sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Miopia num mundo globalizado


Há um grande consenso dentro da opinião publicada de que estamos num mundo globalizado. Mas ao tratar do planejamento ou apenas da reflexão sobre o futuro da cidade poucos avaliam o seu papel nesse  mundo.
Ter um papel no mundo significa estar conectado fisica ou virtualmente com outras partes do mundo, sendo a cidade tanto mais globalizada quanto for a quantidade (e também a qualidade) dessas conexões.
Pode ser a base de uma produção industrial de âmbito mundial, como de serviços ou de idéias. Pode ser um ponto logístico relevante, dentro de um grande fluxo mundial.
Mas ao discutir o futuro da cidade predominam as visões provincianas, focadas no desenho físico da cidade e a da (i)mobilidade, com a perspectiva do dia-a-dia ou do curto prazo.
Quais são as oportunidades de Fortaleza, no Ceará, ser um lugar no mundo? Quais seriam as suas vocações ou vantagens competitivas?
Neste momento (06/09/2013) estou em Fortaleza, no Hotel Gran  Marquise, instado a sair dentro do programado, sem qualquer possibilidade de extensão, porque chega a Beyoncée e sua trupe, assim como turistas que vem para vê-la, no Castelão, no próximo domingo.
Com a nova arena, Fortaleza já se tornou um ponto importante para os shows internacionais. Já recebeu Paul McCartney e agora Beyoncée. Pela cidade também passou a Jennifer Lopes.
Ser uma das poucas cidades escolhidas para os eventos internacionais, torna Fortaleza, um ponto conhecido no mundo, de forma sustentável?
O que a cidade ganha com isso? Ou, de outro lado, o que pode perder?
Esses shows são forma de captação da renda local. Os que pagam os ingressos, destinam uma parte da sua renda pessoal, para formar um "bolo de dinheiro" do qual a maior parte vai para o exterior. É uma forma de importação.eiro
A hotelaria e a gastronomia local, capta uma parte dessa renda e ainda ganha com a vinda de turistas de outras localidade que virão para assistí-la. Nesse caso, economicamente significa uma exportação. Para a cidade o balanço será positivo. Se os turistas forem todos brasileiros, haverá uma compensação regional, com resultado nacional negativo. Os promotores levarão mais dinheiro do país do que trarão.
Mas a repercussão internacional da presença de uma pop star pode gerar o interesse de fans e de outros pela cidade. Da mesma forma que jogos da Copa das Confederações, já ocorridos, e da Copa do Mundo, em 2014, podem gerar.
Os eventos internacionais são uma forma de tornar a cidade mais conhecida internacionalmente. Mas o que ela ganha com isso?
Ganhará se souber se transformar num significativo polo de atração para o turismo internacional. Não apenas dos turistas para os eventos, que são esporádicos, mas de fluxos mais permanentes.
O que então, Fortaleza tem a oferecer de condições competitivas aos turistas internacionais. Que turistas, de que origem, com que recursos?
Para o show de Beyoncée, Fortaleza poderia receber turistas da Venezuela, Colômbia e de outros paises vizinhos ao Norte, mas essa demanda deverá estar prejudicada por questões logísticas. Esses turistas terão que se deslocar até Brasilia, São Paulo ou Rio de Janeiro, para chegar a Fortaleza.
Fortaleza tem uma excepcional posição geográfica em relação ao grandes centros emissores  do turismo internacional, mas não transforma essa vantagem teórica em vantagem real: o que importa é ser um ponto logístico relevante.
Não adiante reformar e embelezar o aeroporto, sem ter voos, sejam nacionais como internacionais.
Não adianta estar próxima da Europa, sem porto adequado.
Não adianta estar próxima ao Caribe se as  operadoras não estendem as suas rotas até Fortaleza.
Fortaleza e entorno tem belezas naturais. Mas quais são os seus diferenciais em relação a outros litorais?
O Ceará é o principal ponto de conexão dos cabos submarinos que permitem a conexão internacional de dados, mas não conseguiu montar um polo tecnológico, perdendo a oportunidade para o Recife.
São apenas algumas questões para reflexão e avaliação.
O futuro de Fortaleza não está na resolução de problemas domésticos, mas de uma opção fundamental: continuar sendo apenas, embora importante, ponto turístico nacional ou buscar ser um ponto importante do turismo internacional.
E apenas para registro, para reflexões posteriores: que vantagens o Ceará poderá auferir do sol e do vento, como fontes de energia?

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