domingo, 17 de agosto de 2014

Os projetos para o país

Continuando a questão do legado de Eduardo Campos, o excandidato não tinha um projeto para o país, mas apenas um programa de Governo. Esse legado ficou para Marina Silva, que teve influência na sua formulação. O projeto de Marina é mais focado e consistente. Mas, por isso mesmo, mais restrito.
O projeto real de Eduardo Campos tinha suporte na sua atuação como Governador de Pernambuco. A eficácia governamental. É o mesmo ponto forte de Aécio Neves, mas que tem como contrapartida a baixa eficácia da ação pública de Fernando Henrique Cardoso. É o ponto fraco de Dilma, em contraposição à eficácia do Governo de Lula.
Lula, apesar do seu tino político, envolveu-se num erro, de graves consequências partidárias.
Ele creditou o sucesso do seu Governo à suposta competência gerencial de Dilma. O povo acreditou e a elegeu.
A decantada competência gerencial de Dilma, resultou num Governo ineficiente, ainda que eficácia herdada dos Governos Lula. O único programa próprio de Dilma, o Mais Médicos, apesar de resultados periféricos não mudou a imagem da má qualidade dos serviços de saude brasileiros.
Dilma tem um estilo gerencial ultrapassado, baseado na truculência ("manda quem pode, obedece quem tem juizo") e o sucesso de Lula decorria do modelo "bate e assopra". Ele articulava politicamente e encarregava Dilma de cobrar a execução das ações. Sem capacidade de articulação política, os demais faziam de conta que obedeciam, mas não efetivavam as suas ordens. Ou cobravam muito caro.
O principal componente do projeto do ou para o país, de Dilma é do PT e de Lula: reduzir a desigualdade social. Nesta questão ela procurou dar continuidade, sustentando e ampliando o bolsa família, mas fracassou na redução do déficit habitacional. Por mais que mostre números da produção de habitação, os que não foram atendidos ainda são em maior número. E com menor esperança de atendimento, a menos que se envolvam nos chamados "movimentos sociais".
A tentativa de mudar o modelo econômico e promover a reindustrialização, através do capitalismo do Estado, fracassou ("lamentavelmente, a meu ver"). Assim como a estratégia dos "campeões nacionais", que eu - pessoalmente - sempre defendi. As políticas setoriais (também caracterizadas como políticas industriais) fracassaram e ela teve que voltar, a contragosto, ao "detestado" modelo "néo-liberal". Esse contragosto se reflete em condições que inviabilizam a sua implantação. O resultado efetivo é uma forte insatisfação da opinião publicada, ainda que mantendo o apoio das bases mais pobres, beneficiadas pelos programas sociais.
Lula trabalhava com a perspectiva de que para redistribuir precisava fazer a economia crescer. Para isso estabeleceu acordos tácitos com o mercado (ou o setor privado) que promovia o crescimento da economia e da arrecadação federal e o Governo promovia a redistribuição da renda gerada pela economia e captada pelo Tesouro Federal.
Dilma segue a idéia de redistribuir o que já tem, o que significa no Brasil redistribuir a pobreza, sem conseguir tirar da riqueza.

O projeto de Aécio para o país é o retorno do modelo "néo liberal", com retomada do papel principal do setor privado, baseado na segurança jurídica e reduzir o tamanho do Estado, que deve ser eficaz na sua atuação, como foi com ele em Minas Gerais, com Eduardo Campos em Pernambuco e vinha sendo com Eduardo Paes, na cidade do Rio de Janeiro. Todos os que foram reeleitos com grande votação proporcional foi por conta da eficácia do seu primeiro governo.
Esta visão de eficácia do Estado é uma condição instrumental do projeto nacional, mas essencial para que o Governo preste bons serviços. 
O essencial do projeto nacional é a escolha prioritária dos serviços que o Estado deve prestar.
Em alguns casos não basta a eficácia. É preciso chegar à efetividade, medida pela percepção da população de melhoria da sua vida. 

O legado de Eduardo Campos a curto prazo é eleitoral, mas esse irá se esvair para as próximas eleições, com exceção de Pernambuco, onde ele se tornará um mito e sua família será sempre uma força política importante. A curto prazo o elemento emocional poderá abalar o favoritismo de Armando Monteiro, Haverá ainda a transferência de votos para Marina Silva em Pernambuco.
Mas o seu principal ativo é de natureza pessoal e isso só se transfere pelo exemplo pessoal.Reunir num político todas as qualidades que ele tinha (também com alguns defeitos) não será fácil, mas não impossível. 

De toda forma é uma perda enorme, a abertura de um grande vácuo e um profundo atraso na transformação deste país que ele certamente operaria. Se não a partir de 2015, seguramente a partir de 2019. 

O futuro do Brasil vai atrasar novamente.

(cont)

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