sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Uma luta sangrenta vencida por pontos

Dilma e Aécio protagonizaram, no segundo debate direto entre eles, uma luta ainda mais violenta, terminando em empate por pontos, apesar de algumas quedas. 

Dilma mostrou-se mais preparada estrategicamente e Aécio, ao contrário, despreparado para enfrentar questões onde entram números, dominados amplamente pela Presidente.

Ademais Aécio é lento em respostas prontas, deixando de aproveitar oportunidades incríveis, com respostas fracas onde caberia contra-atacar com mais força.

A luta é conduzida pela Presidente que, com o apoio do meu marketólogo insiste em questões que, supostamente, tem impacto positivo sobre o eleitorado. Tudo é acompanhado por pesquisas qualitativas com pequenos grupos, chamados de focais.

Esses grupos são formado por eleitores de diversas classes e locais que corresponderiam a uma amostra do eleitorado. 

Ao contrário do que gostariam os jornalistas e, principalmente, os comentarias políticos, o que interessa ao marketing da Presidente é o impacto sobre essa amostra e não o que acham e querem os formadores da opinião publicada.

Essa quer que os debates elevem o nível das discussões políticas, trazendo o "povão" a essas. O marketing politico busca baixar o nível para atender ao apetite sangrento do povão.  Não por outro motivo os noticiários da televisão de maior sucesso são os que mostram mais casos de crimes, ebolas e outras doenças, guerras e crises.

A Presidente persiste em temas, aparentemente de menor importância, mas que supostamente tem maior impacto e que afetam diretamente a imagem pessoal. Aécio e sua assessoria podem até ter percebida essa estratégia, mas não tem sido eficazes na neutralização ampla.

Conseguiram neutralizar um forte golpe, mas não inteiramente.

O que Dilma e seu marketólogo quer grudar em Aécio é que ele no Poder irá governar para beneficiar os seus parentes e não o povo. Ele adota o nepotismo, o que é inconstitucional, ilegal e, principalmente, inaceito pelo eleitorado. O alvo principal é a irmã de Aécio. Não há comprovação formal, uma vez que ela exercia funções voluntárias, como a "primeira dama". Mas a versão corrente é que era ela que governava de fato. É essa versão que Dilma procura fazer o povo absorver. Foi parcialmente anulada com a "descoberta" de um cargo público do irmão da Presidente, na Prefeitura de Belo Horizonte, sem o correspondente trabalho. Tem explicações, mas como no caso do adversário vale a versão. Dilma, no caso, foi acusada de terceirizar as responsabilidades pelos "mal feitos". Mas de forma leve.  O tema poderá voltar, mas sem grandes efeitos, fora fatos novos que cada parte está desesperadamente pesquisando.

A história do aeroporto de Cláudio tem a mesma finalidade. A distinção entre ações criminais e improbidade administrativa é pouco inteligível. O que se quer passar é que "é feio" um governante aplicar recursos públicos para beneficiar um seu parente. "explica, mas não justifica". Se fez antes, vai fazer de novo. Aécio não entendeu e fica se justificando com os pareceres do TCE e da aprovação do seu governo. 

O que ele precisa mostrar são (se tiver) os casos concretos de aeroportos regionais feitos pelo seu governo, com as populações atendidas, caso a caso. Do ponto de vista da versão não importa os grandes números. São necessários mais não suficientes. A demonstração precisa ser jornalística. E se conseguir identificar, os aeroportos melhorados que foram usados pela campanha da atual Presidente. Para mostrar que fez investimentos em aeroportos regionais em benefício do povo mineiro, sendo um deles, apenas um dele o seu tio-avó. Para reforçar tem entrevistas com diversos industriais e fazendeiros elogiando a melhoria, que já apareceram em programa de televisão. A versão que precisa passar é que fez o programa para atender a muitos mineiros e que o suposto benefício ao seu tio-avó foi acidental.

No caso tem mais: deve mostrar que a modernidades e os novos investimentos públicos tem bônus e ônus. Quando se instala um novo aeroporto, ou um corredor de ônibus, muito vão ter um bônus. O ônus recai sobre aquele que é desapropriado para instalar o novo equipamento. O benefício chega, mas o desapropriado não se beneficia porque tem que sair de onde está, perde total ou parcialmente a sua propriedade.  E, dificilmente, recebe o valor justo. Tem que recorrer à justiça. No caso do Aeroporto de Claudio o desapropriado fica ainda com o ônus de tomar conta da propriedade. Ter a chave do aeroporto não é um bônus, mas um ônus.

Tanto o nepotismo, com a improbidade administrativa, no caso do Aeroporto, não são golpes fortes, mas acumulam pontos para a contagem final. Aécio continua perdendo pontos nesse "quesito".

Ou Aécio consegue uma grande vantagem, para poder dispensar esses "pontinhos" ou serão decisivos em caso de pequena diferença. O que está em jogo é o estilo de governo, quanto à ética (segundo a visão do eleitorado).

Nesse ponto a Presidente tem pontos fracos maiores, mal explorados pelo oponente. Vamos tratar do tema em outro momento.

Neste momento é importante tratar de um  míssil  novo, que emergiu no dia de ontem, antes do debate: o vazamento de uma suposta propina que Paulo Roberto Costa teria dado ao Senador Sérgio Guerra, então Presidente do PSDB, para  esvaziar uma CPI. Como se trata de um vazamento em processo protegido por segredo de justiça, não há como comprovar. É um vazamento seletivo. 
E o denunciado não pode se explicar ou se defender porque está morto. E não há testemunhas - não autoridades - que possam comprovar. Qualquer indicação de autoridade com foro privilegiado, como são os congressistas o fato não pode ser divulgado.

O episódio terá desdobramentos, mas segundo a teoria da conspiração, tem todo jeito de uma "armação tucana" (o que será sempre vigorosamente desmentida) para "pegar o PT". A denúncia faz pouco sentido, embora verossímel.  Paulo Roberto Costa só foi diretor da Petrobras durante os governos do PT. Por que ele pagaria a uma liderança da oposição para conter uma CPI que seria sempre para investigar mal feitos da Petrobras? Quem tem interesse em "melar uma CPI" é a situação, nunca a oposiçâo.  

O PT tem tentado conter os estragos das denúncias de Paulo Roberto Costa, alegando vazamentos seletivos, contestando a credibilidade daquelas, por falta de provas. E coloca toda a culpa na mídia. Agora com uma suposta denúncia contra um tucano, saiu alvoroçado para usá-lo. E como fez a Presidente no debate procurou dar credibilidade ao denunciante, o que foi apontado, mas "de leve" pelo seu oponente.

O fato é que a denúncia do delator coloca do PT num dilema. Usa logo dois pesos e duas medidas. E Dilma, bem treinada, acusou logo o adversário de fazer o que ela está fazendo. 

Nos próximos dias a mídia se encarregará de ampliar as versões, pois os fatos reais ainda não serão abertos. Alimentará mais ainda o "jogo sujo" com dois mortos que não podem se explicar: José Janene e agora Sérgio Guerra.

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