sábado, 18 de outubro de 2014

A refém

Dilma Rousseff é uma pessoa de forte personalidade, voluntariosa, séria e que deve ser respeitada. É absolutamente convicta sobre a necessidade de "faxinar" a administração pública dos antros de corrupção. Isso é inegável, mas ela não tem a força que gostaria de ter para levar a cabo as suas convicções pessoais. 
Quando já na Presidência de República tentou, conseguiu dar os primeiros passos, mas logo foi cerceada e teve que parar e em alguns casos recuar. 

O que a segura? medo, cumplicidade? Não.

O que a faz conceder é o seu alinhamento com um projeto de nação, em que ela pessoalmente acredita, com convicção ainda maior e que toma como uma missão de vida. A visão (ou sentido) desse projeto é a igualdade social. Envolve a erradicação total da miséria e da fome, a eliminação da pobreza, a ascensão dos pobres a uma classe média, incorporada ao mercado de consumo. 

Acredita firmemente, com fundamentos teóricos e reais, de que essa ascensão econômica da pobreza (que é rica) sustenta o crescimento econômico, superando as crises e sem os malefícios sociais que atribui ao modelo neoliberal.


Não é um projeto eleitoreiro e circunstancial, tampouco uma novidade. No Brasil, sua formulação e implantação (depois interrompida) tem mais de meio século. Estava morto e insepulto e Dilma, como Presidente da República, por convicção e missão tentou infrutiferamente ressuscitar. 

Para tentar impor o modelo em que ela, no seu mais íntimo, acredita e luta por ele (desde sempre), correndo riscos pessoais, que resultaram na sua juventude, em torturas, assume que "os fins justificam os meios". Se na sua juventude idealista, esses meios eram ir para a luta armada - como efetivamente foi - atualmente são às concessões à ética, para assegurar a governabilidade e a sustentação dos programas sociais.

Ela se julga altamente poderosa, mas na prática está sendo "inocente útil". O foi nos anos sessenta, acabando por ser presa e torturada. O foi durante o Governo Lula, colocada na Presidência do Conselho de Administração da Petrobras, para dar uma imagem de seriedade e firmeza, encobrindo o mar de lama que se formava abaixo dela. Ela percebia, mas era orientada para não ver. E se quisesse ver, recebida "informações incorretas e erradas". Ela pode ter vários defeitos, mas "burra" nunca foi. Percebia mais, era orientada para "olhar para o outro lado".

Continuou sendo inocente útil, quando designada como o "poste" para ser eleita e assumir a Presidência da República. Ela, por convicções pessoais, não entraria no "esquema". Esse tinha que ser mantido em paralelo, mas com a cobertura institucional dela.

Conseguiu algumas coisas que, provavelmente, eram e são prioridades dela. Atacou os dois antros maiores: o DNIT e a Petrobras. 

Promoveu a cúpula do Ministério dos Transportes e do DNIT, entregue a PR. Mas não fez a "faxina" completa. Ao final, apenas trocou a equipe.

Na Petrobras, buscou estancar a continuidade do "esquema" que ela percebia existir, com a mudança da Diretoria, colocando a sua companheira Graça Foster na Presidência e na Diretoria Internacional e trocando os outros diretores que comandavam o esquema.  Mas não conseguiu evitar a emergência do que ocorreu antes da sua faxina, por estar atrelado aos processos de lavagem de dinheiro.

Ela se considera mais poderosa do que efetivamente é. Na prática é uma refém. Preenche um lugar para encobrir o que os "chefões" querem fazer, nem sempre de forma ética.

A candidata, aparentemente, reagiu e já deu o recado. Vou continuar na luta, mas reeleita "vai ser do meu jeito". Isso lhe dá uma força pessoal, uma convicção para enfrentar a campanha. Está sendo verdadeira quando afirma que combaterá "sem tréguas" a corrupção. 


Mas na sua solidão presidencial, apenas na companhia do travesseiro deve ser tomada pela dúvida: "o que não consegui fazer, para acabar com a corrupção?". Por que não consigo fazer?


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...