sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Brasilidade

Aos 77 anos de idade. nascido e vivido em São Paulo, capital, com pequeno intervalo de 4 anos quando estudei no Rio de Janeiro, mais alguns poucos meses no Rio de Janeiro, em 1963, conheço uma boa parte do Brasil. Já fui várias vezes às Capitais, com exceção de Teresina e Palmas. Conheço diversas cidades do interior da Bahia, de Pernambuco, da Paraiba e de outros Estados. Quando estudei no Rio de Janeiro tive colegas oriundos de todos os Estados. O meu querido compadre é baiano e a minha companheira é de família maranhense, nascida no Amapá. 
Convivi ao longo de todo esse tempo com preconceitos mútuos: dos paulistas e paulistanos com os "baianos" e dos nordestinos com os paulistas.

Faltou e continuou faltando um estadista para unificar, de fato, este imenso Brasil. Fernando Henrique Cardoso teve oportunidade, mas abandonou a tarefa. Não se empenhou para acabar com "os dois Brasis" do seu mestre Lambert, ou com a Belíndia. Lançou programas sociais para acabar com a fome e com a pobreza, nas regiões mais pobres, mas como ações paliativas e não como a base do seu Governo.

Lula, Dilma e o PT, ao contrário, buscaram acirrar a divisão, porque com o Nordeste e o Norte, as regiões mais pobres contra o Sudeste rico, teriam a base eleitoral para sustentar a permanência no poder. 

Eduardo Campos era uma esperança. 
Oriundo de uma família do sertão pernambucano, de onde emergiu um líder popular, contrapondo-se aos tradicionais "donos do poder" - os "usineiros" - continuou a tradição política, mais à esquerda, mas já urbano e bem nutrido, desde a infância.

Marina Silva, era uma esperança ainda maior. Ambas as alternativas frustradas, de momento.

Tirar milhões de brasileiros da miséria e da pobreza, acabar com a fome é uma condição mínima e o Bolsa Família não pode ser suspenso. A esta altura ninguém fará isso. O Bolsa Família é um sucesso porque não é uma assistência condicionada. A única condição essencial é o estado de pobreza. Permite fraudes, mas essas são residuais e não comprometem a importância do conjunto. Tentar controlar a priori é uma forma de comprometer o programa. Os custos de controle serão maiores do que os dos eventuais desvios. Com um agravante real: os controles criam dificuldades, para vender facilidades.

O problema está no uso político-eleitoral dos programas sociais, mas principalmente do Bolsa-familia. O uso está em elevar a população pobre para um novo patamar, mas não oferecer condições para seguir progredindo. 

O domínio de Sarney no Maranhão, por mais de 50 anos é o exemplo clássico desse processo. Ao assumir como Governador do Estado em 1966, eleito com o apoio dos militares e, vencendo o coronelismo tradicional, representado por Victorino Freire, modernizou o Estado e promoveu a melhoria de condições de milhares de pobres. Mas a partir dai manteve a pobreza, e a sucessiva esperança de melhoria, oferecida em migalhas para manter o seu projeto de poder. Só agora, quase 50 anos depois, a sua clã perdeu a eleição para o Governo, mas sufragou - amplamente - o projeto de poder petista.

Eduardo Campos representa a evolução familiar dos Arraes de Alencar. 

Já Marina Silva é o símbolo da evolução pessoal de quem passou fome, só se alfabetizou aos 16 anos e venceu pela educação. Pela educação e pela política ela chegou ao meio urbano e hoje está plenamente integrada no "sul maravilha" ainda que vítima de muito preconceito.

Um presidente efetivamente disposto a acabar com a divisão secular precisa colocar esse objetivo como uma das suas principais prioridades.

O principal instrumento é a educação. Mas não na visão elitista que predomina a questão, dominada pela "elite branca", em contraposição aos "sindicatos dos professores urbanos".

A educação tem três níveis e objetivos:


  1. a educação básica de intensidade para gerar oportunidades aos pobres das regiões mais pobres de sairem da sua condição de pobreza;
  2. a educação para o trabalho, para preparar os jovens para uma sobrevivência por conta própria;
  3. a educação para a cidadania, preparando-o para a vida moderna e ética.
A educação básica de intensidade ainda é em grande parte informal ou subformal. Nos "grotões" uma grande parte dos professores não é formada, mas tem um papel fundamental. 

A idéia da educação igualitária e de qualidade, diante da desigualdade, faz com que milhares de crianças e jovens não tenham acesso à educação básica. O processo educacional brasileiro  aprofunda as desigualdades regionais.

É preciso ter estratégias específicas para os "grotões". Uma alternativa é um programa do tipo "Mais Mestres", à semelhança do Mais médicos.

Ou até "mais educadores", mas nunca "mais professores". Professor virou uma categoria profissional, tomada pela defesa de interesses corporativos. Serão contra qualquer programa que não os inclua, com todos os direitos.

(cont)

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