 10/90 para alcançar um meio a meio. E tentar um segundo mandato com uma equação 70/30.

O problema é que a "turma de junho de 2013" tem pressa e não quer esperar tanto. Ela quer logo um "zero quilômetro" e não um semi-novo.

domingo, 24 de agosto de 2014

Privado-privado x privado-público

Uma reportagem de Fernando Gabeira sobre o projeto Nova Recife, compreendendo duas enormes torres gêmeas com quase 40 andares na antiga área do cais Estelita, no Recife, sob intensas críticas de movimentos sociais, com a adesão - segundo a reportagem - de jovens, mostra a resistência de segmentos sociais à modernização urbana e, principalmente à excessiva verticalização.
Os argumentos dos oponentes ao projeto são insubsistentes. Fora as posições pessoais de que o projeto não responde à cidade que eles querem (mas assumem como se fossem o todo) é a privatização do espaço privado. 
Por outro lado o empreendedor se defende, principalmente, com o argumento da legalidade.

É um caso típico de confronto sobre o futuro das cidades, em que cada qual quer impor a visão da cidade "que queremos". Para se ter, efetivamente, a visão da cidade que queremos e a aceitação ou não do projeto seria necessário realizar um plebiscito. 

A solução não está no confronto, mas no consenso, no pacto. 

A área é privada e o empreendimento é privado. Cabe ao Poder Público estabelecer, pelas suas instituições, as regras que o privado deve obedecer e afirma o empreendedor que as obedeceu.

Os opositores não aceitam a democracia representativa e querem impor uma democracia de participação direta, por que, de momento, eles teriam a maioria para a tomada de decisões. O que é uma ilusão. Porque se efetivamente instaurada a democracia participativa, os outros também se organizariam, quebrando a predominância que hoje os movimentos ditos sociais tem.

Os opositores tem razão em suspeitar da democracia representativa, dado o grau de corrupção que se instaurou dentro das instituições públicas. 

A esquerda assumiu o poder prometendo moralizar a Administração Pública, mas acabou adotando os mesmos métodos, desmoralizando aquelas instituições.

Alegar que as licenças foram "compradas" embora não se comprove, deve estar mais próxima da verdade do que o contrário.

Dessa forma os opositores  podem "marcar posição" mas serão derrotados pelas forças econômicas. Só lhes restará o "jus esperniandi" ou atuar politicamente para mudar as instituições e os seus representantes.

Não obstante a luta, a pressão pode ajudar a que a ocupação privada de grande porte seja inteiramente privatizada, sem deixar espaços para uso público.

Esse deve ocorrer ao rés do chão, na área térrea. Um projeto inteligente e legal já deve prever essa condição. Mas não foi colocada no debate. 





sábado, 23 de agosto de 2014

A política antiestacionamento da Prefeitura de São Paulo

A Prefeitura de São Paulo está tentando desenvolver uma política antiestacionamento, com o objetivo declarado de reduzir o uso do carro e melhorar a mobilidade dentro da cidade.
Supõe que, ao reduzir a oferta de vagas próximos aos locais de trabalho, os trabalhadores não sairão de casa com o seu carro, mudarão o seu comportamento melhorando a circulação nessas regiões. 
A suposição é correta, mas os resultados efetivos para a região poderão ser desastrosos.
Com a restrição de vagas os trabalhadores terão ou que acordar mais cedo para disputar uma vaga gratuita em via pública ou desembolsar valores elevados para manter o seu carro estacionado em vagas pagas. 
Espera-se que diante desses obstáculos físicos ou econômicos, ele prefira deixar o carro em casa ou dispense a posse de um e passe a utilizar-se do transporte coletivo ou de meios não motorizados, seja a pé ou a bicicleta.
Para essas últimas opções ele tem a alternativa de se mudar para mais próximo do seu emprego. 
Permanecendo onde mora ele tem outra opção: mudar de emprego e buscar trabalho onde possam continuar indo de carro.
Se ele for um profissional altamente qualificado, que a empresa não pode dispensar o patrão acabará concedendo, como benefício o pagamento ou ressarcimento do valor do estacionamento, anulando o objetivo público de restringir o uso do carro, pelo seu encarecimento. 
De toda forma supõe-se que esses casos seriam excepcionais e teriam pouco impacto. Não é o que mostra a pesquisa OD realizada decenalmente pelo metrô. A maioria das pessoas que usa o carro tem o seu estacionamento subvencionado.
O impacto maior seria do empresário ou do empregador. Esse é o que decide o local de trabalho e gera os empregos para os trabalhadores. Esses, em geral, pessoas de maior renda não dispensam o carro para ir ao trabalho por meios coletivos, mesmo tendo a disponibilidade do serviço metroviário, considerado o de melhor qualidade.
Excetuando os de menor porte, tem renda para pagar os valores dos estacionamentos avulsos, não sendo esses os desestimuladores do uso do carro.
Ademais esse custo é incorporado ao valor do imóvel que vão ocupar, seja próprio ou alugado. Se em função da escassez de vagas o custo dessas vinculadas às salas for muito elevado, ele tenderá a buscar outros locais para se instalar, com custo mais adequados ao seu negócio.
Ou seja, o aumento desmesurado dos espaços para estacionamento o levaria a mudar de região. Essa decisão, repetida por vários empresários leva ao esvaziamento e degradação. 
A restrição ou o encarecimento do estacionamento pode promover a redução do destino de carro para a região com restrição, mas não apenas do carro, mas também do seu motorista.
E quando ele é um empregador, também dos seus empregados.
Ele poderá, no entanto, manter-se na região em função dos seus clientes.
Mas se seus clientes não conseguirem ter acesso a essa região, pela dificuldade de estacionar, preferindo outras regiões, ele se verá obrigado a se mudar, para manter ativo o seu negócio. 
Esse impacto é maior em se tratando do comércio varejista de rua. Repercute ainda na atividade de restaurantes. 

Restringir vagas de estacionamento pode ser o melhor caminho para a degradação urbana.

(PS - Estou abrindo uma série de artigos estocados).

Estacionamento e propriedade do carro

Falta de vagas para estacionar restringe a posse de um automóvel? A curto prazo não. A médio pode ocorrer.

O comprador de um primeiro carro baseia-se em expectativas: ter maior possibilidade de movimentação e achar sempre um local para estacionar em via pública. Para eles o problema não é a vaga física, mas o custo dessa. Podem existir as vagas mas seriam inacessíveis pelo preço e custo repetitivo.

Só com a experiência prática de dificuldades de estacionar, o seu alto custo, associado aos custos com o combustível e com os tributos, pode perder o interesse em permanecer com o seu carro. Pode tentar vender ou acaba perdendo-o por falta de pagamento das prestações.

Isso é fato, porém não a avaliação da sua significância e os reflexos sobre a mobilidade. Por outro lado, isso ocorre com os seguidores e não com os decisores.

Os seguidores não determinam o local de geração de postos de trabalho. Vão atrás de uma vaga que lhe é oferecido pelos decisores. São os empresários, os empregadores que geram os postos de trabalho e definem o local onde haverá o trabalho.

Os seus valores e comportamento não são os mesmos dos seguidores. 

Não querem abandonar ou não utilizar o seu carro. Se tiverem dificuldades de encontrar vaga para estacionar o seu carro buscam outro local. Para eles a falta de vagas não reprime a compra ou o uso. Leva-os a se transferirem para outras regiões, gerando o risco de esvaziamento e degradação da área com insuficiência de vagas para estacionamento. Para os decisores com maior renda o problema não é o custo, mas a existência ou não de vagas físicas.

Os decisores, no entanto, podem permanecer ou buscar áreas com poucas vagas de estacionamento em função da demanda, do mercado para os seus produtos ou serviços. Um comerciante da 25 de março não vai abandonar a sua lojinha, por que tem dificuldades de estacionar.

A questão passa a ser outra: por que esses clientes continuam buscando áreas da cidade que tem limitações de vagas para estacionamento?

A revisão do Plano Diretor de São Paulo prevê restrições aos estacionamentos nos perímetros das subprefeituras da Sé e da Mooca. Essa alcança o Tatuapé e a Água Rasa. 

Os reflexos poderão ser mais negativos do que positivos para a revitalização ou desenvolvimento dessas regiões.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

As perspectivas da produção industrial brasileira

Diante das questões colocadas em artigo anterior, quais são as perspectivas da produção industrial brasileira?

O que se propõe aqui não á uma avaliação macro, mas uma avaliação das estratégias dos industriais ou das empresas industriais diante das novas circunstâncias do mercado.

O dado inicial é que o tamanho e a evolução - ainda que lenta - do mercado interno torna interessante a participação das empresas com produtos industriais nesse mercado.


Em primeiro lugar é preciso separar o micro e pequeno industrial que produz para suprimento local, com baixa escala e baixa tecnologia, mas está - relativamente protegido pela pequena escala e eventuais dificuldades logísticas. Tais dificuldades limitam o interesse das grandes empresas. 


Já a partir da média para a grande empresa de produtos industriais, o empresário que já conquistou mercado como seu produto associado à sua marca, pode continuar focando no produto ou na marca. O foco no produto está, fundamentalmente, associado ao preço. Ele conseguirá manter-se no mercado se tiver preços competitivos. Com uma fabricação asiática a custos muito mais baixos do que a brasileira, a sua possibilidade de concorrência está em barreiras que podem ser institucionais ou físicas, principalmente da logística. Isso praticamente limita à transformação de insumos locais para consumo local.


Para produtos de melhor qualidade ou diferenciado o industrial os associa à sua marca e, nesse caso, pode produzir local ou internacionalmente. A sua decisão está relacionada com o custo do produto colocado em algum local estratégico do território nacional, para suprimento ao seu mercado.


A questão crucial, já indicada anteriormente, está no entendimento legal sobre terceirização, envolvendo a sua criminalização. As razões contrárias decorrem do jogo sindical e não de uma perspectiva de estruturação das atividades produtivas.


O fato é que a terceirização é uma realidade, aplicada fartamente, com diversos nomes.


Um dos principais terceirizadores é o Estado que vem transferindo atividades-fins, inerentes às suas atribuições ao setor privado. Na saúde, mediante convênios com Organizações Sociais e similares. Nas rodovias mediante concessões. Transferir a construção e operação de rodovias, um serviço público tipico, é uma terceirização. Mas como envolve poucas mudanças sindicais, é pouco contestada, o que não ocorre com a saúde.


Por outro lado a terceirização está muito relacionada com a precarização das relações de trabalho. A principal razão que levou e ainda leva muitas grandes empresas a terceirizar parte do seu processo produtivo é a redução de custos. Os empresários terceirizados, para conquistar os serviços ou contratos aceitam vender por preços menores e transferem a compressão dos custos à remuneração do trabalhador ou às suas condições de trabalho. Em outros termos, precarizam as condições de trabalho, muitas vezes fugindo da CLT.


Esse processo real de precarização é o que dá sustentação aos sindicatos e outros opositores à terceirização. 


O equívoco está em combater o meio para atingir os fins. O que precisa ser combatido diretamente é a precarização e não um dos meios que o favorece.


Esse combate está nas ações pelo trabalho decente. 



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Alternativas para a indústria brasileira

A indústria brasileira - diante das transformações da economia mundial - tem três opções básicas: 

  1. ficar voltada predominantemente (ou quase totalmente) para o mercado interno, com um pequeno volume de exportações para o Mercosul ou outro acordo regional, como com o México; 
  2. integrar-se dentro das cadeias produtivas globais, produzindo peças e partes para suprimento do mercado mundial, incluindo o nacional;
  3. desenvolver-se como cadeia produtiva nacional de produtos competitivos por fatores diferenciados para suprimento mundial, o que significa exportações em grande escala.
A primeira é retomar o modelo da industrialização brasileira substitutiva de importações, que se esgotou quando foi promovida a abertura da economia. Embora essa tenha ocorrido no início dos anos 90 a indústria brasileira, vinha resistindo à concorrência dos produtos importados, mas essa resistência foi esmaecendo perdendo sucessivas posições dentro do próprio mercado nacional. 
Uma alternativa intermediária, que já está ocorrendo na realidade, é a integração da empresa industrial brasileira, se integrando na cadeias produtivas globais, mantendo as suas marcas e produzindo em outros paises, principalmente, na China, para suprimento do mercado brasileiro.
Ou seja, o mercado nacional continuará sendo suprido pelas suas tradicionais marcas brasileiras, mas com os produtos fabricados no exterior e redução ou até eliminação da transformação industrial no Brasil.

O segundo modelo envolve também algumas sub-alternativas: a primeira compreende a fabricação de produtos intermediários que vão ser finalizados em outros países. São plantas voltadas para exportação, como as produtoras de placas de aço  para serem transformadas por subsidiárias da própria empresa ou grupo no exterior. Algumas delas não se consolidaram, sendo o modelo abandonado.
A segunda sub-alternativa é a mais usual dentro da globalização, com a escolha do Brasil como plataforma de exportação pelas transnacionais com a sua cadeia produtiva em todo o mundo.  As primeiras plataformas criadas ainda nos anos sessenta, como de calçados e têxteis não aguentaram a concorrência asiática, com as empresas fechando ou se voltando apenas para o mercado interno. O Brasil ainda conta com algumas indústrias inseridas nas cadeias produtivas de jeans de grife, assim como de tênis de marcas mundiais. 
A politica industrial brasileira tradicionalmente foi contra esse modelo e agora quando essa oposição enfraqueceu, a indústria brasileira se encontra tecnologicamente defasada para disputar os mercados mundiais, deixando de ser atrativo para transnacionais para instalação de plataformas de exportação.

O terceiro modelo seria desenvolvido por empresas de origem brasileiras tornando-se grandes produtores e exportadores de produtos com maior agregação de valor dentro do país. Esse é o modelo mais desejado, mas de pouca efetivação na prática. 
Dentro desse modelo há um caso atípico que é a EMBRAER, sempre apontada como paradigma. É uma multinacional de origem brasileira que adota o modelo típico da globalização, desenvolvendo a engenharia e fazendo no país a montagem final, com grande parte das peças importadas de diversos paises. Não há, no país, nenhuma outra empresa que siga com sucesso o mesmo modelo.











quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Uma nova inflexão dos industriais brasileiros

Industrial e indústria brasileira eram a mesma coisa. Para desenvolver a indústria brasileira e reduzir a dependência da importação de produtos industriais era preciso ter industriais brasileiros que instalassem fábricas no país.
Ainda antes dos anos cinquenta, precursores com Matarazzo, Crespi e outros começaram a produção nacional. Hoje estão apenas na história da industrialização brasileira. A família Ermirio de Moraes talvez seja um dos poucos industriais seculares.
A partir dos anos cinquenta, quando o Brasil fez um grande esforço de industrialização substituidora de importações, novos industriais emergiram, mas poucos ainda sobrevivem. Já nesse período, além dos industriais brasileiros, multinacionais vieram para produzir no país os produtos industriais por ele consumidos. A expansão do mercado interno e as barreiras de importação incentivavam esses grupos e empresas multinacionais a se instalarem no país, convivendo e concorrendo com industriais brasileiros.
Com a mundialização industrial, que antecede a globalização, o Brasil pouco se inseriu nesse processo, com algumas poucas empresas do setor têxtil e de calçados produzindo e exportando para marcas internacionais. 
A doutrina brasileira sempre foi de fabricar no país para abastecer o mercado interno e só exportar excedentes. Apesar de, de um lado defender a necessidade de exportar produtos de maior valor agregado e não apenas commodities, de outro não quis se organizar para ser um grande exportador industrial, inaceitando a instalação de fábricas voltadas exclusiva ou predominantemente para exportações. Não era e não devia ser a vocação nacional A única exceção, ao longo de muitos anos, era a EMBRAER que só produzia aviões para o mercado internacional. Marginalmente experimentava aviões menores no mercado nacional como ocorreu com os Bandeirantes.
Mesmo exportando apenas excedentes, o Brasil ainda nos anos noventa e início do século XXI conquistou diversos mercados com a exportação de produtos tradicionais até que a China entrou no mercado.
O ingresso da China no mercado internacional coincide com a "explosão" de dois novos modelos da indústria mundial: a emergência dos produtos eletrônicos e a terceirização em escala mundial, o chamado "outsourcing".
O setor de eletrônicos que vinha sendo gestado já na década de oitenta, "estoura" com a emergência do PC, promovida por Bill Gates e Steve Jobs. Este último avança mais na diversificação de produtos e promove a integração do computador com a telefonia. Como nos outros casos não foi pioneiro mas conquistou o mercado mundial, com o marketing e a produção barata em megaescala na China.
Com a terceirização passou a haver uma separação entre o industrial e a produção industrial. 
O industrial que vendia o seu produto com a sua marca, passou a ser o comercializador da sua marca, passando a produzir através de terceiros e não mais por produção própria. 
Com essa mudança a China passou a ser o grande exportador de produtos industrializados, embora ainda nos anos 00 do século XII poucas fossem as marcas chinesas conhecidas no mercado internacional. 
O que passou a dominar o mercado foi o "made in China" e não a marca chinesa. 
Só mais recentemente os chineses passaram a exportar os seus produtos com marca própria.

Nesse processo de mudança do modelo os produtos "made in Brasil" foram perdendo mercados, inicialmente no exterior e depois no próprio mercado interno.


Alguns industriais brasileiros que perceberam a mudança, passaram a produzir na China os seus produtos com a sua marca tradicional, consolidada no país.


Um caso típico é o de cama e banho. As marcas são as mesmas, mas não são mais produzidos em Santa Catarina e outros estado, mas são "made in China". As empresas e industriais mais nacionalistas que se recusaram e aceitar o novo esquema quebraram. 

Uma nova etapa emerge para os industriais brasileiros sobreviventes: a exportação da sua marca com a produção industrial "made in China".

A Estrela estaria iniciando - ainda que com muito atraso - esse processo, para continuar sobrevivendo.

Há um evidente processo de "desindustrialização" com o enfraquecimento da produção industrial no Brasil. A questão crucial desse processo está na terceirização.

O Brasil ainda resiste em aceitar a terceirização, com os sindicatos com a alegação do risco de precarização do trabalho. Diante das dificuldades e riscos é mais fácil terceirizar a produção com os chineses e outros asiáticos, do que dentro do país.

Cada vez mais as empresas industriais - nacionais ou multinacionais - vão vender os produtos com a sua marca, mas com produção externa. 

O crescimento do consumo nacional não puxa a produção nacional, mas eleva as importações. 

Dentro desse quadro há salvação para a produção industrial brasileira?

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dilmaluf da vida

Na entrevista ao Jornal Nacional, enfrentando os inquisidores Bonner e Poeta, Dilma mostrou total profissionalismo, com absoluto controle sobre as suas emoções. Respondeu o que quis, não se abalou com as pressões da dupla, mostrando-se inteiramente disciplinada com as orientações dos seus marqueteiros, que vem, ainda que indiretamente, da formação da imagem de Paulo Maluf, o mais dos "cara de paus". Deve também ter ajudado o seu passado de guerrilheira que suportou corajosamente os interrogatórios e as torturas. O robô Dilma nem piscou. 

A questão é como os eleitores vão reagir a esse robô, sem personalidade, sem emoção, que tem as respostas gravadas e responde sempre com essas não importa o que se pergunte.

Esse robô estará constantemente nas telas de televisão a partir de hoje, com muito tempo de exposição, com o risco de saturação em pouco tempo. Para amenizar a TV irá mostrar indefectíveis imagens dela beijando criancinhas, comendo cachorro quente e outras ações que demonstrariam que ela é humana. Para os que não são adeptos fanáticos do dilmismo ou do lulismo parecerá falso.

Significa que ela não será reeleita? Não necessariamente.

A imagem dela perante a opinião publicada será cada vez pior, mas não é essa que elege Presidentes. O que elege é a opinião não publicada, cujo contingente deve ser o dobro ou mais daquela. A opinião publicada pode chegar a 1/3 dos eleitores. A não publicada, os 2/3. 

A opinião não publicada é formada, predominantemente, pela população pobre e com baixo grau de educação. Enfrentando dificuldades de sobrevivência, esperam que os Governantes melhorem as suas condições de vida. O que alcança os seus corações e/ou mentes é o que eles ganham objetivamente. O bolsa família e outros programas sociais lhes dão um mínimo de conforto material e eles se sentem eternamente gratos. Vão votar na Dona Vilma e em quem o Pai Lula mandar. Uma pequena parte ainda que agradecida quer mais, não querendo ficar acomodada.
A principal aspiração está na educação. Acreditam que pela educação, os seus filhos poderão sair da miséria ou da pobreza. Não querem muito: querem a escola e a presença constante do professor. Para esse contingente, educação de qualidade é a presença do professor em sala de aula.
Se, infelizmente, tiverem doença querem ser atendidos no posto de saúde e lá encontrar o "homem de branco", ainda que seja negro. O Governo Dilma atendeu substancialmente essa expectativa, levando aos "grotões" os curandeiros cubanos: que colocam o jaleco branco. 
Para os problemas mais simples, que correspondem à maioria dos casos, ser atendido pelo "homem de branco" é suficiente. Quando se torna um pouco mais complexo, enfrentam fila e demora de atendimento. Ai a saúde perdeu qualidade.

Os programas sociais e assistenciais dos Governos Lula e Dilma, atendem ao básico: mas não conseguem ir além.

E os atendimentos são cumulativos para as mesmas pessoas, o que significa que elas ficam satisfeitas, mas podem representar cerca de 30% do eleitorado.

Corresponde ao patamar mínimo de Dilma, formado pelos gratos pelo atendimento, mas nem todos inteiramente satisfeitos.

Os que não conseguem ter o atendimento material, seja em dinheiro, em aulas ou em atendimento médico, buscam o conforto espiritual. E disso se encarregam os evangélicos. 

Eles buscam cada vez mais utilizar os meios de comunicação modernos, mas o seu principal meio é ainda o tradicional "face a face": a pregação direta em grandes missas. 

Esse contingente apesar de gratos com os atendimentos sociais do Governo, mas sem conseguir resolver todos os seus problemas, na busca da esperança de uma vida melhor vão buscá-la em Jesus, na providência divina.

A "providência divina" levou o Santo Eduardo mas deixou na terra a sua apóstola Marina, que junto com a apóstola Renata irão levar a palavra divina aos fiéis. 

Elas deveriam estar no avião que caiu. Mas a "providência divina" as tirou na última hora. Foi um "milagre". 

É uma crença que vai derrotar o robô Dilma.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Confirmação das expectativas

O eleitorado reagiu de acordo com o esperado pelos analistas.
Marina Silva herda os votos de Eduardo Campos e soma os dos descontentes que ainda não haviam aderido a Campos. A ironia do destino é que com a sua morte e o que se seguiu, Campos se tornou conhecido e teria os votos desses descontentes. 
Ao conquistar os votos até então inválidos, Marina leva a disputa para o segundo turno e venceria Dilma. Confirmando os temores dos petistas.
Ela ganha os votos de Aécio e de todos os "anti-Dilma", no segundo turno. Já Aécio não ganha todos os votos de Marina, com muitos retornando a favor de Dilma, como ocorreu em 2010.
Neste quadro, se a eleições fossem nesse último domingo, dia 17 de agosto, sob forte comoção emocional, a disputa iria para o segundo turno, no qual Marina Silva sairia vencedora.
Mas as eleições só são em outubro e na quinta feira começa efetivamente o horário obrigatório na TV e rádio para a disputa eleitoral. O primeiro dia será de homenagens a Eduardo Campos. O segundo dia será das disputas regionais, ainda muito tomado pelas homenagens a Eduardo Campos. As estratégias efetivas começarão mesmo na quinta feira.

O PT, por sua natureza, irá tentar desconstruir Marina Silva. Dilma tentará um caminho mais positivo, tentando mostrar o que fez durante o seu mandato e os avanços dos 12 anos do petismo no governo, ainda se contrapondo aos 8 do PSDB. Mas não impedirá todo um conjunto de ataques à Marina, principalmente através dos partidos aliados. 
Uma estratégia provável é que ela, a candidata, siga no caminho original, mostrando o que fez e atacando diretamente o PSDB e Aécio. Os ataques a Marina ficariam a cargo dos demais partidos.
Ela precisa assegurar, pelo menos, metade dos votos dos eleitores de  Marina no segundo turno, como conseguiu em 2010.

Aécio tem uma tarefa mais difícil. De um lado não pode deixar ser superado por Marina, ficando fora do segundo turno. De outro, se for para o segundo turno, vai precisar dos votos dos eleitores de Marina.

Ele precisará sair de uma posição mais "acomodada" para ser mais assertivo. Precisará se mostrar como um candidato de oposição mais confiável para conduzir o Brasil do que a messiânica Marina Silva, agora reforçada com um santo: São Eduardo.

As suas alternativas estratégicas requerem muito cuidado, para se manter na disputa. 

Nesse novo cenário não se pode desprezar o elemento Pastor Everaldo. Ele tinha o papel de evitar o segundo turno, validando os votos dos evangélicos desesperançados com a política. Ele poderá tanto, ser "atropelado" por Marina Silva como tirar votos dela. São relativamente poucos, porém numa disputa mais acirrada entre Aécio e Marina pela ida para o segundo turno, poderá ser relevante. O mais provável é a primeira hipótese e ele volte ao quadro dos nanicos, sem cobertura privilegiada pela Rede Globo.

Os projetos para o país (continuação)

Não há projetos nacionais que definam de forma consistente os rumos para o país, mas há meio-projetos que enfatizam alguns aspectos, de forma diferenciada.

O projeto petista se baseava em três principais pilares: reduzir a desigualdade social, fortalecer o papel do Estado, como o principal mentor do desenvolvimento econõmico e de prestação de serviços, reduzir ou até extirpar a corrupção dentro do setor público.
Enquanto na oposição, combateu os governos por não cuidarem adequadamente do combate à desigualdade social, pretenderem enfraquecer o Estado, principalmente mediante a privatização de empresas estatais, entendidas como patrimônios nacionais e a prática de corrupção dentro da administração pública.
No entanto, para conquista do poder, abdicaram do terceiro pilar, associando-se a supostos corruptos. Conquistado o poder, para consolidar as suas bases políticas, ampliaram as teias da corrupção, algumas desmascaradas. O abandono desse pilar fez com que muitos companheiros se afastassem do partido.
Durante o Governo Lula, foram feitas algumas privatizações de serviços públicos, com a desculpa de que se tratavam de concessões e não de privatizações. Várias empresas estatais, embora de menor porte, foram criadas e expandida a máquia administrativa federal. Já no Governo Dilma, foram ampliadas as concessões, bem sucedidas no setor de energia elétrica, rodoviário e aeroportuário e com problemas nos setores de ferrovias e portos, dada a posição de petista de conceder, mas com muitas restrições e sem garantias jurídicas.
O único pilar mantido, desenvolvido e consolidado foi o da redução da desigualdade social, com a efetivação de diversas ações ou programas, principalmente o bolsa-família, porém efetividade reduzida. Na prática é um projeto com um único pilar.

O projeto de Marina Silva se baseia num pilar central: a sustentabilidade ambiental. Mesmo a redução da desigualdade social como a redução da corrupção na administração pública, entram como pilares auxiliares e não principais. 
Mesmo tendo alcançado 20 milhões de votos no primeiro turno de 2010, é um projeto derrotado dentro do Governo Federal. A importância da sustentabilidade ambiental caiu com o Governo Dilma, apesar dos focos de resistência. Já na sociedade a cultura ambientalista cresceu, principalmente entre os jovens urbanos. Essa migração de adeptos mudou o foco, acompanhando a migração internacional. A preocupação é menos com o verde, com a floresta e mais com a emissão dos gases de efeito estufa, supostamente os principais responsáveis pelas mudanças climáticas. Isso rebate em colocações sobre as questões urbanas, principalmente o combate ao uso excessivo do automóvel.

O principal pilar do projeto pessedebista é de natureza macroeconômica. Presspõe que com a estabilidade monetária, o setor privado se encarregará de promover o desenvolvimento econômico.
Esse projeto foi implantado por Fernando Henrique Cardoso, inicialmente como Ministro da Fazenda, a partir do qual conquistou dois mandatos presidenciais. Foi mantida, apesar de brechas por Lula e abandonada, ainda que não inteiramente, por Dilma, comprometendo o crescimento e fazendo retornar a inflação. 
Esse projeto é combatido porque - supostamente - pioraria a desigualdade social, gerando desemprego e só beneficiaria uma pequena parcela da população: a mais rica.
Esse projeto propõe ainda a redução do tamanho do Estado e a maior participação privada nos serviços públicos. A oposição acusa essa proposta como a entrega ao privado do patrimônio nacional.

Todos os projetos ou "semiprojetos" nacionais tem alguns pontos em comum, nos discursos: educação e saude de qualidade estão em todos, mas não há clareza sobre o que é essa qualidade e como implantar.

Vamos continuar refletindo sobre esses semiprojetos.

domingo, 17 de agosto de 2014

Os projetos para o país

Continuando a questão do legado de Eduardo Campos, o excandidato não tinha um projeto para o país, mas apenas um programa de Governo. Esse legado ficou para Marina Silva, que teve influência na sua formulação. O projeto de Marina é mais focado e consistente. Mas, por isso mesmo, mais restrito.
O projeto real de Eduardo Campos tinha suporte na sua atuação como Governador de Pernambuco. A eficácia governamental. É o mesmo ponto forte de Aécio Neves, mas que tem como contrapartida a baixa eficácia da ação pública de Fernando Henrique Cardoso. É o ponto fraco de Dilma, em contraposição à eficácia do Governo de Lula.
Lula, apesar do seu tino político, envolveu-se num erro, de graves consequências partidárias.
Ele creditou o sucesso do seu Governo à suposta competência gerencial de Dilma. O povo acreditou e a elegeu.
A decantada competência gerencial de Dilma, resultou num Governo ineficiente, ainda que eficácia herdada dos Governos Lula. O único programa próprio de Dilma, o Mais Médicos, apesar de resultados periféricos não mudou a imagem da má qualidade dos serviços de saude brasileiros.
Dilma tem um estilo gerencial ultrapassado, baseado na truculência ("manda quem pode, obedece quem tem juizo") e o sucesso de Lula decorria do modelo "bate e assopra". Ele articulava politicamente e encarregava Dilma de cobrar a execução das ações. Sem capacidade de articulação política, os demais faziam de conta que obedeciam, mas não efetivavam as suas ordens. Ou cobravam muito caro.
O principal componente do projeto do ou para o país, de Dilma é do PT e de Lula: reduzir a desigualdade social. Nesta questão ela procurou dar continuidade, sustentando e ampliando o bolsa família, mas fracassou na redução do déficit habitacional. Por mais que mostre números da produção de habitação, os que não foram atendidos ainda são em maior número. E com menor esperança de atendimento, a menos que se envolvam nos chamados "movimentos sociais".
A tentativa de mudar o modelo econômico e promover a reindustrialização, através do capitalismo do Estado, fracassou ("lamentavelmente, a meu ver"). Assim como a estratégia dos "campeões nacionais", que eu - pessoalmente - sempre defendi. As políticas setoriais (também caracterizadas como políticas industriais) fracassaram e ela teve que voltar, a contragosto, ao "detestado" modelo "néo-liberal". Esse contragosto se reflete em condições que inviabilizam a sua implantação. O resultado efetivo é uma forte insatisfação da opinião publicada, ainda que mantendo o apoio das bases mais pobres, beneficiadas pelos programas sociais.
Lula trabalhava com a perspectiva de que para redistribuir precisava fazer a economia crescer. Para isso estabeleceu acordos tácitos com o mercado (ou o setor privado) que promovia o crescimento da economia e da arrecadação federal e o Governo promovia a redistribuição da renda gerada pela economia e captada pelo Tesouro Federal.
Dilma segue a idéia de redistribuir o que já tem, o que significa no Brasil redistribuir a pobreza, sem conseguir tirar da riqueza.

O projeto de Aécio para o país é o retorno do modelo "néo liberal", com retomada do papel principal do setor privado, baseado na segurança jurídica e reduzir o tamanho do Estado, que deve ser eficaz na sua atuação, como foi com ele em Minas Gerais, com Eduardo Campos em Pernambuco e vinha sendo com Eduardo Paes, na cidade do Rio de Janeiro. Todos os que foram reeleitos com grande votação proporcional foi por conta da eficácia do seu primeiro governo.
Esta visão de eficácia do Estado é uma condição instrumental do projeto nacional, mas essencial para que o Governo preste bons serviços. 
O essencial do projeto nacional é a escolha prioritária dos serviços que o Estado deve prestar.
Em alguns casos não basta a eficácia. É preciso chegar à efetividade, medida pela percepção da população de melhoria da sua vida. 

O legado de Eduardo Campos a curto prazo é eleitoral, mas esse irá se esvair para as próximas eleições, com exceção de Pernambuco, onde ele se tornará um mito e sua família será sempre uma força política importante. A curto prazo o elemento emocional poderá abalar o favoritismo de Armando Monteiro, Haverá ainda a transferência de votos para Marina Silva em Pernambuco.
Mas o seu principal ativo é de natureza pessoal e isso só se transfere pelo exemplo pessoal.Reunir num político todas as qualidades que ele tinha (também com alguns defeitos) não será fácil, mas não impossível. 

De toda forma é uma perda enorme, a abertura de um grande vácuo e um profundo atraso na transformação deste país que ele certamente operaria. Se não a partir de 2015, seguramente a partir de 2019. 

O futuro do Brasil vai atrasar novamente.

(cont)

A falta do herdeiro

Com a trágica morte de Eduardo Campos, ainda sob grande impacto emocional, discute-se o seu legado, mas pouco se apresenta os seus herdeiros. 
Marina Silva é a herdeira da candidatura à Presidência em 2014, compromete-se a executar o programa da coligação, o que não é apenas uma parte pequena e de curto prazo do seu legado.
Marina Silva, mesmo que conquiste a Presidência dificilmente conseguirá fazer o que Eduardo Campos poderia fazer. E se não ganhar agora, poderá ser menos competitiva em 2018.

O ativo de Eduardo Campos, que se perde com a sua morte, tem características muito pessoais, que foi construido e desenvolvido ao longo de mais de dez anos.

Uma das principais característica é um governo, realizado com competência administrativa e com pactos entre os diversos agentes, buscando sempre o consenso, com muita paciência.

Na prática ele usado o método japonês de gestão, com amplo processo participativo de discussões, trabalhando com os dissensos, e a tomada de decisão que tinha o apoio unânime ou de grande maioria. 

Não abdicava do poder de decisão, mas buscava antes sempre formar consensos. 

Aécio Neves, apesar de mineiro, não tem a paciência suficiente para aguentar as malcriações radicais dos petistas. 

Marina Silva é voluntariosa e tende a querer impor as suas posições. Deve ter aprendido muito na convivência com Eduardo Campos, mas não conseguirá implantar muito do que todos acham necessário (desde que não tire poderes e vantagens específicas individuais ou grupais).

Do ponto de vista de ação gerencial, Marina Silva se aproxima mais como herdeira de Dilma, do que de Eduardo Campos.

No campo operacional da politica, tanto Marina Silva como Aécio, se vitoriosos irão tirar o poder das "velhas raposas", todas muito marcadas. As circunstâncias parecem mais favoráveis. Sarney se aposentou e não deixará sucessores políticos. Perderá no Maranhão e no Amapá. Com Marina ou com Aécio perderá todos os cargos de importância eleitoral dentro do Executivo. Manterá ainda por algum tempo influência no Judiciário, mas o apoio se pulverizará em pouco tempo, seja por aposentadoria de magistrados ou por infidelidade.  
Collor tenta se manter no Senado, mas com a candidatura de Marina Silva, Heloisa Helena poderá ficar mais competitiva. Marina Silva precisa de uma liderança de sua confiança no Senado e a sua melhor opção é Heloisa Helena. Deverá atuar no sentido de elegê-la, para o que deverá ter o apoio de Aécio Neves, também interessado em afastar Collor do Senado. 
Renan Calheiros ainda tem garantido mais 4 anos, mas deverá perder a condição de interlocutor privilegiado com o Executivo. O processo de poder é interativo. A interlocução privilegiada gera o apoio do senadores que o utilizam como representante para viabilizar os seus pleitos. O apoio dos senadores, tendo a contrapartida de votações segundo os interesses do Governo, permite a interlocução privilegiada. O Executivo sempre precisa dessas lideranças que há muitos anos são exercidas por Sarney, Renan e Romero Jucá.
Aécio trabalha com a eleição de José Serra, para a sua liderança, mas precisará uma composição com o PMDB para a presidência da mesa. Mas não será com Renan Calheiros.


O fato real é que o Brasil se urbanizou e se concentrou, com um grande volume da população e dos eleitores, concentrados nas grandes cidades. Porém a divisão politica desse eleitorado urbano dá oportunidade para que os eleitorado coeso do meio rural e das pequenas cidades, que na realidade, são os núcleos urbanos da atividade rural, decida as eleições orbitando em torno de Lula, ainda com um grande ativo político e eleitoral.

Quem quer que vença Dilma terá que enfrentar Lula, na liderança da oposição, empurrado pelos petistas para a volta ao poder nacional em 2018.

O ativo político de curto prazo é uma herança pouco significativa. A intenção de transformação, faz parte também do patrimônio político de Aécio Neves, como de Marina Silva.

O legado de Eduardo Campos é a perspectiva futura dentro de um processo de médio prazo, 




Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...