segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Inteligência Estratégica - o que vem a ser?


Inteligência, estratégia são expressões cada vez mais comuns. E usados indevidamente. Volta e meia temos que refletir sobre o que significa o que estamos fazendo, supondo que estamos usando os termos no sentido correto.
Em primeiro lugar, o estrategista nunca pode ter um pensamento linear. Definir ou perceber um objetivo, traçar um rumo de como alcançá-lo e sair desembestado pelo mesmo, avaliando que no caminho terá obstáculos (ou ameaças) e facilidades (oportunidades) e que tem forças suficientes para superá-los ou usá-los para alcançar o objetivo.
No entanto, essa é a visão ou entendimento predominante do que seja um pensamento ou ação estratégica. É a perspectiva estratégica do "super-homem", ou do "He-man": "eu tenho a força".
O que está implícito nessa visão e em tudo que trata de estratégia é que envolve a participação do outro, ou dos outros. O obstáculo ou ameaça pode ser de um adversário e a oportunidade de um aliado. Que pode trair. 
Significa que o estratégico tem implicito o confronto, uma guerra, em que os protagonistas nem sempre agirão como esperado, ou segundo a ética que o estrategista prega ou acredita.
A inteligência estratégica pode estar a serviço de um estrategista ou ser uma análise de um observador externo, sem um envolvimento direto com os confrontos e os contendores. Mesmo sendo apenas um "espectador", a sua avaliação jamais será inteiramente isenta. É uma pessoa humana sujeita a emoções, a preferências, aos seus valores. Portanto não esperem aqui intepretações inteiramente isentas, sem partidos, porém a tentativa é sempre de interpretações das perspectivas e ações das partes e não apenas de uma. A contrapartida é que a visão aqui é que não acredita que ninguém tem uma posição inteiramente isenta e está defendendo ou usando as suas visões ou interesses particulares. E que jamais haverá unanimidade. O mundo humano será sempre de confrontos. Com convivência pacífica, ou não.
Um dos confrontos que está na ordem do dia é o programa "Mais médicos", empreendida pela Presidente da República, sob muitas críticas de um lado e de apoio de aliados. O objetivo aqui, é de interpretação da contenda, sem participação direta em qualquer das partes.
A inteligência estratégica começa com uma avaliação dos objetivos declarados pelo contendor Governo. Esses seriam, a resolução de problemas da saúde da população, prejudicada pela falta de médicos. A questão principal não é a carência global, porém a má distribuição, com a concentração dos profissionais nos centros dos centros urbanos e a carência nas suas periferias, assim como em milhares de comunidades semi-urbanas, por todo o Brasil afora.
O problema de atendimento à saúde dessas populações periféricas ou mal assistidas existe de fato, apesar da maioria dos brasileiros desconhecerem essa realidade. Só são colocadas diante dela quando a mídia a traz, em geral, de forma trágica.
Mas o objetivo principal do Governo não é resolver o problema, mas transformar a solução em ativos eleitorais. Isso nos leva à questão seguinte: por que a Presidente insiste tanto nesse programa? A interpretação mais plausível é a mesma que domina as ações governamentais nos últimos anos: é uma prioridade de grandes segmentos da população, vale dizer dos eleitores, detectada pelas pesquisas do marketing político.

Os olhos do político brilham quando o marketeiro político chega com o resultado de pesquisas e lhe diz: "esse é o maior problema reclamado pela população do segmento x. Se você resolver, está reeleito". Ou diz o contrário: "se você não atacar essa questão, está "ferrado"".

A doença foi constatada e as suas causas e repercussões avaliadas: os médicos não querem ir trabalhar nas periferias das cidades, assim como nos grotões. 
A solução levantada é a importação de médicos cubanos, que foram formados para a atenção básica à saude, sem recursos tecnológicos. Baseiam-se na avaliação pessoal e no uso de medicamentos naturais. No interior do país, a base seriam os indígenas, que não tratavam os seus doentes com remédios químicos. A morbidade é alta, mas o objetivo mercadológico é de reduzí-lo e gerar a imagem de que o Governo está cuidadando dessa população. 
Os médicos cubanos tem a competência que o Governo precisa, para enfrentar o problema. Porém dados os preconceitos de natureza ideológica, ao que - na realidade - se somaram os preconceitos raciais e sociais, era preciso gerar alternativas. Dai a idéia de importar médicos de outros paises. Trazer para o Brasil, um suposto excedente de profissionais de paises em crise econômica. Só que esses não vão trabalhar nas comunidades perdidas do país. Vão trabalhar nas cidades, onde existem carências de pessoas.
Essa foi, tipicamente, uma ação estratégica. Quando se enfrenta um obstáculo, a alternativa é criar um objetivo altrernativo, às vezes falso, para desviar a atenção. 
A estratégica principal do programa é importar os médicos cubanos. A importação dos demais médicos é "cortina de fumaça". ou melhor uma ação menor para atender às contestações dos oponentes. Promove-se então a revalidação dos diplomas dos formados no exterior. Isso para manter a ação de trazer médicos cubanos sem a revalidação. 
Aparentemente, a estratégia não deu certo. A opinião publicada, insuflada pela comunidade médica "não engoliu" e mantém o fogo cerrado sobre os médicos cubanos. Com isso os oponentes terão os Ministérios Públicos como aliados, que poderão inviabilizar juridicamente o programa. A avaliação do Governo em relação aos oponentes foi subestimada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...