Dilma foi eleita com uma margem da ordem de 3,5 milhões de votos, em âmbito nacional. Embora relativamente pequena, mais que suficiente para não deixar qualquer dúvida sobre a sua retumbante vitória.
A reeleição pode ser creditada a duas grandes vitórias regionais, que anularam as derrotas menores em outras regiões (exceto São Paulo): Pernambuco e Minas Gerais.
Em Pernambuco ela perdeu no primeiro turno para Marina Silva. Aécio teve uma votação pífia. Sem Marina, no segundo turno, Aécio buscou o apoio dela e da família de Eduardo Campos. Mas ai entrou em cena Lula e garantiu a transferência dos votos de Marina para Dilma. Em Pernambuco ocorreu a maior das diferenças, dentro dos Estados do Nordeste, a favor de Dilma. Lula anulou o apoio da família Arraes-Campos.
Pernambuco, juntamente com a Bahia e o Ceará tem os maiores colégios eleitorais e está carente de lideranças fortes. Na Bahia Jaques Wagner tem o comando e demonstrou competência ao eleger o seu sucessor. No Ceará os irmãos Gomes dominam. Neste, Tasso Jereissatti ainda tem alguma força, mas é só. Na Bahia o PSDB não tem força. Está aliado a ACM Neto que ainda tem os resquícios eleitorais do avó.
Pernambuco terá que reconstruir o seu quadro de lideranças e a família Arraes-Campos terá que cuidar muito bem do seu posicionamento nos próximos 4 anos, para garantir a manutenção do Governo Estadual e enfrentar Lula (se for o caso). Tem novas lideranças, mas sem projeção nacional. Paulo Campos e Geraldo Júlio podem emergir nacionalmente. Mas a perspectiva futura é João Campos.
Aécio terá que promover a reconquista de Minas Gerais e ter um candidato forte para o Governo do Estado, para concorrer com Fernando Pimentel. Poderá ser Anastasia, que já foi eleito Governador uma vez e agora se elegeu Senador. Mas precisará avaliar muito bem as razões da sua derrota em Minas Gerais, o que levou à derrota geral.
E ai não foi Lula, nem Dilma. O responsável pela derrota foi ele mesmo. Por erros de diagnostico e de estratégias. Por autossuficiência, abandonando a campanha em Minas, para se dedicar a São Paulo. Em São Paulo ele tinha bons apoios, em Minas não.
Não percebeu a estratégia bem formulada por João Santana e executada por Dilma de desconstrução da sua imagem em Minas Gerais. A partir do episódio do aeroporto de Claudio, toda estratégia de desconstrução foi vender a imagem de que o povo mineiro fora enganado: ao aprovar e reelegê-lo Governador e depois Senador. Ele não seria o que queria mostrar. E ai ele mesmo ajudou a estratégia adversária ao colocar gravações de Dilma o elogiando. Ela disse que foi por generosidade e ela mesmo foi enganada. Deixando implícito que os demais mineiros também o tinham sido. E já teriam descoberto isso no primeiro turno.
Quando ela insistiu em levar as questões de Minas para os debates, não era porque queria disputar o Governo de Minas, mas porque queria conquistar os votos dos mineiros para Presidência.
Procurou grudar (e conseguiu) a imagem da velha política, voltada ao nepotismo. A família é um grande valor cultural do mineiro. Mas o seu favorecimento quando governo vem se tornando um fator negativo. Aécio não percebeu mudança. Sarney sim, embora também tenha sido derrotado no Maranhão, mas manteve-se no Amapá.
Aécio e sua turma não perceberam a estratégia de Dilma/ Santana e ai perderam a eleição. Precisavam de uma vantagem de 2 milhões de votos em Minas Gerais. Perderam por 500 mil. Invertendo esses e mais 1,5 que não conseguiram, teriam uma vantagem numérica de 4 milhões (pois cada voto a favor e também um a menos para o adversário), suficiente para vencer.
Aécio perdeu por erro estratégico, apesar de todos os alertas. Não pode por a culpa em ninguém, a não ser nele mesmo.
Mas como bom mineiro tem que acreditar que se perdeu o trem, vai esperar pelo próximo que vai passar e subir nesse.
Ele será o candidato natural do PSDB em 2018 ou 2019. 2018 se for mantida a reeleição e 2019 se alterado o regime. O mais provável é a eleição em 2018, sem direito à reeleição.
O PT não tem muitas alternativas e irá buscar Lula, para o projeto de poder dos 20 anos. Mas ambos terão que enfrentar Marina Silva e eventual nova liderança emergente.
O PSDB, mais uma vez derrotado, terá que se reorganizar em torno das eleições municipais de 2016. Em Minas Gerais são mais de 800 Municípios, e sem formar uma boa base municipal perderá de novo.
O PSDB caiu na armadilha estratégica do PT e de João Santana. Eles fizeram um grande fogo de barragem para que o PSDB focasse o Sudeste e acabassem por desprezar o eleitorado do Nordeste, conquistado facilmente, pelas hostes petistas.
E mais, que Aécio descuidasse de Minas, certo de que levaria "com os pés nas costas", não percebendo claramente o processo de desconstrução de uma imagem de confiabilidade. As respostas de Aécio foram burocráticas, e não estratégicas.
Dilma ganhou em Minas e com isso a eleição nacional.
Foi mais um caso de derrota do outro do que a sua vitória.
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