sábado, 14 de setembro de 2013

Os maus resultados da pressa

A menos de um ano da Copa 2014, as obras de mobilidade urbana estão inconclusas,  atrasadas e vão custar muito mais que o estimado originalmente.
Situação prevista, alertada, mas recorrente, por equívocos de percepção e de soluções.
O Brasil quer ser um país de primeiro mundo, pretendia realizar a melhor Copa de todos os tempos, mas ao pretender avançar no sentido da modernidade, derrapa e dá passos para trás. 
O equívoco e ilusão do RDC - Regime Diferenciado de Contratações é um caso típico, contemplando avanços e melhoras na contratação de obras públicas, mas comprometido por um vício de origem: instituído e ampliado para apressar as contratações, sem levar em conta a pressa na conclusão.
O mundo desenvolvido quando tem datas inadiáveis para concluir e iniciar a operação de um empreendimento, investe pesadamente no planejamento e no projeto. 
Antes de iniciar uma obra deve estar com tudo previsto. Tudo que interfere na execução da obra, seja de engenharia, como social, ambiental, financeiro e tudo o mais: tudo, e em detalhes.
De tal forma que quando a obra começa, não há percalços não previstos, ela pode fluir livremente e ser concluída dentro dos prazos, com o custo e qualidades previstas.
Embora não fossem novas, a NASA quando foi instada a lançar o homem à lua, antes dos soviéticos, desenvolveu um conjunto de instrumentos que hoje são triviais no planejamento de empreendimentos e obras: o PERT/ CPM. 
A grande inovação foi desenvolver instrumentos de programação do fim para o começo: a partir da data limite, volta-se para trás para localizar os caminhos críticos, as incertezas, para atuar sobre os mesmos e minimizá-las. Ter soluções para resolver os caminhos críticos e reduzir as incertezas.
A partir dessa concepção "do fim para o começo" foram desenvolvidos diversos programas comerciais, alguns bem complexos e outros simplificados ou com processos e fases automatizadas para uso de leigos: o mais popular é o "project" da Microsoft. 
Mas o Brasil, o "país do jeitinho", ou "no final dá tudo certo", não levou a sério.
No final de 2007, quando o Brasil foi homologado sede da Copa 2014 e a FIFA, se fiando nas promessas e compromissos de Lula, representando o Brasil, fixou o prazo do final de 2012 para que tudo estivesse pronto para ser testado na Copa das Confederações, em 2013, e nada desse errado em 2014, o "Brasil" foi tomar as suas "cervejinhas" para comemorar e foram "todos para a praia" e depois dormir, porque havia tempo de sobra: cinco anos antes. O Brasil continuava acreditando que JK em cinco anos fez cinquenta. Já naquela época, ainda que menos desenvolvido, o marketing político dominava o imaginário popular.
"Pode deixar, Dona Fifa, o Brasil é o país do futebol e nóis vai fazer a mior Copa de todos os tempos".
O que ocorreu não foi o esperado: a opinião publicada está contra os gastos públicos com a Copa. Foi às ruas em junho de 2013 e irá de novo em 2014. 
A Presidente, caso vá, será vaiada em pleno Itaquerão, juntamente com Blatter em junho de 2014.
O imaginário popular, contrariando o marketing político,  já firmou a idéia de que a Copa no Brasil vai ser financiada com recursos públicos e só a FIFA vai ganhar com isso. 
Não se acredita nos retornos econômicos para o Brasil, depois de todos os bilhões gastos, mesmo com o Governo gastando mais milhões, com supostos estudos técnicos, para tentar demonstrar o quanto o Brasil irá ganhar com a Copa.
O Governo está tentando mostrar que não está colocando recursos públicos nos estádios, o que tudo demonstra o contrário, e que os recursos são destinados às obras de mobilidade urbana, que serão o grande legado da Copa.
O mote do legado é uma tentativa de mitigar os atrasos. As obras deveriam ficar prontas para a Copa, embora a maioria pouco tenha a ver com a Copa. Mas essa foi usada para justificar aceleração de processos, como a adoção de regimes diferenciados de contratação, e não vão ficar prontas. Então alega-se que são legados e não precisam estar prontas em junho de 2014. 
E vão custar muito mais. E a versão corrente é que decorre de contratos superfaturados para alimentar a corrupção. Ainda que não comprovados (ainda) é o que domina o imaginário popular. O grande alvo do marketing político que, nesse caso, só tem obtidos inversos ao desejado.

Citando apenas um caso, mas que é geral.
Das 10 obras de mobilidade urbana de Porto Alegre,  pelo menos 7 deveriam estar sendo ou já inauguradas agora neste mês de setembro de 2013, mas foram jogadas para maio de 2014, porque ainda estão em andamento e mesmo nessa data algumas não estarão prontas. 
E não será por questões de engenharia, tampouco ambientais. As novas estimativas de valor são praticamente o dobro das iniciais e, segundo corre nas águas do Guaiba, a Prefeitura está sem caixa até para as contrapartidas aos financiamentos disponibilizados pelo Governo Federal.
O Brasil vai organizar bem a Copa, apesar de não contar mais com o total apoio popular e ter que enfrentar manifestações contrárias. E "se Deus quiser", porque até o Papa Francisco aceita que "Deus é Brasileiro" seremos hexa campeões do mundo. 
Mas, ao contrário do esperado e do desejado, o Mundo não ficará maravilhado com a vitrines que o Brasil dispõe e pretendia mostrar. O mundo ficará conhecendo melhor as nossa vidraças, as nossas mazelas e irá ironizar o "jeitinho brasileiro". 
O legado final, infelizmente, será negativo. 
O Brasil aprenderá e saberá corrigir os erros para 2016?





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